quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Como a inteligência artificial poderia acabar com a Humanidade - por acidente


Um robô ameaçador na frente de um pequeno exército de robôsDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionUm especialista em inteligência artificial diz que robôs 'bem-intencionados' ainda podem se voltar contra nós
De Stephen Hawking a Elon Musk, algumas das principais mentes do mundo levantaram preocupações de que a inteligência artificial represente uma ameaça aos seres humanos.
Mas, de acordo com um novo livro sobre o tema, não devemos temer a possibilidade de uma revolta de robôs autoconscientes contra seus "mestres" humanos.
E sim com o fato de as máquinas se tornarem tão boas em alcançar os objetivos que estabelecemos para elas que podemos acabar aniquilados por ordenarmos, sem perceber, as tarefas erradas.
O professor Stuart Russell, da Universidade da Califórnia, é autor de Compatibilidade Humana: Inteligência Artificial e o Problema de Controle (sem versão no Brasil) e especialista nos avanços possibilitados pelo aprendizado das máquinas.
"O mote dos filmes de Hollywood é sempre que a máquina espontaneamente se torna consciente. Depois, decide que odeia seres humanos e quer matar a todos nós", disse ele à BBC.

Ilustração de robôDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionOs robôs estão se tornando cada vez melhores na conclusão das tarefas que estabelecemos para eles
Segundo eles, os robôs não terão sentimentos humanos, então, "esse é um motivo errado para se preocupar".
"Não há realmente (nas máquinas) uma consciência ruim. Há sim uma competência com a qual temos de nos preocupar, a competência para atingir um objetivo que nós especificamos mal".
Ou seja, segundo ele, digamos que uma máquina com inteligência artificial tenha de cumprir uma tarefa que damos a ela. Porém, atingir essa meta pode necessitar tomada de decisões extremas.
Então, provavelmente a máquina não terá condições de fazer um julgamento moral sobre suas ações: vai apenas tentar atingir o objetivo final, como se fosse qualquer outro.
A vitória do computador Deep Blue sobre Garry Kasparov, em 1997, foi um marco para o desenvolvimento da inteligência artificialDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA vitória do computador Deep Blue sobre Garry Kasparov, em 1997, foi um marco para o desenvolvimento da inteligência artificial

'Muito competente'

Em uma entrevista ao programa de rádio Today, da BBC, Russell deu um exemplo hipotético da ameaça real que ele acha que a inteligência artificial poderia representar.
Imagine que tenhamos um poderoso sistema de inteligência artificial capaz de controlar o clima do planeta. Nós queremos usá-lo para diminuir os níveis de dióxido de carbono em nossa atmosfera a taxas pré-industriais.
"O sistema então descobre que a maneira mais fácil de fazer isso é se livrar de todos os seres humanos, porque são eles que estão produzindo todo esse dióxido de carbono. Você pode pensar: bom, faça o que você quiser, mas não se livre dos seres humanos. O que a máquina vai fazer?", diz Russell.
Esse exemplo extremo, segundo o professor, serve para destacar os riscos associados à inteligência artificial que age sob instruções que os seres humanos ainda não pensaram.
Robô sai de carro após dirigi-lo em testeDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionRussell diz que os seres humanos precisam recuperar o controle da inteligência artificial ​​antes que seja tarde demais

Superinteligência

A maioria dos sistemas atuais de inteligência artificial são "restritos", projetados especificamente para resolver um problema bem específico em uma área, de acordo com o Centro de Estudos de Riscos Existenciais, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
Um momento marcante nesse campo aconteceu em 1997, quando o computador Deep Blue derrotou o então campeão mundial de xadrez, Garry Kasparov, em uma disputa de seis jogos.
Mas, apesar do feito, o Deep Blue foi projetado especificamente por humanos para jogar xadrez e ficaria perdido em um simples jogo de damas.
Os avanços posteriores na inteligência artificial, porém, são diferentes. O software AlphaGo Zero, por exemplo, alcançou um nível excepcional de desempenho depois de apenas três dias jogando Go contra ele mesmo.
Usando o aprendizado profundo, um método de aprendizado de máquinas que usa redes neurais artificiais, o AlphaGo Zero exigia muito menos programação humana. O dispositivo acabou se tornando um excelente jogador de Go, de xadrez e de Shogi.
O mais alarmante, talvez, foi que o computador agiu de forma totalmente autodidata.
"À medida que um sistema de inteligência artificial se torna mais poderoso e mais geral, ele pode se tornar superinteligente, algo superior ao desempenho humano em muitos ou quase todos os domínios", diz o centro de pesquisas britânico.
E é por isso que, segundo o professor Russell, os humanos precisam retomar o controle.
Os atores Gary Lockwood (à esquerda) e Keir Dullea em uma cena de '2001: Uma Odisseia no Espaço', dirigido por Stanley KubrickDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEm '2001: Uma Odisseia no Espaço' (1968), de Stanley Kubrick, um computador altamente capaz se rebela contra os planos de desativá-lo

'Não sabemos o que queremos'

Russell argumenta que dar à inteligência artificial objetivos mais definidos não é a solução para esse dilema, porque os próprios humanos não têm certeza de quais são esses objetivos.
"Não sabemos que não gostamos de uma coisa até que ela aconteça", diz ele.
"Devemos mudar toda a base sobre a qual construímos sistemas de inteligência artificial", diz ele, afastando-se da noção de dar aos robôs objetivos fixos para eles concluírem. "Em vez disso, o sistema precisa entender que não sabe qual é o objetivo final da tarefa", explica.
"E quando você tem sistemas que funcionam dessa maneira, eles realmente se valem dos seres humanos. Eles começarão a pedir permissão antes de fazer as coisas, porque não têm certeza sobre o que a pessoa deseja."
Fundamentalmente, diz o professor Russell, os computadores ficariam "felizes em se deixarem desligar porque querem evitar fazer coisas de que seu controlador não gosta".

O 'gênio da lâmpada'

"A maneira como construímos a inteligência artificial é um pouco como enxergamos um gênio da lâmpada. Você esfrega a lâmpada, o gênio sai e você diz: 'Gostaria que isso acontecesse'", diz Russell.
E se o sistema de inteligência for suficientemente poderoso, ele fará exatamente o que você solicitar.
"Agora, o problema com os gênios nas lâmpadas é que o terceiro desejo (nesse caso) é sempre: 'Desfaça os dois primeiros desejos, porque não conseguimos especificar os objetivos corretamente'."
"Portanto, uma máquina que busca um objetivo que não é o correto se torna, na verdade, um inimigo da raça humana, um inimigo que é muito mais poderoso que nós mesmos", diz Russell.
Da BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Eduardo Bolsonaro pode ser cassado por fala sobre AI-5? Entenda o que acontece agora


Eduardo Bolsonaro aparece de perfil caminhando em corredor e tapando a boca com a mãoDireito de imagemREUTERS/ADRIANO MACHADO
Image captionFala do deputado federal e filho do presidente da República motivou tentativas de puni-lo na Câmara dos Deputados e no Supremo Tribunal Federal
Após ter levantado a possibilidade de um "novo AI-5" (ato institucional decretado pela ditadura militar em 1968 dando ao governo mais poderes autoritários) no país, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) enfrentará tentativa de puni-lo na Câmara dos Deputados e no Supremo Tribunal Federal (STF).
No caso do STF, porém, a apresentação de uma notícia-crime pela oposição não poderá prosperar sem um aval do procurador-geral da República, Augusto Aras, já que apenas ele pode pedir a abertura de um processo criminal contra um deputado. Aras tomou posse no final de setembro, após ser indicado para o cargo pelo presidente Jair Bolsonaro, pai de Eduardo Bolsonaro.
Já no caso da Câmara dos Deputados, caberá ao Conselho de Ética da Casa avaliar a abertura de um processo de cassação contra o parlamentar.
A fala de Eduardo ocorreu em entrevista ao canal da jornalista Leda Nagle no YouTube, após uma pergunta sobre os protestos que estão ocorrendo no Chile. Ele disse que um "novo AI-5" era uma possibilidade em caso de "radicalização da esquerda" no Brasil. Depois da forte reação negativa e de ser repreendido até pelo presidente, o deputado disse ter sido mal interpretado ao programa "Brasil Urgente", da Band, na tarde desta quinta-feira.
"Eu peço desculpas a quem porventura tenha entendido que estou estudando o retorno do AI-5 ou achando que o governo, de alguma maneira, estaria estudando qualquer medida nesse sentido. Essa possibilidade não existe. Agora, muito disso é uma interpretação deturpada do que eu falei", afirmou ao apresentador do programa, José Luiz Datena.
"Eu talvez tenha sido infeliz em falar no AI-5, porque não existe qualquer possibilidade de retorno do AI-5, mas, nesse cenário (de manifestações como as do Chile), o governo tem que tomar as rédeas da situação", disse ainda.
Após o pedido de desculpas, no entanto, a oposição manteve a intenção de levá-lo ao Conselho Ética.
"Ele que se explique e peça desculpas publicamente no Conselho de Ética. Isso é um escárnio, mexer com a Democracia brasileira, (mostra) um espírito de ditador", disse o deputado Ivan Valente (PSOL-SP).
"O repúdio (na Câmara) foi generalizado. Ele está muito isolado", destacou ainda.
Eduardo Bolsonaro aparece de perfil com foto do pai, Jair Bolsonaro, atrásDireito de imagemREUTERS/ADRIANO MACHADO
Image caption'Peço desculpas a quem porventura tenha entendido que estou estudando o retorno do AI-5 ou achando que o governo, de alguma maneira, estaria estudando qualquer medida nesse sentido', disse Eduardo Bolsonaro em entrevista posterior àquela em que falou do ato institucional que tornou a ditadura militar ainda mais repressiva
Mais cedo, a declaração de Eduardo sobre a possibilidade de um novo AI-5 gerou reação de partidos de esquerda, centro e direita e até mesmo uma nota de repúdio da Executiva Nacional da sua sigla, o PSL, que está divida no apoio ao governo. O deputado hoje lidera o partido na Câmara após uma ferrenha briga interna em que seu pai interveio o apoiando.
Já o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse em nota oficial que a declaração sobre o AI-5 era "repugnante" e que a "apologia reiterada a instrumentos da ditadura é passível de punição pelas ferramentas que detêm as instituições democráticas brasileiras".

Por que a declaração pode levar à cassação?

O professor de direito Constitucional da FGV em São Paulo Roberto Dias explicou à BBC News Brasil que a Constituição garante a Eduardo Bolsonaro não ser punido "por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos". É a chamada "imunidade parlamentar", prevista no artigo 53.
"Essa garantia (imunidade) não é uma proteção da pessoa do parlamentar, mas da própria função parlamentar, para que o Parlamento possa exercer sua função com independência, para que as ideias possam circular livremente, já que os parlamentares representam as pessoas", explica Dias.
No entanto, destaca o professor, a própria Constituição também estabelece no artigo 55 que o parlamentar pode perder seu mandato por "quebra de decoro" se houver "abuso das prerrogativas (direitos)" garantidos aos congressistas.
É exatamente esse o argumento da oposição para pedir a cassação do filho do presidente. Segundo o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), líder da oposição na Câmara, a representação será apresentada no Conselho de Ética semana que vem.
"Ele está usando a imunidade parlamentar para defender o fim da democracia e da Constituição que ele jurou defender. É uma declaração grave e inaceitável, que fere o decoro parlamentar", disse Molon.
Após a apresentação da representação contra Eduardo, o conselho avaliará se o processo deve ser aberto. Caso isso ocorra, haverá prazo para defesa do parlamentar. Depois da análise do Conselho, ele só perderá o mandato se a maioria simples do plenário da Câmara aprovar (ao menos 257 votos). No caso do ex-deputado Eduardo Cunha, que era presidente da Casa, o processo se arrastou por meses, até sua cassação ser aprovada em setembro de 2016.
Para o jurista Miguel Reale Jr., um dos autores do pedido de impeachment que levou à queda da ex-presidente Dilma Rousseff, a fala de Eduardo Bolsonaro justifica um processo contra ele no Conselho de Ética da Câmara.
"Sem dúvida nenhuma é caso de processo de cassação do deputado. Ele fala na tripla condição de deputado, líder do partido do presidente, e filho do presidente, ele está ameaçando (com uma ação antidemocrática)", criticou à BBC News Brasil.
O Ato Institucional nº 5 (AI-5) foi editado em 1968, no período mais duro da ditadura militar, e resultou no fechamento imediato e por tempo indeterminado do Congresso Nacional e das assembleias legislativas estaduais, além de suspender as garantias constitucionais.
O ato permitia cassar direitos políticos de forma sumária e suspendia o habeas corpus (recurso que serva para cessar abusos como prisões ilegais). O período que se seguiu ao AI-5 foi marcado por intensificação da censura e repressão política, com torturas e assassinatos de opositores do regime.
Foto ampla mostra plenário da Câmara dos DeputadosDireito de imagemPABLO VALADARES/CÂMARA DOS DEPUTADOS
Image captionConstituição prevê ao mesmo tempo a chamada 'imunidade parlamentar', mas também perda de mandato por 'quebra de decoro' ou por 'abuso das prerrogativas' dos congressisas

O que pode ocorrer no STF?

PSOL, PT, PSB, PDT, PCdoB e Rede protocolaram na noite desta quinta-feira uma notícia-crime no STF pedindo que Eduardo Bolsonaro seja processado e condenado por "incitar publicamente ato criminoso", crime previsto no Código Penal.
No entanto, segundo integrantes do Ministério Público Federal consultados pela BBC News Brasil, o caso teria que ser remetido para análise do procurador-geral da República, Augusto Aras.
Na semana passada, por exemplo, o ministro do STF Celso de Mello arquivou uma notícia-crime movida pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS) contra procuradores da força-tarefa da Lava Jato no Paraná.
Ao rejeitar o pedido do petista, o ministro destacou que "o Poder Judiciário não dispõe de competência para ordenar, para induzir ou, até mesmo, para estimular o oferecimento de acusações penais pelo Ministério Público".
"O monopólio da titularidade da ação penal pública pertence ao Ministério Público, que age, nessa condição, com exclusividade, em nome do Estado", afirmou ainda Celso de Mello.
O PSOL poderia ter apresentado a notícia-crime à PGR, mas não considera Augusto Aras "independente" do governo.
"A PGR poderia ser um caminho, mas com essa PGR agora fica difícil. É um novo engavetador", criticou Ivan Valente, em referência ao ex-procurador-geral Geraldo Brindeiro (1995-2003), que ficou conhecido como engavetador-geral da República.
"Vamos direto ao Supremo. Ato Institucional nº 5 significa também cassação de juízes, fechamento do Judiciário, fechamento do Congresso. Então, acho que o Supremo deve se manifestar", acrescentou o líder do PSOL.
De acordo com Roberto Dias, professor da FGV, se uma denúncia contra Eduardo Bolsonaro chegar de fato ao STF, primeiro os ministros vão avaliar se a fala do deputado sobre o AI-5 teve relação com o exercício do seu mandato, para decidir se a imunidade parlamentar se aplica no caso.
"Se a fala for feita fora do exercício da função, o parlamentar pode ser punido civil e criminalmente. Mas, a princípio, o deputado dando entrevista sobre questões do país, questões institucionais, ele está protegido", destaca.
No entanto, acredita Dias, mesmo que o Supremo entenda que o deputado estava protegido pela imunidade parlamentar, os ministros podem querer avaliar se essa proteção pode ser flexibilizada quando a declaração do deputado vai contra o próprio Congresso.
"Ele está usando a imunidade parlamentar para defender algo que destrói o próprio Parlamento. Seria uma discussão complexa. Não lembro de o Supremo já ter se deparado com essa questão, então não sei que caminho adotaria", ressaltou.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

UFPE lançará edital para apoiar ações nas praias atingidas pelo óleo no Estado


Oussama Naouar, pró-reitor de extensão da UFPE
Oussama Naouar, pró-reitor de extensão da UFPEFoto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) lançará em breve um edital emergencial conjunto das Pró-Reitorias para Assuntos de Pesquisa e Pós-Graduação (Propesq) e de Extensão e Cultura (Proexc) para apoiar ações nas praias atingidas pelo óleo no Estado. A informação foi divulgada nesta quarta-feira (30) durante reunião do comitê UFPE SOS Mar, instalado para tratar das ações relativas aos danos causados pelos resíduos nas praias do Nordeste. 

Segundo o pró-reitor da Proexc, Oussama Naouar, trata-se de um edital guarda-chuva que vai acolher as várias iniciativas internas da instituição. Contudo, ainda não foi estipulado o valor global. "Será o suficiente para financiar pelo menos 20 projetos. A UFPE está à serviço da população brasileira para tentar enfrentar essa tragédia ambiental. A ideia é colocar todas essas iniciativas em sinergia, estruturar elas e dar um apoio institucional, financeiro, pedagógico, jurídico, logístico" disse o pró-reitor.

O coordenador do comitê, professor Gilberto Rodrigues, do Departamento de Zoologia, afirmou que está sendo feito o mapeamento das ações realizadas, que incluem o ensino (em aulas e rodas de conversa), a extensão (por meio do voluntariado) e a pesquisa e inovação, com parcerias com outras instituições como a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e o Instituto Federal de Pernambuco (IFPE). O UFPE SOS Mar volta a se reunir na próxima quarta-feira (6), para discutir o andamento das ações.

"A gente tem que atuar em todos os campos, do ponto de vista social, jurídico, econômico, ambiental e, principalmente, biológico, que compromete tanto a nossa biodiversidade em todos os níveis, desde arrecifes de corais, bancos de areia, estuários, rios, um mosaico muito grande de ecossistemas que precisam ser monitorados e preservados", disse. O grupo tem se reunido diariamente para coordenar as ações na Região Metropolitana do Recife, no Litoral Norte e no Litoral Sul.

Ainda de acordo com Gilberto Rodrigues, será feito o cadastro de voluntários e a divulgação dos equipamentos de proteção individual (EPIs) corretos para serem usados durante a limpeza da costa pernambucana. Na próxima segunda-feira (4), haverá uma reunião com o Conselho Pastoral dos Pescadores e outras colônias para discutir a situação das pessoas que dependem da atividade para sobreviver. Conforme o Departamento de Sociologia e do Núcleo de Estudos Humanidades, Mares e Rios (Nuhumar), há cerca de 30 mil pescadores artesanais no Estado.

Balanço
O balanço dos trabalhos de contenção, limpeza e prevenção das manchas de óleo no litoral de Pernambuco registrou poucas alterações da quantidade de material removido pelas equipes do Governo do Estado. Ao todo, já foram recolhidas 1.546,17 toneladas de óleo, em 47 praias e oito rios atingidos, segundo balanço divulgado ontem. O total do material recolhido foi entregue ao Centro de Tratamento de Resíduos de Pernambuco, em Igarassu. Já foram instalados 3.045 metros de barreiras de contenção em diversas praias e rios.
Folha de Pernambuco.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Ministério Público afirma que porteiro mentiu ao citar Bolsonaro em depoimento


Presidente Jair Bolsonaro
Presidente Jair BolsonaroFoto: AFP

 promotora Simone Sibilio, do Ministério Público do Rio de Janeiro, afirmou em entrevista a jornalistas na tarde desta quarta-feira (30) que o porteiro que cita Jair Bolsonaro em seu depoimento mentiu.

Reportagem do Jornal Nacional desta terça-feira (29) teve como base depoimento de um porteiro do condomínio onde o presidente tem casa no Rio. Segundo essa reportagem, no dia do assassinato da vereadora Marielle Franco, o ex-policial militar Élcio Queiroz, suspeito de envolvimento na morte, disse na portaria do condomínio que iria à casa de Bolsonaro, na época deputado federal.

Segundo o depoimento do porteiro à Polícia Civil do Rio, o suspeito pediu para ir na casa de Bolsonaro e um homem com a mesma voz do presidente teria atendido o interfone e autorizado a entrada. O acusado, no entanto, teria ido em outra casa dentro do condomínio.

A promotora afirmou que a investigação teve acesso à planilha da portaria do condomínio e às gravações do interfone e que restou comprovado que o porteiro interfonou para a casa 65 e que a entrada de Élcio foi autorizada por Ronnie Lessa, com quem se encontrou.

O Ministério Público disse que o porteiro pode ter anotado que Élcio foi para a casa de Bolsonaro por vários motivos e que eles serão apurados. "Todas as pessoas que prestam falso testemunho podem ser processadas", disse Sibilio.

Questionada em seguida, a promotora disse que o porteiro pode ter se equivocado. Reiterou que o depoimento dele não bate com a prova técnica, que comprovou que é a voz de Ronnie Lessa que autoriza a entrada de Élcio Queiroz às 17h07.

Nesta quarta-feira, o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, publicou vídeo, segundo ele gravado na administração do condomínio, no qual apresenta dados conflitantes com os apresentados na reportagem da Globo.

Por volta das 17h de 14 de março de 2018, data do assassinato de Marielle, foi feita uma solicitação de entrada, por uma pessoa de nome Élcio, mas para a casa de Ronnie Lessa, e não para a de Bolsonaro. No vídeo, Carlos reproduz a ligação registrada às 17h13. O porteiro anuncia a chegada do "senhor Élcio". A voz do outro lado, diferente da de Jair Bolsonaro, responde: "Tá, pode liberar aí". 
Com informações de Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Argentina: Alberto Fernández e Cristina Kirchner derrotam Mauricio Macri e Bolsonaro com 48% dos votos

*Nunca um governo brasileiro fez tanta "força", torcida para interferir, influenciar no resultado de uma eleição de outro país.

Alberto FernándezDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionHá quase 30 anos atuando nos bastidores do peronismo, Fernández é eleito presidente da Argentina em chapa com Cristina Kirchner

Eleito neste domingo com 48% dos votos, o próximo presidente da Argentina, Alberto Fernández, pode ser um rosto pouco conhecido dos brasileiros, mas é um veterano na política.
Há quase três décadas atua nos bastidores do peronismo, articulando campanhas que levaram ao poder expoentes do Partido Justicialista - sigla à qual é filiado, assim como a companheira de chapa e vice, Cristina Kirchner.
Eles derrotaram o atual mandatário, Maurício Macri, que levou 40,4% dos votos. Na Argentina, é suficiente obter mais de 45% dos votos para ganhar no primeiro turno — ou votação acima de 40% desde que haja uma diferença de 10 pontos percentuais para o segundo colocado.
Fernandez é considerado peça fundamental na candidatura presidencial do marido de Cristina, Néstor Kirchner, lançada em 2003 em oposição à corrente peronista mais à direita que governou a Argentina na década de 90, personificada na figura de Carlos Menem, que realizou uma série de reformas neoliberais no país e abriu o capital para estrangeiros.
Alberto é apresentado aos Kirchner em 1997 por Eduardo Valdés, seu colega na Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires.

Cristina KirchnerDireito de imagemAFP
Image captionAlberto Fernández é considerado peça fundamental na candidatura presidencial do marido de Cristina, Néstor Kirchner, lançada em 2003

Valdés, por sua vez, conhecera Néstor e Cristina em 1994, em Santa Fé, durante a constituinte que reformou a Carta Magna argentina.
"Estávamos juntos de segunda a quinta, acabamos nos aproximando."
Alberto, ele conta, gostava de ler o que Kirchner, então governador de Santa Cruz — província no extremo sul do país, na região da Patagônia —, escrevia. "E me dizia: 'Me apresenta a ele, quero conhecê-lo'."

Candidatos à presidência da Argentina
Image captionFernández teve 48% dos votos válidos e venceu eleição em primeiro turno

"Um dia Alberto publicou um artigo no jornal, Néstor leu e disse: 'Esse é seu amigo, do qual me falou? Convida ele pra jantar'."
A partir desse encontro, algum tempo depois, surgiria o grupo Calafate, think tank progressista criado para tentar renovar o movimento peronista e formular alternativas ao menemismo.
Recebeu esse nome por reunir-se na cidade patagônia de El Calafate.
Depois da crise de 2001, em que a Argentina decretou calote da dívida e o governo reteve por quase um ano as poupanças - o que ficou conhecido como corralito -, o grupo resolveu lançar a candidatura de Néstor.
Alberto Fernández foi um articulador importante tanto antes quanto depois das eleições, já que assumiu a posição de chefe de gabinete.

Alberto Fernández após votar no domingo de eleições na ArgentinaDireito de imagemEPA
Image captionFernandéz formou-se como advogado na Universidade de Buenos Aires em 1983 e desde 1985 dá aulas na instituição

Virou amigo pessoal dos Kirchner. Em entrevista dada em junho à rádio La Once Diez, seu filho, Estanislao Fernández, de 24 anos, disse que, para ele, os dois ex-presidentes eram "tios".
"Cresci com Néstor e Cristina vindo à minha casa. Cristina sempre foi amorosa comigo."
Na mesma entrevista, o jovem contou que, apesar de Alberto ter se divorciado de sua mãe quando ele ainda era criança, sempre esteve presente em sua vida.
"Nos anos em que meu velho trabalhava na Chefia de Gabinete, separado da minha mãe, sempre ia me buscar na escola, sem guarda compartilhada, sem nada."
Estanislao é cosplayer, streamer do game League of Legends e a drag queen Dyhzy, que soma mais de 100 mil seguidores no Instagram.
Diz já ter saído com meninos e há três anos namora Natalia.

O racha com Cristina

Alberto Fernández seguiria como chefe de gabinete durante a gestão de Cristina Kirchner, que começa em dezembro de 2007, mas por pouco tempo: cerca de oito meses depois de ela assumir, o advogado pede demissão.
O estopim foi o chamado "conflito no campo", quando uma resolução do governo permitia que o Estado retivesse parte da receita das empresas que exportavam soja — commodity cujo preço estava em alta em 2008.
Esse foi um período de grande tensão entre o governo e o setor agropecuário, com greves e paralisações.
Daí em diante, foi crítico da administração Kirchner. Passaram anos sem falar.
Em 2015, pouco antes das eleições presidenciais, chegou a afirmar em entrevista que lhe custava encontrar uma medida do segundo governo Cristina que pudesse ser elogiada.
A saída de Alberto em 2008 marcou o início de um ciclo lento de fragmentação do peronismo.
Sergio Massa, que assumira o cargo de chefe de gabinete depois de ele entregar o cargo, rompe com o kirchnerismo em 2010 e lança sua própria candidatura à presidência em 2015, em oposição ao candidato de Cristina, Daniel Scioli.
Em 2017, quando a ex-presidente concorre ao Senado, outro membro importante dos quadros do PJ sai com uma candidatura de oposição - Florencio Randazzo, com uma campanha organizada, aliás, por Alberto Fernández.

Homem fotografando dados na ArgentinaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA inflação também aumentou vertiginosamente, acompanhando a alta do dólar

O movimento peronista sofreu, entretanto, uma forte derrota nas eleições legislativas de meio termo. A coalizão liderada por Cristina somou votos suficientes para garantir sua vaga no Senado, mas ficou atrás do Cambiemos, de Macri.
Na Argentina, os deputados e senadores são eleitos por meio de listas fechadas. Cada província elege 3 senadores — a coalizão com mais votos aponta dois e a segunda, um.

A reaproximação

A derrota marca um ponto de inflexão.
A partir daí, conta um membro do PJ, cresce entre antigos líderes do partido a ideia de que seria imprescindível reunificar o movimento peronista para lançar uma candidatura competitiva em 2019, capaz de frustrar os planos de reeleição de Mauricio Macri.
De um lado, Alberto funda, em fevereiro de 2018, o Grupo Callao, think tank que reúne uma geração mais jovem de economistas e pesquisadores - um grupo, na visão do advogado, com vocação para renovar as lideranças do peronismo.
De outro, Cristina volta a dialogar com quadros do Partido Justicialista.
Desse processo de reaproximação, e da avaliação de que Cristina, sozinha, não conseguiria vencer as eleições, surgiu a chapa encabeçada por Alberto.

Alberto FernándezDireito de imagemEPA
Image captionAlberto Fernández foi chefe de gabinete da então presidente Cristina Kirchner até 2008, quando pediu demissão

A ex-presidente reúne tradicionalmente algo entre 25% e 30% dos votos, mas enfrenta um nível alto de rejeição, inclusive dentro do movimento peronista.
O lançamento de Alberto como cabeça de chapa seria um aceno à ala mais moderada, aos eleitores de centro.
Segundo Valdés, o amigo de faculdade nunca tinha pensado em se candidatar a um cargo eletivo em 30 anos de vida pública porque seu nome nunca havia aparecido em pesquisas.
Nesse sentido, a cientista política Maria Esperanza Casullo observa que o peronismo já tentou alçar quadros técnicos às urnas outras vezes, sem muito sucesso.
Ela cita o exemplo de Roberto Lavagna, que foi ministro da Economia entre 2002 e 2005, durante a recuperação do país pós-crise de 2001, e saiu do governo após se desentender com Néstor.
Foi candidato à presidência da Argentina em 2007, 2015 e 2019. Nestas últimas eleições, conquistou apenas 6% dos votos válidos.
"Não é uma transição fácil", diz a professora da Universidade Nacional de Río Negro (UNSAM).

Fã de Dylan, dono de cachorro instagramer e pró-Lula Livre

Apesar da aparência de político tradicional e dos 60 anos, Alberto é um usuário ativo das mídias sociais, inclusive do Instagram, rede na qual tem conta desde 2016.
Não só ele — seu cachorro Dylan também tem um perfil e soma mais de 76 mil seguidores.
O nome é uma homenagem ao cantor americano Bob Dylan. Fã de rock, o novo presidente da Argentina toca violão e guitarra e teve como professor um de seus ídolos, o cantor e compositor argentino Litto Nebia, conta Valdés.
Formou-se como advogado na Universidade de Buenos Aires em 1983 e desde 1985 dá aulas na instituição, em disciplinas de Direito e Processo Penal.
Entrou para a política cedo, ainda no governo Raúl Alfonsín, que assumiu a presidência logo após o fim da ditadura militar em 83.
Chegou a ter cargo na administração de Menem, mas renunciou em 1995 por discordar de políticas do então presidente.
Segundo a imprensa argentina, é dono de dois imóveis na Recoleta, mas vive em um apartamento alugado no complexo River View, no bairro nobre de Puerto Madero, com a namorada, a atriz e jornalista Fabiola Yañes.
Ao longo da campanha eleitoral, Fernández se posicionou em relação a temas importantes da política brasileira, com respostas ácidas ao presidente Jair Bolsonaro e defesa pública do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O mais enérgico se deu logo após as primárias, quando Bolsonaro afirmou que vitória da oposição poderia transformar a Argentina "em uma Venezuela". "Celebro que ele fale mal de mim, um racista, misógino e violento", rebateu Fernández, que contemporizou afirmando que o Brasil seria sempre o "principal sócio" da Argentina.
O ministro da Economia brasileiro, Paulo Guedes, chegou a dizer que o Brasil poderia deixar o Mercosul se o candidato de esquerda vencesse e decidisse "fechar a economia" para o comércio internacional.
Em julho, Fernández visitou Lula na prisão em Curitiba em julho, e na ocasião disse que revisaria o acordo anunciado entre União Europeia e Mercosul porque, em sua opinião, ele foi acelerado para influenciar o pleito argentino, mas prejudicaria a indústria nacional.
No domingo, dia de votação, o agora eleito publicou uma foto em rede social em homenagem ao aniversário do petista, a quem chama de amigo. "Um homem extraordinário que está injustamente preso."

Quem vai mandar?

Entre as muitas dúvidas que pairam sobre a presidência de Alberto Fernández está o papel de Cristina Kirchner — se a ex-presidente se reservaria às atribuições de vice ou se teria ingerência mais ampla sobre o governo.
"Todo mundo tem medo de que esteja sendo gestado algo semelhante a um Medvedev-Putin", diz Livio Ribeiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), em referência a Dimitri Medvedev, eleito presidente da Rússia em 2008 e fortemente influenciado pelo antecessor e padrinho político Vladimir Putin.
O próprio economista aponta, entretanto, três razões para que algo parecido não aconteça na Argentina.
A postura historicamente mais combativa de Alberto Fernández, que rompeu com Cristina quando deixou de ser ouvido, por exemplo.
As ações às quais Cristina responde na Justiça, um incentivo para que ela evite grandes embates.
E o fato de o Partido Justicialista ser uma combinação de diversas correntes, das quais o kirchnerismo é apenas uma — ou seja, há outros movimentos dentro do partido que o novo presidente também deve tentar conciliar.
Algo a se observar, acrescenta o cientista político Lucas Romero, é a relação entre Alberto e Axel Kicillof, recém-eleito governador da província de Buenos Aires.
Foi ministro da economia de Cristina entre 2013 e 2015 e é considerado o futuro do projeto político da ex-presidente.
A província de Buenos Aires, ele explica, tem um deficit fiscal estrutural e uma série de carências em infraestrutura — por isso, a relação com o governo federal não costuma ser fácil.
"É preciso ver se Cristina vai tentar atuar como árbitro e interceder pelas demandas do afilhado político ante o presidente", avalia o diretor da diretor da consultora Synopsis.
Kicillof é amigo do filho da vice-presidente, Máximo Kirchner, e um economista de orientação heterodoxa, com ideias tão ou mais à esquerda do que a própria ex-presidente nessa área, lembra Livio Ribeiro, do Ibre-FGV.
"É o grande nome da Cámpora (juventude do movimento kirchnerista), o futuro desse projeto político do kirchnerismo. Por isso esse equilíbrio (entre governo federal e provincial) é mais sério."
Com Informações de Camilla Veras Mota - 
Enviada da BBC News Brasil a Buenos Aires.
Professor Edgar Bom Jardim - PE