quarta-feira, 23 de junho de 2021

Roberto Cruz abre live do " São João de todos nós - Em casa"




É São João, vamos festejar
Quero ver a alegria sacudir o arraiá…
Simbora, meu povo, forrozar com a gente! E o fuá vai ser em Bom Jardim, minha terra querida! Você pode acompanhar tudo pela página da prefeitura no Facebook! Perde não!

SÃO TRÊS SUPER LIVES DE MUITO FORRÓ, COM OS ARTISTAS BONJARDINENSES!
A Prefeitura Municipal do Bom Jardim, através da Secretaria de Esportes, Cultura e Turismo, promoverá nos dias 23, 24 e 28 de junho de 2021, de forma virtual, o “São João de todos nós – Em casa”. Um projeto ousado, desenvolvido por uma equipe extraordinária, que BENEFICIARÁ MAIS DE 50 ARTISTAS BONJARDINENSES, entre técnicos, operadores, músicos, bailarinos, cantores, decoradores, enfim, profissionais que normalmente trabalhavam nas festividades do período junino.

O “São João de todos nós – Em casa” tem a PARTICIPAÇÃO DOS BONJARDINENSES: José Everton, Joandra Santos, Professora Juçara Mota, que nos presenteou com um belíssimo cordel que traduz bem todo o nosso sentimento; a Quadrilha Junina Rosa Vermelha, na pessoa de Bebeto; a arte de Yonne Lopes e Eveson Antônio; sem esquecer, é claro, dos nossos músicos: Felipe Barbosa, Kelson Souza, Geová Gomes, Julião Barbosa, Felipe Bruno, Welverton Santana, Sandro Marcílio, Mac Sedícias, Rogério, Muriel, Natan e Albenis; e as vozes marcantes de Roberto Cruz, Andrezza Formiga, Izabel Paulino, Valda Sedícias e Moura Fonttan.
Esse ano, de forma excepcional, em virtude da pandemia, o Prefeito Janjão, o nosso Secretário Rufino Filho e toda a nossa equipe, pensando no bem-estar da população, mesmo com todas as adversidades desse período difícil que ora vivemos, não poderia deixar de promover, de maneira SEGURA e RESPONSÁVEL, as festividades juninas tão tradicionais em nosso município. É uma forma de CUIDAR DO POVO BONJARDINENSE, que poderá celebrar o “São João” EM FAMÍLIA, EM CASA, EVITANDO AGLOMERAÇÕES; além de estarmos OPORTUNIZANDO OS TALENTOS DA TERRA.
Espero todos vocês no “São João de todos nós – Em casa”, nos dias 23, 24 e 28 de junho, sempre às 19h00, pelas Redes Sociais da Prefeitura Municipal do Bom Jardim.
@bomjardim.pe.gov.br
Fonte: Prefeitura de Bom Jardim
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Pandemia do coronavírus modifica tradição junina entre as famílias




Pelo segundo ano consecutivo não será possível arrastar o pé no salão ao som de Luiz Gonzaga nem assar o milho na fogueira feita em homenagem a São João. Devido ao avanço da pandemia e o baixo índice de vacinados contra a Covid-19 no Brasil, os amantes das festas juninas terão que se contentar em vestir suas camisas quadriculadas e vestidos de chita para ficarem na segurança de seus lares.

Quem teve o privilégio de aproveitar os arraiais de anos anteriores poderá se apegar às lembranças e tentar revivê-las de alguma forma com os parentes e amigos mais próximos. Já os mais jovens, sobretudo as crianças, que ainda não contam com essa memória afetiva, irão conhecer uma maneira diferente de festejar.

Para manter viva a tradição, a dermatologista Aleksana Viana, 38, e o advogado Ivo Machado, 36, fizeram questão que os filhos, Ricardo e Letícia, tivessem contato com os símbolos juninos ao longo deste mês. Há pouco mais de uma semana, eles comemoraram os 11 meses de nascimento do caçula com a temática junina. Todos se vestiram a caráter para o arraiá do garoto.

"Lembro que na minha infância todo ano minha mãe me enfeitava com vestido, trancinha. Na casa do meu avô era tradição ter fogueiras, fogos. São João é muito marcante na vida dos nordestinos. A gente constrói toda uma memória afetiva ao longo da vida", disse a mãe dos pequenos.

Aleksana lembra que nos anos anteriores à pandemia a filha, que hoje tem 6 anos, teve bastante contato com o São João não somente em casa com a família, mas também na escola, o que não aconteceu em 2020 e 2021, devido a suspensão das aulas presenciais.

"Ela nem lembra direito como é uma festa junina. Por isso, este ano fiz questão de levá-la na loja para escolher o vestido dela comigo porque antes eu escolhia sozinha. Também levei ela na padaria para mostrar as comidas de milho, os bolos típicos dessa época. Como de costume, ao longo desse mês estamos ouvindo mais forró e ela já está acostumada com o ritmo. Foram algumas formas que encontramos para mostrar a ela o que é o São João", comenta.

O casal Aleksana Viana e Ivo Machado fazem questão que os filhos, Letícia e Ricardo, tenham contato com os símbolos juninos

De acordo com a professora do Departamento de História da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) Lídia Rafaela Santos, a infância é o momento de maior definição do entendimento do que é a sociabilidade da festa. É quando a pessoa vai criando laços do que pode vir a ser.

"As crianças estão passando por uma série de restrições, principalmente de sociabilidade festivas, que com certeza vão afetá-las. A gente não sabe exatamente como, mas vão interferir no retorno das festividades. Vai criar um impacto forte porque a memória da criança vai ser o São João virtual, mas não significa que as mudanças serão difíceis, justamente porque as crianças estão vivenciando uma maneira diferente de celebrar e já vão crescer com isto na mente", disse Santos.

A professora conta ainda que após grandes impactos a sociedade aprende a se organizar, sem esquecer o que passou, mas apegada a novidades e tradições e isso vai alterando a forma de festejar. No entanto, é difícil prever o grau da mudança porque algumas coisas que aparecem como muitos revolucionárias não mudam significativamente a tradição e outras que aparentemente não teriam grande impacto se tornam símbolos.

"O São João já incorporou várias novidades de acordo com as necessidades presentes que a gente já naturalizou, como a quadrilha que surgiu no século 20. Outras que foram extremamente combatidas desde pelo menos o século 18, como os fogos de artifício, continuam aí", acrescenta.

Para a historiadora e pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco Cibele Barbosa é difícil prever se as festas juninas passarão por mudanças consideráveis após a pandemia e se as crianças vão enxergar a festa de uma maneira diferente como os adultos vivenciam atualmente.

"As crianças se relacionam muito com as memórias dos pais, da família, da comunidade. As tradições são passadas de pais para filhos, de geração para geração. Então, é muito difícil imaginar que haja uma perda significativa", comenta. Ela destaca que a tradição tem várias maneiras de se expressar. "Pode ser por meio de um alimento, uma música. Isso também vai permanecendo", fala. 

Ainda de acordo com a pesquisadora, após períodos semelhantes ao da pandemia de Covid-19 as pessoas passaram a intensificar a agenda social. "Não dá para dizer que as pessoas vão se comportar da mesma forma, mas eu imagino que a partir do momento que o perigo de fato passar, a população ser majoritariamente vacinada, essas tradições e essas festas vão retornar. Pensando historicamente, em uma linha do tempo, não vejo nenhum tipo de comportamento contrário", comenta.

A historiadora destaca também que dois anos é pouco tempo para as pessoas deixarem de pensar ou intuir esses festejos que já duram centenas de anos. "Principalmente nos dias de hoje que tem muitos registros online", fala.

Folha de Pernambuco


Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Bráulio de Castro é homenageado no Museu de Bom Jardim. Assista ao vídeo





Bráulio de Castro será sempre lembrado no Museu de Bom Jardim. A imagem do compositor, cantor e escritor bonjardinense está cravada no painel artístico do Museu. Assista ao vídeo:
Conheça o Museu de Bom Jardim - Semana Nacional de Museus 2021 CRÉDITOS
Museu de Bom Jardim - PE Criação: Edgar Severino dos Santos - Museu de Bom Jardim - PE. Imagens, Arte e Edição: Akires Sabino da Silva. Música: Bráulio de Castro com participação de Doddó Félix. Cantor: Joaquim Gonçalves. Os direitos para uso e divulgação da música neste vídeo foi autorizado por Bráulio de Castro. Acesse e Inscreva-se no Canal Museu de Bom Jardim: https://www.youtube.com/watch?v=hHpNjz3Ca-o&t=2s&ab_channel=MuseudeBomJardim

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Desequilibrado, Bolsonaro tira máscara e manda jornalista calar a boca durante entrevista


Visivelmente irritado, o presidente Jair Bolsonaro mandou uma repórter de uma afiliada da TV Globo e integrantes da sua própria equipe calarem a boca, tirou a máscara e reclamou da CNN Brasil em entrevista após a formatura de sargentos da Aeronáutica nesta segunda-feira (21) em Guaratinguetá (SP).

"Essa Globo é uma merda de imprensa. Vocês são uma porcaria de imprensa", disse. O presidente se irritou inicialmente após ser lembrado que foi multado pelo Governo de São Paulo por não usar máscara.

"Você quer fazer uma pergunta decente? Eu respondo. Você é da Globo? Não quero conversa com a Globo não", respondeu. O vídeo com a entrevista do presidente foi postado nas redes sociais por um canal bolsonarista.

Em seguida, ele voltou ao tema. Ao ser questionado, mandou a repórter calar a boca.

"Cala a boca, vocês são uns canalhas. Vocês fazem um jornalismo canalha que não ajuda em nada. Vocês destroem a família brasileira, destroem a religião brasileira. Vocês não prestam", disse.

"A Rede Globo não presta. É um péssimo órgão de informação. Se você não não assiste à Globo, você não tem informação. Se você assiste, está desinformado. Você tinha que ter vergonha na cara por prestar um serviço porco desse", finalizou.

No fim da entrevista, Bolsonaro tirou a máscara repentinamente.

"Vocês acham que vou me consultar com Bonner ou com Mirian Leitão sobre esse assunto? Parem que tocar no assunto. Me botem no Jornal Nacional agora. Estou sem máscara em Guaratinguetá. Está feliz agora?", questionou.

No último sábado (19), o Jornal Nacional, da TV Globo, exibiu um editorial sobre a marca de 500 mil mortes por Covid no Brasil.

No início da entrevista, Bolsonaro lamentou as mortes e ressaltou que sempre defendeu o tratamento precoce.

"Lamento todos os óbitos. Muito. É uma dor na família. E nós, desde o começo, o governo federal teve coragem de falar em tratamento precoce. Como está sendo conduzida essa questão parece até que é melhor se consultar com jornalistas do que com médicos", ironizou.

O presidente disse que é a primeira vez na história que se busca atender pessoas depois de estarem hospitalizadas.

"Sempre se falou em tratamento precoce, para mulher, para homem. Os médicos sempre falam dessa maneira. Não sei porque aqui você não pode falar de tratamento precoce no Brasil", reclamou.

Novamente, Bolsonaro disse que era a prova viva de que o tratamento funcionava. Sobre o não uso de máscara, ele disse que as pessoas fazem o que quiser.

"Eu estava com capacete balístico a prova de 762 [durante passeio de motocicleta em São Paulo no último dia 12]. Então, vou ser multado toda vez que andar de moto por aí? Sou alvo de canalhas do Brasil. Eu chego como quiser, aonde eu quiser, eu cuido da minha vida. Se você não quiser usar máscara, você não usa", afirmou.

O presidente voltou a dizer que há um documento do TCU (Tribunal de Contas da União) que menciona uma suposta supernotificação de casos da Covid-19 no Brasil.

Mais cedo nesta segunda-feira, em conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília, o presidente se referiu pejorativamente ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e afirmou que o petista só vencerá a eleição no ano que vem se houver fraude.

Em defesa da PEC (proposta de emenda à Constituição) do voto impresso, Bolsonaro afirmou nos últimos dias, sem qualquer prova, que os pleitos presidenciais mais recentes foram fraudados.

"Só na fraude o nove dedos volta. Agora, se o Congresso aprovar e promulgar [a PEC], teremos voto impresso. Não vai ser uma canetada de um cidadão como este daqui, que não vai ter voto impresso. Pode esquecer isso daí", afirmou Bolsonaro em referência velada ao presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Luís Roberto Barroso, crítico da adoção do voto impresso.

Folha de Pernambuco


Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 19 de junho de 2021

Os 40 anos do livro brasileiro condenado pelo Vaticano que hoje inspira papa Francisco




Leonardo Boff

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Atuação do então frade franciscano Leonardo Boff repercutiu no começo dos anos 1980

Aquele padre já estava incomodando bastante os círculos mais conservadores da Igreja Católica. No comecinho dos anos 1980, a atuação do então frade franciscano Leonardo Boff repercutia social e politicamente, justamente pela atuação à frente da Teologia da Libertação, corrente cristã que enfatiza como necessária a opção preferencial pelos pobres.

Quarenta anos atrás, Boff lançou um livro até hoje considerado sua obra máxima, constante de bibliografias de cursos de teologia e presente nas cabeceiras de muitos pensadores influentes — e, há quem diga, até mesmo do papa Francisco. Trata-se de Igreja: Carisma e Poder (Vozes), um compilado de 13 densos ensaios cuja primeira edição foi publicada em 1981.

Ao longo de mais de 200 páginas, o teólogo afirma existirem violações aos direitos humanos no interior da Igreja Católica, questiona a engessada hierarquia eclesiástica e entende a teologia como resultado das experiências de fé vividas pelo povo — e não o contrário.

Se o jeito de ser religioso de Boff, militando junto aos pobres, causava desconforto em setores católicos, o livro serviu como prova concreta para os que viam nele um dissidente, alguém fora do padrão instituído.

O caso foi analisado primeiro pela Arquidiocese do Rio de Janeiro. Em seguida, encaminhado para a Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), órgão do Vaticano herdeiro histórico do temido Tribunal da Inquisição, conhecido por perseguir aqueles considerados hereges até o século 19.


No comando da CDF estava o então cardeal alemão Joseph Ratzinger, que mais tarde se tornaria o papa Bento 16, sucessor de João Paulo 2º (1920-2005).

Sua decisão sobre o caso Boff foi publicada em 11 de março de 1985. No julgamento, a congregação entendeu que o livro era uma afronta a pelo menos quatro pontos da doutrina católica.

"Examinadas à luz dos critérios de um autêntico método teológico […] certas opções do livro de L. Boff manifestam-se insustentáveis", pontua o documento final.

"Sem pretender analisá-las todas, colocam-se em evidência apenas as opções eclesiológicas que parecem decisivas, ou seja: a estrutura da Igreja, a concepção do dogma, o exercício do poder sagrado e o profetismo."

Entendendo que as reflexões de Boff "são de tal natureza que põem em perigo a sã doutrina da fé", a congregação condenou o religioso brasileiro. Coube a ele um ano do chamado "silêncio obsequioso", uma espécie de "cala-boca" oficial que o proibiu de emitir opiniões ou mesmo exercer publicamente suas atividades religiosas.

Por e-mail, Boff afirmou à BBC News Brasil que "a intenção originária do livro era aplicar as intuições da teologia da libertação às relações internas na Igreja, em setores da Igreja".

"Uma igreja que prega a libertação na sociedade não pode ser um fator de opressão nas suas relações internas", argumenta ele.

"A razão reside neste fato: todo o poder sagrado está nas mãos de um pequeno grupo clerical; os leigos, que são as grandes maiores, não participam dele e as mulheres são completamente excluídas. Uma Igreja que assim se organiza e exige libertação na sociedade se desmoraliza porque, internamente, não dá mostra de ser libertadora."

Recordando seu próprio livro, o teólogo sustenta que "na medida em que a Igreja hierárquica se assenta sobre o poder em sua forma absolutista e até tirânica na figura do papa, não há a possibilidade de se converter".

"Este tipo de poder centralizado necessariamente é excludente e, por isso, sua natureza viola direitos dos fiéis", diz.

Boff vê os leigos reduzidos a uma cidadania inferior, e as mulheres encaradas como "força auxiliar do clero", a despeito de serem numericamente a maioria.

"O ponto crítico e extremamente sensível para as autoridades eclesiásticas foi a crítica que fiz ao poder sagrado, sobre o qual se constrói toda a compreensão da Igreja", acrescenta.

"Jesus fez uma arrasadora crítica ao poder como centralização e busca de privilégio. O poder só se legitima evangelicamente como serviço e não como privilégio e elemento de criação de diferenças na comunidade. A Igreja dos primórdios se construía sobre a categoria da comunhão de todos com todos, no sentido de uma comunidade fraternal de iguais, embora com funções diferentes."

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Boff diz que no catolicismo contemporâneo, a comunhão foi "esvaziada" e "no lugar do Espírito Santo entrou o direito canônico, que tudo estabelece"

Boff diz que no catolicismo contemporâneo, a comunhão foi "esvaziada" e, "no lugar do Espírito Santo, entrou o direito canônico, que tudo estabelece".

"Não me restringi a fazer crítica à Igreja hierárquica do poder sagrado. Tentei mostrar […] uma alternativa possível e fundada biblicamente, de uma Igreja assentada sobre o Espírito Santo e os carismas como forma diferente de organização comunitária", explica. "Estes seriam os pontos nevrálgicos que provocaram minha convocação pela Congregação para a Doutrina da Fé."

O teólogo reconhece, contudo, que os problemas não eram apenas os teológicos. "Havia dois outros, muito importantes, de caráter político", ressalta ele, frisando que o primeiro dizia respeito à teologia da libertação.

"Uma semana antes de minha convocação [para prestar esclarecimentos], a congregação [CDF] havia publicado um documento crítico a este tipo de teologia, acusando-a de politização da fé e do uso de categorias marxistas. Submeter-me, logo após, a um juízo doutrinário significava também colocar sob suspeição a Teologia da Libertação e, com isso, desautorizá-la."

O segundo motivo político dizia respeito às chamadas comunidades eclesiais de base — grupos ecumênicos em que pessoas com necessidades comuns são incentivadas a se reunir para leituras bíblicas e debates sociopolíticos. Como diz Boff, lugares "onde se praticava e ainda se pratica a Teologia da Libertação".

"A intenção já antiga do Vaticano era declarar que essas comunidades não são eclesiais, mas políticas", afirma ele. "Desta forma, ficariam também desclassificadas e, junto delas, a Teologia da Libertação."

A reportagem perguntou a Leonardo Boff se, com passar do tempo, ele se arrepende ou chegou a se arrepender de alguma coisa do conteúdo desse livro — considerando, inclusive, a repercussão do mesmo no interior da Igreja. Ele negou categoricamente.

"Continuo sustentando as teses do meu livro, que são secundadas pela melhor reflexão teológica católica e ecumênica", esclarece.

Ele afirma que "a estruturação institucional da Igreja hierárquica é mais e mais criticada por não ser suficientemente fundada nos evangelhos e na prática de Jesus e dos apóstolos".

"Sobre isso se fizeram inúmeras teses nas muitas faculdades de teologia. Mais ainda, esta teologia oficial é posta de lado pela prática do atual papa Francisco, que explicitamente vive o modelo de Igreja de comunhão, favorece as comunidades eclesiais de base e tem dado apoio explícito à teologia da libertação, de onde ele mesmo mesmo veio."

Boff comentou que se corresponde com o papa Francisco "em sucessivas e amistosas trocas de cartas".

"O livro ['Igreja: Carisma e Poder'] resultou de uma série de textos de conferências e de artigos publicados. O título vai direto ao ponto", define o teólogo Luiz Carlos Susin, professor na Pontifícia Universidade Católica no Rio Grande do Sul (PUC-RS) e na Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana e membro do Comitê Internacional do Fórum Mundial de Teologia e Libertação.

"Na América Latina em geral, mais especificamente no Brasil, a década de 1970 tinha sido tensa politicamente pois nos extremos estavam as ditaduras e as guerrilhas, e no campo intelectual a situação social era analisada com categorias marxistas. A Teologia da Libertação dialogava com este pensamento crítico, embora nem Boff e nem os demais teólogos dominassem bem as categorias marxistas. Mas havia 'afinidades eletivas'."

Contexto

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Genézio Darci Boff e assumiu o nome de Leonardo quando se tornou membro da Ordem dos Frades Menores

Em 1981, Boff já era bastante respeitado. Catarinense de Concórdia, nascido em 14 de dezembro de 1938, ele civilmente se chama Genézio Darci Boff e assumiu o nome de Leonardo quando se tornou membro da Ordem dos Frades Menores, ao fim da década de 1950.

Ordenou-se sacerdote em 1964 e, depois, viveu um período na Alemanha, onde doutorou-se pela Universidade de Munique.

Ao longo dos anos 1970, seu pensamento passou a ser materializado em artigos e livros. Ele integrou o conselho editorial da Vozes, onde coordenou a coleção Teologia e Libertação e atuou como redator da Revista Eclesiástica Brasileira, entre outras publicações periódicas.

Nesse contexto, o teólogo fundou em 1979, com a ajuda de um grupo de militantes e religiosos, o Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH), em Petrópolis, onde vive. Os antigos parceiros nesse projeto são os que guardam as melhores memórias da perseguição sofrida por Boff no processo junto ao Vaticano.

"Trabalhava no CDDH nos anos 1980 e convivia diariamente com Boff, principalmente no ano do famoso silêncio obsequioso [1985], afirma o teólogo e filósofo Adair Rocha, professor na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).

"Silêncio obsequioso é uma expressão de uma sabedoria histórica incrível, bem mais respeitosa do que 'faz favor de calar a boca'."

"Igreja: Carisma e Poder se relaciona com Jesus Cristo libertador. Isso acabou incomodando os setores hierárquicos da Igreja", diz ele.

"[Boff] trabalha os pressupostos teóricos de natureza teológica com as questões de natureza prática, numa perspectiva estruturante do modelo da circularidade da Igreja, enquanto o modelo tradicional existente é hierarco-piramidal."

"Quando isso vai para as comunidades eclesiais de base, implica em questões que vão interferir diretamente na vida das pessoas, e isso assume uma conotação de natureza política que vai identificar Boff e toda sua produção com autores preocupados com essa questão estruturante do capitalismo e como os meios de produção interferem na força de trabalho", completa.

Para Rocha, a teologia trazida pelas reflexões de Boff estava empenhada em possibilitar que a população mais pobre adquirisse "todos os direitos". "A palavra de Deus vai deixando isso cada vez clara. A conotação política acaba sendo clara", acrescenta.

Professor e desenvolvedor de aplicativos em Goiânia, o filósofo José Américo de Lacerda Júnior recorda que foi arrebatador quando, nos anos 1980, "mergulhou" na leitura de Igreja: Carisma e Poder.

Em 1987, viveu em Petrópolis e "a proximidade com a pessoa do Leonardo trouxe ainda mais força àqueles seus escritos que tinham me marcado tanto".

"Eu vi nele a coerência entre sua prática e sua escrita, entre sua ação e sua teologia", afirma. "Práxis. Compreendi na pele e na alma a mensagem do livro: o desafio de manter o equilíbrio entre a força fundante do amor e a razão opressora da institucionalização."

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Boff afirma que seu livro teve o mérito de provocar uma grande discussão teológica no cerne do catolicismo

O músico e filósofo Sérgio Messias Guimarães orgulha-se de ter integrado o grupo que criou o CDDH em 1979. "[Vi] as consequências: tudo o que Leonardo sofreu a partir de Igreja: Carisma e Poder. A obra veio questionar práticas equivocadas internamente, liturgicamente, teologicamente e pastoralmente. Práticas de centenas de anos. O livro questiona de maneira contundente, daí ganhou uma importância tamanha", relata ele.

"Ratzinger, com seu conservadorismo, traduziu essa linha [conservadora] de João Paulo 2º. Aí chegou a bater forte em Leonardo, por conta dos questionamentos importantes feitos por esse livro", comenta.

"A relevância da obra continua forte porque ela evoca mudanças na Igreja. Jesus colocou muito claramente no evangelho o amor para o outro, o cuidado para o outro, principalmente para aquele que precisa mais, sofre mais as consequências da sociedade que não permite que todos tenham seus direitos básicos respeitados. Boff continua presente, atual. No papado de Francisco, o livro se torna um grande ponto de referência."

Guimarães acredita que a condenação de Boff tenha sido pelo conjunto de sua atuação. "O livro foi a gota d'água por certos questionamentos que ele vinha fazendo e pela própria teologia da libertação", defende.

Para a educadora e militante Márcia Monteiro da Silva Miranda, com quem Boff vive oficialmente desde que largou a batina, em 1992, a repercussão do livro é resultante do fato de que, no período da ditadura, "setores da Igreja lutaram pelos direitos das pessoas e setores conservadores da Igreja achavam que a Igreja não podia se misturar com política".

"Como se o fato de eles não falarem nada [sobre o regime ditatorial] também não fosse um posicionamento político", diz ela.

"Leonardo foi muito profético, mas ele é um homem transparente, que acredita no que fala. O que ele fala é a partir do que reflete, estuda. Mas ele não é um acadêmico que fica só estudando. Ele é um homem de fé e andou sempre em contato com a situação do povo. Isso tornou forte o pensamento dele", afirma.

Por outro lado, Miranda acredita que a punição sofrida por seu companheiro tornou sua obra ainda mais reconhecida.

"Acredito que Deus escreve certo por linhas tortas", sentencia. "O fato de ele ser punido, calado, serviu para disseminar ainda mais a teologia da libertação. Tornou-se uma coisa que se espalhou, se esparramou e vai até hoje adubando a fé, inclusive para irmãos cristãos evangélicos e outras religiões que não são cristãs."

Legado

Boff ressalta que seu livro teve o mérito de provocar uma grande discussão teológica no cerne do catolicismo. "[Contudo] foi um grave equívoco cometido pelas autoridades doutrinais do Vaticano terem entendido de forma errônea o título do meu livro", acredita ele.

"Entenderam Igreja: Carisma ou Poder. Tenho afirmado a legitimidade do carisma e do poder na Igreja, poder para organizar internamente a comunidade no espírito dos evangelhos e carisma para abrir-se ao novo e às iniciativas exigidas pelos tempos cambiantes. Mas tenho insistido na tese: na relação entre poder e carisma deve-se partir sempre do carisma e não do poder", explica ele.

"Assim, o carisma impede o poder de se autonomizar e o confirma sempre como serviço. Se partirmos do poder, este enquadrará o carisma, tirar-lhe-á a forma de inovação e de abertura de novos caminhos", acrescenta.

"Essa foi a tragédia do carisma na Igreja: figuras carismáticas — aqui no sentido de inovadores e não do movimento carismático — e os profetas foram, geralmente, vigiados, cerceados, perseguidos, punidos e até condenados."

Para o historiador, filósofo e teólogo Gerson Leite de Moraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, um ponto-chave para compreender Igreja: Carisma e Poder é entender que, na Teologia da Libertação, "a teologia aparece sempre como um segundo ato".

"O primeiro ato, o mais importante, é a experiência de fé dentro das comunidades. E foi dentro dessas comunidades que a experiência cristã foi mostrando para Boff que a Igreja que se conhece era uma Igreja hierárquica, europeia, medieval, uma Igreja que estrutura e combina o poder temporal com o poder espiritual. Essa Igreja estava em uma direção completamente contrária. Então [sua obra] aponta para uma luta contra o clericalismo, contra essa ordem hierarquizada", explica.

"É como se ele dissesse que o poder nasce dentro da Igreja, mas da Igreja que são essas pessoas pobres, humilhadas sofridas, oprimidas."

Por tudo isso, a obra pode ser definida como profética, segundo explica o professor. Boff cobra uma Igreja que abandone o estilo monárquico, os títulos, os cargos — e brote justamente dos mais pobres.

Conforme diz Moraes, os teólogos da libertação estavam preocupados com a ortopraxia em vez da ortodoxia. "Para eles, melhor do que a opinião correta, é a prática correta. É nessa direção que Boff vai", comenta.

Igreja: Carisma e Poder tornou-se fundamental nas bibliografias da área. "A obra de Boff vai perdurar por muito tempo ainda, porque é consistente. É de uma teologia desafiadora, que faz as pessoas sonharem com um verdadeiro poder: o poder do cristianismo autêntico e não a estrutura fechada, engessada, do clericalismo que se torna protecionista de coisas erradas", avalia Moraes.

"Sua obra vai continuar existindo e resistindo ao tempo porque é uma fonte de utopia, uma fonte teológica de sonhos, de possibilidades de concretização no mundo real das expectativas da caminhada de fé."

Ele ressalta que o teólogo ainda tem a habilidade de tratar de coisas profundas de um jeito simples, dirigindo-se ao homem comum, sendo de fácil compreensão.

Doutora em Filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e pesquisadora do Instituto de Ensino e Assistência Social (IEAS), a religiosa Dulcelene Ceccato, da Congregação das Irmãs do Divino Salvador ressalta a relevância mundial de Boff.

"Ele não é apenas um autor, ele é uma escola de pensamento, tanto teológico como também filosófico. Como poucos, ou melhor, como os melhores e o maiores autores contemporâneos, possui uma obra ampla, sistematizada em muitos livros e artigos."

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"A obra de Boff vai perdurar por muito tempo ainda, porque é consistente", avalia historiador

Ao condenar Boff, a Igreja tinha como "meta atingir a mente mais lúcida da América Latina e Caribe para calar o pensamento em favor do mundo dos pobres", defende o o filósofo e teólogo Fernando Altemeyer Junior, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). "A estratégia persistiu até a eleição do papa Francisco, quando voltamos a ter oxigênio para fazer teologia. Superou-se o verdadeiro inverno eclesial e eclesiástico que durou 40 anos. Um verdadeiro deserto para os intelectuais católicos", diz o professor.

"A cristologia latino-americana que se fez a partir da dor humana, especialmente da humanidade padecente em sua carne e corpo, nas ditadores militares foi calada e perseguida dentro da própria Igreja", comenta Altemeyer. "A cristologia européia se fez a partir do conhecimento humano e da angústia existencial em sua alma e mente. A cristologia latino-americana vem de baixo para cima. Do histórico de Jesus ao ser de Jesus. Do ser de Jesus ao ser de Deus. É alinhada à escola teológica de Antioquia, ao pensamento dos primeiros evangelistas e a São João Crisóstomo. Fazer teologia muda a vida dos teólogos."

Para Susin, a riqueza intelectual de Boff acabou se tornando mais visível com a "mudança de foco" depois de desligar-se do sacerdócio, em 1992. "Ele vinha prestando atenção, pesquisando e começando a escrever a respeito de ecologia em diálogo com as ciências. Sua decisão foi privilegiar a interlocução com a sociedade e não mais com a Igreja, ao menos no foco central de seu trabalho", analisa.

"Continua tendo lealdade de pertença à Igreja e fala dela com propriedade, mas cresceu em sua liderança em termos de ética e espiritualidade ecológicas. Inovou em sua insistência numa ecologia integral, assumida agora pelo papa Francisco", comenta ele. "Mas seus livros de teologia da primeira fase têm ainda consistência e conservam atração por uma das características de seu estilo, uma linguagem quase jornalística, de crônica e algo de poesia. Este outro lado místico e entusiasta, e não apenas crítico, ou profético, em termos mais bíblicos, está presente ao longo de sua produção, o que o torna um escritor rico e complexo."

Pontificado de Francisco

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Boff não esconde que há um alinhamento entre seu pensamento e o atual pontificado

"A teologia de Boff e tantos pensadores do hemisfério sul participa da esperança libertadora dos povos crucificados. É uma cristologia ascendente, inspirada em textos clássicos dos aristotélicos e tomistas", explica Altemeyer. "[Por outro lado,] a teologia europeia trabalha a encarnação do Verbo como manifestação salvífica de Deus. É uma teologia descendente, inspirada em textos clássicos dos platônicos e agostinianos."

A influência do pensamento de Boff sobre o papado de Francisco transparece em algumas de suas manifestações e em documentos oficiais, como na encíclica dedicada ao meio ambiente, a Laudato Si', de 2015.

Para o frei Marcelo Toyansk Guimarães, da Comissão Justiça, Paz e Integridade da Criação dos Frades Capuchinhos e assessor da Comissão Justiça e Paz da CNBB-SP, é visível como esse modo de pensar ecoa no atual pontificado. "Podemos ver nas homilias do papa, que ele chama fortemente a cúria romana à conversão", pontua. "Isto está escancarado, estamos à beira de uma reforma mais consistente da própria cúria."

"[No livro,] Boff discorre sobre violações de direitos humanos no interior da Igreja. A Igreja precisa estar aberta a críticas para ajudar na revisão de posicionamentos", prossegue. "Vemos em Francisco como isso acontece de forma mais fluida, quando ele diz tolerância zero com relação a abusos e quando ele se posiciona de forma muito firme em relação aos clericalismos, dizendo que é um grande mal da Igreja."

"O debate trazido por Boff é repetido pelo papa, que nos provoca hoje a fazer uma Igreja a partir dos pobres, que tenha o leigo como protagonista, que seja sinodal", resume o religioso.

Susin atenta que a Igreja, pelo "peso do dinossauro", enfrenta a "dificuldade da reforma". "A tradição, que é sua riqueza e sua glória, é também sua miséria quando se trata da estrutura de poder, e na submissão da doutrina e até do evangelho ao direito canônico, comenta. "A cúria romana tem a estrutura de uma corte do século 17I na França, cheia de títulos, vênias e medalhas. É nas áreas missionárias, de fronteiras, exatamente onde ela parece mais precária, que ela apresenta mais criatividade carismática e mais vitalidade genuinamente evangélica."

"Com a enorme extensão dos pontificados de João Paulo 2º somando-lhe a continuidade em Bento 16 acabou se fortificando na Igreja o que o papa Francisco tem chamado de clericalismo, um interesse ligado ao poder que se afirma sobre a postura de que o clero é a única mediação da salvação", explica ele. "As atuais tensões dentro da cúria romana e as contraposições nem sempre tão veladas de um clero mais conservador em diversos países, como os Estados Unidos, e o papa Francisco mostram que a análise do poder ainda precisa ser feita, é tarefa incompleta."

Ceccato lembra que o teólogo brasileiro foi pioneiro nas reflexões sobre "a grave problemática ecológica", propondo "os parâmetros para uma ecologia integral, que o papa Francisco retoma na encíclica Laudato Si'". "Pode ser dizer que essa é a obra de Leonardo Boff que continua sendo escrita com criatividade, inteligência e, cada vez mais, marcada por uma profunda mística franciscana que aponta para o amor misericordioso de Deus e a fraternidade universal."

"Não cabe dúvidas que a teologia sul-americana, nos últimos 50 anos, deu muitos passos na reflexão teológica", afirma a religiosa. "Basta ver a importância da problemática ecológica."

Boff não esconde que há um alinhamento entre seu pensamento e o atual pontificado. "A prática e a mensagem do atual papa se situam perfeitamente dentro da perspectiva carismática defendida por meu livro 'Igreja: Carisma e Poder'. Ele disse sucessivas vezes que não vai dirigir a Igreja com o uso do poder, que não condenará ninguém e que fará o possível para viver uma Igreja sinodal que é outro nome para uma Igreja de comunhão", ressalta ele.

"Pelo fato de se negar viver num palácio mas preferir a casa da hóspedes, mostra na prática a distância do símbolo do poder, um palácio, e sua proximidade do lugar comum a todos, uma casa. Ele está mais perto da gruta de Belém do que dos palácios dos príncipes renascentistas, muitos deles eleitos papas."

  • Edison Veiga
  • De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil
Professor Edgar Bom Jardim - PE