sábado, 31 de agosto de 2019

O Historiador: calar, consentir, dominar


As relações sociais exigem manipulações que surpreendem e ajudam a fixar privilégios. Criam-se saberes que conversam com poderes e conformam o jogo político da sociedade. Não há regras definitivas, A história é atravessada por surpresas, não existe um destino programado para encerrar as especulações e nos transformar em seres mecânicas. Os desafios se multiplicam com seus lugares e tempos com cores e sons diferentes. Portanto, a construção histórica movimenta possibilidades, requer ousadias, mas também convive com naufrágios e suicídios.
Não há como aprisionar os atos humanos numa continuidade silenciosa. Os ruídos fazem contrapontos, as arquiteturas possuem geometrias que mudam e ameaçam funcionar como labirintos. O historiador ler o mundo, sem determinar uma linguagem exata. Idas e vindas se compõem. Dissonâncias não se vão, os ritmos desenham-se buscando fugir da mesmice. Não há, porém, uma história que esgote ou o tempo com ponto final. Há a permanência de dúvidas, mesmo que os apocalipses sejam imaginados e as angústia nos empurre para a beira do abismo.
Quem domina não se afasta das seduções. Usar a violência para se tornar senhor da história é algo perigoso. Silenciar quem exalta o diferente é uma prática de quem se instala no poder. Há coerções, porém também promessas de salvação que aliviam as tensões. Disciplinam-se os rebeldes com sutilezas. Não se trata apenas de calar para evitar desordens. Exercer o poder pede contacto com os controles da linguagem , capacidade para inventar palavras e não deixar que o conhecimento tenha um único caminho. Nem todos consentem ou se acostumam com as hierarquizações sugeridas por quem vigia e trama para consolidar suas leis.
O contador de história habita um território de moradias desiguais. Com seu olhar tenta descontinuar consensos. Insistir na homogeneidade é mostrar narrativas no que elas mais escondem das relações humanas. Os consensos mascaram conflitos ou diálogos para neutralizar a queda das sociabilidades. A história dá voltas, o corpo se encontra com outros corpos, mudam seus perfumes. O ofício do historiador trapezista está longe da monotonia. É ágil, não teme o acaso. Quando ele se distrai e consagra a linearidades, apaga as magias. Escraviza-se na repetição de metodologias. Não deve consentir, contudo, que a história eleja a coisificação proclamada pela força do reino da mercadoria.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

'A Letra e a Voz' leva recitais e feira de livros ao Marco Zero



Neste fim de semana o Marco Zero está recebendo a 17° edição de “A Letra e a Voz”. O evento tem a intenção de promover a arte e a literatura da região nordestina. Na tarde deste sábado (31), o público podia assistir um recital de poesias, além de comprar livros e cordéis em dezenas de quiosques. A edição começou neste sábado (30) em homenagem ao escritor e poeta Chico Pedrosa.

No local, também há espaço para trocas de livros, em que o público pode doar um livro, escrever dedicatória para quem for recebê-lo e levar outro para casa.

A programação do último dia do evento, neste domingo (1°), conta com a apresentação da Quadrilha Raio de Sol, às 14h; Cordel Animado com Mariane e Milla Bigio, às 15h; Fabiane Ribeiro e Oliveira de Panelas, às 16h apresentam Gêneros e gerações numa cantoria de repente; e para fechar o evento, às 17h, o homenageado participa do ‘Oferendar'. A entrada é franca
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Paradeiro de Fabrício Queiroz é revelado por revista

Reprodução/ Internet
Reprodução/ Internet
Reportagem da revista Veja publicada nesta sexta-feira (30), revelou o paradeiro de Fabrício Queiroz. O ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, foi encontrado na recepção do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Na únidade de saúde, são realizados os serviços de quimioterapia e radioterapia, além de consultas. Queiroz estava desacompanhado e deixou o local uma hora depois. 

O ex-assessor mora atualmente no mesmo bairro da Zona Sul de São Paulo onde o Hospital Albert Einstein está localizado, o Morumbi. A curta distância auxilia nos deslocamentos de casa até o hospital, feitos de táxi ou uber na maioria das vezes. Queiroz ainda enfrenta a luta contra um câncer de instestino, condição que o fez realizar uma cirurgia no fim de 2018. Sua última aparição pública ocorreu no Einstein no dia 12 de janeiro, quando postou um vídeo dançando após a recuperação de uma cirurgia. Atualmente, as saídas de casa se tornaram raras. 

Queiroz ficou conhecido depois que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), detectou um valor suspeito em sua conta. A tese apresentada pelo Ministério Público é de que o montante teria conexão a um sistema de coleta e repasse de dinheiro de funcionários do gabinete do senador Flávio Bolsonaro quando o mesmo ainda era deputado estadual do Rio de Janeiro. 

Inicialmente, a quantia foi justificada como um lucro de vendas de carros usadaos. Algum tempo depois, o ex-assessor mudou sua versão, afirmando que recolhia parte dos salários dos funcionários do gabinete com o objetivo de contratar mais pessoas para a equipe do chefe, sem conhecimento do próprio. 

O MP identificou uma emissão de cheques de Queiroz no valor de R$ 24.000 para a conta da atual primeira-dama Michelle Bolsonaro. A justificativa foi de que os depósitos foram realizados seriam para quitar um empréstimo pessoal concedido pelo atual presidente Jair Bolsonaro. 

Não existe ordem de prisão ou determinação para depoimento emitida para Fabrício Queiroz. Em julho, o presidente do Supremo, ministro Dias Toffoli, suspendeu as investigações criminais que utilizam, sem autorização judicial, dados de órgãos como o Coaf, Banco Central e Receita Federal. O ministro afirmou que levaria sua decisão para o plenário do STF até novembro

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Faleceu Dona Naninha, uma grande Mulher do Sítio Freitas de Bom Jardim


Faleceu no Hospital Pelópidas Silveira , na cidade de Recife, no início da manhã deste sexta-feira, 30 de agosto de 2019, a Senhora Ana Maria de Abreu, 85 anos de idade, mãe, vó, bisavó, viúva, agricultora, aposentada, católica fervorosa, moradora da comunidades do Sítio Freitas. 
O corpo de Dona Naninha está sendo velado em sua residência no Sítio Freitas, próximo da PE- 90. O sepultamento irá acontecer às 9 horas, neste sábado(31). Dona Naninha era uma mulher muito querida na comunidade. Desde já, a família agradece a solidariedade e o comparecimento de todos. 


Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

O Brasil acima de tudo: religião manipulada


Resultado de imagem para pastores evangelicos


A história conta lutas nacionalistas que salvaram situações escravizantes. Os imperialismos são danosos, pois negam solidariedade e investem na opressão. Não é sem razão que combates surgiram, denúncias continuam sendo feitas e rebeldias se armam contra explorações que inundam o mundo para concentrar riquezas. Temos que observar como as ideias são propagandas, sobretudo com o auxílio de religiões cheias de dubiedades. O nacionalismo pode gerar fragmentações e esfarrapar sonhos. Querer símbolos divinos para destroçar males é uma ameaça que circula entre os ensandecidos. Não custa perguntar; como os males são produzidos?
Os debates parecem acender ódios. Conheço pessoas que não se cansam de  postar  para o vazio, dominadas por preconceitos, curtem dores de cabeça nas andança pelo facebook. Há uma perplexidade na polarização que invade o Brasil. Foge,  muitas vezes, qualquer aceno de lucidez. Elegem messias, sacrificam inteligências, expulsam o desejo de criticar. Portanto, é preciso medir o nacionalismo e não deixar de olhar seus perigos.Não esqueçam dos danos do fascismo. Lembrem-se dos discursos de Mussolini e das artimanhas de Castelo Branco. Não desprezem a história, nem se liguem em totalitarismos para se esconder da responsabilidade. Ler Hannah Arendt faz bem aos ritmos da saúde.
Há carências espalhadas como epidemias. Absurdos se tornam crenças. Analisem dizeres de afirmações confusas que buscam vitimizar os desgovernos de Jair. Devemos nos assustar com os dualismos, pois geram maniqueísmos mesquinhos. Na política, é fundamental a crítica, a dúvida, a disposição para desconfiar de quem se julgar senhor do mundo.  Quem se esconde em orações pode contaminar boas intenções, multiplicar reações negativas, fazer da ilusão uma morte anunciada.  Portanto, os escorregões provocam desastres e loucuras.
O que está acima de tudo não se desvencilha da história. Cuidem de desvendar as assombrações do tempo e compreender as larguras da crueldade do mundo. Não se assustem, porque muitas mentiras serão fabricadas. O mundo adoece, quando escolhe ser estreito e cultivar o delírio das minorias. Não caminhem fortalecendo globalizações dissonantes que mantêm desigualdades e apostam no analfabeto político. Há profetas estranhos que pregam a existências de injustiças obscuras. O controle da informação garante poderes e sufoca reflexões. Não abandonem as perguntas, nem se deitem na apatia dos oportunistas de plantão.
Por Paulo Rezende.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Trilogia teatral sobre feminicídio ganha temporada no Recife


Foto: Rogério Alves/Divulgação
Foto: Rogério Alves/Divulgação

O projeto Trilogia do Feminicídio, que traz à tona o universo de três mulheres e suas histórias, entra em cartaz na capital pernambucana no dia 4 de setembro, no Teatro Hermilo Borba Filho, Bairro do Recife. As peças Aparecida, Triz Coisas Que Acontecem No Quintal são baseadas em histórias reais e possuem direção executiva e artística de Eric Valença. Os espetáculos foram formulados a partir de pesquisas com vítimas de violência doméstica, delegadas e profissionais em centros de acolhimento. No elenco estão as atrizes Gheuza Senna, Nínive Caldas, Laís Vieira e Tati Azevedo
A temporada conta com mais três datas no Hermilo Borba Filho, com apresentações nos dias 5, 11 e 12 de setembro. Todos os espetáculos serão apresentados no mesmo dia, em horários seguidos e com bilheteria com valor de R (acrescido da doação de um item de higiene pessoal). Toda a renda será revertida para compra de objetos de uso e asseio para serem doados a mulheres encarceradas e crianças nascidas no sistema penitenciário do estado de Pernambuco.

O foco principal destas apresentações cênicas é o drama do feminicídio, onde cada fragmento mostra personagens que vivenciam a violência no cotidiano independentemente de sua condição social, status e história de vida. São relatos de mulheres que foram subjugadas, violadas, assediadas, exploradas, torturadas e perseguidas fisicamente, psicologicamente e moralmente.

Confira a programação

Quarta-feira (4)
18h30 Coisas que Acontecem no Quintal
19h40 Aparecida
21h00 Triz

Quinta-feira (5)
18h30 Triz
19h40 Coisas que Acontecem no Quintal
21h Aparecida

Quarta-feira (11)
18h30 Aparecida
19h40 Coisas que Acontecem no Quintal
21h Triz

Quinta-feira (12)
18h30 Triz
19h40 Coisas que Acontecem no Quintal
21h Aparecida

SERVIÇO
Trilogia do Feminicídio
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Cais do Apolo, 142, Bairro do Recife)
Quando: 4, 5, 11 e 12 de setembro
Quanto: R$ 10,00 (Promocional) + 1 item de higiene pessoal a ser doado
Informações: (81) 9 9989 7050

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Vai começar a VII Feira de Artesanato de Orobó

Aconteceu nesta quarta-feira, (28), a reunião com os expositores da VII Feira de Artesanato de Orobó, compareceram cerca de 80 pessoas, entre artesãos e comerciantes autônomos que irão participar deste grandioso evento que acontecerá de 05 a 08 de Setembro. Neste encontro, foram debatidos assuntos sobre: A organização dos stands; horário de funcionamento, programação em geral etc.  Estavam presentes 15 municípios entre eles: Bom Jardim, Natuba, Carpina, Feira Nova, Olinda, Camaragibe, Igarassu, entre outros. Como também, foi reforçado a parceria entre a Prefeitura Municipal e o Sebrae para garantir o sucesso de mais esta edição da Feira de Artesanato de Orobó. Para dar as boas-vindas aos artesãos o prefeito Cléber Chaparral, falou sobre as comemorações alusivas a Emancipação Política da cidade e ressaltou a satisfação do projeto da Feira ter surgido na sua gestão e que se sente orgulhoso pelo crescimento da Feira que já se tornou conhecida regionalmente. A Secretária de Assistência Social Aline Albuquerque conduziu a reunião e prestou todas os esclarecimentos sobre a Feira, que se tornou um momento muito proveitoso.
Com informações do Blog do Edinho Soares

Professor Edgar Bom Jardim - PE

A desconfiança mancha o futuro


O futuro virá com suas mudanças e suas permanências. No entanto, estamos vivendo um presente marcado por agressividades cotidianas. Os ataques são muitos. Procuram criar uma atmosfera constante de dúvidas e fanatismos.Ressuscitam ideais nacionalistas, fingem defender a natureza, esquecem as aventuras imperialistas.Tudo se mistura e traz desconforto para os debates. Quem merece confiança? A fragilização dos espaços de verdade representa desmanches perigosos. Há muitas informações que não são aproveitadas e se fixam suspeitas sobre os discursos das lideranças.
O destruir dos sonhos da busca de sociedades solidárias é desmobilizador. Parece que entramos num labirinto cruel, cheio de mistérios e não conseguimos encontrar saídas. As idolatrias persistem atiçando a existência de dogmas políticos. A crítica não deveria se apagar. Lançar dúvidas é importante, como também conhecer a construção do passado. Nem sempre os argumentos justificam atitudes interessadas e, perpetuar dominações. Há uma celebração de interesses cinicamente acelerada pelo olhar ambicioso. Mais uma vez se destacam os negócios. Os diálogos diplomáticos mascaram poderes e as conciliações inexistem.
Observem os noticiários. Muitas manchetes, opiniões, violências simbólicas. Há desvios e a globalização espalha qualquer boato com rapidez. A insegurança mina as relações sociais, os governantes brincam com estratégias perversas, os protestos mostram descontentamentos. Porém, não há como abrir os olhos e afastar os pesadelos. A agonia dos ideais iluministas se consolida. Querer retomar utopias é quase uma ingenuidade. Os caminhos da história desfiam . porque se enchem de pedras. Não existem forças para transportá-las.
A linearidade era uma grande mentira. Como exaltar o progresso se as guerras estão invadindo a convivência urbana e a manipulação é palavra de ordem das invenções futuras. As memórias se sentem asfixiadas. Vive-se um agora que assusta.Esquece-se que houve escravidão. O autoritarismo se sofistica e os teóricos se voltam para os chamados milagres da ciência. As obscuridades desenham narrativas históricas e vendem interpretações. Não se radicalizam as reflexões. A sociedade se ressente de ousadias que fujam das massificações. O futuro é um enigma com cores negativas. A geometria do medo ensaia intimidar as possibilidades de firmar ações rebeldes..
Professor Edgar Bom Jardim - PE

CARTA ENTREGUE AO PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS E AO PRESIDENTE DO SENADO



Excelentíssimo Senhor Presidente,
O Brasil vive uma emergência ambiental. O desmatamento da Amazônia, que atingiu 7.536 km2 entre agosto de 2017 a julho de 2018, está em crescimento acelerado conforme demonstram as projeções do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, corroboradas por diversas instituições de pesquisa nacionais e internacionais. Os focos de incêndio até agosto aumentaram 83% em todo o país e 140% na Amazônia, principalmente devido aos retrocessos na política socioambiental brasileira e da campanha ostensiva de representantes do Poder Executivo federal em favor de um modelo de desenvolvimento totalmente ultrapassado para a Amazônia e demais biomas do país.
Nesse sentido, vimos, na qualidade de ex-ministros do Meio Ambiente, personalidades públicas e entidades nacionais representativas de diversos segmentos da sociedade, movidos pelo senso de responsabilidade que esta grave situação impõe a todos os democratas de nosso país, e também na busca por evitar as graves consequências ambientais, sociais, econômicas, políticas e diplomáticas que poderão advir da continuidade desta situação, propor aos senhores, representantes maiores do Poder Legislativo brasileiro, a adoção das seguintes medidas em caráter emergencial:
1. Suspensão imediata da tramitação de todas as matérias legislativas que possam, de forma direta ou indireta, agravar a situação ambiental no país;
2. Moratória ambiental para projetos de leis e outras iniciativas legislativas que ameacem a Amazônia, povos indígenas e biodiversidade.
3. Realização de audiências públicas em comissão especial do Congresso Nacional, com a participação de especialistas em proteção do meio ambiente, representantes das comunidades locais, do agronegócio e de agentes públicos federais e estaduais para tratar dos temas fundamentais da agenda socioambiental do país.
Neste momento, senhor Presidente, consideramos necessário à realização de pelo menos três audiências públicas para tratar dos seguintes temas que nos parecem fundamentais:
1. Riscos e oportunidades socioambientais à proteção da Amazônia e dos demais biomas brasileiros decorrentes das matérias legislativas em tramitação;
2. Novos marcos legislativos necessários ao aperfeiçoamento das ações voltadas à proteção e ao desenvolvimento sustentável da Amazônia e dos demais biomas brasileiros;
3. Recomendações para a elaboração de um plano emergencial de ações para o enfrentamento da crise ambiental em curso, com a redução imediata do desmatamento e queimadas e proteção das populações tradicionais.
Solicitamos, senhor Presidente, que essas medidas sejam tomadas em caráter de urgência. Para tanto, nos colocamos à disposição do Congresso Nacional para contribuir em todas as fases desse processo, seja indicando especialistas, participando das discussões ou de outras formas que os senhores considerarem adequadas.
O desmonte das instituições federais (Ministério do Meio Ambiente, IBAMA e ICMBio), como também das políticas e programas de proteção ao meio ambiente e do Fundo Amazônia que vem sendo promovido pelo governo federal, além de provocar inaceitável degradação do patrimônio natural e da qualidade ambiental do país, está colocando em risco a segurança de populações indígenas e comunidades tradicionais e afetando diretamente a saúde pública, fato tão bem evidenciado com a chuva negra que caiu sobre São Paulo recentemente. A comoção mundial é de tal ordem que ameaças de boicote às exportações brasileiras surgem em diversos países, pondo em risco a própria balança comercial do País.
Esses fatos, senhor Presidente, exigem de nossas instituições respostas à altura. O Parlamento brasileiro tem o dever histórico de atuar como moderador e oferecer um canal de diálogo com a sociedade, única forma de reverter essa assustadora realidade.
Esta é a hora de nos unirmos pelo bem do Brasil. Urge mostrar ao mundo que nossa nação e nossas instituições são capazes de oferecer perspectivas reais para a solução dos gravíssimos problemas que enfrentamos e zelar pelo respeito aos compromissos firmados no âmbito do Acordo de Paris e na Convenção da Diversidade Biológica.
Aguardamos a convocação para que, sob a liderança de Vossa Excelência possamos ajudar a recolocar o Brasil no lugar de nação amiga das grandes causas do século 21: a proteção do meio ambiente e das comunidades menos favorecidas e o combate às mudanças climáticas e à exclusão social.
Respeitosamente,
Ex-Ministros do Meio Ambiente
CARLOS MINC
EDSON DUARTE
GUSTAVO KRAUSE
IZABELLA TEIXEIRA
JOSÉ CARLOS CARVALHO
JOSÉ GOLDEMBERG
JOSÉ SARNEY FILHO
MARINA SILVA
RUBENS RICUPERO
Entidades Nacionais
FELIPE SANTA CRUZ
Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil
ILDEU DE CASTRO MOREIRA
Presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)
MARCIO SANTILLI
Instituto Socioambiental (ISA)
ANDRÉ GUIMARÃES
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM)
ANDRÉ LIMA
Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS)
SÔNIA GUAJAJARA
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
PAULO JERÔNIMO DE SOUSA
Presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)
Com informações de Marina Silva
Professor Edgar Bom Jardim - PE

A trágica história do casal que morreu fugindo de queimada em Rondônia


Eidi e Romildo, em foto de arquivoDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image captionEidi e Romildo morreram ao tentar fugir das chamas no Assentamento Galo Velho.

A casa de madeira coberta por lona e palha representava a maior conquista da dona de casa Eidi Rodrigues de Lima, de 36 anos, e do companheiro, o produtor rural Romildo Schmidt, 39.
O casal morava no Assentamento Galo Velho, na zona rural de Machadinho D'Oeste, em Rondônia, município a pouco mais de 350 quilômetros da capital Porto Velho.
Eidi e Romildo viviam na região havia três anos. Eles construíram a casa logo após comprarem o terreno. Era a primeira residência própria deles, que anteriormente moravam em um sítio no município de Vale do Anari (RO), onde prestavam serviços rurais.
No assentamento, o casal se mudou para a residência de quatro cômodos - dois quartos, cozinha e sala; o banheiro ficava na área externa - junto com as três filhas.
As mais velhas, atualmente com 19 e 18 anos, são frutos de um relacionamento anterior de Eidi. A caçula, hoje com 13 anos, é a única filha da dona de casa com o marido
O casal costumava dizer que estava feliz morando ali com a família. O assentamento é marcado por conflitos agrários, porém, Eidi e Romildo não costumavam ter problemas com a vizinhança. A maior preocupação deles era com as queimadas feitas na região, principalmente durante o período de estiagem.
Nos assentamentos da região rural de Machadinho D'Oeste, conforme pessoas que vivem no local, é comum que pequenos produtores coloquem fogo no mato para fazer renovação do pasto, ampliar áreas de criação ou para outras culturas agrícolas.
Desde que chegaram ao assentamento, Eidi e Romildo sempre temeram que as chamas pudessem atingir a propriedade deles. "Todo ano tinha essa questão de fogo, usado na região para limpar os lotes. Mas minha mãe e meu padrasto nunca haviam sido afetados com isso", relata Jeigislaine Rodrigues de Carvalho, de 18 anos, a segunda filha de Eidi.
No dia 13 de agosto, o maior temor do casal se tornou realidade. Eles viram a casa ser atingida pelas chamas e, enquanto tentavam fugir, morreram. "O fogo se espalhou muito rápido, porque estava ventando muito. Não deu tempo de eles saírem dali. Foi muito triste", diz Jeigislaine à BBC News Brasil.

Casa da famíliaDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image captionA casa que era a primeira residência própria de Eidi e Romildo

As mortes de Eidi e Romildo são exemplos trágicos das consequências das queimadas florestais no Brasil. Em 2019, foram registrados os maiores números dos últimos sete anos.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram registrados, até a terça-feira (27), 82,2 mil pontos de incêndio pelo país - o número representa 80% a mais que os registros do ano passado.
Rondônia é o quarto estado com mais registros de queimadas no Brasil. De janeiro até a segunda-feira (26), foram 6.441 focos de incêndio, segundo o Inpe.
A lista de estados brasileiros com mais incêndios neste ano é liderada por Mato Grosso (15,4 mil), Pará (10,7 mil) e Amazonas (7,6 mil). Tocantins teve registros semelhantes a Rondônia, foram 6.436. Os cinco fazem parte da Amazônia Legal - o conjunto de estados com áreas de Floresta Amazônica.
A Nasa apontou, na semana passada, que 2019 é o pior ano de queimadas na Amazônia brasileira desde 2010. Imagens da agência espacial americana mostram uma densa camada de fumaça sobre os estados de Rondônia e Amazonas.
A princípio, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) adotou postura pouco combativa ao tema. Porém, diante da repercussão internacional, dias depois mudou o tom de sua reação e autorizou, na tarde de sexta-feira (23), o uso de militares em uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) - quando há situações graves que demandam que o presidente da República convoque forças de segurança - para combater as queimadas na região da Floresta Amazônica.
Rondônia foi um dos estados que receberam ajuda federal para atuar no combate aos incêndios.

A história de Eidi e Romildo

Romildo conheceu Eidi pouco após ela chegar a Rondônia. A dona de casa morava em Araputanga, no interior do Mato Grosso, quando se separou do primeiro marido. Junto com as duas filhas pequenas, se mudou para o estado vizinho, para recomeçar a vida. "Ela escolheu vir para Rondônia porque temos muitos parentes por aqui", conta Jeigislaine.

O que sobrou da casaDireito de imagemJOÃO MESSIAS MONTEIRO
Image captionMoradia foi engolida pelas chamas em 13 de agosto

Parentes contam que Eidi e Romildo se apaixonaram e começaram o relacionamento. Logo nasceu a primeira e única filha do casal. Com a família, se mudaram para o sítio em que o homem trabalhava como vaqueiro.
Desde que começaram a namorar, Eidi e Romildo planejavam comprar uma área para que pudessem cultivar alimentos e criar animais. Por uma década, juntaram dinheiro e conseguiram adquirir a propriedade na zona rural de Machadinho D'Oeste. Para eles, era apenas o começo do sonho de serem donos da própria terra.
Ali, viram as duas filhas de Eidi se casarem e deixarem a região para morarem com seus maridos. A mais velha se tornou mãe recentemente. A caçula continuou morando com os pais.
Na propriedade rural, o casal tinha pequenas plantações e criavam porcos e galinhas. O casal queria aumentar a casa, por isso juntou dinheiro para começar a comprar materiais.
Um dos objetivos era trocar a cobertura de palha e lona. "Eles tinham comprado muitas telhas e ripas de madeira recentemente", relembra Jeigislaine.
Vizinhos disseram à Polícia Civil que Eidi e Romildo sempre evitaram sair durante o período em que as queimadas eram mais constantes. Eles não queriam ficar longe para tentar proteger a casa de um possível incêndio.
Na zona rural em que está localizado o assentamento, as queimadas frequentes motivam os moradores a adotarem medidas para preservar seus patrimônios.
Os entornos de muitas propriedades possuem aceiros - técnica de retirada de vegetação para evitar propagação do fogo.
"O pessoal faz mutirões para apagar incêndios, usam água, deixam o entorno da propriedade somente com terra, para que o fogo não se alastre. Nesse período de incêndios, eles tentam de tudo para não perder o pouco que têm", relata o delegado Celso André Kondageski, da Delegacia de Machadinho D'Oeste.

Queimada na zona rural de Machadinho D'OesteDireito de imagemJOÃO MESSIAS MONTEIRO
Image captionQueimadas têm sido frequentes na zona rural de Machadinho D'Oeste

O incêndio

De acordo com os relatos de testemunhas, o fogo que atingiu a região em que Eidi e Romildo moravam começou por volta de 13h, no dia 13 de agosto. O assentamento, assim como toda a zona rural da região, está localizado em uma área desmatada da Floresta Amazônica. Em razão disso, as chamas costumam propagar com mais rapidez.
No horário, o vento estava forte e fez com que incêndio avançasse ainda mais rápido. Moradores registraram vídeos que mostram a destruição. Nas imagens, é possível ver que o fogo atingiu grande altura e tomou conta da área.
Na propriedade rural da família, Eidi e Romildo logo se preocuparam com as chamas. A filha mais nova estava na escola. Testemunhas contaram que a primeira preocupação do casal foi retirar as madeiras e as telhas que haviam comprado recentemente.
"Eu não estava por perto, mas vizinhos me contaram que eles quiseram preservar o que tinham comprado e colocaram em uma área afastada da mata, para que não queimasse também", conta Jeigislaine, que mora em um sítio a cerca de quatro quilômetros da casa da mãe.
Os relatos das testemunhas apontam que o fogo vinha em direção à parte traseira da propriedade rural de Eidi e Romildo. "Eles achavam que conseguiriam retirar o que haviam comprado e se salvar", pontua Jeigislaine. No entanto, conforme pessoas que presenciaram o fato, uma situação piorou ainda mais o fogo: um novo foco de incêndio teve início em uma área localizada em frente à propriedade do casal.
"Alguém deve ter aproveitado que estavam queimando para também colocar fogo, achando que nenhuma propriedade seria atingida. Esse outro incêndio piorou ainda mais a situação", diz uma testemunha, que não será identificada.
Conforme as apurações iniciais, o segundo incêndio inesperado surpreendeu Eidi e Romildo, que até então planejavam sair da propriedade pela frente, em direção contrária ao fogo. "Eles não tinham mais para onde fugir, porque rapidamente tudo foi tomado pelo fogo", narra Jeigislaine, com base em relatos de vizinhos da mãe.
O incêndio consumiu, segundo testemunhas, cerca de 43 hectares da região. A propriedade de Eidi e Romildo foi completamente destruída, assim como outros dois sítios da região. Diversos animais também foram atingidos pelas chamas e morreram carbonizados.

Queimada na zona rural de Machadinho D'OesteDireito de imagemJOÃO MESSIAS MONTEIRO
Image caption'Tá difícil acreditar nisso tudo que aconteceu. Eu não quis ver os corpos carbonizados, nem minhas irmãs viram', diz filha do casal

O Corpo de Bombeiros não foi ao local na data do incêndio, segundo testemunhas. "Ninguém chamou os bombeiros por medo do que poderia acontecer, por ser um caso de desmatamento. A Sedam (Secretaria de Desenvolvimento Ambiental de Rondônia) poderia vir junto, então acharam melhor evitar", diz um morador da região, que não será identificado.
"O fogo só parou depois que atingiu toda a mata da região. Estava muito forte. Acho que até os bombeiros teriam dificuldades para controlar. As chamas pararam sozinhas, quando acabaram as partes de mata daquela área.", completa o morador.
Segundo a testemunha, os bombeiros foram à região somente no dia seguinte, quando foram informados sobre as proporções do incêndio. No local, fizeram trabalho de rescaldo após a queimada.
A BBC News Brasil entrou em contato com o Corpo de Bombeiros de Rondônia para confirmar se eles foram ao local na data do incêndio ou se receberam algum chamado sobre o caso. Porém, a instituição não respondeu até a conclusão desta reportagem.

As mortes

No fim da tarde do dia 14, os corpos de Eidi e de Romildo foram encontrados carbonizados, na parte externa da propriedade rural deles. Desde a noite do dia anterior, eles eram considerados desaparecidos.
Eles foram as únicas vítimas fatais. Os moradores de uma das propriedades vizinhas conseguiram fugir logo que o fogo teve início. No outro sítio atingido, os moradores estavam viajando e não havia ninguém no local.
Os corpos de Eidi e de Romildo estavam juntos, a cerca de 100 metros de distância da casa deles. Para alguns, eles morreram abraçados. Porém, Jeigislaine acredita que o padrasto estava carregando a companheira.
"Acho que a minha mãe tinha passado mal, por ter inalado muita fumaça, e ficou muito fraca. O meu padrasto, então, deve ter carregado ela para tentar sair dali, mas os dois acabaram morrendo", diz a jovem.
A principal suspeita é de que a dona de casa e o marido tenham morrido por inalação de monóxido de carbono. Em seguida, com o avanço do fogo, foram carbonizados. "Mas ainda é preciso esperar os resultados das perícias para que possamos esclarecer todo o contexto", diz o delegado Kondageski.

Animais que eram da criação de Eidi e RomildoDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image captionAnimais que eram da criação de Eidi e Romildo; família conta que é comum que produtores rurais ateiem fogo para fazer renovação do pasto, ampliar áreas de criação ou para outras culturas agrícolas

Jeigislaine relata que ainda tem dificuldades para aceitar que a mãe e o padrasto morreram. "A gente não consegue entender. Não caiu a ficha. Tá difícil acreditar nisso tudo que aconteceu. Eu não quis ver os corpos carbonizados, nem minhas irmãs viram, porque era uma imagem muito pesada para a gente", lamenta. Eidi e Romildo foram enterrados no dia seguinte à data em que foram encontrados.

Investigações

A Polícia Civil de Machadinho D'Oeste instaurou inquérito para apurar o caso. Testemunhas já foram ouvidas pelo delegado Kondageski. Ele aguarda as conclusões das perícias para auxiliar nas apurações. O principal objetivo é descobrir a origem do fogo na região e quantas pessoas incendiaram aquela área do assentamento na tarde do dia 13.
"Os responsáveis pelo fogo vão responder pelo incêndio, porque é crime ambiental, e podem responder também por homicídio doloso (quando há intenção de matar), porque uma pessoa que coloca fogo em uma área dessas sabe dos riscos que existem, inclusive o de matar alguém", pontua o delegado.
As apurações iniciais, segundo o delegado, apontam que o fogo teve início ao ser ateado em uma região de pastagem, logo se alastrou e atingiu as propriedades. "Mas ainda estamos investigando", frisa Kondageski.
Para o delegado, a morte do casal é um importante alerta sobre as queimadas. "Essa é a pior das consequências. Esses incêndios geram perdas ambientais e materiais, além de serem considerados crimes ambientais. É uma atitude imprudente, que vem sendo adotada há muito tempo", declara.
A família de Heidi e Romildo quer justiça. "Quem fez isso tem que pagar, porque essa atitude irresponsável acabou com duas vidas", declara Jeigislaine.
Desde a morte da mãe e do padrasto, ela tem cuidado da irmã mais nova. A mais velha está de repouso, por ter se tornado mãe recentemente.
"É muito triste ver a forma como a minha mãe e o meu padrasto morreram. Sempre fico vendo fotos deles no meu celular. Tá sendo muito difícil", lamenta Jeigislaine.
Professor Edgar Bom Jardim - PE