terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Bolívia cria imposto sobre grandes fortunas

A tributação será anual e permanente para todos que viverem no país, incluindo estrangeiros.
O presidente da Bolívia, Luis Arce, promulgou na segunda-feira 28 um imposto sobre as fortunas superiores a 30 milhões de bolivianos, ou 4,3 milhões de dólares, que irá atingir 152 pessoas. Arce, no poder desde novembro, anunciou no Twitter que, “para a redistribuição da riqueza na Bolívia, promulgamos a Lei 1357 de Imposto sobre as Grandes Fortunas, que será aplicado àqueles que possuem um patrimônio superior a 30 milhões de bolivianos”, assinalando que “o benefício chegará a milhares de famílias bolivianas”. O presidente assinou a norma, aprovada nos últimos dias pelo Congresso, controlado pelo governante Movimento ao Socialismo (MAS) por ampla maioria. A lei estabelece porcentagens graduais para o pagamento da alíquota: 1,4% para pessoas com riqueza de 30 milhões a 40 milhões de bolivianos; 1,9%, de 40 milhões a 50 milhões; e 2,4% para fortunas maiores. O imposto será anual e permanente para todos que viverem na Bolívia, incluindo estrangeiros. A medida se aplica a pessoas naturais residentes no país que tiveram uma permanência na Bolívia por mais de 183 dias nos últimos 12 meses. O ministro da Economia, Marcelo Montenegro, explicou que “as taxas efetivas estão dentro da média dos parâmetros de outras economias da região que aplicam um imposto semelhante, e a confidencialidade sobre as pessoas afetadas é mantida”. A autoridade da área econômica estimou previamente que seriam arrecadados cerca de 100 milhões de bolivianos com a nova norma. Partidos opositores e empresários fizeram observações sobre o imposto, que consideram um desestímulo aos investimentos. De Carta Capital http://professoredgarbomjardim-pe.blogspot.com/

Sobram razões para o impeachment de Bolsonaro, escreve Pedro Serrano

As ações e omissões de Bolsonaro levaram seu próprio povo à morte e geraram danos irreparáveis'
No Brasil, o impeachment quase faz parte do cotidiano político. O primeiro presidente eleito diretamente após a Constituição de 1988, Fernando Collor, sofreu um processo que resultou em sua saída do cargo. Aqueles que se seguiram também foram alvo de pedidos de afastamento, FHC inclusive, com Dilma Rousseff destituída por um perpetrado de forma inconstitucional. E Jair Bolsonaro? Há razão para seu impeachment? Voltemos alguns séculos. A semente do impeachment surge na modernidade, ao lado da ideia dos direitos e da Constituição. Os calvinistas franceses, os huguenotes, dão melhor corpo à noção de direitos e Constituição. As guerras religiosas levaram os huguenotes à perseguição, morte e expulsão do país por reis católicos. Desenvolveram, em resposta, uma nova concepção de tirania, secularizando a concepção teológica de humanidade de Paulo de Tarso. Em A Era dos Direitos, Norberto Bobbio ressalta essa noção trazida por Paulo, a de que todos somos filhos do mesmo Pai. Há uma condição mínima de igualdade válida a todos. E, se somos iguais, não podemos ser propriedade do outro, logo, somos também livres. Igualdade e liberdade são, assim, os direitos primários do ser humano. A força da ideia de direitos emanados de Deus (dignidade por Dele sermos filhos) também está presente quando os calvinistas dizem que tirana é a degeneração da soberania, que se dá quando não se observam os direitos naturais: igualdade, liberdade, propriedade, expressão de ideias e consciência religiosa. É a semente da ideia do Estado Constitucional e Democrático de Direitos e do constitucionalismo, de um poder político submisso aos direitos. O contrário é tirania, que dá ao povo o direito de resistir. Essa ideia está em Vindiciae Contra Tyrannos, obra do século XVI escrita sob o pseudônimo de Stephen Junius Brutus. Na concepção huguenote, o direito de resistência é a possibilidade de afastamento do tirano pelos representantes do povo, os chamados magistrados. Um embrião do impeachment que surge com a ideia de Constituição e de direitos e, por isso, é tão intrínseca ao Estado Constitucional e Democrático em sua versão presidencialista. Quase um século depois, John Locke apropria-se dessa construção. Em Dois Tratados Sobre o Governo, de 1689, ele introduz o direito à resistência com uso da violência para liquidar o tirano. A independência dos Estados Unidos da América e a Revolução Francesa dão novos sentidos ao constitucionalismo. De início, a Constituição como contenção da democracia e dos avanços revolucionários: na França, o voto censitário cria uma democracia da qual só participam homens brancos com renda ou propriedade. Nos EUA, a Carta impede a aprovação de leis estaduais em favor de pequenos proprietários rurais e devedores. Com a democracia universal, esse quadro se altera no correr dos séculos XIX e XX, mas na Europa as Constituições do pré-Segunda Guerra Mundial ainda estão no mesmo patamar hierárquico das leis. O sentido contemporâneo do constitucionalismo altera-se profundamente no pós-Segunda Guerra Mundial. As Constituições passam a ser rígidas, hierarquicamente superiores e a traduzir o que de mais civilizado a humanidade produziu, dando poder jurídico aos direitos fundamentais e aos valores ideológicos e políticos. O próprio conceito de democracia reconstrói-se: ela não existe só com decisões da maioria e adotadas por todo o ambiente social. Para haver democracia, é necessário que os direitos de minoria e individuais sejam observados na convivência social. É uma constante tensão entre a soberania popular e a garantia de direitos. Assegurar os direitos passa a ser um mecanismo de tomada de decisões, normalmente do Judiciário. O impeachment está nesse rol de decisões contramajoritárias, mas vem do Legislativo contra chefes do Executivo. É um mecanismo de calibragem do sistema. Ronald Dworkin, consagrado filósofo do Direito, escreveu na década de 1990 que o pedido de impeachment de Bill Clinton era “um tipo de golpe” (A Kind of Coup). Chamar impeachment inconstitucional de golpe não é invenção da esquerda brasileira, mas criação desse grande jurista, que compara o impedimento ao uso de uma arma nuclear em uma guerra. Sempre defendi a ideia de que não se deve banalizar o impeachment. Fui contra os de Collor, Fernando Henrique Cardoso, Lula e o que resultou no golpe em Dilma. A Constituição de 1988 não deixa dúvida sobre a natureza excepcional e emergencial do instituto. Crime de responsabilidade só quando há atentado à Constituição – a “arma nuclear” de Dworkin. A cultura do impeachment levou a escutarmos que votariam em Bolsonaro “e, se ele não fizesse um bom governo, era só tirá-lo do cargo, como fizemos com a Dilma”. Nada mais equivocado. A dimensão jurídica do impeachment é vinculante, ou seja, indisponível: para o Parlamento decretar o impedimento, tem de haver atentado à Constituição. A dimensão política é que o Parlamento pode decidir não decretar o impeachment, mesmo havendo atentado à Constituição. Isso é impensável quando ocorrem crimes comuns, pois o Judiciário tem a obrigação de puni-los. Essa é a natureza do crime de responsabilidade: a decisão política do Parlamento é livre quanto à aplicação da punição, uma vez que ele tenha juridicamente ocorrido. O contrário é golpe: afastar um presidente sem crime de responsabilidade. Mas Bolsonaro deve sofrer impeachment? Por suas condutas e omissões na pandemia, sim. Bolsonaro deixou de fazer o que estava obrigado como presidente. Deveria ter seguido as recomendações científicas para conter a doença, em vez de estimular o desprezo pela vida. Deveria ter coordenado e planejado as políticas de saúde e sanitárias, função da União, para melhorar a gestão de leitos de UTIs, garantir o isolamento social, realizar testes em massa, integrar os esforços na busca pela vacina, assegurar o auxílio emergencial para o enfrentamento do período difícil… As ações e omissões de Bolsonaro levaram seu próprio povo à morte e geraram danos irreparáveis. Isso é crime de responsabilidade. Ao povo, resta afastá-lo. Bolsonaro atentou contra os direitos e os princípios constitucionais mais primários: o direito à vida e à saúde. Na dimensão jurídica, portanto, sobram razões para seu impeachment. Na dimensão política, cabe ao Parlamento brasileiro decidir, que, por ora, se omite gravemente em não investigar a conduta presidencial e em não reconhecer o flagrante e continuado crime de responsabilidade. Com Informaçoes de Carta Capital. http://professoredgarbomjardim-pe.blogspot.com/

domingo, 27 de dezembro de 2020

Patrimônio Vivo do Estado, Gonzaga de Garanhuns inaugura espaço cultural no Agreste


Gonzaga de Garanhuns comemora meio século de dedicação à cultura popular

Patrimônio Vivo de Pernambuco, mestre de reisado e cordelista, Luiz Gonzaga de Lima, conhecido também como Gonzaga de Garanhuns, inaugurou recentemente seu Centro Cultural, no Agreste do Estado.

Batizado com seu nome, no Centro Cultural Gonzaga de Garanhuns, o visitante vai poder conferir as obras de cordéis escritas por ele, bem como as roupas características da folia de reis, além de uma biblioteca com livros escritos pelo próprio Gonzaga e sobre cultura. O local conta com uma pequena bodega, onde Seu Gonzaga oferece aos turistas algumas doses de aguardentes temperadas que são fabricadas artesanalmente, junto com citações dos seus versos de cordel. É possível encontrar também algumas miniaturas que contam a história dos ônibus em Pernambuco, todas confeccionadas à mão pelo filho do mestre, Clodoaldo Lima.

“Esse espaço cultural tem o intuito de transmitir a cultura na cidade e temos um planejamento para que ele se torne um ponto turístico de Garanhuns”, diz Gonzaga sobre o objetivo do local.

HISTÓRICO - Luiz Gonzaga tem 77 anos de idade e promove o reisado desde 1955. Tendo fundado oito grupos, ele recebeu, em 2018, o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco pelo Governo do Estado. Gonzaga de Garanhuns também é autor do livro “Garanhuns em Versos-um pouco de sua história” e cordelista com mais de 350 títulos de sua autoria, com traduções para o espanhol e o holandês. 

Serviço
Centro Cultural Gonzaga de Garanhuns
Local: Rua da Liberdade, 1474, Heliópolis, Garanhuns – PE.
Devido à pandemia, visitações poderão ser agendadas pelo telefone: (87) 98175-1902 – Clodoaldo Lima

FOTO RENAN ARAÚJO/DIVULGAÇÃO

Com informações de 

www.cultura.pe.gov.br/

Professor Edgar Bom Jardim - PE

A tática do Novo e dos bolsonaristas para tentar saquear o Fundeb

Saiba como o obscurantismo age para proteger os ricos em detrimento dos pobres. Uma articulação entre direita e esquerda impediu que R$ 16 bilhões saíssem da educação pública.

(Brasília - DF, 29/05/2019) Presidente da República, Jair Bolsonaro durante Café da manhã com a Bancada do NOVO.Foto: Marcos Corrêa/PR

Bolsonaro durante um café da manhã com a bancada do Novo.

 

Foto: Marcos Corrêa/PR

A DIREITA BOLSONARISTA fez o diabo para tentar desviar dinheiro do fundo que é o principal financiador da educação pública do país, o Fundeb, para irrigar instituições de ensino privadas sem fins lucrativos. Por sorte, uma articulação entre partidos de esquerda e direita barrou a tungada e manteve o projeto que garante 100% das verbas para o setor público.

O fundo para financiar a educação pública nasceu em 1997, durante o governo FHC. Em 2006, foi ampliado e aprimorado durante o governo Lula. A nova política do bolsonarismo e do partido Novo agora tentam boicotar esses avanços. Essa semana, eles lutaram muito para desviar bilhões do orçamento da educação básica pública do país para o setor privado. Não conseguiram, mas é importante deixar explícitas todas as táticas sórdidas utilizadas pelos reacionários para degradar o ensino público em favorecimento de entidades privadas.

O projeto de lei de regulamentação do Fundeb havia sido debatido com professores, especialistas, prefeitos, governadores e setores da sociedade civil. Esse debate foi promovido por uma articulação suprapartidária na Câmara, que aprovou o texto final do projeto. Mas, na calada da noite, o obscurantismo agiu. Deputados bolsonaristas incluíram emendas que retiravam dinheiro da educação pública para dar à privada.

Com os remendos, quase R$ 16 bilhões em verbas públicas seriam destinados para escolas privadas, escolas religiosas — fruto de um lobby da bancada evangélica —  e para o Sistema S. Essas emendas permitiriam que os recursos do Fundeb fossem usados até para pagamento de salário de funcionários terceirizados de escolas públicas, religiosas e filantrópicas. O projeto original, que havia passado por intenso debate com a sociedade civil, foi completamente desfigurado pelo bolsonarismo para favorecer determinados grupos privados.

O golpe articulado na Câmara foi barrado por unanimidade no Senado, que devolveu o texto para ser votado na Câmara sem as emendas. Pouco antes, o Ministério Público Federal havia emitido uma nota técnica dizendo que o repasse de parte do Fundeb para entidades privadas seria inconstitucional.

Os deputados defensores das emendas tentaram se livrar da pecha de saqueadores da educação pública apresentando as justificativas sofríveis. Segundo o atual prefeito de Porto Alegre, o tucano Nelson Marchezan Jr., o repasse para entidades privadas não tem a ver com favorecer entidades privadas, mas permitir o acesso dos mais pobres nas escolas dos mais ricos.

Ou seja, já que a maioria das escolas públicas são ruins, então vamos retirar verba delas para abrir meia dúzia de vagas para pobres em escolas de rico distantes das periferias. Na prática, essa lógica sentencia a educação pública ao fracasso eterno.

O partido Novo foi quem liderou o boicote ao texto original aos 45 minutos do segundo tempo. Foi também o único que orientou seus deputados a não aprovarem o Fundeb. Para tentar justificar o injustificável, seus correligionários saíram espalhando a mentira de que o Brasil gasta muito com educação, mas gasta mal.

Essa é outra falácia. O Brasil investe pouco na educação básica em comparação aos países da OCDE. Nós gastamos 3,8 mil de dólares por aluno do ensino fundamental, enquanto os países da OCDE gastam US$ 8,6 mil. No ensino médio, gastamos 4,1 mil de dólares por aluno, enquanto que nos países da organização o valor chega a US$ 10 mil.

Gasta-se muito aquém do se deveria. Dados do Censo Escolar de 2019 mostram que a grande maioria das escolas brasileiras não possui infraestrutura adequada. Segundo a pesquisa, apenas 41,7% das escolas urbanas têm biblioteca; 43,6% têm laboratório de informática; 18,8% têm laboratório de ciências; 27,8% das escolas de educação infantil e ensino fundamental nos anos iniciais têm parque infantil.

Mesmo diante desse quadro precário dos colégios brasileiros, evangélicos bolsonaristas e o clubinho dos ricos chamado partido Novo se mobilizaram para transformar um fundo público voltado para a educação dos mais pobres em um balcão de negócios para entidades privadas. Eles insistiram que não era esse o objetivo, já que, pelas emendas, essas entidades deveriam ser sem fins lucrativos. Ora, quem conhece como funcionam os convênios dessas entidades filantrópicas sabe que o buraco é bem mais embaixo.


Como esquecer da Máfia das Creches em São Paulo, que criou uma indústria de ONGs de fachada para gerir unidades terceirizadas. A máfia fabricava uma série de organizações sociais, as chamadas Oscips, voltadas para obter lucro. Laranjas também eram usados para abrir entidades filantrópicas, que depois eram vendidas pela máfia. Incentivar a terceirização do ensino público abre margem para esse tipo de farra com as verbas públicas. É isso o que acontece na prática. Exaltar o caráter filantrópico dessas entidades é a embalagem bonita que ajuda a justificar a mamata de algumas entidades privadas.

Além de serem inconstitucionais, as emendas dos bolsonaristas — e aí incluo Novo, um dos partidos mais alinhados aos projetos bolsonaristas no Congresso —  não foram baseadas em nenhum estudo. O objetivo nunca foi melhorar a educação dos mais pobres, mas exclusivamente atender seus interesses. Os ultraliberais querem cortar os gastos públicos, mas não sem antes garantir um naco desses gastos. É a lógica do estado mínimo, meu bilhão primeiro.

Graças à intensa mobilização de sindicatos, das militâncias, das entidades em defesa do ensino público e da articulação de deputados e senadores, essa crueldade foi impedida de passar. E, nos tempos em que vivemos, há muito o que se comemorar. Foi uma grande vitória daqueles que defendem o ensino público. De qualquer forma,  é importante registrar e ficar atento às estratégias sorrateiras dessa minoria que pretende sabotar os serviços públicos. A sanha dos reacionários é grande e permanente.

Por João Filho 

theintercept.com/

Professor Edgar Bom Jardim - PE

As 6 economias latino-americanas que mais caíram em 2020


Homem caminhando na Venezuela
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Venezuela completa sete anos consecutivos de contração econômica em 2020

As 6 economias latino-americanas que mais caíram em 2020

Este ano registrará a maior contração na economia mundial desde 1946, como resultado do impacto da pandemia do coronavírus.

Para a América Latina, a situação foi ainda pior.

A região sofreu a maior queda no Produto Interno Bruto (PIB) em mais de um século, segundo informou a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) na semana passada.

"Nesse contexto, se compararmos diferentes indicadores de saúde, econômicos, sociais e de desigualdade, a América Latina e Caribe formam a região mais atingida no mundo emergente", disse a entidade em relatório.

Os países latino-americanos como um todo já apresentavam baixas taxas de crescimento econômico — em média, 0,3% entre 2014 e 2019, antes mesmo de a pandemia de covid-19 eclodir.

Neste sentido, "com a chegada da pandemia, os choques externos negativos e a necessidade de implementação de políticas de confinamento, distanciamento físico e fechamento das atividades produtivas se somaram a esse baixo crescimento econômico, que fez com que a emergência sanitária se materializasse na pior crise econômica, social e produtiva que a região viveu nos últimos 120 anos", explicou a Cepal.

Embora a redução da atividade econômica global tenha afetado toda a região e todos países registraram contração do PIB, nem todos foram afetados da mesma forma.

Confira abaixo quais são as 6 economias latino-americanas que mais caíram em 2020 e os fatores específicos que influenciaram esses resultados ruins.

1) Venezuela: -30%

A Venezuela lidera com ampla vantagem a lista das economias latino-americanas que mais caíram no final do ano, com -30%, segundo estimativas da Cepal.

Frentista na Venezuela
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Escassez de combustível é outro elemento que alimenta colapso da economia venezuelana

Esse enorme revés, no entanto, não é apenas atribuível à pandemia do coronavírus. Está relacionado a outros problemas que levaram a economia venezuelana a registrar seu 7º ano consecutivo de contração econômica em 2020.

"Desde 2014, a dinâmica apresentada pelo PIB dos setores petrolífero e não petrolífero da economia venezuelana tem se caracterizado por uma contração prolongada e severa. Essa situação se agravou em 2020 devido aos efeitos da pandemia do coronavírus, uma grave escassez de combustível e o endurecimento das sanções impostas pelos Estados Unidos ao setor público venezuelano", disse a Cepal em documento sobre a economia venezuelana publicado em anexo a seu relatório.

A Torino Economics, divisão do Torino Capital LLC Investment Bank, com sede em Nova York, calcula que a queda do PIB venezuelano em 2020 foi menor do que a estimada pela Cepal: 24,7%.

Apesar de a Cepal esperar que em 2021 haja uma retomada nas economias latino-americanas, o que pode levar a um crescimento médio regional de 3,7%, a entidade estima que a Venezuela será o único país da região que não crescerá, embora deva registrar uma desaceleração no ritmo de queda de seu PIB, de 7%.

2) Peru: - 12,9%

Ao contrário da Venezuela, o Peru começou 2020 com um histórico de dar inveja: uma década ininterrupta de crescimento econômico.

Apesar disso, fechará este ano com uma contração em seu PIB de 12,9%, o que o torna "um dos mais atingidos (países) do mundo" por causa do coronavírus , segundo a Cepal.

Mulher peruana segura cartaz pedindo que governo lhe permita trabalhar
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Lockdown afetou fortemente economia peruana

"A queda do PIB dos parceiros comerciais impactou fortemente a demanda externa, e a demanda interna entrou em colapso devido à redução dos gastos das famílias e à interrupção dos projetos de investimento", afirma a Cepal em documento publicado sobre a economia peruana como um anexo ao seu relatório.

Segundo a organização, outro fator que influenciou a queda do PIB peruano foi o choque produzido pela "forte paralisação da produção" causada pelo confinamento estrito que durou vários meses.

A Torino Economics destaca que, em meio à pandemia, o Peru executou um dos maiores programas de estímulo fiscal de toda a América Latina, mas "sua eficácia foi limitada em decorrência das rígidas medidas de contenção implementadas e uma interrupção abrupta de investimentos e exportações, aliada à queda dos preços das matérias-primas nos mercados internacionais. "

3) Panamá: -11%

Entre 2010 e 2019, o Panamá registrou um crescimento econômico médio constante de 6,2% ao ano.

Em 2020, porém, a Cepal o classificou como o terceiro país da América Latina com a maior contração do PIB: 11%.

Praias do Panamá
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Medidas contra a pandemia deixaram destinos turísticos vazios no Panamá

"Essa queda se deve principalmente às medidas implementadas no país e no mundo para enfrentar a pandemia do covid-19", afirmou a Cepal.

A entidade destacou que entre janeiro e agosto de 2020, o valor das exportações do país caiu 23,7% em relação ao mesmo período de 2019, principalmente devido à queda nas exportações da Zona Franca de Cólon, que representam mais de 90% das exportações de mercadorias do Panamá.

As receitas relacionadas ao turismo e serviços financeiros também foram afetadas, assim como a construção, hotelaria e cassino, setores importantes da economia panamenha.

De acordo com a Cepal, a expectativa é de que em 2021 o Panamá cresça 5,5%, impulsionado pela retomada gradual da atividade econômica.

4) Argentina: -10,5%

A Argentina é, como a Venezuela, uma das economias da região que vinha registrando uma contração econômica antes da pandemia.

Supermercado em Buenos Aires
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Em muitos países, queda no consumo das famílias impactou economia como um todo

O país vai registrar em 2020 o 3º ano consecutivo de contração do PIB. A Cepal estimou essa queda em 10,5%, muito superior aos 2,1% sofridos em 2019.

"Esse desempenho se deve ao impacto da crise da pandemia do coronavírus (covid-19), que afetou negativamente o consumo privado, os investimentos e as exportações", afirmou a entidade.

"A atividade econômica contraiu 12,6% ano-a-ano no primeiro semestre de 2020, devido à queda do investimento (28,7% ano-a-ano), consumo privado (14,5%), exportações (8,7%) e o consumo público (5,5%), no quadro da pandemia de covid-19, que trouxe consigo um elevado grau de incerteza e a partir da qual se estabeleceram restrições à circulação, com impacto negativo em ambos oferta e demanda", disse a Cepal.

A Torino Economics, por sua vez, relaciona a contração econômica na Argentina à "queda de setores como hotelaria e turismo, outras atividades de serviços comunitários, construção, transporte, além de comunicações e pesca, dada a paralisação das atividades desde março para prevenir a propagação do vírus."

Além disso, assinala que o impacto da pandemia exacerbou os desequilíbrios macroeconômicos estruturais que a Argentina sofre, especialmente nas áreas fiscal, monetária e cambial.

Apesar disso, a Cepal estimou que, em 2021, o país vai registrar um crescimento de 4,9%, graças à retomada gradual das atividades produtivas, em função da evolução da pandemia e da disponibilidade de vacinas.

5) México: -9%

A economia do México havia contraído 0,1% em 2019.

Neste ano, porém, sua queda será bem mais acentuada, 9%, a maior contração do PIB desde 1932, segundo a Cepal.

Fronteira entre México e Estados Unidos.
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Restrições em comércio com EUA impactaram economia do México

Entre os fatores que influenciaram essa contração, a entidade destaca uma queda nas receitas do petróleo de 42,9% entre janeiro e outubro.

No mesmo período, houve queda de 11,2% nas exportações não petrolíferas com destino aos Estados Unidos e de 12% nas destinadas ao resto do mundo.

A Cepal destacou também a queda de 18,3% nos fluxos de Investimento Estrangeiro Direto (IED), o que atribui não só à pandemia, mas "também à incerteza gerada pelas recentes decisões de política pública", que afetaram diretamente projetos de produção de energia, aeroportos e bebidas.

Quanto às perspectivas de recuperação para 2021, a Cepal estimou que o PIB mexicano crescerá 3,8% devido a uma recuperação gradual da atividade econômica.

A Torino Economics, porém, é mais conservadora e espera um crescimento de 2%.

6) Equador: -9%

No caso do Equador, a Cepal considerou que o coronavírus agravou uma tendência negativa anterior.

Cuenca, Equador
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Economia do Equador já enfrentava vários desafios quando pandemia forçou medidas de distanciamento social que travaram ainda mais a atividade econômica

"O impacto da crise atual em decorrência da pandemia aprofundou a complexa situação econômica que já surgia desde o terceiro trimestre de 2019", afirmou a entidade, em documento anexo a seu relatório sobre a região.

A Cepal estimou que o PIB equatoriano cairá 9% este ano.

E acrescentou que o efeito da pandemia resultou em "uma queda drástica em todos os componentes da demanda agregada".

Assim, por exemplo, apontou que no segundo trimestre deste ano houve queda no consumo das famílias (12%) e do governo (10,5%) em relação ao mesmo período de 2019.

Já as exportações de petróleo registraram, entre janeiro e setembro de 2020, um decréscimo de 44% na comparação com o ano anterior.

A Torino Economics, por sua vez, considera que esta "queda histórica" da economia equatoriana é resultado tanto da queda do investimento real como da redução do consumo, bem como das medidas de contenção.

Olhando para 2021, a Cepal estimou que o PIB equatoriano crescerá 1%, sujeito a uma "recuperação fundamental da demanda interna".

"Dependerá do impacto dos diversos programas implementados pelo governo para fazer frente à pandemia e seu controle, bem como sustentar a retomada da atividade econômica e amortecer as repercussões sociais", afirmou a Cepal.

A entidade, no entanto, destacou que são inúmeras as incertezas sobre esse panorama, principalmente relacionadas às condições externas como a evolução da pandemia e uma possível nova queda nos preços do petróleo.

E o Brasil?

Apesar de não estar entre as economias na América Latina que mais vão cair em 2020, o Brasil deve apresentar contração de 5,3% em seu PIB neste ano, de acordo com a Cepal.

Para 2021, a previsão é de crescimento de 3,2%.

"Em 2020, a pandemia da doença coronavírus (COVID-19) marcou negativamente a evolução da economia brasileira e um elevado número de vidas", disse a entidade.

BBC

Professor Edgar Bom Jardim - PE