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segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Revolução Francesa: Resumo, Fases da Revolução, Iluminismo







Revolução Francesa foi um dos eventos históricos mais significativos da humanidade. Gerou impactos políticos e ideológicos em todo o ocidente. É tanto que o ano que marcou o seu início, 1789, foi utilizado pelos historiadores para estabelecer o início da Idade Contemporânea.

Ideais como liberdade, igualdade e fraternidade foram disseminados pela revolução, que resultou no esfacelamento da monarquia absolutista na França e na ascensão de princípios republicanos. Uma das maiores conquistas da Revolução Francesa foi a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que consolidou os direitos sociais e as liberdades individuais, sem distinção de classe social. Esse documento serviu de base para muitas constituições e declarações de direitos em diversos países, incluindo o Brasil.

Neste artigo, vamos mostrar como a Revolução Francesa, inspirada pelo pensamento moderno dos filósofos iluministas, abriu caminhos para a democracia representativa.

O que foi a Revolução Francesa?

Revolução Francesa foi um movimento político que transformou a França de uma monarquia absolutista em uma república. Impulsionada por profundas desigualdades sociais, por uma crise financeira sem precedentes e pela influência dos ideais iluministas, a revolução culminou com o desmantelamento do sistema feudal que ainda prevalecia na França, bem como com a queda do absolutismo.

O processo revolucionário teve início quando o rei Luís XVI convocou os Estados Gerais no intuito de solucionar a crise que o país estava enfrentando. Na década de 1780, a população da França era dividida em estamentos: o Primeiro Estado, o Segundo Estado e o Terceiro Estado. Mas, apenas o Terceiro Estado pagava impostos. Formado por uma massa heterogênea de burgueses, camponeses e população urbana proletária, o Terceiro Estado representava mais de 90% dos cidadãos franceses. Insatisfeitos com a desigualdade social e com os privilégios concedidos ao clero e à nobreza, os representantes do Terceiro Estado vão desencadear a revolução.

O movimento durou cerca de 10 anos, período marcado por importantes momentos, como a Queda da Bastilha; a execução do rei Luís XVI e da rainha Maria Antonieta; a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e a morte de alguns dos principais líderes revolucionários, como Georges Danton e Maximilien Robespierre.

A Revolução Francesa, portanto, não foi um movimento homogêneo e linear, mas cheio de conflitos internos e internacionais, que culminaram com a ascensão de Napoleão Bonaparte. Está entre os principais eventos que mudaram a história das Relações Internacionais.



Revolução Francesa Resumo

A Revolução Francesa foi um movimento radical que aconteceu na França, no final do século XVIII, marcado pelo fim da monarquia absolutista como modelo governamental do país. Durou 10 anos, que foram divididos em três fases: Monarquia Constitucional (1789-1792), Convenção Nacional (1792-1795) e Diretório (1795-1799).

No primeiro momento, houve a Tomada da Bastilha pelos revolucionários. A Bastilha era uma prisão política onde ficavam detentos os que se rebelavam contra a monarquia. Ainda na primeira fase, foi instituída a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e a Constituição de 1791.

A segunda fase é marcada pela abolição da monarquia e pela proclamação da República. É neste momento que o rei Luís XVI é decapitado e acontece o período do Terror, com execuções em massa.

Já no terceiro momento da revolução, a burguesia assume o poder e precisa lidar com as ameaças externas ao país. É quando acontece o golpe do 18 de Brumário e Napoleão Bonaparte assume o poder.

Causas da Revolução Francesa

Revolução Francesa foi o ápice de um longo processo de mudanças políticas, sociais e econômicas que já vinham acontecendo há mais de um século na França. O país estava sob o reinado de Luís XVI, que possuía todo o poder e não conseguia administrar adequadamente as finanças públicas.

A alta nobreza e o clero, que detinham enormes privilégios, como a isenção de impostos, contribuíam para a falência do Estado, enquanto as classes populares, especialmente os camponeses e a crescente burguesia, suportavam a maior carga tributária. Esse sistema injusto gerava grande descontentamento, especialmente entre os mais pobres, que viviam em péssimas condições.

No cenário internacional, a França atrasada e feudal observava o exemplo da Inglaterra, que já estava vivendo a Revolução Industrial e dos Estados Unidos, que tinha se tornado independente da Inglaterra. Inclusive, a própria França havia enviado soldados para lutar ao lado dos colonos americanos pela independência.

Internamente, a população francesa enfrentava péssimas colheitas, invernos rigorosos e secas que estavam a levando à miséria. Esse caos financeiro e social culminou na convocação dos Estados Gerais em 1789, uma reunião extraordinária convocada por Luís XVI para tentar resolver a crise fiscal do país.

Contudo, o sistema de votação nos Estados Gerais, em que cada um dos três estados (clero, nobreza e o Terceiro Estado, formado pela burguesia, camponeses e outros grupos) tinha direito a um voto, mostrava-se extremamente desigual.

O Juramento do Jogo da Péla, de Jacques-Louis David (1791)
No dia 20 de junho de 1789, aconteceu o Juramento do Jogo da Péla, quando os membros do terceiro estado decidiram permanecer reunidos até a criação de uma Constituição para a França.


Embora o Terceiro Estado representasse mais de 90% da população, ele estava sempre em desvantagem, já que o clero e a nobreza, unidos, conseguiam derrubar suas propostas. Esse cenário gerou um sentimento de injustiça entre os representantes do Terceiro Estado, que, em resposta, proclamaram a Assembleia Nacional, afirmando que eram os verdadeiros representantes do povo francês. A partir deste momento, o movimento revolucionário começou a ganhar força. A situação se tornou ainda mais explosiva com a tomada da Bastilha, um símbolo do poder absoluto do rei, em 14 de julho de 1789, marcando o início da Revolução Francesa.

Esse processo de revolta contra a monarquia absoluta se deu em um contexto de crescente reflexão sobre os ideais iluministas, que defendiam a liberdade individual, a igualdade perante a lei e o governo baseado na soberania popular



Fases da Revolução Francesa

A Revolução Francesa pode ser dividida em três fases principais, cada uma marcada por transformações significativas no governo e na sociedade francesa.

FASES DA REVOLUÇÃO FRANCESAPRINCIPAIS ACONTECIMENTOS
1ª Fase: Monarquia Constitucional (1789-1792)Formação da Assembleia Nacional e Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão

Tomada da Bastilha (14/07/1789)

Aprovação da Constituição de 1791: monarquia constitucional e voto censitário
2ª Fase: Convenção Nacional (1792-1795)Proclamação da República e execução de Luís XVI (1793) Adoção do governo radical dos jacobinos, liderado por Robespierre

Período do Terror e medidas radicais (voto universal masculino, fim da escravidão, congelamento de preços)

Queda de Robespierre (1794)
3ª Fase: Diretório (1795-1799)Governo dos girondinos e revogação das medidas jacobinas

Crises internas e ameaças externas (Império Austríaco e Inglaterra)

Ascensão de Napoleão Bonaparte e Golpe do 18 de Brumário (1799)




Iluminismo: A Influência dos Pensadores

Quadro A Morte de Marat (1793), de Jacques-Louis David
A pintura mostra o revolucionário jacobino Jean-Paul Marat, assassinado em casa em 13 de julho de 1793, por Charlotte Corday


Iluminismo foi uma corrente filosófica que floresceu no século XVIII na Europa, cujas ideias se expandiram por todo o Ocidente. O Iluminismo, também conhecido como Ilustração ou Esclarecimento, propunha uma nova maneira de interpretar o mundo, com ênfase na razão, no conhecimento científico, no antropocentrismo e nos direitos individuais.

As ideias do movimento desafiavam as tradições dogmáticas da Igreja Católica e os poderes absolutistas da monarquia. Portanto, os preceitos iluministas tiveram impacto direto na Revolução Francesa, fornecendo as bases ideológicas para as transformações políticas e sociais que iriam acontecer na França.

Entre os filósofos iluministas, nomes como Jean-Jacques Rousseau, Voltaire e Montesquieu destacaram-se por suas ideias a respeito de igualdade, liberdade e fraternidade, que mais tarde se tornaram o lema da Revolução Francesa.

Rousseau, em sua obra O Contrato Social, argumentou que a soberania deveria residir no povo e não em uma monarquia absoluta. Ele defendia a ideia de um contrato social, onde os cidadãos, ao se unirem, criariam uma vontade geral que deveria guiar a sociedade. Suas ideias sobre liberdade e igualdade social tiveram um grande impacto nas revoltas contra os privilégios da nobreza e do clero.

Montesquieu, em O Espírito das Leis, propôs a separação dos poderes em executivo, legislativo e judiciário, uma ideia que permanece viva até hoje nas repúblicas democráticas.

Já Voltaire criticava a intolerância religiosa e o absolutismo monárquico, defendendo a liberdade de expressão e a separação entre Igreja e Estado. Seus escritos ajudaram a incitar um espírito de questionamento da autoridade, que se refletiu na oposição popular ao regime monárquico francês.

Immanuel Kant e o Iluminismo

Um dos principais pensadores iluministas foi Immanuel Kant, filósofo alemão que teve um papel decisivo no desenvolvimento da filosofia moderna.

Em O Que é o Esclarecimento? (1784), um dos textos fundamentais para compreender o Iluminismo, Kant responde à pergunta que dá título à obra, explicando o conceito de "esclarecimento" e sua importância para a humanidade. Esse trabalho reflete e sintetiza muitos dos princípios centrais do movimento iluminista.

No texto, Kant define o esclarecimento como o processo de libertação da humanidade da "auto-imposta tutela", ou seja, da incapacidade de pensar por si mesma. Ele escreve que “o esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele mesmo é culpado.”

Essa menoridade seria a condição de dependência intelectual, onde os indivíduos aceitam dogmas, tradições e autoridades sem questionamento. A tutela é imposta pela falta de coragem para usar a própria razão de forma independente, muitas vezes devido ao medo ou à preguiça.

Kant acreditava que o Iluminismo era a saída da humanidade de sua "menoridade", ou seja, a superação do estado de dependência intelectual e política. Ele afirmava que as pessoas deveriam usar sua razão para questionar a autoridade e a tradição, defendendo a autonomia e a liberdade de pensamento


Consequências da Revolução Francesa

Os ideais da Revolução Francesa tiveram um impacto duradouro, não apenas na França, mas em todo o mundo. Os princípios que floresceram durante o processo revolucionário marcaram o fim de séculos de monarquia absoluta e feudalismo. A revolução alterou a estrutura política e social da França e inspirou movimentos revolucionários e de independência em várias partes do mundo, especialmente na Europa e nas Américas. A ascensão do capitalismo, a queda do absolutismo e a introdução de direitos humanos fundamentais são apenas algumas das consequências que ecoam até os dias de hoje.

Principais Consequências da Revolução Francesa:

  • Disseminação dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade
  • Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, afirmando os direitos individuais
  • Abolição dos privilégios da nobreza e do clero
  • Fortalecimento do conceito de direitos humanos e cidadania
  • Fim do absolutismo e início da consolidação de regimes republicanos
  • Fim do feudalismo e fortalecimento do capitalismo
  • Inspiração para movimentos de independência nas Américas
  • Separação entre os poderes executivo, legislativo e judiciário
  • Propagação do conceito de nacionalismo, com bandeiras nacionais, hino, idioma oficial



A Influência da Revolução Francesa na Independência do Brasil

No início do século XIX, as ideias republicanas ganharam força no Brasil, influenciadas pela Revolução Francesa e pelas transformações políticas na Europa e nas colônias americanas. A Revolução Francesa serviu como modelo para aqueles que desejavam uma sociedade sem a monarquia absolutista, como a que existia sob Dom Pedro I. Em 1822, Dom Pedro I proclamou a independência do Brasil, tornando-se imperador. No entanto, a insatisfação com o governo imperial cresceu ao longo das décadas, e, em 1889, movimentos republicanos culminaram na Proclamação da República, com a deposição de Dom Pedro II e o fim da monarquia, dando início a um novo regime republicano baseado nos valores de liberdade e igualdade.

Conclusão

A Revolução Francesa foi um marco decisivo na história mundial, cujas transformações políticas, sociais e ideológicas impactaram profundamente a França e reverberaram por todo o Ocidente. Introduziu novos ideais, que foram fundamentais para a construção de sociedades democráticas. Portanto, compreender o passado nos ajuda a saber o que somos e o que podemos nos tornar. Entender as consequências amplas da Revolução Francesa nos permite reconhecer as lutas e conquistas que formaram as bases das sociedades democráticas atuais.

Filmes para Entender a Revolução Francesa

A Revolução Francesa é tema de diversos filmes que abordam suas complexidades e impactos históricos. Alguns exemplos incluem:

  1. Danton - O Processo da Revolução (1983)
  2. Cartaz filme 'Danton - Processo da Revolução, de Andrzej Wajda

    Dirigido por Andrzej Wajda, o filme retrata o retorno do revolucionário Georges Danton (Gérard Depardieu) a Paris em 1794, no auge do clima de terror liderado por Robespierre. Danton, que inicialmente lutou pela revolução, agora se vê perseguido pelas mesmas forças que ajudou a instaurar.

  3. A Revolução em Paris (2018)
  4. Cartaz do filme 'A Revolução em Paris', de Pierre Schoeller

    Dirigido por Pierre Schoeller, o filme se passa em 1789, mostrando a crescente insatisfação popular contra a monarquia de Luís XVI. A história acompanha personagens comuns e figuras históricas, destacando a luta por justiça e igualdade.

  5. Maria Antonieta (2006)
  6. Cartaz do filme 'Maria Antonieta', de Sofia Coppola

    Dirigido por Sofia Coppola e estrelado por Kirsten Dunst, o filme narra a história da princesa austríaca Maria Antonieta, que, ao chegar à corte de Versalhes para casar com Luís XVI, busca escapar das rígidas regras da monarquia, enquanto a Revolução Francesa se aproxima e ameaça o futuro da monarquia.

Perguntas Frequentes sobre a Revolução Francesa

O que foi a Revolução Francesa?

A Revolução Francesa foi um movimento social e político iniciado em 1789, que derrubou a monarquia absolutista na França, estabeleceu a República e promoveu ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.

Quais foram os principais resultados da Revolução Francesa?

A Revolução Francesa resultou na queda da monarquia, na implementação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, e na criação de um novo regime republicano, que inspirou outras revoluções ao redor do mundo.





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A Revolução é feita de sombra, mas, acima de tudo, de luz. Michel Vovelle. A Revolução Francesa explicada à minha neta, 2007. A frase apresenta a Revolução Francesa, destacando
a) a aliança de setores católicos, associados à luz da revelação divina, com a ação revolucionária, que representava as trevas da morte.
b) o contraste entre a obscura violência de alguns de seus momentos e a razão luminosa que guiou muitos de seus propósitos.
c) a vitória do projeto aristocrático, que representava a luz, sobre as lutas burguesas, que representavam as sombras.
d) o contraponto entre o esforço obscuro de impor o terror e a vontade iluminista de restaurar a monarquia parlamentar.
e) a derrota do ideal republicano, que associava a revolução às trevas, e o sucesso da monarquia absoluta, liderada pelo Rei Sol.

3. Em julho de 1789, houve a explosão de movimentos populares em Paris. Artesãos, operários e desempregados se envolveram fortemente com o processo revolucionário, que ocasionou a tomada da Bastilha, momento simbólico da Revolução Francesa. Os grupos populares que protagonizaram a revolução passaram a ser conhecidos como sans-culottes. Em relação aos sans-culottes, assinale a resposta que CORRESPONDA às suas reivindicações e atitudes.
a) Desejavam tomar o poder do rei de forma moderada, mediante as decisões do Primeiro Estado.
b) Defendiam o aprofundamento das reformas políticas e a tomada de poder por parte da aristocracia.
c) Tinham um projeto político bem definido, cuja principal proposta era o alinhamento com grupos contrarrevolucionários.
d) Exigiam melhores condições de vida e participação política dos setores sociais médios e pobres, saqueando armazéns e tomando edifícios governamentais.
e) Defendiam que os preços fossem tabelados e o fim da exploração econômica, sem qualquer proximidade com os camponeses e suas reivindicações.

História Online.


Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 14 de setembro de 2025

DOCUMENTÁRIO ''O FIM DE BOLSONARO'' - ORIGINAL ICL










Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Sexta-feira Santa: Como morreu Jesus, segundo a ciência







Religião à parte, pouca gente duvida que um homem chamado Jesus viveu há 2 mil anos em uma parte do que hoje é Israel. E que esse homem foi um judeu dissidente que acabou liderando um grupo de seguidores e, às vésperas da Páscoa judaica, ele foi condenado, torturado e crucificado. Neste vídeo, Camilla Veras Mota explica o que dizem cientistas sobre a morte de Jesus

BBC BRASIL

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Qual a aparência de Jesus?







Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Se não fosse Lula o Brasil estava quebrado






Canal Gov. 
Mídia NINJA
Foto: Ilustrativa

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 6 de março de 2025

Segurança da Europa em jogo: líderes se reúnem para reagir a políticas de Trump





Fileira do alto, a partir da esquerda: primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, chanceler alemão, Olaf Scholz, primeiro-ministro norueguês, Jonas Gahr Store, primeiro-ministro tcheco, Petr Fiala; Fileira do meio, a partir da esquerda: primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa, primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau; Fileira da frente, a partir da esquerda: presidente finlandês, Alexander Stubb, presidente francês, Emmanuel Macron, primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, posam para uma foto de família durante uma cúpula sobre a Ucrânia, em Londres, em 2 de março de 2025

Crédito,PARSA/EPA-EFE/REX/Shutterstock

Legenda da foto,No fim de semana, o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, organizou o que ele chamou de 'coalizão dos dispostos'

Líderes europeus se reúnem nesta quinta-feira (06/03) em Bruxelas, na Bélgica, para discutir como aumentar as forças militares da Europa e ajudar a Ucrânia na guerra contra a Rússia. A negociação acontece após o presidente dos Estados UnidosDonald Trumpsuspendeu a ajuda militar à Ucrânia na segunda-feira (3/3).

O ritmo implacável das mudanças em Washington pode ser vertiginoso. Não apenas para os consumidores de notícias, mas também para os políticos. A Europa está se esforçando para reagir de forma eficaz.

Desde a suspensão anunciada por Trump, houve um frenesi de atividades diplomáticas: telefonemas bilaterais de líderes tarde da noite, encontros europeus em Londres e Paris, reuniões dos ministros da defesa da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em Bruxelas.

Nesta quinta (6/3), os líderes da União Europeia (UE) fazem uma reunião de emergência da cúpula de segurança, em um momento importante na história da Europa


A maioria dos países europeus acredita que a segurança de toda a Europa, e não apenas a soberania da Ucrânia, está em jogo — com a Rússia buscando desmantelar o equilíbrio de poder voltado para o Ocidente, em vigor desde o fim da Guerra Fria.


Washington, que apoia a Europa em termos de segurança e defesa desde a Segunda Guerra Mundial, agora parece "não se importar com o destino da Europa", de acordo com Friedrich Merz, provável futuro chanceler da Alemanha, a maior economia do continente.

Mas o que todas as grandes reuniões e cúpulas europeias estão realmente alcançando?



Na reunião, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky - que havia sido acusado por Trump de não estar pronto para a paz - disse que quer, sim, paz e cessar-fogo, mas não às custas de "desistir da Ucrânia".

Recentemente ele havia dito, nas redes sociais, que há alguns passos que precisam ser tomados para chegar a um acordo de cessar-fogo.

O primeiro, diz, é uma trégua nas batalhas no ar e no mar e o segundo é a libertação de prisioneiros - como forma de estabelecer confiança.

Ele destacou a necessidade de estabelecer uma "confiança básica".

Zelensky se encontrou com o presidente francês Emmanuel Macron, que havia feito um discurso sobre o assunto na quarta. Há expectativa de que Zelensky se encontre com o representante americano Steve Witkoff em uma reunião na Arábia Saudita.

Compromissos de países europeus para fortalecer a segurança da Ucrânia estão em discussão.

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, que está assumindo a liderança na Europa em relação à Ucrânia, falou em uma "coalização dos dispostos", e membros do governo britânico dizem que há 20 países interessados em participar.

Apenas algumas horas antes de Washington suspender a ajuda militar, Starmer nunciou que era hora de "ação, e não de palavras". Enquanto isso, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que a Europa precisa transformar a Ucrânia em um "porco-espinho de aço", com fornecimentos extras e urgentes de armas.

Mas será que o continente pode realmente agir como um só? A Europa é a soma de diferentes países, com orçamentos de tamanhos diferentes e políticas e prioridades internas diversas.

A Rússia repetiu que se opõe fortemente à presença de tropas europeias na Ucrânia após um eventual acordo - dizendo que isso seria uma "guerra direta".

Keir Starmer e Zelensky do lado de fora do número 10 de Downing Street

Crédito,PA Media

Legenda da foto,Keir Starmer recebeu Zelensky no número 10 de Downing Street, sede do governo britânico, no dia seguinte ao bate-boca no Salão Oval da Casa Branca

O objetivo da Europa

O objetivo da Europa ao tomar mais medidas de defesa da Ucrânia é duplo:

Primeiro, mostrar a Donald Trump que — nas palavras do primeiro-ministro britânico — a Europa agora vai fazer o "trabalho pesado" para se defender.

A Europa espera persuadir Trump a retomar o apoio militar à Ucrânia, e a manter o atual apoio de segurança à Europa como um todo, se ele acreditar que eles não estão mais "se aproveitando" dos Estados Unidos.

Segundo, reforçar urgentemente suas próprias defesas, e o apoio a Kiev de qualquer forma, se Donald Trump se afastar da Ucrânia e, mais adiante, da Europa de forma mais ampla em termos de segurança.

Não é só para Washington que a Europa sente que precisa provar algo.

A Rússia também está observando.

As diversas reuniões de emergência europeias de alto escalão e com grandes promessas precisam agora produzir resultados rápidos, impressionantes e práticos — caso contrário, aos olhos do Kremlin, a Europa vai parecer fraca e vulnerável.

Moscou já se vangloriou das "divisões" que vê na unidade ocidental.

Donald Trump diz que confia no presidente russo, Vladimir Putin, mas ele tem sido mordaz com os aliados da Otan, e chamou o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, de ditador.

A Rússia sabe que, apesar de todo discurso da Europa sobre se defender com determinação agora, qualquer especialista em segurança com quem você conversar reconhece que — pelo menos a curto e médio prazo — a Europa ainda precisa dos EUA.

É por isso que, na semana passada, em Washington, vimos o presidente francês e o primeiro-ministro do Reino Unido, separadamente, cortejando Trump.

Os EUA preencheram as enormes lacunas na defesa europeia, deixadas por anos de subinvestimento crônico após o fim da Guerra Fria.

O número de tropas na Europa diminuiu com o fim do serviço militar obrigatório na maioria dos países europeus. Os EUA têm cerca de 100 mil soldados e armas nucleares em várias partes da Europa sob a política de compartilhamento nuclear da Otan. Muitos deles estão na Alemanha, uma grande potência europeia não nuclear, que teme ficar gravemente exposta à Rússia caso Donald Trump retire seu apoio.

Se o Reino Unido e a França conseguirem reunir o que eles chamam de "coalizão dos dispostos" — países europeus que aceitam enviar até mesmo um número modesto de tropas de manutenção da paz para a Ucrânia assim que um cessar-fogo for acordado —, isso poderia sobrecarregar os Exércitos europeus e expor lacunas nas defesas da Otan.

É por isso que a Polônia não está disposta a enviar tropas para essa "coalizão".

O país afirma que precisa manter os soldados em casa para se defender da Rússia. E também espera fervorosamente que os EUA não retirem suas tropas do leste europeu.

Trump e Zelensky no Salão Oval da Casa Branca

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Os EUA interromperam o envio de ajuda militar a Kiev após um encontro dramático entre Donald Trump e Volodymyr Zelensky, na semana passada, na Casa Branca

Recursos militares

Mas a Europa também depende dos EUA para obter recursos militares que garantam o bom andamento das operações. Esses recursos são conhecidos como "facilitadores".

A Ucrânia depende muito da inteligência dos EUA, por exemplo, para manter uma posição forte contra a Rússia.

Mas, na quarta-feira (5/3), o jornal Financial Times informou que os EUA haviam suspendido o compartilhamento de informações com Kiev, em uma medida que poderia afetar seriamente a capacidade dos militares ucranianos de atacar as forças russas.

Qualquer força europeia de manutenção da paz ou de "garantia" na Ucrânia precisaria do apoio dos EUA para estabelecer um escudo aéreo sobre a Ucrânia.

A Europa carece de recursos de reabastecimento aéreo, assim como de munições que possam derrubar as defesas aéreas na Rússia, se necessário.

Esses facilitadores "não podem ser comprados às pressas em uma rede de mercado atacadista", como disse um político europeu à BBC.

É por isso que o Reino Unido, a França e outros países da Europa estão tão interessados em manter o apoio dos EUA pelo maior tempo possível.

"Alguns de meus estimados colegas europeus provavelmente deveriam se abster de tuitar com raiva", disse à BBC um diplomata frustrado de uma nação importante.

Ele estava falando sobre a indignação europeia diante do tratamento dado ao presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, pelo presidente e vice-presidente dos EUA no Salão Oval da Casa Branca na última sexta-feira (28/2).

"A verdadeira liderança não se resume a desabafar online. Trata-se de encontrar as palavras certas para avançar de forma construtiva, por mais complicada que a situação seja."

"Precisamos do apoio contínuo dos EUA na Ucrânia e na Europa? Temos mais em comum com os EUA do que com a China? Estas são as questões fundamentais que precisamos ter em mente."

Outra questão fundamental para a Europa é, obviamente, quanto dinheiro é necessário, e com que rapidez, para reforçar a defesa de forma convincente.

Em relação à Ucrânia, a Europa poderia substituir facilmente o atual apoio dos EUA, se realmente decidir fazer isso.

A Alemanha é o maior doador de ajuda militar à Ucrânia depois dos EUA. Se outras potências europeias seguissem seu exemplo, diz ele, a defesa da Ucrânia estaria coberta em um futuro próximo.

A Alemanha e outros países do norte da Europa expressaram ressentimento em relação à França, por exemplo, que, segundo eles, fala muito sobre a defesa da Ucrânia — e é forte em liderança e estratégia — mas, na verdade, doou relativamente pouco.

Quanto aos gastos mais amplos com defesa, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou na terça-feira que "a Europa está em uma era de rearmamento".

Ela sugeriu que o bloco europeu sozinho poderia mobilizar um total de 800 bilhões de euros (pouco menos de R$ 5 trilhões) para gastos com defesa, da seguinte maneira:

- Usando o orçamento conjunto de forma mais criativa;

- Fornecendo 150 bilhões de euros em empréstimos para beneficiar a defesa da União Europeia como um todo — por exemplo, em defesa aérea e antimísseis, em sistemas antidrones e mobilidade militar;

- Suspendendo as regras fiscais da União Europeia para permitir que cada país do bloco gaste mais em defesa.

Ursula von der Leyen

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,'A Europa está em uma era de rearmamento', afirmou Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia

Os líderes da União Europeia estão debatendo todas as proposta na reunião desta quinta — incluindo se os ativos russos congelados na Europa poderiam ser usados para financiar a Ucrânia.

Mas potenciais divisões europeias, algumas já conhecidas, pairam no ar. Muitas delas alimentadas pela política interna dos Estados membros.

A Hungria, próxima da Rússia e do governo Trump, é um entrave em praticamente todos os debates do bloco europeu para ajudar a Ucrânia. Bruxelas teme que a Eslováquia esteja seguindo pelo mesmo caminho.

Os países próximos às fronteiras da Rússia não precisam explicar aos eleitores por que os gastos com defesa precisam ser altos. As minúsculas nações bálticas expostas, Estônia e Lituânia, já gastam mais de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) em defesa. Elas querem aumentar este percentual para 5% em um futuro próximo.

Enquanto isso, duas grandes economias europeias, Itália e Espanha, geograficamente muito mais distantes da Rússia, não gastam o requisito mínimo da Otan de 2% do PIB em defesa.

Na Alemanha, na França e no Reino Unido, de acordo com um estudo realizado pelo grupo de pesquisa Focaldata, com sede em Londres, a maioria dos eleitores quer manter ou reduzir os gastos com defesa, preferindo que o governo se concentre em outras prioridades dos eleitores.

Mas o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, está alertando os europeus para que acordem, e "sintam o cheiro do café" que está sendo preparado em Washington e Moscou.

Segundo ele, as nações europeias precisam gastar mais de 3% do PIB agora para que o continente deixe efetivamente de depender profundamente dos EUA.

Se Donald Trump se retirar completamente da Europa, sem falar da Ucrânia, isso significaria gastar de 4% a 6% do PIB, de acordo com especialistas em defesa: um terremoto político, social e econômico que os líderes europeus esperam não ter que enfrentar.

*com reportagem de Katya Adler, Editora de Europa da BBC

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