sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Vacina infantil contra covid-19: efeitos colaterais graves são 'raríssimos', aponta CDC



Criança sendo vacinada contra a covid-19 nos EUA

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Criança sendo vacinada contra a covid-19 nos EUA; 8,7 milhões de doses já foram aplicadas na faixa etária de 5 a 11 anos, e vigilância recebeu 4,2 mil alertas de afeitos adversos, dos quais 97% foram não sérios

Reações adversas de crianças de 5 a 11 anos à vacina de covid-19 são raríssimas, apontou nesta quinta-feira o órgão governamental Centro de Controle de Doenças dos EUA (CDC) ao publicar uma revisão de dados levantados após 8,7 milhões de doses terem sido aplicadas nessa faixa etária no país.

A vacinação infantil foi autorizada nos EUA em 29 de outubro, com o imunizante da Pfizer-BioNTech, na mesma dosagem (0,2 mL, equivalente a 10 microgramas, um terço da dos adultos) autorizada no Brasil pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em 16 de dezembro.

Com o início da campanha de vacinação, o sistema Vaers (vigilância de segurança em vacinas administrado pelo CDC e pela FDA, agência americana de regulamentação de alimentos e medicamentos) passou a receber comunicados de efeitos adversos em crianças, feitos por equipes de saúde, fabricantes de vacina ou por membros do público em geral.

Segundo o relatório semanal do CDC, publicado com a data de sexta-feira (31/12), o sistema Vaers recebeu, entre 3 de novembro e 19 de dezembro, 4.249 comunicados de efeitos adversos no universo de 8,7 milhões de doses aplicadas nesse grupo etário, com idade média de 8 anos.

Desse total, 97,6% não foram efeitos adversos sérios.

Esses 4.149 casos incluem desde erros na dosagem administrada ou erro de estocagem até vômito, febre, dor de cabeça, tontura, síncope, fadiga, náusea e coceiras. Foram considerados de pouca seriedade porque não causaram hospitalizações ou problemas de longo prazo ou potencialmente fatais.

Entre os 100 relatos restantes, nos quais sim houve efeitos considerados sérios com necessidade de hospitalização, havia: febre, vômito, elevação de troponina (o que é associado a problemas cardíacos) e 12 casos graves de convulsão.

E houve ainda 15 relatos preliminares de miocardite, desses quais 11 puderam ser verificados - sete crianças se recuperaram e quatro estão em recuperação. (Um outro estudo sobre miocardite e outros males cardíacos, realizado no Reino Unido e publicado em 14 de dezembro, apontou que o risco de desenvolver problemas do coração após a vacinação era de no máximo 10 em 1 milhão - muito menor do que o risco de miocardite causado pela própria covid-19).

O Vaers recebeu também dois relatos de mortes - de duas meninas, de 5 e 6 anos - durante o período de monitoramento da vacinação, que estão sendo investigados, segundo o CDC.

"Ambas tinham histórico médico complicado e estavam com a saúde fragilizada antes da vacinação", diz o relatório. "Nenhum dos dados sugere uma associação causal entre as mortes e a vacinação."

Criança sendo vacinada contra a covid-19 na França

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Estudo com 700 crianças e adolescentes internados por covid-19 nos EUA apontou que apenas 0,4% haviam recebido o esquema vacinal completo

O CDC diz também ter monitorado ativamente um grupo de 42,5 mil crianças vacinadas com duas doses. Nelas, as principais reações à vacina foram dor no local da injeção, fadiga ou dor de cabeça.

"Pais e cuidadores de crianças de 5 a 11 anos devem ser informados de que reações locais ou sistêmicas são esperadas após a vacinação com a vacina da Pfizer-BioNTech e são mais comuns após a segunda dose", diz o relatório.

Com isso, o CDC reforça que "a vacinação é a forma mais eficiente de prevenir a covid-19, e a FDA vai continuar a monitorar a segurança da vacinação e trazer atualizações".

Hospitalizações foram mais comuns entre crianças não vacinadas


Uma segunda análise do CDC tornada pública nesta quinta avaliou cerca de 700 hospitalizações por covid-19 entre crianças e adolescentes nos EUA.

A principal conclusão foi que, entre 77,9% das crianças e adolescentes internados com covid-19 aguda, apenas 0,4% dos pacientes em idade vacinável haviam recebido o esquema vacinal completo.

Outra observação é de que, no grupo de 12 a 17 anos, dois terços dos jovens internados sofriam de obesidade.

"A vacinação contra covid-19 e outras estratégias de prevenção são importantes para proteger as crianças contra covid-19, particularmente crianças com obesidade e outras pré-condições de saúde", diz o relatório.

No Brasil, apesar da autorização da Anvisa, a vacinação do público infantil enfrenta resistência por parte do governo do presidente Jair Bolsonaro, que falou que não pretende vacinar sua filha de 11 anos.

O Ministério da Saúde abriu uma consulta pública a respeito do tema e recomendou que a imunização de crianças a partir de 5 anos ocorra sob prescrição médica - medidas que sofreram críticas de especialistas em imunização.

Alguns Estados afirmaram que não pretendem seguir a recomendação do ministério. Em resposta a isso, o ministro Marcelo Queiroga afirmou que esses governadores não são médicos e estão interferindo nas Secretarias de Saúde de seus Estados.

BBC

30/12/2021

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Com alta do dólar, inflação de remédios faz paciente ter de escolher qual doença tratar


Conversa entre paciente e profissional da saúde

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Preços dos medicamentos acompanham a inflação e a alta do dólar

Há um ano, a cuidadora de idosos Maria Lucia Silva, de 58 anos, usa o medicamento Arava para tratamento de sua artrite reumatoide. Sem o remédio, ela sente dores fortíssimas nas articulações, incluindo as das mãos e dos pés.

"As juntas das mãos ficam muito inchadas, eu não consigo fazer nada", conta ela à BBC News Brasil.

Embora a artrite reumatoide não tenha cura, o tratamento feito por Maria Lucia com o Arava retarda a evolução da doença, que pode levar à erosão dos ossos.

O problema é que o remédio está custando R$ 582 e está em falta na farmácia de alto custo do SUS (Sistema Único de Saúde), onde ela costumava retirar o medicamento.

"Faz dois meses que eu tento agendar para ir buscar o remédio e não consigo, o aplicativo diz que está em falta", conta ela, que já está sentindo os efeitos da falta de tratamento.


"Minhas juntas estão doendo e minha mão está começando a inchar. Não sei o que vou fazer se continuar sem o remédio. Estou pensando em fazer uma vaquinha para ver se consigo comprar."

Consultada pela BBC News Brasil, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo disse que o medicamento Leflunomida é de responsabilidade de aquisição e distribuição pelo Ministério da Saúde.

"A entrega ocorreu com atraso e a distribuição para as farmácias deve ser concluída na primeira semana de janeiro. A paciente será comunicada sobre a disponibilidade", disse a entidade em nota.

Maria Lucia mora com marido e dois filhos no bairro de Santa Cecília, em São Paulo, e atualmente não está trabalhando.

"A gente tem só a renda do meu marido, e com o aumento do preço de tudo, não temos condições de gastar 500 reais em remédio", diz ela.

Sua família também tem tido que comprar medicamentos que seu marido normalmente retirava no SUS por causa de instabilidade no sistema da farmácia popular.

"Ele não estava conseguindo pegar e tivemos que comprar. Deu porque os dele são mais baratos, mas é difícil, porque também aumentou o preço", diz Maria Lucia.

Profissional da saúde segura um potinho com comprimidos

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Famílias de baixa renda são proporcionalmente mais afetadas pelo aumento dos preços

Insumos importados

O aumento no preço de medicamentos e a falta de muitos deles no mercado têm afetado famílias como a de Maria Lucia desde o início da pandemia, mas a Covid-19 não é o único motivo.

"Os preços dos medicamentos vão acompanhando a variação da inflação e, principalmente, seguem a tendência de alta do dólar", explica Silvia Okabayashi, coordenadora de economia da Universidade Metodista de São Paulo.

"Os remédios que não são importados usam insumos importados. Temos uma dependência internacional de 90% de insumos, ou seja, 90% da matéria-prima usada para produção de medicamentos no Brasil é importada."

Nos últimos doze meses (entre novembro de 2020 e novembro de 2021), o IPCA (índice oficial de inflação de produtos e serviços) teve um aumento acumulado de 10,74%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Embora o reajuste anual de medicamentos seja regulado pela Anvisa com base em uma tabela de preços máximos ao consumidor, a Tabela CMED, essas pressões inflacionárias podem levar o aumento do preço dos remédios a ultrapassar esse teto de variação, explica Okabayashi.

Além disso, é comum as farmácias oferecerem descontos em relação a esse valor máximo permitido - descontos que tendem a diminuir com o aumento da inflação.

O aumento de preços dos remédios para hospitais e clínicas também foi considerável, embora não tão alto quanto os preços para o consumidor final.

O Índice de Preços de Medicamentos para Hospitais (IPM-H), produzido pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) e pela Bionexo, teve aumento de 7,21% no acumulado de 12 meses (até novembro de 2021).

Remédios em cima da mesa

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90% dos insumos de remédios no Brasil são importados

Nesse cenário de aumentos, explica Okabayashi, são sempre as famílias de baixa renda que mais sofrem.

"Proporcionalmente elas são mais afetadas por esse processo inflacionário, porque os valores impactam mais no seu orçamento, e elas já têm um poder de compra reduzido", afirma.

Mesmo quem não sofre com doenças crônicas têm sentido esse impacto.

Grávida e acometida por uma infecção urinária, a jovem carioca Ane Caroline Correia da Silva, de 24 anos, procurou a maternidade Maria Amélia, no Rio de Janeiro, e recebeu a recomendação de usar um antibiótico caro que não é fornecido pelo SUS.

Desempregada e sem condição de comprar o remédio, a jovem voltou para casa no Riachuelo, na zona norte do Rio, e não conseguiu fazer o tratamento.

Sua infecção acabou se agravando. Ela voltou uma segunda vez para a maternidade, e agora sua família está tentando que ela seja internada para receber o antibiótico no próprio hospital.

Ane Caroline mostra sua barriga de grávida

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Grávida, Ane Caroline teve infecção urinária porque não conseguiu comprar remédios

Inflação sem aumento de renda

Em junho de 2020, quando percebeu que o isolamento social estava afetando sua saúde mental, a paulista Gabriela Calixto, de 31 anos, procurou um psiquiatra e começou a tomar dois remédios antidepressivos.

Isso adicionou mais R$ 300 reais aos seus gastos com medicamentos - ela já tomava um remédio para controle de glicemia e perda de peso que custava mais de R$ 900.

Em 2021, todos os remédios que ela tomava tiveram um grande aumento no preço. "Com desconto, o Ozempic (para controle de glicemia) saía mais barato para mim. Mas agora o preço dele subiu para mais de R$ 1.000 e mesmo com desconto não sai por menos de R$ 870", conta ela.

Com seus gastos com contas, mercado e aluguel também subindo consideravelmente, Gabriela teve que parar de tomar o remédio para diabetes.

"Minha médica substituiu por outros dois que até tratam o mesmo problema, mas têm outros efeitos colaterais e não são o ideal para o meu caso", diz ela. "Tive que escolher entre (os remédios para) minha saúde mental e cuidar da diabetes."

"Enquanto isso minha renda continua a mesma", diz a jovem, que trabalha como Pessoa Jurídica e não recebeu aumento nem para repor a inflação.

Okabayashi diz que é difícil calcular quanto tempo essa situação vai durar.

"Se a cotação do dólar diminuir, até existe a possibilidade dos preços dos remédios não aumentarem tanto, mesmo que ainda haja um processo inflacionário. Mas é difícil", diz ela.

"Além disso, a instabilidade política e econômica vêm favorecendo essa depreciação do real", afirma.

  • Leticía Mori 
  • Da BBC News Brasil em São Paulo

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Chuvas na Bahia: os fenômenos extremos que causam a tragédia no Estado


Árvores e prédios sob água

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Trecho do rio Cachoeira que transbordou em Itabuna, uma das dezenas de cidades do sul da Bahia atingidas por fortes chuvas em dezembro

As chuvas que vêm afetando de forma atípica a Bahia desde o início de novembro seguem gerando tragédias e números impressionantes.

Segundo dados da Defesa Civil do Estado divulgados na quarta (29/12), 24 pessoas morreram, 53,9 mil ficaram desalojadas e 629 mil foram afetadas de alguma forma pelas enchentes.

Apenas no dia de Natal, a cidade de Ilhéus, uma das localidades mais atingidas, registrou mais chuva (136mm) do que o acumulado durante o mês de dezembro inteiro em 2020 (118mm) e em 2018 (131mm). Os dados são do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Temporais concentrados em poucas horas atingiram dezenas de cidades baianas, como Vitória da Conquista, a quase 5 horas de carro a oeste de Ilhéus. Em 25 de dezembro, o registro de chuvas atingiu a marca de 86,8mm, muito acima do registrado em dezembro passado inteiro (2,6mm).

Foto aérea mostra rio inundando e botes resgatando pessoas

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Resgate em Itabuna, Bahia

E o que está por trás disso?

Especialistas em meteorologia e clima apontam a influência de diversos fatores sobre a tradicional Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), descrita pelo Inmet como “um dos principais sistemas meteorológicos responsáveis pela reposição hídrica em parte do Brasil no período chuvoso”.

Em geral, uma ZCAS tem como característica, explica o Inmet, “a persistência de nuvens que ficam, praticamente estacionadas, provocando muita chuva sobre as mesmas áreas por, pelo menos, 4 dias consecutivos”.

A ZCAS costuma ser um corredor de umidade que se estende desde partes da região Norte ao Sudeste do Brasil e ao oceano Atlântico Sul, passando também pelo Nordeste.

Mas o que aconteceu em dezembro deste ano na Bahia pode ser considerado atípico e extremo, afirma o meteorologista Willy Hagi, da consultoria Meteonorte, pioneira no setor climático no Amazonas.

“Geralmente, a formação de eventos de ZCAS começa a partir da primavera entre meados de setembro e outubro e vai até os meses seguintes do verão e outono. Isso significa que é um fenômeno comum e esperado para essa época do ano, mas em dezembro temos visto esses eventos de ZCAS posicionados mais ao norte e atingindo o sul da Bahia com mais força”, afirma Hagi à BBC News Brasil.

Para especialistas, há pelo menos três fatores que podem ser associados à alta intensidade das chuvas recentes na Bahia: La Niña, depressão subtropical e aquecimento global.

O impacto de eventos La Niña no clima do Brasil

“Para o Norte e Nordeste do Brasil, a La Niña sempre vai ser um sinônimo de chuvas frequentes e acima do esperado”, afirma Hagi. Mas o que é La Niña?

Para entender o termo, é necessário explicar o fenômeno mais geral em que ele está inserido: o chamado evento ENOS ou El Niño-Oscilação Sul.

O El Niño é um fenômeno climático caracterizado pelo aquecimento anormal das águas superficiais do oceano Pacífico, principalmente nas zonas equatoriais.

Ele ocorre normalmente em intervalos médios de quatro anos, geralmente em dezembro, próximo ao Natal e, por isso, é chamado assim, em referência ao "Niño Jesus" ("Menino Jesus").

O El Niño causa o enfraquecimento dos chamados ventos alísios (deslocamentos de massas de ar quente e úmido em direção às áreas de baixa pressão atmosférica das zonas equatoriais do globo terrestre). Esses ventos sopram de leste para oeste, acumulando água quente na camada superior do Oceano Pacífico perto da Austrália e Indonésia.

la niña

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La Niña é caracterizado por resfriamento das águas do Pacífico Equatorial

Quando o El Niño ocorre, a camada de águas superficiais quentes do Pacífico acaba se deslocando ao longo do Equador em direção à América do Sul. Ventos quentes favorecem a evaporação e, por consequência, a formação de nuvens.

No Brasil, isso normalmente se traduz em mais chuvas na região Sul e menos chuvas nas regiões Norte e Nordeste.

La Niña é exatamente o oposto no Brasil: chuvas fortes e abundantes, aumento do fluxo dos rios e inundações subsequentes no Norte e no Nordeste do Brasil - e seca no Sul do país. Mas nenhum evento La Niña é igual ao outro.

Segundo o Inmet, neste ano, “a maioria dos modelos de previsão de ENOS (El Niño-Oscilação Sul), gerados pelos principais centros internacionais de meteorologia, indicam uma probabilidade superior a 60% de que se mantenha o fenômeno La Niña durante o verão, podendo atingir a intensidade de moderado entre os meses de dezembro/2021 e janeiro/2022”.

“Saímos de uma La Niña entre o final de 2020 até Maio de 2021, que foi responsável pela maior Cheia na Amazônia nos últimos 120 anos, para entramos em outra agora que está prevista para durar pelo menos até o primeiro trimestre de 2022. Isso soa o alarme para mais um período de chuvas elevadas e com todas as consequências socioeconômicas que estão ligadas, desde alagamentos a perdas de vidas humanas”, afirma Hagi.

No início de dezembro, 24 cidades do sul da Bahia já eram consideradas em situação de emergência. Diversas localidades ficaram debaixo d’água e pelo menos três pessoas morreram após um deslizamento de terra na cidade de Itamaraju.

À época, o climatologista Francisco Eliseu Aquino, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirmou à BBC News Brasil que a ZCAS estava combinada com um outro fenômeno climático que se originou a partir de uma área de baixa pressão: a depressão subtropical.

Mapa do Inpe

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Nos mapas disponíveis no site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), é possível ver em 10 de dezembro a Zona de Convergência do Atlântico Sul (traços verdes, da Amazônia à Bahia) e a formação da depressão subtropical na região costeira do Brasil (à direita)

Atípica, a depressão subtropical é um evento meteorológico que gira no sentido horário e é marcado pela formação de nuvens, ventos, tempestades e agitação marítima. Em alguns casos, ela pode evoluir para uma tempestade tropical.

“A combinação desses dois acontecimentos, a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) e a área de baixa pressão, é o que intensificou a chuva nas regiões leste e sul da Bahia", disse Aquino em entrevista no início de dezembro.

Segundo ele, "as mudanças na circulação geral da atmosfera sugerem para nós que o oceano mais quente na costa do Brasil poderia formar com mais frequência áreas de baixa pressão como essa, levando à depressão subtropical". Aquino considera precoce associar esses eventos extremos na Bahia às mudanças climáticas no planeta, mas não descarta uma possível ligação entre eles.

"Neste momento, não conecto diretamente as mudanças climáticas com esse evento extremo. (...) Mas, num planeta mais quente, eventos extremos tornam-se mais frequentes, com a formação de depressões subtropicais como esta [vista na Bahia]."

Sobre os temporais durante o Natal na Bahia e a relação com o aquecimento global, Hagi, da Meteonorte, afirma que “de certa forma é possível que a ocorrência desses eventos extremos seja consistente com o que se espera para um mundo cada vez mais quente”.

  • Redação
  • BBC News Brasil

Professor Edgar Bom Jardim - PE