Mostrando postagens com marcador Mundo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Mundo. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

O plano da China que pode mudar a economia global




Uma criança segura a bandeira da China na Praça da Paz Celestial (Tiananmen Square), em Pequim, no Dia Nacional da China, que comemora o 76º aniversário da fundação da República Popular da China, em 1º de outubro de 2025.

Crédito,AFP via Getty Images

Legenda da foto,Uma criança segura a bandeira da China na Praça da Paz Celestial, em Pequim, no Dia Nacional da China
    • Author,Nick Marsh


Os principais líderes da China se reúnem nesta semana em Pequim para traçar as metas do país e as prioridades para o restante desta década. As decisões tomadas na Plenária do Comitê Central do Partido Comunista Chinês servirão de base para o próximo plano quinquenal, que vai orientar a segunda maior economia do mundo entre 2026 e 2030.

O plano completo será divulgado apenas no ano que vem, mas autoridades devem antecipar algumas diretrizes na quarta-feira (22/10). Especialistas afirmam que o modelo chinês, guiado por ciclos de planejamento em vez de eleições, costuma produzir decisões com impacto global.

"Os planos quinquenais (cinco anos) definem o que a China quer alcançar, indicam a direção que a liderança pretende seguir e mobilizam os recursos do Estado para atingir esses objetivos predefinidos", diz Neil Thomas, pesquisador de política chinesa no Instituto de Políticas da Sociedade Asiática.

À primeira vista, a imagem de centenas de burocratas de terno apertando as mãos e elaborando planos pode parecer monótona. A história, porém, mostra que suas decisões costumam ter repercussões profundas.

Aqui estão três momentos em que o plano quinquenal da China remodelou a economia global

1981-84: 'Reforma e Abertura'

É difícil precisar quando a China começou sua trajetória para se tornar uma potência econômica, mas muitos integrantes do Partido Comunista Chinês vão afirmar que foi em 18 de dezembro de 1978.

Por quase três décadas, a economia chinesa foi controlada de maneira rígida pelo Estado. O planejamento central ao estilo soviético falhou em aumentar a prosperidade, e grande parte da população ainda vivia na pobreza.

O país se recuperava do devastador governo de Mao Tsé-Tung. O Grande Salto para Frente (1958-1962) e a Revolução Cultural (1966-1976), campanhas lideradas pelo fundador da China comunista para remodelar a economia e sociedade, resultaram na morte de milhões de pessoas



Ao discursar na Terceira Plenária do 11º Comitê, em Pequim, o então novo líder chinês, Deng Xiaoping, declarou que era hora de adotar alguns elementos da economia de mercado. Sua política de "reforma e abertura" tornou-se eixo central do plano quinquenal seguinte, iniciado em 1981.

A criação de zonas econômicas especiais de livre comércio, e os investimentos estrangeiros que elas atraíram, transformaram a vida dos chineses.

O líder chinês Deng Xiaoping e o então presidente americano, Jimmy Carter, assinam em Washington, em janeiro de 1979, um acordo de cooperação entre China e EUA nas áreas de ciência e tecnologia.

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,A abertura econômica de Deng Xiaoping incluiu um acordo histórico com o então presidente americano, Jimmy Carter, em 1979

Segundo Thomas, do Instituto de Políticas da Sociedade Asiática, os objetivos daquele plano quinquenal não poderiam ter sido atingidos de maneira mais enfática.

"A China de hoje vai além dos sonhos mais ousados das pessoas dos anos 1970, em termos de restauração do orgulho nacional e de consolidação de seu lugar entre as grandes potências mundiais", afirma.

O processo também remodelou a economia global. No século 21, milhões de empregos industriais do Ocidente foram transferidos para novas fábricas nas regiões costeiras da China.

Economistas chamaram esse fenômeno de "choque da China", que acabou fomentando a ascensão de partidos populistas em antiga áreas industriais da Europa e dos Estados Unidos e levou a medidas como a imposição de tarifas e retaliações promovidas pelo presidente americano, Donald Trump — que diz tentar, assim, recuperar os empregos industriais perdidos para a China nas décadas anteriores.

2011–15: 'Indústrias estratégicas emergentes'


O status da China como "fábrica do mundo" se consolidou com sua entrada na organização internacional global que trata das regras do comércio entre as nações, a Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2001. Mas, na virada do século, o Partido Comunista Chinês já planejava o próximo passo.

Havia o temor de que o país caísse na chamada "armadilha da renda média", quando uma nação em ascensão deixa de oferecer mão de obra barata, mas ainda não tem capacidade de inovação para produzir bens e serviços de alto valor agregado.

Para evitar isso, a China começou a investir nas chamadas "indústrias estratégicas emergentes", termo usado oficialmente pela primeira vez em 2010. O foco incluía tecnologias verdes, como veículos elétricos e painéis solares.

À medida que a mudança climática ganhava destaque na política ocidental, a China mobilizava recursos inéditos para impulsionar esses novos setores.

Hoje, a China é líder global em energias renováveis e veículos elétricos, além de controlar quase todo o fornecimento de terras raras necessárias para a fabricação de chips e o desenvolvimento de inteligência artificial (IA).

A dependência mundial desses recursos dá à China uma posição de poder. A recente decisão de restringir exportações de terras raras levou Trump a acusar a China de tentar "manter o mundo como refém".

Embora as "forças estratégicas emergentes" tenham sido incorporadas ao plano quinquenal de 2011, a tecnologia verde já havia sido identificada como potencial motor de crescimento e poder geopolítico pelo então líder chinês Hu Jintao, no início dos anos 2000.

"O desejo de tornar a China mais autossuficiente em economia, tecnologia e liberdade de ação vem de longa data, faz parte da própria essência da ideologia do Partido Comunista Chinês", explica Thomas do Instituto de Políticas da Sociedade Asiática.

2021-2025: 'Desenvolvimento de alta qualidade'

Isso pode explicar porque nos planos quinquenais recentes, a China passou a priorizar o chamado "desenvolvimento de alta qualidade", conceito introduzido formalmente por Xi Jinping em 2017.

A meta é desafiar o domínio tecnológico dos EUA e colocar a China na linha de frente do setor.

Casos de sucesso doméstico, como o aplicativo de vídeos TikTok, a gigante de telecomunicações Huawei e o modelo de inteligência artificial DeepSeek ilustram o avanço chinês.

O progresso da China, no entanto, é visto com desconfiança por países ocidentais, que a consideram uma ameaça à segurança nacional. As proibições e restrições a tecnologias chinesas afetaram milhões de usuários e provocaram disputas diplomáticas.

O presidente da China, Xi Jinping, chega a Moscou para visita oficial e participa das comemorações pelo 80º aniversário da vitória da Rússia na chamada Grande Guerra Patriótica (1941–1945), em 7 de maio de 2025.

Crédito,Grigory Sysoev/RIA Novosti/Pool/Anadolu via Getty Images

Legenda da foto,Sob Xi Jinping, os planos quinquenais da China têm como foco o "desenvolvimento de alta qualidade"

Até agora, o avanço tecnológico chinês dependeu de inovações americanas, como os semicondutores avançados da Nvidia. Com a proibição de venda desses componentes para o país imposta pelo governo Trump, é provável que o conceito de "desenvolvimento de alta qualidade" evolua para o de "novas forças produtivas de qualidade", novo lema introduzido por Xi em 2023, que desloca o foco para o orgulho nacional e a segurança do país.

Isso significa colocar a China na linha de frente da produção de chips, da computação e da inteligência artificial, sem ser dependente da tecnologia ocidental, além de ser imune a embargos.

A autossuficiência em todos os setores, especialmente nos níveis mais altos da inovação, deve ser um dos pilares centrais do próximo plano quinquenal.

"A segurança nacional e a independência tecnológica são hoje a missão definidora da política econômica da China", explica Thomas, do Instituto de Políticas da Sociedade Asiática. "Mais uma vez, isso remete ao projeto nacionalista que sustenta o comunismo chinês, garantindo que o país nunca mais seja dominado por potências estrangeiras."



Fonte: bbc.com/portuguese/articles/c1wle8gdl0qo


Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 12 de julho de 2025

O Brasil vai taxar os Estados Unidos em 50% se necessário, diz Lula no Jornal Nacional. Assista o vídeo









Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Ato maligno de Trump contra o Brasil é destaque na mídia global. Assista o vídeo







Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 1 de junho de 2025

Brasil lidera Brics em meio à escalada de tensões entre EUA e China




O Brasil assumiu a presidência rotativa do bloco dos Brics em um ano decisivo. Enquanto o grupo de economias emergentes — formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — se prepara para sua próxima cúpula no Rio de Janeiro, marcada para julho, o país anfitrião tenta se esquivar dos efeitos globais provocados pelas recentes ofensivas tarifárias dos Estados Unidos sob o comando de Donald Trump.

Com sua recente expansão e crescentes ambições geopolíticas, as nações do bloco buscam equilibrar interesses diversos e, ao mesmo tempo, afirmar-se como uma força mais coesa no cenário mundial. Se por um lado o Brasil deseja promover essa aliança heterogênea, por outro evita uma postura mais agressiva que possa ser lida em Washington como anti-EUA ou antidólar, avaliam os especialistas.

Ao mesmo tempo, a presidência rotativa deste ano também oferece oportunidades ao Brasil: a prerrogativa de articular uma posição conjunta dos Brics sobre as ações climáticas em meio aos preparativos para a conferência COP30, marcada para novembro em Belém do Pará; a pressão por mais cooperação do Sul Global em finanças, saúde, comércio e inteligência artificial; a definição de uma agenda clara para o Novo Banco de Desenvolvimento, conhecido como o Banco dos Brics, comandado pela ex-presidente brasileira Dilma Rousseff.

Novos convidados à mesa

A próxima cúpula dos Brics, a ser realizada nos dias 6 e 7 de julho, marcará a chegada da Indonésia como país-membro dos Brics após sua adesão em janeiro. No ano passado, Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos também se uniram ao bloco. Ainda há uma certa confusão em relação ao status da Arábia Saudita, já que o país está listado como membro dos Brics no site oficial da cúpula, mas o país ainda avalia sua filiação ao grupo.

Nove nações — Belarus, Bolívia, Cuba, Cazaquistão, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda e Uzbequistão — têm status de países parceiros, e outros 30 expressaram interesse em participar do bloco. Com a expansão, os membros e parceiros dos Brics já representam mais da metade da população mundial e cerca de 30% do PIB global.

Essa mudança na estrutura do grupo foi impulsionada por iniciativa da Rússia e da China. Já o Brasil e a Índia mostraram-se mais relutantes com a ideia de abrir as portas do bloco, segundo especialistas.

Arte BRICS

Crédito: Arte/ Dialogue Earth

Com a chegada de novos membros para as negociações no Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também chamou o México, a Colômbia e o Uruguai para participarem como convidados — algo comum em cúpulas internacionais para aproximar países não membros com importância estratégica ou regional.

O governo brasileiro vem coordenando mais de cem reuniões técnicas e ministeriais em Brasília, entre fevereiro e julho, em preparação para a cúpula. Ainda assim, parece inevitável que o encontro seja dominado pela sombra das políticas tarifárias de Trump.

Após os EUA terem se retirado pela segunda vez do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, a agenda do desenvolvimento sustentável deve ter um papel de destaque na cúpula dos Brics, sobretudo com a iminência da conferência climática das Nações Unidas, a COP30, em plena floresta amazônica, poucos meses depois.

Um dos objetivos do Brasil para a cúpula é estabelecer uma abordagem unificada para o financiamento das ações climáticas, colocando os países dos Brics em uma posição de liderança na COP30. O negociador-chefe do Brasil, Maurício Lyrio, explicou que espera-se atingir US$ 1,3 trilhão em investimentos para o combate às mudanças climáticas e também destacou a insatisfação das nações em desenvolvimento com o “modesto” acordo de financiamento firmado na COP29, realizada no Azerbaijão no ano passado.

Na COP30, o Brasil e outras nações planejam lançar o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), iniciativa que espera atrair US$ 125 bilhões para financiar a conservação de florestas tropicais em países do Sul Global.

Na última conferência de biodiversidade da ONU, a COP16, o grupo dos Brics desempenhou um papel crucial nas negociações que levaram ao acordo final sobre o financiamento para a conservação da natureza. Com base nessa experiência bem-sucedida, o bloco pretende expandir sua liderança climática, ainda mais em um momento em que os EUA andam totalmente na contramão dos esforços ambientais globais.

“É uma agenda que o governo brasileiro apoia enquanto anfitrião da próxima cúpula, porque reconhece os riscos e toma medidas para garantir que essas pautas de interesse global permaneçam fortes”, avaliou Paulo Casella, professor de direito e coordenador do Grupo de Estudos sobre os Brics na Universidade de São Paulo (USP).

Para Beatriz Mattos, coordenadora de pesquisa da Plataforma Cipó, o Brasil deve aproveitar o alcance geopolítico dos Brics para impulsionar o financiamento climático, alinhado às metas de desenvolvimento sustentável.

“O Brasil entende o desenvolvimento sustentável como algo muito mais amplo do que apenas a agenda climática, mas também sabe que a agenda climática pode ser mobilizada como uma forma de atingir as metas de desenvolvimento sustentável”, explicou Mattos.

Segundo a pesquisadora, os Brics têm um papel crucial na transição energética. “Nossa expectativa é que esses países construam um consenso sobre os esforços de transição, garantindo que ela seja realmente justa”, destacou.

Ao mesmo tempo, a realidade do mundo dos negócios mostra um panorama mais complexo. As exportações de petróleo do Brasil atingiram US$ 45 bilhões em 2024. Puxadas sobretudo pela demanda da China, as vendas de petróleo bruto mais que dobraram nos últimos cinco anos e quase quadruplicaram na última década, segundo dados do governo federal.

Acirramento das tensões comerciais

Uma nuvem de tensões comerciais globais deve pairar sobre a cúpula dos Brics, apesar da recente trégua temporária na guerra de tarifas entre Washington e Beijing — nos últimos meses, as taxas anunciadas pelos EUA sobre as importações chinesas chegaram a 245%.

De acordo com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, os dois lados concordaram em reduzir as tarifas em 115% a partir de meados de maio. Ainda assim, o cessar-fogo tarifário não diminuiu o tom das declarações: nos dias seguintes ao acordo, o governo chinês retomou as críticas contundentes à Casa Branca.

Algumas nações enfrentam tarifas menores por parte dos EUA, como os 10% sobre os produtos do Brasil; outras, como a Índia e a África do Sul, estão sendo ameaçadas com taxas de 27% e 31%, respectivamente.

Nesse novo cenário, o Brasil tem a oportunidade de posicionar os Brics como uma plataforma estratégica de colaboração internacional, avalia Paulo Casella, da USP. “Sabotar esse sistema multilateral de regras e instituições é contraproducente”, observou. “Isso causa turbulência e incertezas, aumentando a necessidade de operar de maneira independente aos EUA”.

O governo Trump também ameaçou impor tarifas de 100% sobre os países dos Brics caso eles enfraqueçam o dólar criando uma moeda alternativa. Em resposta, o Ministério da Fazenda do Brasil negou que as nações estejam discutindo ativamente a criação de uma moeda comum ou buscando uma estratégia coordenada de “desdolarização”. Dito isso, o aumento das transações em moeda local e o desenvolvimento de plataformas de pagamento alternativas estão, sim, na agenda dos Brics para 2025.

A ideia de uma moeda alternativa até foi levantada na cúpula dos Brics em agosto de 2023, mas a proposta não avançou devido às posições cautelosas da China e da Índia. Em outro contexto, o Brasil já propôs a adoção de uma moeda regional em 2023, mas especificamente para o bloco do Mercosul, e não para os Brics.

Casella chamou de “absurdas” as ameaças dos EUA contra os países que usam moedas alternativas ao dólar no comércio exterior. Ele explicou que grande parte do comércio internacional já ocorre fora do sistema dolarizado.

“O Brasil pode contribuir”, disse Casella, “para a construção de espaços institucionais estáveis com outros países que estejam dispostos a manter relações comerciais [fora do dólar]” — especialmente em um momento em que as políticas americanas geram tensões globais e até aceleram a transição para acordos comerciais não atrelados ao dólar.

‘Momento delicado’

Mesmo assim, o Brasil se encontra em uma situação delicada. Os países dos Brics formaram sua aliança para criar uma alternativa às instituições tradicionais lideradas pelo Norte Global. Os líderes dessas nações emergentes defenderam a reforma do Conselho de Segurança da ONU e propuseram um sistema de pagamento dos Brics — mecanismo descentralizado para reduzir a dependência de redes financeiras baseados no dólar.

Agora, diante da nova escalada da guerra comercial EUA-China, na qual Beijing acusa Washington de usar o dólar como “ferramenta geopolítica”, o Brasil tenta reafirmar seu compromisso com os Brics e com o multilateralismo, evitando possíveis retaliações da Casa Branca, avaliam especialistas.

“A agenda internacional está se acelerando”, observou Pablo Ibañez, professor de relações internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, onde coordena pesquisas sobre a China. “Estamos em uma rota de colisão entre a China e os EUA”.

“É um momento delicado para o Brasil. No cenário internacional, estamos lidando com tarifas e navegamos em uma relação diplomática mais sensível com os Estados Unidos”.

“Seria errado entender o Brasil como um novo aliado chinês antiocidental. O Ministério das Relações Exteriores não permitiria isso. O Brasil é muito pragmático… Se os países tiverem interesse, nós vamos cooperar. Mas simplesmente não nos alinhamos com a China dessa forma”.

Ibañez acredita que o multilateralismo e o comércio serão os temas dominantes da cúpula. Ele espera que o Brasil também mantenha a agenda sob o comando de Lula, focada em questões como fome e acesso a medicamentos. “Mas acho que esses dois temas — multilateralismo e comércio — serão bastante tratados”, acrescentou. “Mostrar força é atualmente uma prioridade para o governo brasileiro… Lula quer demonstrar que está pronto para essa missão”.

A expansão dos Brics tem sido impulsionada pelo crescente poder da China, explicou Ibañez. “Isso tem sido um desafio para o Brasil, que não estava preparado. O Brasil não se opôs necessariamente à expansão em si, mas sim à forma como ela foi conduzida — tão rapidamente e sem critérios objetivos”.

Papel do Banco dos Brics

Outro ponto importante na agenda da cúpula é o papel do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), que está se tornando uma instituição financeira cada vez mais importante para as economias em desenvolvimento. Sob o comando de Rousseff, o NDB aumentou seus compromissos de financiamento, entregando inclusive US$ 1,1 bilhão para a recuperação pós-enchentes no Rio Grande do Sul, em maio de 2024.

À medida que as negociações sobre o financiamento climático se intensificam antes das duas grandes cúpulas do ano, o papel do NDB no apoio ao desenvolvimento sustentável está ganhando relevância. “A criação do Novo Banco de Desenvolvimento decorre, em grande parte, dos esforços para promover o desenvolvimento sustentável”, disse Mattos, da Plataforma Cipó. “É um banco que pode preencher a lacuna de financiamento para o desenvolvimento sustentável e a infraestrutura. O conceito de desenvolvimento sustentável sempre fez parte dos Brics”.

Desde que tomou posse como presidente dos Brics, explicou ela, o Brasil está usando o bloco como uma plataforma para desenvolver soluções coletivas para os problemas globais, sobretudo devido à atual fragilidade do multilateralismo.

“O Brasil tem buscado conectar os fóruns multilaterais que têm liderado nos últimos anos”, acrescentou Mattos. “No ano passado, presidimos o G20, agora a cúpula dos Brics e, ainda este ano, sediaremos a CGOP30. O Brasil tem tentado conectar ações nesses fóruns, com resultados muito positivos”.

Com Informação de ICL NOTÍCIAS.

Por Matt Sandy e Juliana Horta – Por Dialogue Earth



Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 21 de abril de 2025

BBC: Morre papa Francisco: do funeral ao conclave, o que acontece agora



Papa Francisco

Crédito,Reuters

Legenda da foto,Papa Francisco fez uma aparição pública e abençoou os fieis na Praça de São Pedro no domingo de Páscoa (20/4)

Morreu nesta segunda-feira (21/04), aos 88 anos, o papa Francisco, primeiro papa sul-americano e jesuíta da história da Igreja Católica.

Segundo o Vaticano, as causas da morte foram um acidente vascular cerebral (AVC), seguido de um quadro de insuficiência cardíaca irreversível.

O pontífice faleceu em sua residência no Vaticano, Casa Santa Marta. O anúncio da morte do pontífice foi feito pelo cardeal Farrell:

"Caros irmãos e irmãs, é com profundo pesar que me cabe anunciar a morte de Sua Santidade Papa Francisco."


"Às 7:35 desta manhã (hora local. 2:35 de Brasília), o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda sua vida foi dedicada a servir ao Pai e Sua Igreja."

"Ele nos ensinou a viver os valores das Escrituras com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados."

Segundo a certidão médica que atestou a morte, o papa sofreu um AVC cerebral, entrou em coma e teve um colapso cardiocirculatório irreversível às 7h35, pelo horário de Roma (2h35 em Brasília)


O boletim médico informa que o quadro foi agravado por pneumonia bilateral, bronquiectasias múltiplas, hipertensão e diabetes tipo 2. A morte foi confirmada por um exame de eletrocardiograma

O papa Francisco ficou internado de 14 de fevereiro a 23 de março no hospital Gemelli, em Roma, após sentir dificuldades para respirar durante vários dias.

Sucessor de Bento 16, primeiro papa a renunciar em quase 600 anos, Francisco esteve à frente da Igreja Católica durante 12 anos.

Jorge Mario Bergoglio nasceu em Buenos Aires, na Argentina, em 1936. Ele virou padre aos 32 anos, foi arcebispo de Buenos Aires, e se tornou o Papa Francisco aos 76 anos, em 2013.

À época de sua eleição, a escolha surpreendeu as listas de favoritos, e suas declarações, atitudes e condução da Igreja causaram espanto semelhante entre aqueles que apostavam numa repetição do conservadorismo de Bento 16.

Francisco foi considerado por alguns especialistas um papa moderno, próximo de causas sociais e sem medo de tocar em temas polêmicos para a tradição e os costumes católicos.

Com o fim de seu papado, inicia-se um processo longo, que passa por um período de luto e pelos rituais fúnebres, até a eleição de um novo papa.

Os papas são tradicionalmente escolhidos por cardeais num processo eleitoral extremamente secreto que remonta aos tempos medievais.

Entenda o que acontece a seguir.

Cardiais no Vaticano em 2013, antes do Conclave que elegeu Francisco

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Com a morte de Francisco, inicia-se um processo longo, de rituais fúnebres até a eleição de um novo papa

O período de luto

Quando um papa morre, nove dias de luto são declarados e o enterro ocorre entre o 4º e o 6º dia após a morte.

O funeral é organizado pelo camerlengo (título do tesoureiro nomeado da Santa Sé), que também organiza o conclave que escolhe o próximo papa.

Atualmente, essa função é desempenhada pelo cardeal irlandês Kevin Farrell.

O Anel do Pescador do Papa Francisco é visto no guia do Vaticano para a missa de inauguração em 18 de março de 2013 no Vaticano

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,O papa Francisco quebrou a tradição e escolheu um Anel do Pescador de prata em vez de ouro — objeto será quebrado após a sua morte pelo camerlengo

Em um ato simbólico, o camerlengo quebra o "Anel do Pescador", o anel de sinete de ouro dos papas. No centro do anel, há uma gravura de São Pedro lançando sua rede de um barco e o nome do pontífice reinante está inscrito na borda.

O ato simboliza a suspensão do poder pontifício. Este é o momento da chamada sede vacante, ou "trono vazio".

O poder dentro da igreja passa então às mãos do Sagrado Colégio dos Cardeais.

Funeral e enterro

Ainda nesta segunda-feira, às 15h no horário de Brasília, o cardeal Kevin Joseph Farrel, presidirá o rito de constatação da morte e o depósito do corpo do papa Francisco no caixão.

A expectativa é que o funeral do papa seja realizado na Praça de São Pedro, bi Vaticano, atraindo milhares de fiéis e chefes de Estado.

Uma fonte no governo confirmou à BBC News Brasil que Lula planeja ir a Roma para acompanhar o funeral do papa Francisco. O Planalto ainda não confirmou oficialmente a informação.

A cerimônia deverá ser conduzida pelo decano do Colégio dos Cardeais, atualmente o italiano Giovanni Battista Re, de 91 anos.

Tradicionalmente, os papas costumam ser sepultados nas Grutas do Vaticano, criptas localizadas sob a Basílica de São Pedro, onde estão enterrados quase 100 papas, incluindo Bento 16, morto em 2022.

No entanto, Francisco manifestou o desejo de ser sepultado na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, uma das suas igrejas favoritas.

Vista interna da Basílica de Santa Maria Maior, em Roma

Crédito,Vatican News

Legenda da foto,Santa Maria Maior é a primeira Basílica do Ocidente dedicada à Virgem Maria e uma das mais belas e adornadas de Roma

Se este desejo se concretizar, ele será o primeiro papa em mais de um século a ser enterrado fora do Vaticano.

Pela tradição, os corpos de papas costumam ser colocados dentro de três caixões, feitos de cipreste, chumbo e carvalho.

Francisco, no entanto, pediu para ter um funeral mais simples, e para ser enterrado apenas num caixão de madeira e zinco.

Reunião dos cardeais no Vaticano

Os cardeais devem se reunir no Vaticano entre o 15º e o 20º dia após a morte do papa, onde ficarão em acomodações especiais enquanto as eleições acontecem.

O número desses "cardeais eleitores" geralmente é limitado a 120, mas atualmente há 135 deles com condições para eleger o novo papa.

Ao todo, há 252 cardeais em todo o mundo, mas aqueles com mais de 80 anos não têm permissão para votar.

A votação requer uma maioria de dois terços e a votação continua até que isso seja alcançado.

Se os cardeais não conseguirem chegar a um acordo sobre a pessoa a ser eleita, a votação é suspensa por um dia de oração e discussão antes de a votação começar novamente.

Cardeais chegando para o co0nclave no Vaticano em 2013

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Os cardeais devem se reunir no Vaticano entre o 15º e o 20º dia após a morte do papa

Na reunião, todos eles, incluindo os aposentados, discutirão em segredo os méritos dos prováveis candidatos.

Segundo o Vaticano, os cardeais são guiados pelo Espírito Santo. Mas embora uma campanha pública seja proibida, a eleição papal ainda é um processo altamente político.

Os encarregados pela coalizão têm duas semanas para forjar alianças, e acredita-se que os cardeais mais velhos, apesar de terem menos chances de se tornarem pontífices, reúnem maior poder de influência.

Conclave

A eleição de um papa é conduzida em condições de segredo únicas no mundo moderno.

Os cardeais são trancados no Vaticano até chegarem a um acordo – o significado da palavra conclave indica que eles estão literalmente trancados "com uma chave".

O processo de eleição pode levar dias. Em séculos anteriores, ele durou semanas ou meses, e alguns cardeais até morreram durante os conclaves.

O processo é projetado para evitar que qualquer detalhe da votação venha à tona, durante ou após o conclave. A ameaça de excomunhão paira sobre qualquer um tentado a quebrar esse silêncio.

João Paulo 2º mudou as regras do conclave para que um papa pudesse ser eleito por maioria simples. Mas Bento 16 mudou os requisitos de volta para que uma maioria de dois terços seja necessária, o que significa que o eleito provavelmente será um candidato de base ampla.

A Criação de Adão. Afrescos renascentistas de Michelangelo na Capela Sistina

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Votação ocorre na Capela Sistina, que é toda inspecionada por especialistas em segurança

Antes do início da votação na Capela Sistina, toda a área é verificada por especialistas em segurança para garantir que não haja microfones ou câmeras escondidos.

Uma vez que o conclave tenha começado, os cardeais comem, votam e dormem em áreas fechadas até que um novo papa seja escolhido.

Eles não têm permissão para contato com o mundo exterior – exceto em caso de emergência médica. Todos os rádios e aparelhos de televisão são removidos, jornais ou revistas não são permitidos e telefones celulares são proibidos.

Dois médicos são permitidos no conclave, assim como padres que podem ouvir confissões em vários idiomas e equipe de limpeza.

Toda essa equipe tem que fazer um juramento prometendo observar segredo perpétuo e se comprometer a não usar equipamento de gravação de som ou vídeo.

Rituais de votação

A votação é realizada na Capela Sistina. No dia em que o conclave começa, os cardeais celebram uma missa pela manhã antes de caminhar em procissão até a capela.

Uma vez que os cardeais estão dentro da área do conclave, eles têm que fazer um juramento de segredo. Então, o comando latino extra omnes ("todos fora") instrui todos aqueles não envolvidos na eleição a sair antes que as portas sejam fechadas.

Os cardeais têm a opção de realizar uma única votação na tarde do primeiro dia.

A partir do segundo dia, duas votações são realizadas pela manhã e duas à tarde.

Urnas para votação do conclave

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Urnas utilizadas pelos cardeais no conclave

A cédula é retangular. Impressas na metade superior, estão as palavras Eligio in Summum Pontificem ("Eu elejo como Sumo Pontífice").

Abaixo, há um espaço para o nome da pessoa escolhida. Os cardeais são instruídos a escrever o nome de uma forma que não os identifique e a dobrar o papel duas vezes.

Depois que todos os votos foram lançados, os papéis são misturados, contados e abertos.

Conforme os papéis são contados, um dos escrutinadores chama os nomes dos cardeais que receberam votos.

Ele perfura cada papel com uma agulha – através da palavra "Eligio" – colocando todas as cédulas em um único fio.

As cédulas são então queimadas – emitindo a fumaça visível para os espectadores do lado de fora, que tradicionalmente muda de preto para branco quando um novo papa é escolhido.

O costume era adicionar palha úmida para tornar a fumaça preta, mas ao longo dos anos muitas vezes houve confusão sobre a cor da fumaça. Mais recentemente, um corante foi usado.

Se uma segunda votação ocorrer imediatamente, as cédulas da primeira votação são colocadas de um lado e então queimadas junto às da segunda votação.

O processo continua até que um candidato tenha alcançado a maioria necessária.

Anúncio de um novo papa

Fumaça branca na chaminé do Vaticano em 2013

Crédito,AFP

Legenda da foto,Fumaça branca é sinal da eleição de um novo papa

Após a eleição do novo papa ser sinalizada pela fumaça branca subindo da chaminé da Capela Sistina, haverá um pequeno intervalo antes que sua identidade seja finalmente revelada ao mundo.

Uma vez que um candidato tenha atingido a maioria necessária, ele é questionado: "Você aceita sua eleição canônica como Sumo Pontífice?"

Depois de dar seu consentimento, o novo papa é questionado: "Por qual nome você deseja ser chamado?"

Depois que ele escolhe um nome, os outros cardeais se aproximam do novo papa para fazer um ato de homenagem e obediência.

O novo papa também pode precisar de ajustes em suas novas vestes. O alfaiate papal terá preparado vestimentas para vestir um papa de qualquer tamanho – pequeno, médio ou grande –, mas alguns ajustes de última hora podem ser necessários.

Então, da sacada da Basílica de São Pedro, o anúncio tradicional ecoará pela praça: Annuntio vobis gaudium magnum... habemus papam!: "Anuncio a vocês uma grande alegria... temos um papa!"

Seu nome é então revelado, e o pontífice recém-eleito fará sua primeira aparição pública.

Depois de dizer algumas palavras, o papa dará a bênção tradicional de Urbi et Orbi – "à cidade e ao mundo" – e um novo pontificado começa


BBC BRASIL

Professor Edgar Bom Jardim - PE