segunda-feira, 29 de março de 2021

Novo auxílio não é suficiente para cobrir linha de pobreza em nenhum Estado do país, aponta estudo




Fome

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Diante do aumento da inflação, novo auxílio não supre as necessidades básicas de alimentação, higiene e limpeza das famílias mais vulneráveis

Os R$ 250 que serão pagos a partir de abril pelo novo auxílio emergencial não são suficientes para cobrir as necessidades básicas dos beneficiários em nenhuma das 27 unidades da federação, seja na zona rural ou nas cidades.

É o que aponta estudo feito pelos pesquisadores do Insper Naercio Menezes Filho e Bruno Komatsu, antecipado à BBC News Brasil, que simulou o comportamento dos dados de pobreza e desigualdade com o novo auxílio emergencial.

A conclusão é que o impacto vai ser pequeno: caso não houvesse mudança de comportamento das pessoas com as transferências - se a restrição de renda não levasse algumas pessoas a procurarem emprego, por exemplo -, a pobreza e a desigualdade de renda com o auxílio em 2021 seria próxima àquela de um cenário sem nenhum benefício.

A pesquisa divide os cenários entre a extrema pobreza, que mede a renda mínima para que o indivíduo faça ingestão necessária de calorias em um dia, e pobreza, que inclui o atendimento de necessidades básicas além da alimentação, como higiene.

Nos Estados em que a linha de pobreza é mais baixa - ou seja, em que o custo para comprar alimentos e itens básicos é menor -, o valor mínimo foi calculado em R$ 154 por pessoa. É o caso da zona rural de Rondônia, Amazonas, Roraima, Pará, Amapá e Tocantins.


Ou seja, uma família de quatro pessoas com rendimento de um salário mínimo (o equivalente a R$ 275 por pessoa) nesses locais estaria acima da linha de pobreza.

Em áreas urbanas nesses mesmos Estados, contudo, o valor praticamente dobra, para pouco mais de R$ 300. Nesse caso, usando o mesmo exemplo, uma família de quatro pessoas com rendimento de um salário mínimo vive abaixo da linha de pobreza.

O valor mais alto foi identificado em Goiás, tanto em área rural (R$ 231) quanto urbana (R$ 402). São Paulo tem a linha de pobreza mais alta entre as 11 regiões metropolitanas pesquisadas: o nível de renda mínimo para que uma família fique acima dela é de R$ 592 por pessoa.

Pessoas na fila da Caixa

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Última parcela do auxílio emergencial foi paga em dezembro

Insuficiente para suprir necessidades básicas

Três meses após o pagamento da última parcela do auxílio, o governo anunciou, em 18 de março, os valores da prorrogação do benefício nos próximos quatro meses. Serão de R$ 250 para as famílias com mais de uma pessoa ou R$ 375 para aquelas em que só as mulheres são as provedoras. Apenas um benefício será pago por família e, no caso das que contam com uma pessoa, o valor cai para R$ 150.

O programa do auxílio emergencial vai pagar menos e a um volume menor de brasileiros. Em 2020, ele custou R$ 290,9 bilhões, montante reduzido para R$ 44 bilhões em 2021, conforme o Projeto de Emenda Constitucional (PEC) aprovado pelo Congresso em 15 de março.

A justificativa para redução do escopo é a restrição de gasto do setor público, que viu as despesas crescerem no ano passado com as ações para tentar amortecer o impacto da pandemia.

Na maior parte dos casos, contudo, o recurso não é suficiente nem para garantir que a família viverá acima da linha de pobreza extrema. As menores linhas de pobreza extrema no país, de acordo com o estudo dos pesquisadores, é de R$ 87, nas zonas rurais de Rondônia, Amazonas, Roraima, Pará, Amapá e Tocantins.

Arroz e feijão

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Linha de pobreza extrema leva em conta número mínimo de calorias necessárias em um dia, enquanto pobreza inclui também itens de higiene e limpeza

No exemplo dado pelos próprios economistas, o valor mensal de R$ 250 do benefício representa R$ 62,50 per capita em uma família de quatro pessoas - nível que já a coloca abaixo da linha de extrema pobreza em todos os Estados.

Em algumas poucas situações o auxílio mantém o beneficiário acima da linha de pobreza extrema - é o caso dos R$ 150 pagos a famílias com apenas uma pessoa ou de R$ 250 para uma família de duas pessoas em áreas rurais e em algumas áreas urbanas do país.

'Perdemos tempo'

Para calcular os diferentes patamares para cada Estado (veja lista abaixo), os economistas usaram como parâmetro as linhas de pobreza e de pobreza extrema por unidade da federação e tipo de área (urbana e rural) estimadas pelos economistas Sonia Rocha e Samuel Franco anos atrás com os dados da Pnad 2014.

Eles atualizaram os dados para incluir os efeitos da inflação até novembro de 2020. Assim, é possível ver o estrago feito pelo aumento de preços dos últimos meses, especialmente nos supermercados, no poder de compra das famílias.

Os preços de alimentos e bebidas estão em média 15% mais altos nos 12 meses encerrados em fevereiro de 2021, quase três vezes a inflação oficial, que atingiu 5,2%, conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Os 15% de aumento médio na categoria alimentos e bebidas, já elevado, esconde altas ainda maiores, como a do arroz, que ficou quase 70% mais caro nos últimos 12 meses, do feijão preto (50%), da batata inglesa (47%), da cebola (69%), do limão (79%).

O aumento da inflação de alimentos tem impacto especialmente sobre as famílias mais pobres, que têm um percentual maior da renda comprometida com itens básicos.

Tabela com as linhas de pobreza e pobreza extrema por Estado

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Linhas de pobreza e de pobreza extrema estimada pelos pesquisadores

Naercio avalia que parte do problema seria resolvido se o novo auxílio tivesse sido melhor desenhado. Em vez de englobar famílias com renda domiciliar de até três salários mínimos (R$ 3.300), poderia ter colocado um limite menor, focando apenas nas famílias mais pobres, com um valor maior do benefício.

Os R$ 600 mensais pagos nos cinco primeiros meses (o pagamento foi reduzido à metade entre outubro e dezembro) são um bom valor para cobrir a pobreza extrema no país, diz o economista. Assim como os R$ 1,2 mil pagos a famílias com crianças com idade entre 0 e 6 anos ou com gestantes.

O adicional é importante para tentar romper com o ciclo de pobreza, para que ele não se perpetue pelas gerações seguintes, diz o estudioso da desigualdade social.

Para o economista, o governo perdeu a oportunidade de pensar em um programa estrutural contra a pobreza, que vem crescendo desde 2014 e teve uma queda momentânea em 2020 por causa da transferência massiva de renda para famílias mais pobres.

"A gente deveria ter feito isso há bastante tempo. Tem que 'turbinar' o Bolsa Família, que hoje é insuficiente para tirar as pessoas da pobreza", diz ele.

O governo poderia ter aproveitado o grande volume de informações reunidas pelo cadastro do auxílio emergencial para localizar essas famílias, pagar um valor mais alto nesta fase mais aguda da pandemia e, posteriormente, ir calibrando os valores - inclusive levando em consideração as diferenças regionais.

"Perdemos todo esse tempo e acabamos com um programa que não vai resolver o problema."

Os economistas fizeram três simulações que também sinalizam a potência bastante reduzida do auxílio aprovado para 2021. Eles colocam o cenário que de fato ocorreu e estimam dois cenários alternativos - um em que excluem os rendimentos do auxílio emergencial de 2020 e outros em que excluem a renda do auxílio em 2020, mas acrescentam o de 2021. Todas as projeções tomam como parâmetro maio de 2020.

Olhando para a pobreza, em 2020, a pobreza caiu no país de um patamar de 14,2% (observado em 2019) da população para 7,9%. Sem o auxílio, esse percentual seria de 18,4% - próximo do que seria registrado no cenário sem auxílio em 2020, mas com auxílio em 2021, 18%.

No caso da pobreza extrema, o indicador despencou de 5% em 2019 para 1,8%. O nível seria de 8,6% sem o pagamento do auxílio no ano passado e de 7,9% sem o pagamento do auxílio em 2020, mas com o benefício em 2021.

  • Camilla Veras Mota
  • Da BBC News Brasil em São Paulo
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Filosofia: Mídia e alienação no cotidiano


A alienação é fruto do não envolvimento pessoal com as questões político-sociais que tangem as relações. A pergunta que se faz é: os meios de comunicação são os formadores dessa alienação ou funcionam de forma positiva como instrumentos de informação? A alienação passa a ser percebida na vida social do indivíduo com a formação da “sociedade de consumo”, expressão que carrega uma conotação negativa, pois esse consumo não depende mais da decisão consciente de cada indivíduo, baseada em suas necessidades e seus gostos, mas de necessidades artificialmente estimuladas – fica claro que o papel dos meios de comunicação nesse aspecto é fundamental.

A sociedade de consumo, como vimos anteriormente, está dentro da lógica capitalista e é mantida através de uma indústria cultural homogeneizante, impõe padrões inclusive de valores morais e éticos, por sua vez, agindo diretamente no inconsciente coletivo. Ela atua na padronização e no ato de consumo, movidos pela sensibilidade, imaginação, inteligência e liberdade. Quando adquirimos uma roupa, diversos fatores são considerados: precisamos proteger nosso corpo ou revelá-lo; usamos a imaginação na combinação das peças; mesmo quando seguimos a tendência da moda, desenvolvemos o estilo próprio de vestir ao comprarmos uma ou mais peças de determinada cor ou modelo. 

O consumo não alienado supõe, mesmo diante de influências externas, que o indivíduo mantenha a possibilidade de escolha autônoma, não só para estabelecer suas preferências como para optar por consumir ou não.  De: proenm.com


Vídeo



CERVEJA ANTARCTICA | SÓ SE FOR A BOA | 2006 | com BUSSUNDA E JULIANA PAES | COMERCIAL DE TV - YouTube


Texto 2

EU, ETIQUETA

Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comparo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhavam
e cada gesto, cada olhar
cada vinco da roupa
sou gravado de forma universal,
saio da estamparia, não de casa,
da vitrine me tiram, recolocam,
objeto pulsante mas objeto
que se oferece como signo de outros
objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.

Carlos Drummond de Andrade ANDRADE, C. D. Obra poética, Volumes 4-6. Lisboa: Publicações Europa-América, 1989.
Pensador.com

Professor Edgar Bom Jardim - PE

A importância da filosofia para compreensão da realidade






Texto 1.
Não sabe que fazer com esses 10 reais?

A disciplina de filosofia deixou de ser considerada uma "área prioritária" e tem sido questionada por sua natureza pouco prática. Mas, como lembrava a filósofa Marina Garcés, "a filosofia não é útil ou inútil. É necessária". Trata-se de uma "linguagem fundamental" para aprender a pensar de forma crítica.

De qualquer forma, neste momento haverá leitores dizendo algo como: "Ok, tudo bem. A filosofia é bonita. Pode ser um hobby, como jogar xadrez ou fazer palavras cruzadas. Mas não se traduz em nada que possa me servir. Nunca me verei na situação de duvidar se o mundo existe, como Descartes".

Mas a reflexão e a análise de questões fundamentais têm muito mais consequências práticas do que parece. A filosofia não só nos ajuda a ver o mundo de maneira diferente, mas também pode mudar a forma como interagimos com ele. De como podemos ajudar os outros até como enfrentar a morte, ou se devemos tuitar com raiva. O pensamento crítico e as ferramentas que a filosofia nos proporciona nos ajudam a tomar decisões conscientes.

1. Como posso ajudar mais pessoas?

Suponhamos que você queira doar 10 reais para uma ONG. Qual deveria escolher? Uma sobre a qual já ouviu falar? Alguma que esteja trabalhando em catástrofes? Ou talvez outra que atue em sua cidade?

Os filósofos que defendem a corrente do "altruísmo eficaz" acreditam que as doações, por menores que sejam, podem ajudar muito mais do que imaginamos. Em entrevista ao EL PAÍS, o filósofo australiano Peter Singer destacou que pessoas de países em situação de extrema pobreza "vivem com menos de 700 dólares (cerca de 2.600 reais) por ano e, muitas vezes, não têm acesso à água potável, saneamento básico e educação para seus filhos". Ou seja, esses 10 reais podem valer muito mais em um desses países com uma situação econômica pior.

Além disso, nem todas as iniciativas funcionam da mesma maneira. Em seu livro Doing Good Better (fazendo o bem melhor), o filósofo William MacAskill, da Universidade de Oxford, nos aconselha a fazer perguntas como as seguintes: estamos ajudando uma área que está esquecida e, portanto, carente de recursos? Ou doamos quando ocorre uma catástrofe e, portanto, já existem muitas pessoas dando uma mãozinha?

MacAskill também defende levar em consideração se há provas do alcance das ações da ONG. Por exemplo, e embora pareça paradoxal, os programas de eliminação de vermes intestinais são mais úteis para reduzir o absenteísmo escolar no Quênia do que comprar livros didáticos.

Muito trabalho para 10 reais? Sim, é. Mas existem organizações que fornecem essas informações, como a Give Well, que analisa o impacto das ONGs recomendadas, e a The Life You Can Change, do próprio Singer, que inclui até uma calculadora que permite saber como cada doação será usada.

2. Devo participar da polêmica do dia no Twitter?

Bem, você já doou os 10 reais. Agora, pega o celular para dar uma olhada no Twitter. Como geralmente acontece nesses casos, depois de alguns segundos já está morrendo de raiva de alguém que falou uma barbaridade e tem vontade de dizer-lhe umas poucas e boas.

Embora talvez não seja uma boa ideia. Os psicólogos Paul Bloom e Matthew Jordan se perguntavam no The New York Times há algumas semanas se somos todos "torturadores inofensivos", por causa das redes sociais. Esse termo se refere a um experimento mental proposto por Derek Parfit no livro Razões e Pessoas, publicado em 1986. O filósofo, que morreu em 2017, imagina torturadores que, durante anos e individualmente, tinham de causar o máximo de dor possível a uma pessoa, mas agora têm um sistema que os isenta de responsabilidade. A única coisa que precisam fazer é apertar um botão que aumente em um milésimo a dor sentida por cada um dos 1.000 prisioneiros.

Ou seja, os torturadores podem alegar que não causaram muita diferença no sofrimento dessas pessoas. "Se eu tivesse parado de apertar o botão, sua dor teria passado de 1.000 para 999, então, por que arriscaria ser demitido?" Ou, no caso do Twitter, se 280 caracteres não vão fazer muita diferença, por que eu deveria ficar sem meus retuítes, mesmo à custa de humilhar ou insultar alguém?

Mas, claro, na verdade não agimos sozinhos. Uma pessoa não faz muita diferença, mas cada um dos torturadores continua sendo responsável pelos danos causados. Especialmente se levarmos em conta que, provavelmente, apenas aperte o botão porque acredita que os outros 999 também o apertarão.

3. Em quem posso votar?

Um dos exemplos de que normalmente não agimos sozinhos são as eleições. Um voto pode ajudar a fazer diferença, por isso é preciso tomar essa decisão com certa responsabilidade. Por exemplo, queremos ajudar a criar uma sociedade mais justa ou preferimos aumentar a liberdade individual?

O filósofo norte-americano John Rawls sugeria em Uma Teoria da Justiça (1971) que nos imaginássemos todos reunidos para escolher os princípios fundamentais da sociedade. Há um porém: não sabemos qual será nossa posição nesta sociedade. Pode ser que sejamos ricos ou pobres, saudáveis ou doentes, inteligentes ou simplesmente justos. Não saberemos sequer se nasceremos na Espanha ou na Somália. Estamos sob o "véu da ignorância", o qual Rawls chama de "posição original".

Nestas circunstâncias e, segundo Rawls, todos imaginaremos que corremos o risco de estar em uma posição mais desfavorável, por isso optaremos por uma sociedade que nos proteja, chegando a dois princípios básicos:

1. O primeiro garante liberdades básicas e iguais para todos os cidadãos, como a liberdade de expressão e de religião.

2. O segundo se refere à igualdade social e econômica. As desigualdades só serão permitidas se beneficiarem os membros da sociedade em pior situação. Segundo Rawls, para saber se uma sociedade é justa, não precisamos olhar para a riqueza total ou como é distribuída. Basta examinar a situação daqueles que estão em pior situação.

Mas nem todos concordam com os resultados dessa abordagem. Se Rawls lançou as bases do pensamento social-democrata contemporâneo, Robert Nozick fez o mesmo para o liberalismo moderno com sua obra Anarquia, Estado e Utopia, de 1974.

Para Nozick, o termo "justiça redistributiva" não é adequado. Em sua opinião, a riqueza não é algo que já exista e só precise ser distribuída: a riqueza deve ser criada. Quando as pessoas tomam decisões livres sobre questões econômicas, algumas acabam com mais dinheiro e outras, com menos. Sempre que houver uma troca livre, o resultado é justo.

4. Como devo encarar a morte?

Por outro lado, tudo isso importa? Afinal, nossas vidas são muito curtas para que um punhado de votos, alguns tuítes ou doações de 10 reais de vez em quando representem uma mudança significativa.

Para Arthur Schopenhauer, o fato de que nossas vidas estejam cercadas por nada nos leva a sentir ansiedade metafísica, "uma angústia existencial que nos assalta quando tentamos contemplar o abismo eterno do Nada", como resume Simon Blackburn em Pense: Uma Introdução à Filosofia.

Os dois nadas não nos angustiam igualmente. Pode dar vertigem saber que milhões de anos se passaram até nascermos. Mas o nada que virá é o que costuma dar mais medo: milhões de anos passarão (provavelmente) quando já estejamos mortos. Por que não escutamos o filósofo romano Lucrécio, quando diz em Da Natureza das Coisas, que esta eternidade até nosso nascimento é um espelho do que vai acontecer depois de nossa morte?

De fato, para Epicuro, esse medo é irracional. A morte não é nada, já que, uma vez mortos, não poderemos sentir absolutamente nada. Não deveríamos temê-la porque, quando chega, já não estamos lá.

As palavras de Epicuro são geralmente recebidas com admiração, mas sem causar muito efeito. Antes de nascer, não existíamos, mas de fato existimos antes de morrer. Certamente, não saberemos como é estar morto, mas saberemos "o que significa morrer", como observado por Oriol Quintana em 100 preguntes filosòfiques (100 perguntas filosóficas).

E se pudéssemos ser imortais? Segundo o britânico Bernard Williams, a imortalidade seria entediante e tiraria o sentido de nossas vidas. Sempre haverá tempo para fazer tudo e, consequentemente, não teríamos urgência em fazer nada. Ou seja, talvez não consigamos nos livrar do medo da morte, mas, pelo menos, pode servir para nos lembrar que devemos aproveitar nossas vidas. E não ainda que sejam breves, mas precisamente porque são. JAIME RUBIO HANCOCK / El País.



Vídeo: 

Filosofia no dia a dia com Mario Sergio Cortella


EXERCÍCIO:

1- Sentimos que toda satisfação de nossos desejos advinda do mundo assemelha-se à esmola que mantém hoje o mendigo vivo, porém prolonga amanhã a sua fome. A resignação, ao contrário, assemelha-se à fortuna herdada: livra o herdeiro para sempre de todas as preocupações.

SCHOPENHAUER, A. Aforismo para a sabedoria da vida. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

O trecho destaca uma ideia remanescente de uma tradição filosófica ocidental, segundo a qual a felicidade se mostra indissociavelmente ligada à

a) a consagração de relacionamentos afetivos.
b) administração da independência interior.
c) fugacidade do conhecimento empírico.
d) liberdade de expressão religiosa.
e) busca de prazeres efêmeros.

2- Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento originário de tudo o que existe, existiu e existirá, e que outras coisas provêm de sua descendência. Quando o ar se dilata, transforma-se em fogo, ao passo que os ventos são ar condensado. As nuvens formam-se a partir do ar por feltragem e, ainda mais condensadas, transformam-se em água. A água, quando mais condensada, transforma-se em terra, e quando condensada ao máximo possível, transforma-se em pedras.

BURNET, J. A aurora da filosofia grega. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2006 (adaptado).

TEXTO II

Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: “Deus, como criador de todas as coisas, está no princípio do mundo e dos tempos. Quão parcas de conteúdo se nos apresentam, em face desta concepção, as especulações contraditórias dos filósofos, para os quais o mundo se origina, ou de algum dos quatro elementos, como ensinam os Jônios, ou dos átomos, como julga Demócrito. Na verdade, dão impressão de quererem ancorar o mundo numa teia de aranha.”

GILSON, E.: BOEHNER, P. Historia da Filosofia Crista. São Paulo: Vozes, 1991 (adaptado).

Filósofos dos diversos tempos históricos desenvolveram teses para explicar a origem do universo, a partir de uma explicação racional. As teses de Anaxímenes, filósofo grego antigo, e de Basílio, filósofo medieval, têm em comum na sua fundamentação teorias que

a) eram baseadas nas ciências da natureza.
b) refutavam as teorias de filósofos da religião.
c) tinham origem nos mitos das civilizações antigas.
d) postulavam um princípio originário para o mundo.
e) defendiam que Deus é o princípio de todas as coisas.

*Com Enem/todamatériabd

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Imperialismo do Século XIX. Texto, vídeo e exercício


Foto: Voyager

Vídeo:

O Coração das Trevas (Joseph Conrad)



 O imperialismo foi um fenômeno que aconteceu durante a Segunda Revolução Industrial. Trata-se de uma forma de dominação econômica, política, social e cultural de uma nação sobre outra.

As principais potências da segunda metade do século XIX dividiram entre si o controle de muitos outros países do mundo. Inglaterra, França, Alemanha, Rússia, Estados Unidos e Japão passaram a ter grande influência sobre diversas regiões do mundo.

Causas do imperialismo

O imperialismo pode ser explicado com base em fatores:

  • Econômicos: no modelo capitalista, é necessária uma expansão constante da produção para que não haja crises. As potências industriais tinham grande acúmulo de capital, vindo dos lucros da atividade industrial, e precisavam de novas fontes de matérias-primas e novos mercados consumidores. Para não estagnar, buscaram controlar outras regiões do mundo. Com isso, essas localidades tornaram-se mercados exclusivos das potências dominadoras.
  • Políticos: desde a derrota de Napoleão Bonaparte, foi construído um grande acordo chamado Concerto Europeu, que tentava manter a paz na Europa. Ao mesmo tempo, Estados Unidos e Japão despontaram como novas potências, possíveis rivais das nações europeias. Para manter a paz dentro da Europa e controlar os ânimos das novas potências, era importante utilizar os domínios imperiais como moeda de troca. Em vez de uma disputa direta entre elas, os conflitos se davam por meio do controle de territórios coloniais.
  • Sociais: com a urbanização e o aumento da expectativa de vida, a população dos países industriais crescia cada vez mais e aglomerava-se nas cidades. As colônias eram uma forma de retirar essa pressão das grandes cidades europeias. Pessoas que, no país de origem, estariam desempregadas ou teriam cargos com baixos salários, agora poderiam trabalhar em uma colônia, ocupando cargos mais bem pagos e com mais status. Para os governos europeus, isso era positivo porque diminuía o risco de pressões populares, como aconteceu na Primavera dos Povos de 1848.

Comparação do imperialismo com o antigo sistema colonial

Podemos chamar o imperialismo de neocolonialismo porque muitos historiadores o consideram uma atualização do colonialismo, ou seja, uma nova forma de dominação que se afastava do colonialismo da Idade Moderna. Veja no quadro a seguir uma comparação entre esses dois conceitos:

ANTIGO SISTEMA COLONIALIMPERIALISMO CONTEMPORÂNEO
ÉpocaSéculos XV ao XVIII.Segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX.
LocalFoco na América e em pequenos entrepostos comerciais na África e na ÁsiaFoco na África e na Ásia, com algumas influências comerciais e econômicas nas Américas.
ContextoRevolução comercial / MercantilismoSegunda revolução industrial / Capitalismo industrial
ExploraçãoOuro, prata, especiarias e produtos tropicais.Busca por mercados consumidores, matérias-primas (petróleo, cobre, manganês e ferro), diamantes e ouro.
Mão de obraEscravizadaLocal
DomínioDireto, por meio da posse da terra e do direito de exploração.Econômico, que pode ser direto (caso da África) ou indireto (caso de regiões da Ásia).

O imperialismo e a missão civilizatória

Algo que já existia no antigo sistema colonial, mas que se intensificou no imperialismo, era a ideia de missão civilizatória. As potências consideravam que os outros povos eram menos desenvolvidos e, por isso, precisavam ser civilizados por um povo superior

Nesse período, nasceu e ganhou força uma ideia deturpada que defendia ser possível aplicar os conceitos de Charles Darwin para explicar processos sociais. O darwinismo social foi desenvolvido no Reino Unido, nos Estados Unidos e na Europa Ocidental a partir de 1870. As teses evolutivas de Darwin explicam a transformação dos seres vivos com base na ideia de que os mais aptos sobrevivem e os menos aptos deixam de existir.

Os defensores do darwinismo social passaram a afirmar que esse princípio também valia para sociedades humanas, existindo sociedades mais e menos avançadas. As mais avançadas teriam supostamente o direito de dominar as menos avançadas. Porém, essa tese não era científica e foi utilizada para justificar o controle econômico, cultural, religioso e social de alguns países por outros.

Imagem de 1902 representando os ideais da missão civilizatória europeia. Os europeus, levando o estandarte da civilização, avançam contra os locais, que carregam uma bandeira que simboliza a barbárie.

Com isso, o darwinismo social serviu como justificativa para a dominação imperialista e fortaleceu crenças racistas que consideravam africanos e asiáticos povos atrasados.

As potências imperialistas

Agora que já entendemos melhor o que foi o imperialismo e quais ideias justificavam esse domínio, vamos analisar como as potências da época construíram seus impérios.

Rússia

O império dos czares seguia o exemplo de outras nações europeias. Tentou se modernizar economicamente, aboliu a servidão em 1861 e começou a expandir seus domínios. Primeiro, dominando a atual Finlândia, depois as atuais Moldávia e Ucrânia, o Grão-Ducado de Varsóvia (atual Polônia) e, principalmente, a Sibéria, chegando ao Alasca.

Essa foi a chamada Eurásia russa, ou seja, uma enorme massa territorial que estendia- -se do centro da Europa ao extremo leste da Ásia.

Observe o mapa do Império Russo e note como a expansão foi feita no limite das fronteiras russas, para oeste, leste e sul. Não por acaso, a Rússia era a grande potência terrestre do mundo naquela época.

Império Russo.

Inglaterra

Durante o antigo sistema colonial, a Inglaterra teve uma participação pequena por conta de seus problemas internos. Além de algumas ilhas no Caribe, os ingleses tiveram apenas algumas colônias na América do Norte, que depois se tornariam as Treze Colônias, que dariam origem aos Estados Unidos. Porém, desde meados do século XVIII, a Inglaterra começou a construir o mais vasto império da História.

A Inglaterra tinha colônias na Austrália, na Nova Zelândia e no Canadá, onde exercia controle rígido para não perdê-las, como aconteceu com as colônias ao norte da América.

Os ingleses dominaram a África do Sul, anteriormente uma ocupação holandesa, e tiveram como grande base de operações coloniais a Índia, a partir de onde espalharam seu domínio por Ceilão, Ilhas Maurício, Cingapura (cidade da Malásia) e Hong Kong (no Império Chinês). O império chegou a seu auge em 1921.

Este foi o maior império do período, com vastos territórios em todos os continentes. Não por acaso também, a Inglaterra era a grande potência marítima da época.

Império Britânico.

França

No início do século XIX, a França perdeu boa parte de suas antigas colônias. O Haiti, por exemplo, se libertou após uma grande e vitoriosa revolta de escravizados. A Louisiana foi vendida para os Estados Unidos e a derrota de Napoleão Bonaparte em 1815 fez com que os franceses perdessem mais alguns de seus domínios.

Em 1848, após a Primavera dos Povos, a Inglaterra concordou que os franceses dessem início a uma colônia no norte da África, que viria a ser a Argélia. Tentando não desagradar os ingleses, a França expandiu seus domínios para Costa do Marfim, Gabão e algumas ilhas dos oceanos Índico e Pacífico. Após a ascensão de Napoleão III em 1851, a corrida colonial francesa acelerou- -se e expandiu-se para Nova Caledônia, Indochina (Vietnã, Laos etc.), Cochinchina (uma região do Camboja) e Madagascar, entre outros territórios.

Várias possessões francesas faziam fronteira com as colônias inglesas. Durante muito tempo houve grande tensão entre essas duas potências, mas elas se tornaram aliadas no fim do século XIX.

Império Francês.

Portugal, Espanha e Holanda

Esses três Estados foram pioneiros do antigo sistema colonial e foram as principais potências coloniais dos séculos XV ao XVIII. Porém, perderam força econômica e política, especialmente durante a Era Napoleônica, e nunca mais voltaram a ter a grandeza de antes.

A Espanha perdeu suas colônias na América, as quais se tornaram independentes, e depois perdeu outras possessões para os Estados Unidos após uma guerra em 1898. Ficou com pequenos domínios na África (Rio Muni e território de Fernando Pó) e no Caribe.

Portugal perdeu sua principal colônia, o Brasil, em 1822, e ficou com posses africanas como Guiné, Ilhas de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique. Essas colônias portuguesas foram as últimas a conquistar a independência, algo que aconteceu apenas em 1975.

A Holanda manteve a ilha de Curaçao e as pequenas Antilhas, no Caribe; e o Suriname, na América do Sul. Além disso, manteve alguns entrepostos comerciais em pequenas ilhas oceânicas, sendo a Ilha de Java, na Ásia, a mais rentável.

Japão

Inicialmente, o Japão estava em desvantagem, sendo apenas uma esfera de influência dos Estados Unidos no Pacífico. Porém, com pesados investimentos do Estado já no início da Era Meiji, o Japão conseguiu se industrializar. Com isso, deixou de ser apenas um fornecedor de matérias-primas e um mercado consumidor para produtos industrializados e tornou-se uma grande potência da época.

Além do comércio, a industrialização trouxe possibilidades bélicas e o Japão tornou-se uma potência militar. Tendo poder militar e uma indústria própria, já não fazia mais sentido para os japoneses se submeter a interesses estadunidenses, russos ou de qualquer outro país europeu. Assim, o Japão começou a buscar novos domínios.

Império Japonês.

O Japão foi a única potência imperialista fora do mundo ocidental e apenas a segunda fora da Europa. No mapa, vemos o alcance máximo do Império Japonês, algo que foi construído muito lentamente. A maior expansão começou após a vitória na guerra contra a Rússia em 1905, continuou ao longo do século XX e chegou ao ápice durante a Segunda Guerra Mundial.

Além de derrotar os russos, os japoneses travaram guerras contra a China, o que permitiu a dominação da Península Coreana, da Manchúria, de boa parte do leste da China e da ilha de Formosa (atual Taiwan).

Entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, o Japão chegou a tomar antigas posses europeias e estadunidenses. Foi o caso da Indochina e da Cochinchina (da França), das Filipinas (dos Estados Unidos) e da Indonésia (da Inglaterra).

Estados Unidos

Ao longo do século XIX, regiões da América começaram a se transformar em zonas de influência dos Estados Unidos. A influência diplomática, cultural e, principalmente, econômica era cada vez mais forte.

Entre 1852 e 1855, os Estados Unidos tentaram ocupar a Amazônia brasileira, o que foi evitado graças a esforços diplomáticos do Brasil. Em 1898, vitoriosos na Guerra Hispano-Americana, os Estados Unidos tomaram Filipinas, Porto Rico, Guam e Cuba da Espanha. As Filipinas conquistaram a independência em 1946, Cuba foi um protetorado até 1959 e Porto Rico e Guam são territórios estadunidenses até hoje.

No início do século XX, os Estados Unidos apoiaram grupos separatistas no Panamá, que pertencia à Colômbia, e com isso se favoreceram. Após a independência desse novo país, foi construído o Canal do Panamá, com total domínio dos Estados Unidos. O imperialismo estadunidense nesse período foi marcado pelo Corolário Roosevelt (em alusão a Franklin Delano Roosevelt, o presidente da época). Era a política do big stick, cujo lema era “Fale macio, mas tenha um grande porrete”. Ou seja, em relação à América Latina, os Estados Unidos tinham uma abordagem diplomática, mas por trás disso havia uma poderosa força militar como ameaça.

Império Alemão

O Império Alemão unificado teve, em suas primeiras décadas, o comando de Otto von Bismarck. Este estadista não era favorável à colonização e considerava que essa forma de imperialismo era mais uma disputa de vaidade entre os líderes da Europa do que uma ação realmente lucrativa. Enquanto estados como Inglaterra e França ampliavam seus impérios, a Alemanha tornava-se um dos grandes centros industriais do mundo, um dos países precursores da Segunda Revolução Industrial.

Com o grande avanço do capitalismo industrial alemão e a competição com estados europeus rivais, a necessidade de um avanço imperialista era cada vez mais forte. Com Bismarck, houve alguns movimentos alemães para buscar colônias, mas não foram o sufi ciente para mantê-lo no cargo. Em 1890, Bismarck foi demitido pelo kaiser (imperador alemão), que voltou seus olhos e sua força para o mundo.

Império Alemão.

O Império Alemão, como podemos ver, ocupou regiões não controladas por Inglaterra e França. Porém, não deixou de ser uma grande potência.

Rapidamente, os alemães começaram a disputar espaço entre as potências imperialistas. Comparado à França e à Inglaterra, o Império Alemão não teve muitas colônias, mas teve uma presença importante na África e na Oceania.

Consequências do Imperialismo

O desrespeito pelas populações autóctones das regiões dominadas foi enorme e um ótimo exemplo disso foi o que ocorreu quando os países europeus partilharam entre si o continente africano (Conferência de Berlim 1884-1885), sem considerar as diferenças étnicas daqueles povos.

A Guerra do Ópio (1939-1942 e 1956-1960) promovida na China pelos britânicos e o domínio da Manchúria pelos russos e Japoneses na mesma China são algumas das muitas arbitrariedades neocoloniais que ocorreram nesse período do século XIX.

Somente na metade do século XX que essas colônias iniciaram seus processos de emancipação e independência, porém herdaram uma série de conflitos, problemas socioeconômicos e dificuldades políticas que perduram até os dias de hoje, enquadrando assim esses países em suas condições estruturais de subdesenvolvimento. 

Texto: Wilson T Moutinho. ( coladaweb.com)


QUESTÕES SOBRE O IMPERIALISMO

1- Com a publicação do livro do economista inglês Hobson, Imperialismo, um estudo, em 1902, difundiu-se o significado moderno da expressão “imperialismo”, que passou a ser entendido como:

a) um esforço despendido pelas economias centrais, no sentido de promover as economias periféricas

b) a condição prévia e necessária ao incremento do desenvolvimento industrial nos países capitalistas

c) um acordo entre as potências capitalistas, visando dividir, de forma pacífica, os mercados mundiais

d) a expansão econômica e política em escala mundial das economias capitalistas na fase monopolista

e) o “fardo do homem branco”, um empreendimento europeu, procurando expandir a civilização na África

2- Con­sidere as afirmações sobre o Imperialismo e o Neocolonialismo na segunda metade do século XIX e princípio do século XX.

I. A chamada Segunda Revolução Industrial é o fenômeno econômico condicionante do neocolonialismo, à medida que amplia, nos países in­dustrializados, a necessidade de fontes externas de matérias-primas, bem como de novas áreas fornecedoras de mão de obra escrava em larga escala

II. A descoberta de diamantes no Transvaal (1867) e de ouro e cobre na Rodésia (1889) motivaram os países industrializados da Europa a tentar garantir domínio exclusivo sobre parcelas do continente africano

III. A Conferência de Berlim (1885-1887), convocada por Otto Von Bismarck, fixou regras para a cha­mada partilha da África, as quais favoreceram a Alemanha e a Itália recém-unificadas, que assim compensaram seu ingresso tardio na corrida imperialista

IV. O Japão e os Estados Unidos, como potências não europeias, participaram ativamente da cor­rida imperialista, buscando estabelecer áreas de influência colonial ou semicolonial, em guerras contra a Rússia e a Espanha, respectivamente

Estão corretas somente as afirmativas

a) I e II
b) I e III
c) II e III
d) II e IV
e) I, III e IV

3-No início do século XIX, o naturalista alemão Carl Von Martius esteve no Brasil em missão científica para fazer observações sobre a flora e a fauna nativas e sobre a sociedade indígena. Referindo-se ao indígena, ele afirmou:

“Permanecendo em grau inferior da humanidade, moralmente, ainda na infância, a civilização não o altera, nenhum exemplo o excita e nada o impulsiona para um nobre desenvolvimento progressivo (…). Esse estranho e inexplicável estado do indígena americano, até o presente, tem feito fracassarem todas as tentativas para conciliá-lo inteiramente com a Europa vencedora e torná-lo um cidadão satisfeito e feliz.”

Carl Von Martius. “O estado do direito entre os autóctones do Brasil”. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/EDUSP, 1982.

Com base nessa descrição, conclui-se que o naturalista Von Martius

a) apoiava a independência do Novo Mundo, acreditando que os índios, diferentemente do que fazia a missão europeia, respeitavam a flora e a fauna do país

b) discriminava preconceituosamente as populações originárias da América e advogava o extermínio dos índios

c) defendia uma posição progressista para o século XIX: a de tornar o indígena cidadão satisfeito e feliz

d) procurava impedir o processo de aculturação, ao descrever cientificamente a cultura das populações originárias da América

e) desvalorizava os patrimônios étnicos e culturais das sociedades indígenas e reforçava a missão “civilizadora europeia”, típica do século  XIX.

4- A partir da segunda metade do século XIX, as potências europeias começaram a disputar áreas coloniais na África, na Ásia e na Oceania. Seus objetivos eram a busca por fontes de matérias-primas, mercado consumidor, mão de obra e oportunidades de investimento.

As justificativas morais para essa colonização, no entanto, estavam relacionadas com o que se chamava de darwinismo social, cujo significado é:

a) o homem branco tinha a tarefa de cristianizar as populações pagãs de outros continentes, resgatando-as de religiões animistas e de práticas antropofágicas

b) o homem branco de origem europeia estava imbuído de uma missão civilizadora, através da qual deveria levar para seus irmãos de outras cores, incapazes de fazer isso por si mesmos, as vantagens da civilização e do progresso, resgatando-os da barbárie e do atraso aos quais estavam submetidos

c) os colonizadores europeus tinham a tarefa de ensinar os princípios fundamentais da democracia, ensinando aos povos colonizados o processo de governo democrático, permitindo-lhes se afastar de governos tirânicos e autocratas

d) a colonização tinha como tarefa repassar aos povos colonizados os fundamentos da economia capitalista, para que eles mesmos pudessem gerenciar as riquezas de seus territórios e, com isso, possibilitar o desenvolvimento social de seu país

e) estudar, segundo uma perspectiva antropológica, a organização das sociedades colonizadas, conhecer seus princípios religiosos, políticos, culturais e sociais, com o objetivo de ajudar a preservá-los

PUC/PR,  ENEM,  PUC/RS, USP (bedukaddeb
Professor Edgar Bom Jardim - PE