sábado, 31 de agosto de 2019

O Historiador: calar, consentir, dominar


As relações sociais exigem manipulações que surpreendem e ajudam a fixar privilégios. Criam-se saberes que conversam com poderes e conformam o jogo político da sociedade. Não há regras definitivas, A história é atravessada por surpresas, não existe um destino programado para encerrar as especulações e nos transformar em seres mecânicas. Os desafios se multiplicam com seus lugares e tempos com cores e sons diferentes. Portanto, a construção histórica movimenta possibilidades, requer ousadias, mas também convive com naufrágios e suicídios.
Não há como aprisionar os atos humanos numa continuidade silenciosa. Os ruídos fazem contrapontos, as arquiteturas possuem geometrias que mudam e ameaçam funcionar como labirintos. O historiador ler o mundo, sem determinar uma linguagem exata. Idas e vindas se compõem. Dissonâncias não se vão, os ritmos desenham-se buscando fugir da mesmice. Não há, porém, uma história que esgote ou o tempo com ponto final. Há a permanência de dúvidas, mesmo que os apocalipses sejam imaginados e as angústia nos empurre para a beira do abismo.
Quem domina não se afasta das seduções. Usar a violência para se tornar senhor da história é algo perigoso. Silenciar quem exalta o diferente é uma prática de quem se instala no poder. Há coerções, porém também promessas de salvação que aliviam as tensões. Disciplinam-se os rebeldes com sutilezas. Não se trata apenas de calar para evitar desordens. Exercer o poder pede contacto com os controles da linguagem , capacidade para inventar palavras e não deixar que o conhecimento tenha um único caminho. Nem todos consentem ou se acostumam com as hierarquizações sugeridas por quem vigia e trama para consolidar suas leis.
O contador de história habita um território de moradias desiguais. Com seu olhar tenta descontinuar consensos. Insistir na homogeneidade é mostrar narrativas no que elas mais escondem das relações humanas. Os consensos mascaram conflitos ou diálogos para neutralizar a queda das sociabilidades. A história dá voltas, o corpo se encontra com outros corpos, mudam seus perfumes. O ofício do historiador trapezista está longe da monotonia. É ágil, não teme o acaso. Quando ele se distrai e consagra a linearidades, apaga as magias. Escraviza-se na repetição de metodologias. Não deve consentir, contudo, que a história eleja a coisificação proclamada pela força do reino da mercadoria.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

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