Img 0014.profileSeverino Borges de Oliveira, o mestre Bitinho, jamais imaginaria as consequências que poderiam advir ao assistir, no ano de 1971, em uma sala de cinema de Petrolina, a uma sessão do filme King Kong Escapes, dirigido pelo japonês Ishiro Honda (1967), e que no Brasil teve como título A Fuga de King Kong. A batalha travada entre o macaco gigante e sua réplica mecânica impressionou tanto o artesão que, dois meses depois, inspiraria a criação de um dos mais emblemáticos símbolos do imaginário popular nordestino: a carranca vampira, inicialmente chamada de carranca macaca.
Mestre Bitinho é o mais antigo carranqueiro em atividade de Petrolina. Nascido no município de Taipu, Rio Grande do Norte, no dia 21 de junho de 1941, acostumou-se à vida errante pelo fato do pai ter sido cigano, além de artesão e exímio ferreiro. Aos cinco anos de idade, já ajudava atiçando o fogo no fole para a forja das peças. Aos sete anos, aprendeu a fazer agulhas para costurar sacos e apitos para chamar nambus (Inhambu Chororó, ave que habita a Caatinga e os canaviais, conhecida pelos exóticos ovos azuis). Aos 12 anos, dominando as técnicas em madeira e ferro, confeccionava espingardas e bonecos calungas. “Minhas peças eram vendidas nas feiras e eu dava todo o dinheiro para o meu pai. Me sentia feliz em ajudar ao meu pai. Só ficava mesmo com o dinheiro para o cinema, o pão doce e a garapa de cana”.
Mestre Bitinho viveu durante anos no Ceará e na Bahia (Juazeiro), chegando à Petrolina, no Sertão do São Francisco, nos anos de 1970. Ganhou notoriedade com suas vampiras, que ajudaram a impulsionar a retomada da produção carranqueira artesanal, e ajudou a revelar grandes talentos da arte popular sertaneja, como o escultor santeiro Roque Gomes da Costa (Rock Santeiro). “Incentivei muita gente a fazer carrancas. Depois delas, comecei a fazer animais. Levei mais de vinte anos para fazer santos (década de 1990) porque, na época, no meu entendimento, a Bíblia proibia”, assegura. Sem qualquer desenho prévio, trabalha na umburana usando ferramentas básicas como formão, facas e serrotes. Além da madeira e do ferro, mestre Bitinho também cria a partir de outras matérias-primas, entre elas a pedra e o concreto. Suas peças vão de poucos centímetros (três centímetros) à esculturas com mais de três metros de altura. “Tenho facilidade em fazer de tudo. Na cabeça da gente tem uma máquina de filmar”, acredita.
Viajou o Brasil afora e esteve no Japão (1980) apresentando seu entalhe vigoroso. Foi um dos fundadores, em 1989, da Oficina do Artesão Mestre Quincas, espaço coletivo que reúne criadores e as associações de artesãos de Petrolina. Teve obra reconhecida por muitas premiações, como a Medalha Senador Nilo Coelho, conferida pela Prefeitura de Petrolina, em 2012. Participa da Feira Nacional de Negócios do Artesanato desde a sua primeira edição e há dez anos integra a Alameda dos Mestres Janete Costa. Viúvo, pai de 19 filhos, tem como discípulo o filho Nivandro e sonha em criar uma associação para ensinar seu ofício. “Meu trabalho representa a minha liberdade. A busca de conhecimento não pode ter fronteiras. Quero continuar trabalhando firme e forte e vou chegar aos cem anos entalhando madeira. Só vou parar quando morrer, mas pensando melhor, nem isso vou conseguir porque acho que não vou morrer nunca”, brinca.
Contatos:
Endereço: Oficina do Artesão Mestre Quincas -Avenida Cardoso de Sá, 11, Vila Eduardo, Petrolina
Telefone: 87.3862.3544
Texto: Rozziane Fernandes l Fotos e vídeo: César de Almeida
    
Fonte: http://www.artesanatodepernambuco.pe.gov.br