domingo, 31 de janeiro de 2021

Friedrich Nietzsche: "A arte existe para que a realidade não nos destrua"




Luís Luís, autor do livro "O Soneto dos Deuses", ao visitar o Museu de Bom Jardim Pernambuco, filosofou ao lembrar Friedrich Nietzsche: "A arte existe para que a realidade não nos destrua"

Sobre O Soneto dos Deuses: Cansado de uma vida monótona e sem emoção, o jovem Irã e o seu primo Rudá que está desiludido e recém-separado, partem de uma vila de pescadores em Pernambuco para uma jornada épica no deserto do “Atacama” no Chile. Em sua bagagem mental, Irã leva os ensinamentos de sua mestra e as orientações dos escritores que ama. Com a prática de meditação e as reflexões com os Deuses gregos, ele vai transformando dor em poesia, solidão em beleza, modificando assim, a forma que encaramos o mundo. Este livro, oferece a combinação perfeita de encantamento, humor, inspiração, conhecimento literário e filosófico. Tudo isso, recheado em uma trama com muita saliência, generosidade e perigo. Para saber mais acesse: https://www.amazon.com.br/Soneto-Deuses-IVONALDO-BARBOSA-SOUZA-ebook/dp/B08QRG1G52

*Imagem: Museu de Bom Jardim
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 30 de janeiro de 2021

Participei da Oficina de flores no Museu de Bom Jardim, muito bom, avalia Mestra Ivanilda Oliveira





"Participei da Oficina de flores no Museu de Bom Jardim, muito bom, professora Cabral," avaliou Ivanilda Oliveira.

Segunda Bienal Bom Jardim Arte no Museu de Bom Jardim-PE. De 25 de janeiro a 11 de fevereiro. Arte, História e Manifestações da Cultura Popular. Incentivo Cultural: Lei Aldir Blanc, Governo de Pernambuco, Secretaria da Cultura de Pernambuco, Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo. Parceria Prefeitura do Bom Jardim-PE. Oficina de Artesanato com a Mestra Maria Cabral. Realização: Museu de Bom Jardim-PE.

*Imagem Museu de Bom Jardim.


Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Vacinação contra a covid-19: no ritmo atual, Brasil demoraria mais de quatro anos para alcançar imunidade de rebanho


Ampola da vacina CoronaVac
Legenda da foto,

Se considerarmos que a campanha começou no país há 12 dias e 1.129.885 brasileiros receberam a primeira dose, a média é de 94.157 pessoas vacinadas por dia.

Desde que a enfermeira Mônica Calazans recebeu a primeira dose da vacina contra a covid-19 no dia 17 de janeiro, outros cerca de 1,5 milhão de brasileiros foram imunizados.

O número pode até parecer alto, mas está bem abaixo das expectativas e da capacidade de nosso sistema de saúde, de acordo com especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.

"O ritmo de vacinação no país está simplesmente péssimo. Nós já deveríamos ter utilizado pelo menos todo esse primeiro lote de 6 milhões de doses da CoronaVac, do Instituto Butantan e da Sinovac", analisa o epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Falta de planejamento, desafios de comunicação, problemas na coleta das informações e falhas no sistema do Ministério da Saúde ajudam a explicar essa lentidão.


Mas quais são as metas de vacinação? E como será possível atingir a imunidade de rebanho no país?

Vacina como bem coletivo

Por mais que todos pensemos em proteger a própria saúde quando tomamos uma vacina, o efeito dela ultrapassa as barreiras individuais.

Isso porque a imunização em larga escala permite proteger toda a comunidade, mesmo aquelas pessoas que, por um motivo ou outro, não podem tomar as doses.

Esse fenômeno é conhecido popularmente como imunidade de rebanho, embora os cientistas prefiram o termo imunidade coletiva.

De forma simplificada, para cada doença infecciosa prevenível por vacina há uma porcentagem da população que precisa ser protegida para que o vírus ou a bactéria deixe de circular naquele local.

Esse limiar de imunidade de rebanho varia de acordo com vários fatores, entre eles o quanto aquela enfermidade é contagiosa, a forma de transmissão da doença e a eficácia das vacinas disponíveis.

Vamos a alguns exemplos práticos. Para controlar o sarampo em determinada região, é necessário que mais de 95% das pessoas estejam vacinadas. Já na gripe, essa taxa fica na casa dos 50%.

Em outras palavras, se 95 pessoas são efetivamente vacinadas contra o sarampo, aquelas cinco que não podem tomar suas doses ficam protegidas por tabela, pois o vírus não encontra indivíduos vulneráveis para iniciar cadeias de transmissão e um surto local.

E na pandemia atual?

Ainda não se sabe ao certo qual é a porcentagem de vacinação necessária para atingir a imunidade de rebanho contra a covid-19.

Atualmente, os cientistas calculam que essa taxa deve ficar entre 70% e 90%.

Em dezembro, o imunologista americano Anthony Fauci, líder da força-tarefa de resposta à pandemia nos Estados Unidos, admitiu que será preciso vacinar mais de 90% da população para conseguir controlar de vez os números de casos e mortes.

Enfermeira Monica Calazans tomando a primeira dose da CoronaVac
Legenda da foto,

A enfermeira Mônica Calazans recebeu a primeira dose da vacina contra a covid-19 no dia 17 de janeiro

Esses indícios já mostram que a aplicação de doses aprovadas no Brasil precisa ser acelerada com urgência, uma vez que atingimos apenas 0,68% da população, segundo o banco de dados Our World in Data atualizados até 28 de janeiro (para efeitos comparativos, Israel, um país pequeno, mas o mais avançado na vacinação até agora em relação ao tamanho de sua população, já imunizou 4,56 milhões de pessoas).

Se considerarmos que a campanha começou no Brasil há 12 dias e, de acordo com Our World Data, 1,45 milhão de brasileiros receberam a primeira dose até quinta-feira (28), isso dá uma média de 120 mil pessoas vacinadas por dia.

Se precisarmos imunizar até 90% da população para eventualmente atingir a imunidade coletiva, no Brasil esse total corresponde a 188,5 milhões de pessoas vacinadas.

Mas, se continuarmos no ritmo atual de 94 mil doses por dia, demoraremos 1.570 dias (ou pouco mais de quatro anos) para atingir o limiar de 90%.

Lembrando que, para a maior parte das vacinas contra o coronavírus (incluindo a CoronaVac e a AstraZeneca, as duas disponíveis aqui até agora) são necessárias duas doses do imunizante.

Exemplo que vem do passado

A epidemiologista Carla Domingues foi coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde por quase dez anos, entre 2011 e 2019.

De acordo com sua experiência, o Brasil tem total capacidade de acelerar seu plano e vacinar um número bem maior de pessoas contra a covid-19.

"Nas campanhas de vacinação contra a gripe, que acontecem todos os anos, nós conseguimos imunizar 80 milhões de brasileiros em apenas 90 dias", compara.

Domingues acrescenta que o país tem cerca de 30 mil profissionais de saúde contratados para fazer a vacinação.

"Cada um deles consegue atender de 20 a 30 pessoas por dia. Portanto, não é exagero dizer que podemos imunizar 900 mil ou até 1 milhão de indivíduos no país diariamente", pontua.

O PNI também traz ótimas lembranças de outras campanhas de imunização que, ao longo de anos, foram capazes de controlar e até eliminar algumas doenças do país (pelo menos temporariamente), como a poliomielite, a varíola e o sarampo.

Exemplo que vem de fora

Com a aprovação das primeiras vacinas contra a covid-19, Israel logo despontou como o modelo de rapidez e eficiência na aplicação das doses.

Com o início da campanha em 19 de dezembro, o país conseguiu em pouco mais de um mês proteger metade da sua população.

Dados divulgados recentemente pelo governo israelense indicam uma queda significativa nas notificações de novos casos de infecção e na taxa de hospitalização.

É claro que as escalas são incomparáveis: Israel possui um território pequeno, com fronteiras bem controladas e apenas 8,8 milhões de habitantes.

Mas a experiência por lá sinaliza que a pandemia pode ser controlada se o planejamento for rápido e bem coordenado.

Outras nações que já avançaram bastante na vacinação são Emirados Árabes Unidos (29% da população vacinada), Reino Unido (11%) e Bahrein (8%).

Situação exige agilidade

Além da vacinação representar a única saída possível (e segura) desta pandemia, é preciso lembrar outro fator que está preocupando os cientistas: a descoberta de mutações do coronavírus.

Por ora, as três que chamaram mais atenção foram detectadas no Reino Unido, na África do Sul e no Brasil, mais precisamente em Manaus.

Com a alta circulação da doença, há o risco de aparecerem mutações que diminuem a eficácia das vacinas já testadas e aprovadas.

Por isso, é urgente agir com rapidez para quebrar as cadeias de transmissão do coronavírus e evitar que essas novas variantes se espalhem e tomem conta do pedaço.

"Também não sabemos quanto tempo de imunidade as vacinas conferem. Pode ser que, no futuro, precisaremos vacinar de novo os grupos prioritários sem ter dado a primeira dose para todo mundo", antevê o médico virologista Amilcar Tanuri, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O que acontece na prática?

Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que a campanha de vacinação contra a covid-19 no Brasil está sofrendo com falhas nos sistemas de informação.

"Nas campanhas anteriores, os profissionais de saúde precisavam apenas transmitir os números de vacinados de cada público-alvo. Ao final do período, eles basicamente passavam às centrais municipais e estaduais informações do tipo 'hoje eu vacinei 50 idosos, 20 indivíduos com doença cardíaca, 10 com doença renal…'", exemplifica Domingues.

Na campanha contra a covid-19, esse processo se tornou bem mais complexo. Agora, é necessário preencher nome, endereço, CPF, número do cartão do SUS, dose da vacina, qual lote ela pertence, o fabricante…

Essa exigência existe porque temos duas vacinas aprovadas no país até o momento: a CoronaVac (Instituto Butantan/Sinovac) e a CoviShield (FioCruz/Universidade de Oxford/AstraZeneca).

Ambas exigem as duas doses para conferir proteção, mas o tempo entre a primeira e a segunda aplicação é diferente.

A segunda dose da CoronaVac é dada de 14 a 28 dias depois da primeira. Já na CoviShield, esse intervalo sobe para um a três meses.

Outro ponto de atenção: um indivíduo deve receber duas doses da mesma vacina. Não dá pra aplicar uma da CoronaVac e depois a outra da CoviShield, por exemplo.

Todas essas recomendações e cuidados exigem, portanto, um tipo de cadastro mais completo para que não ocorram confusões. O problema é que esse processo toma muito tempo e está sendo feito na hora da vacinação.

Mulher recebe dose da vacina CoviShield
Legenda da foto,

Brasil tem capacidade de vacinar 900 mil pessoas por dia

"Sabendo que a campanha iria começar e alguns grupos tomariam a vacina primeiro, o Ministério da Saúde poderia já ter começado a fazer esse cadastro com antecedência lá nos meses de setembro ou outubro", lamenta Domingues.

Além de todo o trabalho no preenchimento dos dados, técnicos e enfermeiros estão relatando falhas e lentidão do sistema informatizado do Ministério da Saúde.

Em alguns locais sem internet, os profissionais precisam preencher as informações à mão, num papel, para só depois digitar tudo num computador.

Portanto, é possível que o número real de vacinados seja maior do que as estatísticas oficiais apontam.

O outro lado

Procurado pela reportagem da BBC News Brasil, o Ministério da Saúde respondeu por meio de uma nota encaminhada pela assessoria de imprensa.

O ministério informa que o plano de vacinação é dinâmico e pode sofrer ajustes necessários nas fases de distribuição das vacinas, "considerando a indicação de uso apresentada pelo fabricante, o quantitativo de doses entregues e os públicos prioritários já definidos".

Na nota, também fica claro que o cronograma de vacinação e como será feita a convocação dos públicos-alvo depende da disponibilidade das doses da vacina, que são entregues pelas fabricantes de forma gradativa.

"Atualmente o Brasil tem 354 milhões de doses de vacinas garantidas para 2021, por meio dos acordos com a Fiocruz (212,4 milhões de doses), Butantan (100 milhões de doses) e Covax Facility (42,5 milhões de doses)."

Se esse número for realmente confirmado (uma vez que a grande maioria dessas doses sequer foi fabricada), essas 354 milhões de doses atenderiam até 177 milhões de brasileiros.

De acordo com os cálculos feitos pelo ministério, 77 milhões de brasileiros fazem parte dos 27 grupos prioritários definidos no plano de vacinação contra a covid-19.

Esses grupos são divididos por faixas etárias (acima de 80 anos, entre 75 e 79, de 70 a 74 e assim por diante), por condições (indivíduos com diabetes, doenças cardíacas, deficiências…) e por categoria laboral (profissionais da saúde, trabalhadores da educação, forças de segurança, funcionários do sistema prisional…).

"Lavajatismo vacinal"

Na opinião de Lotufo, outro fator que tem atrapalhado o andamento da campanha de vacinação contra a covid-19 é o excesso de polêmicas com as pessoas que aproveitam cargos e posições de prestígio para tomarem suas doses mesmo quando não fazem parte dos grupos prioritários.

Em algumas cidades, como Manaus, a vacinação chegou a ser paralisada para que fossem apurados desvios e o "sumiço" de doses.

"Estamos acompanhando uma espécie lavajatismo vacinal, em que se presta mais atenção nos casos dos fura-filas, que logicamente estão errados, do que no problema sistêmico da falta de dados e de informações das secretarias estaduais e municipais de saúde", diz.

O epidemiologista faz alusão à Operação Lava-Jato, o conjunto de investigações de corrupção da Polícia Federal que culminou na prisão de políticos e empresários e contou com ampla cobertura da imprensa nos últimos anos.

"Muitos secretários de Saúde só sabem tirar fotos. Eles precisam ser cobrados sobre o que estão fazendo para que mais pessoas sejam vacinadas logo", opina.

  • André Biernath
  • Da BBC News Brasil em São Paulo
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Rufino Filho, Secretário de Esportes, Cultura e Turismo marca presença na 2ª Bienal BJ Arte no Museu de Bom Jardim



"Hoje a tarde visitei o Museu de Bom Jardim acompanhado de seu idealizador Prof. Edgar e sua equipe. Ambiente extremamente agradável dispondo de várias peças memoráveis retratando um pouco da história de nossa cidade além de várias obras de artes de grandes artesãos Bonjardinenses assim como outros de cidades vizinhas. Vale a pena conferir," publicou Rufino Filho no seu perfil do Facebook
 Rufino Filho, Secretário de Esportes, Cultura e Turismo do Bom Jardim na 2ª Bienal BJ ARTE

Espaço Coletivo do Artesanato

Fonte: 
https://www.facebook.com/photo?fbid=3563814123735371&set=pcb.3563815437068573
https://www.facebook.com/photo?fbid=3563814843735299&set=pcb.3563815437068573

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Prometeram proteger sua privacidade. Agora vazaram suas informações.

serasa

Ilustração: Rodrigo Bento/The Intercept Brasil



Temer e Bolsonaro te obrigaram a ceder suas informações para bancos e corretoras de dados. Mesmo que você saia, já está tudo à venda.

SE VOCÊ É BRASILEIRO e tem um CPF, provavelmente seus dados pessoais estão à venda em fóruns na deep web para qualquer um que tenha bitcoins suficientes para comprá-los. Tem de tudo: informações de trabalho, salário, histórico de pagamentos, fotos, perfil em redes sociais, perfil de consumidor e mais um monte de coisas.

No maior vazamento de dados que se tem notícia por aqui, alguém teve acesso a uma base de dados de 222 milhões de brasileiros (incluindo mortos) e está ganhando dinheiro com a venda dessas informações. Elas incluem, além do que mencionei, também dados comportamentais das pessoas, classificadas em perfis que vão de “consumidores indisciplinados” a “aposentadoria dos sonhos”. Essas categorias são criadas pelo serviço Mosaic, da Serasa Experian, que faz a segmentação do público para fins de marketing. É por isso que se suspeita que tenha sido a empresa a origem do vazamento – ou de pelo menos parte dele. Ela nega.

Questionada, a Serasa me mandou a mesma nota protocolar que enviou a outros veículos: “conduzimos uma extensa investigação e neste momento nenhum dos dados que analisamos indicam que a Serasa seja a fonte. Muitos dos dados analisados incluem elementos que não temos em nosso sistema e os dados atribuídos à Serasa não correspondem aos dados em nossos arquivos”.

Ok. A minha pergunta, no entanto, não foi respondida: a base de dados inclui a classificação comportamental do serviço Mosaic, oferecido pela Serasa. Ainda assim, a Serasa nega que tenha sido a fonte. Que outras empresas e serviços, então, têm acesso à base de dados da Serasa? A Serasa comercializa ou cede essa base para terceiros?

A Serasa respondeu outra coisa: afirmou que não há correspondência entre as pastas na web e os campos de seus bancos de dados e que a base vazada inclui elementos que não estão em seu sistema. Mais tarde, enviou uma terceira nota afirmando que o vazamento ter tido como fonte a Serasa é “infundada”. A minha pergunta sobre quem teve acesso às informações do Mosaic não foi respondida.

Enquanto espero, vou contar como a gigante do crédito conseguiu acumular todas as informações possíveis sobre todos os brasileiros e transformar isso em um império de dados, com um apoio generoso dos governos Temer e Bolsonaro. Essa ajuda tem um nome: Cadastro Positivo.

A SERASA EXPERIAN é uma das empresas que operam como data brokers – vendedores de dados – cujo modelo de negócio se baseia na coleta, análise e venda de informações sobre as pessoas. Você certamente a conhece por causa do cadastro negativo, aquele em que somos colocados se não pagarmos uma conta. Mas provavelmente não sabe que ela conhece muito mais segredos sobre você além dos seus boletos atrasados. Com diferentes bases de dados de diferentes fontes, cruzadas, a Serasa consegue fazer análises de crédito, de perfis de consumidores e traçar estratégias para expandir negócios de empresas. No ano final de 2020, a empresa foi investigada por colocar à venda um mailing com dados de 150 milhões de brasileiros. Cada pessoa custava R$ 0,98 na lista, que poderia ser personalizada com dados como localização, perfil financeiro, poder aquisitivo e classe social dos contatos à venda.

Desde 2019, o volume de informações que a Serasa e outros data brokers coletam saltou consideravelmente. Com a aprovação das mudanças no Cadastro Positivo, todos nós fomos obrigados a entrar no enorme catálogo de brasileiros que visa mostrar aos bancos e outros operadores de crédito quem são os bons – e os maus – pagadores do país. O Cadastro Positivo foi criado em 2011 por Dilma Rousseff – mas, na época, ele era no sistema opt in. Se você costumava ter as contas em dia, podia pedir para entrar, concordava em ceder seus dados bancários e de transações financeiras e isso, em tese, facilitaria o seu acesso a crédito (como se o superendividamento não fosse um problema no Brasil, mas essa é outra história). Mas o Cadastro Positivo voluntário teve pouca adesão (por que será?).

Em 2017, no entanto, um projeto de lei do Senado propôs mudar esse sistema: ele tornaria o cadastro compulsório – todos os brasileiros com CPF seriam automaticamente incluídos nele. Quem quisesse, precisaria pedir para sair. O projeto foi apoiado ostensivamente pelo governo Temer e pelos bancos, que argumentavam que ele ajudaria a reduzir os juros e facilitar o acesso a crédito. Na época de sua tramitação, o projeto já levantava críticas por concentrar muitos dados nas mãos de poucas empresas, os chamados birôs de crédito (o Serasa e o SPC estão entre eles) e por oferecer riscos potenciais à privacidade dos consumidores.

Mas a pressão do setor bancário foi forte: a Febraban, a federação que representa os bancos, condicionou a redução dos juros cobrados ao consumidor (e seus lucros) à aprovação do Cadastro Positivo. Também entrou com afinco na discussão da Lei Geral de Proteção de Dados, que seria estorvo para o Cadastro Positivo. Em uma carta aberta, a Febraban alegou que a LGPD iria, na prática, “extinguir” o cadastro de crédito e reduzir a oferta de dinheiro no mercado. No fim, a LGPD acabou aprovada e sancionada com a “proteção ao crédito” entre as finalidades previstas para uso de dados pessoais – algo único no mundo. Assim, os dados poderiam ser recolhidos sem o consentimento do usuário.

Em 2019, o caminho estava finalmente aberto para a sanção do Cadastro Positivo, assinado por Bolsonaro em abril de 2019. Naquele ano, o governo autorizou empresas a criarem o banco de dados com informações pessoais e hábitos de pagamento de todos os brasileiros, alimentado por faturas de cartão de crédito e contas, disponível para ser consultado por comércios e empresas financeiras. O histórico é usado para compor o score de crédito, a nota dada pelos birôs de crédito para classificar as pessoas como bons ou maus pagadores.

“A cada momento que o usuário pagar a prestação, essa conta e o score serão atualizados e vinculados ao seu histórico”, disse na época Vanessa Butalla, diretora jurídica da Serasa Experian, ao Estadão. “O cadastro pode beneficiar 130 milhões de pessoas, incluindo 22 milhões que estão hoje fora do mercado de crédito”, comemorou o secretário Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa.

‘Me pergunto: quem teria motivos e legitimidade para ter tanta informação sobre tanta gente?’

Com a aprovação do Cadastro Positivo, o governo também deu o sinal verde para os birôs de crédito engordarem suas bases com todos os brasileiros. Em um decreto de julho de 2019, Bolsonaro criou as regras para atuação das empresas responsáveis por coletar e analisar os dados usados para criar o Cadastro Positivo. Patrimônio líquido de R$ 100 milhões e avisar as autoridades em casos de vazamentos são duas delas. Quatro data brokers se qualificaram para operar os bancos de dados: Serasa, SPC Brasil, Boa Vista e Quod, uma empresa criada pelos cinco principais bancos só para isso.

Apesar de a lei do Cadastro Positivo ser rígida sobre que tipo de informação pode ser vendida – só o score, ou seja, a nota final –, ter um cadastro com todos os brasileiros, que inclui o perfil de consumo, dá a essas empresas um poder imensurável sobre os cidadãos. Elas combinam o cadastro com outras informações, que podem incluir até perfis de redes sociais, e escolhem quem pode ou não alugar um apartamento, conseguir um empréstimo, passar em um processo seletivo. Também têm informações de consumo muito valiosas para qualquer departamento de marketing. E têm uma responsabilidade imensa, já que dados como endereço, salário, histórico de pagamentos podem ser devastadores nas mãos de criminosos.

Chegamos a 2021. E o que aconteceu? O megavazamento. Uma dessas bases de dados está à venda para possíveis criminosos. Na época da discussão do Cadastro Positivo, a possibilidade disso acontecer foi levantada mais de uma vez, mas o governo, os bancos e as empresas interessadas garantiriam que todo o sistema seria seguro. Não é, como provou o vazamento classificado por Bruno Bioni, diretor da ONG Data Privacy Brasil, como o “mais lesivo do Brasil“. Não se sabe exatamente de onde partiu o vazamento, mas está claríssimo que veio de alguma empresa que retém essa enormidade de informações.

“O tamanho do banco de dados e a natureza dele leva a crer que é o problema mais volumoso que já tivemos no Brasil”, me disse o advogado Danilo Doneda, doutor em Direito Civil e membro indicado pela Câmara dos Deputados para o Conselho Nacional de Proteção de Dados e Privacidade. “É uma quantidade imensa de pessoas e um detalhamento assustador”. Para ele, a vastidão dos dados leva a crer que o vazamento tenha partido de um data broker. “O problema não é somente quem vazou os dados”, diz Doneda. “Me pergunto: quem teria motivos e legitimidade para ter tanta informação sobre tanta gente?”

Sabe o que pode acontecer? Criminosos podem usar os seus dados para criar contas falsas. Pedir cartão de crédito em seu nome. Fazer compras. Também podem roubar suas contas: terão todos os dados para isso. Mesmo se você tiver autenticação em dois fatores, eles terão o seu celular – que pode ser clonado para que o SMS de confirmação seja interceptado. Também podem aplicar golpes usando suas informações pessoais – eles saberão tudo sobre você e podem ligar se passando por um atendente de uma empresa e terão todo o seu histórico para confirmar. Tudo isso sem mencionar o risco que correm pessoas públicas, políticos, ativistas e comunicadores ameaçados. Suas fotos, endereços, salários: está tudo exposto.

E essa nem foi a primeira vez. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios está investigando outro possível vazamento de dados do Cadastro Positivo – desta vez, do Boa Vista SCPC. Na base vazada há informações de pagamentos e dados pessoais dos clientes.

O pior de tudo é que nós fomos obrigados a entrar nesse banco de dados. Bancos e governos podem argumentar: mas você podia pedir para sair! Podia, sim. “O que você perde ao excluir sua conta da Serasa” é o nome da página que ensina o consumidor a fazer isso. Depois que você exclui, bem, é preciso ir a todos os outros três birôs, criar um cadastro – alguns, como o Quod, exigem até foto do seu documento e uma selfie sua – e só depois é possível pedir para sair. Sim, foi isso que você leu: é preciso fornecer informações pessoais e documentos para pedir que seus dados sejam excluídos dessas bases.

Agora, porém, mesmo que você queira sair, já é tarde: seus dados já foram vazados por incompetência de quem deveria cuidar deles.

Com o estrago feito, resta à Autoridade Nacional da Proteção de Dados, o órgão que, segundo a LGPD, deve atuar nesse tipo de caso, investigar os responsáveis. A boa notícia: a ANPD está (ao menos teoricamente) funcionando desde o fim do ano passado. A má notícia: demorou quase uma semana para que ela se manifestasse sobre o caso. A Secretaria Nacional do Consumidor, a Senacon, vinculada ao Ministério da Justiça, e o Procon-SP já anunciaram que notificariam a Serasa. Depois de dias sendo questionada por vários veículos, na quarta-feira, 27, a ANPD finalmente avisou que está “apurando tecnicamente” o caso. É a prova de fogo para a LGPD, que prevê punições para esse tipo de vazamento. “Se a lei de proteção de dados não ajuda a gente numa hora dessas, ela vai servir pra que?”, questiona Doneda.

Resumo da história: deixaram que algum incompetente reunisse uma quantidade de dados devastadora sobre nós, com um empurrarão do Cadastro Positivo, prometeram que cuidariam da sua privacidade e falharam miseravelmente, e agora está nas mãos desse mesmo governo agir para investigar e punir os responsáveis. Da próxima vez que sua privacidade for rifada por um suposto benefício, desconfie. Eles provavelmente estão mentindo para você.

O que fazer depois do estrago

O especialista em segurança da informação e líder de comunidade do Projeto Tor Gustavo Gus compara o vazamento à Chernobyl: os efeitos serão sentidos por muito, muito tempo. Dá para minimizar o dano? Difícil, mas dá. Pedimos a ele uma lista do que você pode fazer para se proteger:

  • Fique mais desconfiado – sua segurança depende disso. Informações que você achava que eram privadas não são mais. Seu CPF, por exemplo. Fique atento com contatos comerciais, mesmo que eles usem seus dados para confirmar sua suposta idoneidade.
  • Cuide de suas senhas – especialmente as que estão atreladas ao seu CPF. Procure os sites onde você informou esses dados, porque eles agora podem ser públicos, e troque todas as senhas.
  • Coloque autenticação de dois fatores em suas contas – no WhatsApp, por exemplo. Com isso, mesmo com sua senha ou CPF, é preciso digitar um código gerado no seu celular para acessar o serviço. Só isso não garante a segurança, mas é mais uma barreira para evitar ataques.
  • Esses cuidados devem ser mantidos por muito tempo – talvez anos. Uma vez cedidos, os dados não podem ser recuperados. E não se sabe quem teve acesso a essas informações.

Atualização: 28 de janeiro, 8h57
O texto foi atualizado para incluir a manifestação da ANPD sobre o caso.


Professor Edgar Bom Jardim - PE