quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Escravidão no Brasil:'Ficava sem salário e tinha que tomar água suja', diz resgatado de trabalho análogo à escravidão


Situação onde viviam trabalhadores resgatados recentementeDireito de imagemSÉRGIO CARVALHO/AUDITOR-FISCAL DO TRABALHO
Image captionTrabalhador relata que ficava salário e tinha que tomar água suja no MT
"Isso eu não desejo pra ninguém", diz João (nome fictício), de 53 anos, ao relembrar o período em que trabalhou em situação análoga à escravidão.
Ele e os colegas se amontoavam em barracas de lona no mato, onde dormiam em redes e bebiam água suja. "Não tínhamos outra opção", conta à BBC News Brasil.
João relata que desde o fim da década de 80, quando se mudou para Vila Rica (MT), trabalhou em situação degradante em diversas propriedades rurais da região, que faz divisa com o Pará. "Era tudo muito precário e complicado", lamenta.
Ele costumava trabalhar em derrubadas de mata em fazendas, para abrir espaços de pastagem - prática frequentemente considerada ilegal, por não haver autorização para o desmatamento.
O papel de João nas atividades era de "badeco", como são chamados os responsáveis pelos serviços gerais no lugar e pelas refeições dos trabalhadores.
"Em alguns dias havia carne, em outros a gente tinha que matar algum animal para ter alguma comida", diz João.

O recrutamento

Os serviços nas propriedades rurais eram liderados por uma figura conhecida como "gato", responsável por intermediar o contato entre o fazendeiro e o trabalhador.
Ao chegar às fazendas, segundo João, eles eram informados que somente poderiam sair dali ao fim do trabalho - que chegava a durar dois meses.
"Ninguém tinha carro ou moto, então, a gente não tinha como ir embora, mesmo que a gente quisesse. Falavam que iam assinar a nossa carteira, mas nunca assinavam", detalha.
Nas propriedades rurais, os trabalhadores esperavam receber conforme a produção que faziam. Mas raramente viam o pagamento. "O 'gato' sempre enrolava, dizia que o fazendeiro não tinha pagado e não repassava o dinheiro para a gente. Não tínhamos o que fazer", detalha.
Histórias como a de João chamam a atenção após declarações do presidente Jair Bolsonaro, na terça-feira (30). Ele afirmou que é necessário rever as regras do combate ao trabalho análogo à escravidão.
Bolsonaro disse que "ninguém é favorável ao trabalho escravo", mas se dirigiu ao ministro Ives Gandra Martins Filho, do Tribunal Superior do Trabalho (TST), e afirmou: "Alguns colegas de vossa excelência entendem que o trabalho análogo à escravidão também é escravo. E pau nele."
Para o presidente, há uma linha "muito tênue" que distingue o trabalho análogo à escravidão e a escravidão. "O empregador tem que ter essa garantia. Não quer maldade para o seu funcionário, nem quer escravizá-lo. Isso não existe. Pode ser que exista na cabeça de uma minoria insignificante, aí tem que ser combatido. Mas deixar com essa dúvida quem está empregando, se é análogo ou não é, você leva o terror para o produtor", disse Bolsonaro.
Trabalhadores dormiam em redesDireito de imagemSÉRGIO CARVALHO/AUDITOR-FISCAL DO TRABALHO
Image captionLocal onde viviam trabalhadores resgatados recentemente em operação do Ministério Público do Trabalho
No dia seguinte à repercussão das declarações, o presidente afirmou que não planeja enviar ao Congresso uma proposta para alterar a legislação.
As declarações de Bolsonaro incomodaram entidades que atuam no combate ao trabalho análogo à escravidão. O questionamento sobre a legislação referente ao tema foi considerado uma forma de retrocesso.
"Em política de direitos humanos, é vedado o retrocesso. A partir do momento em que se tem uma conquista da civilização, não se pode voltar à barbárie anterior", ressalta a procuradora Catarina Von Zuben, titular da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo, em entrevista à BBC News Brasil.
De 2003 a 2018, foram resgatados 45 mil trabalhadores em situação de trabalho semelhante à escravidão no Brasil, conforme o Observatório da Erradicação do Trabalho Escravo e do Tráfico de Pessoas.

Os resgates

João passou quase 15 anos trabalhando em fazendas em situação degradante. "O 'gato' era quem levava a gente para os lugares. Era uma das poucas formas de trabalho que a gente encontrava", detalha.
Em todas as propriedades rurais onde trabalhou na época, as situações eram semelhantes: comida rara, água suja e local precário para dormir.
Ele, junto com mais de 50 colegas, foi resgatado em 2003 por auditores do Ministério da Fazenda. Na época, o grupo estava havia um mês em uma propriedade rural no Pará, em uma área próxima ao Mato Grosso, onde fazia a derrubada de árvores.
A situação vivida por João e pelos colegas somente foi descoberta após uma briga entre dois trabalhadores do grupo. "Um pegou até machado para matar o outro", relembra. Um funcionário da fazenda, que tinha acesso ao telefone, ligou para a polícia, que foi ao local para atender a ocorrência da briga. Os policiais notaram o serviço ilegal na fazenda e acionaram o Ministério Público do Trabalho (MPT).
Em 2003, além de João e dos colegas, também foram resgatadas outras 5,2 mil pessoas em situação análoga à escravidão. Em comparativo com os últimos anos, o número de resgates diminuiu.
Em 2018, por exemplo, segundo dados divulgados pelo Ministério da Economia, foram encontradas 1.723 pessoas em condições semelhantes à escravidão - destas, 1.113 foram resgatadas.
À primeira vista, a redução de resgates pode parecer um dado positivo. Porém, Catarina Von Zuben é enfática: a diminuição representa uma situação ainda mais alarmante.
"Houve certa conscientização de alguns segmentos. Mas o problema é que há menos fiscalização, porque houve redução nos números de fiscais. Muitas aposentadorias de auditores não foram repostas e os concursos são insuficientes. Em todo o Brasil, há apenas 19 auditores fiscais que atuam diretamente com trabalho escravo. Hoje, eles compõem quatro equipes. No passado, havia mais de 10 equipes para fazer esse trabalho", diz.
Catarina Von ZubenDireito de imagemDIVULGAÇÃO/MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Image captionProcuradora diz que possíveis alterações na lei em relação ao trabalho análogo à escravidão pode ser pejudicial até mesmo para a economia do país
Com menos fiscalização, os números de resgates cada vez mais deixam de corresponder à realidade no Brasil. "Há muitos casos que não são mais notificados, por haver menos fiscais", ressalta Catarina.
O setor rural é a área em que há mais casos de trabalho análogo à escravidão. A categoria "trabalhador agropecuário em geral" corresponde a 73% dos casos registrados no Brasil. Há também registros em funções como servente de obras (3%), trabalhador da pecuária (3%) e pedreiro (2%), entre outros.

A legislação

O Artigo 149 do Código Penal prevê punição a quem reduzir alguém à condição análoga à de escravo, que pode ser caracterizada por situações como trabalhos forçados, jornada exaustiva, condições degradantes de trabalho, restrição à locomoção do empregado - principalmente em razão de dívidas contraídas com o empregador.
Ainda nas declarações da terça, Bolsonaro criticou o fato de que situações como "colchão abaixo de oito centímetros" e "quarto com ventilação inadequada" são utilizadas como critérios para definir condições análogas às de escravidão.
A titular da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo rebate as argumentações do presidente.
"Quando há a fiscalização, o auditor fiscal autua por todas as irregularidades que ele encontra. Dentre elas, pode haver irregularidades mais simples, como o caso em que faltava saboneteira em um banheiro. Era uma das infrações no meio de dezenas. Não é a saboneteira que caracteriza a mão de obra escrava. São vários fatos. A nossa fiscalização é boa. Os resgates são criteriosos e não é algo banal", declara Catarina.
A procuradora afirma que a legislação atual é clara em relação ao trabalho análogo à escravidão. Possíveis alterações que possam afrouxar a definição sobre o tema são vistas como prejudiciais, inclusive para a economia do país.
"Não é só o combate à corrupção e à lavagem de dinheiro que melhora a situação do país. É necessário haver transparência das cadeias produtivas. Há grandes países e fundos que não investem se não houver uma cadeia produtiva, do campo até a entrega, na qual não há certeza de que não houve danos ambientais ou desrespeito aos direitos humanos", pontua Catarina.
"Até para a sobrevivência do país, não tem como não imaginar a importância do combate ao trabalho escravo. Era um assunto que a gente nem deveria mais estar falando. É uma questão de direitos humanos", acrescenta.

Após o resgate

Depois que os auditores foram à propriedade rural em que trabalhava, João e os colegas foram liberados e encaminhados para uma unidade da Pastoral do Imigrante na região - diversas instituições filantrópicas prestam apoio a resgatados.
O proprietário da fazenda foi autuado e teve de pagar R$ 600 a cada um dos mais de 50 trabalhadores que ficaram um mês em sua propriedade - na época, o valor correspondia a mais de dois salários mínimos.
As indenizações são formas de punição aplicadas àqueles que exploram o trabalho escravo. Conforme o Ministério da Economia, as multas aplicadas aos que exploravam as pessoas resgatadas no ano passado, em todo o Brasil, somaram cerca de R$ 3,4 milhões.
Lona e redes onde trabalhadores dormiam em resgate feito em 2016, em Chapada dos Guimarães (MT)Direito de imagemSÉRGIO CARVALHO/AUDITOR-FISCAL DO TRABALHO
Image captionTrabalhadores foram liberados e encaminhados para unidade da Pastoral do Imigrante
Em 2014, uma emenda incluiu um trecho que também permite a possibilidade de a área rural ou urbana em que houver exploração de trabalho escravo ser expropriada e destinada à reforma agrária ou habitação popular, sem indenização ao proprietário. O trecho foi criticado por Bolsonaro, que o classificou como uma forma de insegurança ao produtor rural.
Depois da indenização, João teve apoio de representantes do Ministério Público do Trabalho e de instituições filantrópicas que ajudam pessoas resgatadas em situação análoga à escravidão.
Ele fez curso profissionalizante por dois meses, para que pudesse trabalhar como tratorista. Para o homem, que estudou somente até a quarta série, as aulas foram uma forma de se sentir novamente valorizado. "Foi um período muito importante para mim, depois de tudo o que passei", diz.
Hoje, mais de 15 anos depois, João é casado e mora em Marabá (PA) e trabalha como atendente na cantina de uma propriedade rural. Ele conta que recebe R$ 1,5 mil por mês e se orgulha por ter a carteira assinada.
"Agora eu vejo o trabalho escravo como uma falta de atenção e humanidade. Deveriam ter mais compaixão com a gente que vive nessa luta, sem profissão certa. As pessoas ganham pouco e ainda são obrigadas a trabalhar de qualquer jeito. Isso é uma forma muito triste para humilhar o ser humano", declara.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Por unanimidade, STF derrota Bolsonaro e mantém demarcação indígena na Funai





Por unanimidade, o plenário do Supremo Tribunal Federal manteve suspensa uma medida provisória (MP 886) do presidente Jair Bolsonaro (PSL) que visa transferir da Fundação Nacional do Índio (Funai) para o Ministério da Agricultura a responsabilidade de demarcar terras indígenas.
Bolsonaro editou uma segunda medida provisória depois que o Congresso Nacional rejeitou uma primeira que também havia tentado fazer essa mudança na estrutura da administração pública.

A MP 886 já havia sido suspensa em junho pelo ministro do STF Luís Roberto Barroso, atendendo a pedido dos partidos Rede Sustentabilidade, PDT e PT. Nesta quinta-feira (1º), o plenário da corte referendou a decisão liminar de Barroso, por 10 votos a 0. Somente o ministro Alexandre de Moraes não votou porque não estava presente na sessão.

A Constituição impede o presidente reedite, na mesma legislatura, uma medida provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha caducado sem ser apreciada a tempo pelo Congresso.

Após a liminar de Barroso, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) declarou sem validade o trecho da medida provisória que tratava da demarcação de terras indígenas e quilombolas. Davi, assim como o ministro do STF, entendeu que Bolsonaro tentou reeditar uma MP que já havia sido rejeitada pelos parlamentares. De acordo com o regimento interno, o presidente da Casa tem a prerrogativa de impugnar proposições que lhe pareçam contrárias à Constituição.

Em seu voto na sessão desta quinta, Barroso disse que a última palavra sobre o que deve ser lei cabe ao Parlamento. O voto mais enfático foi o do decano do Supremo, o ministro Celso de Mello, que viu na reedição da MP, a despeito da vedação constitucional, um resquício de autoritarismo.

"O comportamento do atual presidente da República, revelado na reedição de medida provisória clara e expressamente rejeitada pelo Congresso Nacional, traduz uma clara, inaceitável transgressão à autoridade suprema da Constituição Federal e representa inadmissível e perigosa transgressão ao princípio fundamental da separação de Poderes", afirmou.

"Uma visão do processo político institucional que se recuse a compreender a supremacia da Constituição e que hesite em submeter-se à autoridade normativa dos seus preceitos [...] é censurável", completou o decano. "É preocupante essa compreensão pois torna evidente que parece ainda haver, na intimidade do poder hoje, um resíduo de indisfarçável autoritarismo, despojado sob tal aspecto, quando transgride a autoridade da Constituição, de qualquer coeficiente de legitimidade ético-jurídica."

Logo após a edição da MP, no fim de junho, Bolsonaro disse que assumia o bônus e ônus sobre o processo de demarcação de terras indígenas no país. "Quem demarca terra indígena sou eu! Não é ministro. Quem manda sou eu. Nessa questão, entre tantas outras. Eu sou um presidente que assume ônus e bônus", afirmou.

O presidente tem dito que não vai liberar a demarcação de novas terras e que planeja legalizar a extração de minério em áreas indígenas.

"É intenção minha regulamentar garimpo, legalizar o garimpo. Inclusive para índio, que tem que ter o direito de explorar o garimpo na sua propriedade. Terra indígena é como se fosse propriedade dele. Lógico, ONGs de outros países não querem, querem que o índio continue preso num zoológico animal, como se fosse um ser humano pré-histórico", afirmou na segunda (29), ao comentar a suspeita de assassinato de um líder indígena no oeste do Amapá.

Na visão de Bolsonaro, as demarcações indígenas estão "inviabilizando o negócio" no Brasil. "Está inviabilizando nosso negócio. O Brasil vive de commodities, daqui a pouco o homem do campo vai perder a paciência e vai cuidar da vida dele. Vai vender a terra, aplicar aqui ou lá fora, e cuidar da vida dele. A gente vai viver do quê? O que nós temos aqui além de commodities? Será que o pessoal não acorda para isso? Se esse negócio quebrar todo mundo vai para o barro, acabou o Brasil."
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 31 de julho de 2019

"Não é 'colchão fino', é trabalhador em chiqueiro": procurador rebate Bolsonaro sobre trabalho análogo à escravidão


O procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Fleury, durante audiência no SenadoDireito de imagemEDILSON RODRIGUES/AGÊNCIA SENADO
Image caption'Eu vejo, ao contrário do dito pelo presidente, bastante seriedade, bastante técnica na aplicação da legislação nos processos que dizem respeito ao trabalho análogo ao de escravo', disse Ronaldo Fleury
Depois de o presidente Jair Bolsonaro defender a revisão de regras sobre o combate ao trabalho análogo à escravidão, o chefe do Ministério Público do Trabalho, Ronaldo Fleury, afirmou que o tema já está definido de forma "suficientemente clara" na legislação brasileira.
"O que existe na legislação brasileira é o trabalho análogo ao de escravo, que são aquelas formas previstas no Código Penal. O trabalho escravo mesmo foi abolido com a Lei Áurea. A definição que tem no nosso Código Penal já é uma definição suficientemente clara, não há necessidade de maiores esclarecimentos", disse Fleury à BBC News Brasil.
Em cerimônia no Palácio do Planalto nesta terça-feira (30), Bolsonaro disse que há uma linha "muito tênue" na caracterização do trabalho análogo à escravidão.
"O empregador tem que ter essa garantia. Não quer maldade para o seu funcionário, nem quer escravizá-lo. Isso não existe. Pode ser que exista na cabeça de uma minoria insignificante, aí tem que ser combatido. Mas deixar com essa dúvida quem está empregando, se é análogo ou não é, você leva o terror para o produtor", disse Bolsonaro.
Fleury concorda que os empresários devem ter segurança, mas disse que, no Brasil, eles já têm. Nenhum bom empresário, segundo ele, foi condenado em caso relativo a trabalho análogo à escravidão.
"Não conheço nenhum bom empresário - que cuidasse do meio ambiente de trabalho, cuidasse para que seus trabalhadores não fossem submetidos a jornadas extenuantes, que não descontasse dos valores dos seus empregados até material de trabalho, como motosserra e enxada - que tenha sido condenado. Ao contrário. Nesses casos, não há sequer a autuação da fiscalização do trabalho", disse Fleury.

Sem água potável e dormindo em chiqueiros

O Código Penal prevê, no Artigo 149, punição para quem "reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto".
O presidente Jair Bolsonaro discursa durante eventos no Palácio do PlanaltoDireito de imagemJOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL
Image captionNo Palácio do Planalto, Bolsonaro defendeu a revisão da definição de trabalho análogo à escravidão
Bolsonaro disse que "ninguém é favorável ao trabalho escravo", mas se dirigiu ao ministro Ives Gandra Martins Filho, do Tribunal Superior do Trabalho (TST), e afirmou: "Alguns colegas de vossa excelência entendem que o trabalho análogo à escravidão também é escravo. E pau nele".
Fleury, no entanto, diz considerar que os juízes são bastante criteriosos. "Eu vejo, ao contrário do dito pelo presidente, bastante seriedade, bastante técnica na aplicação da legislação nos processos que dizem respeito ao trabalho análogo ao de escravo."
"Somente são enquadradas como condições análogas à de escravo aquelas que realmente estão dentro das especificações, das definições previstas no Código Penal, que são o trabalho quando é extremamente degradante, quando há esse sistema de dívida eterna, que nunca é paga", disse Fleury.
O chefe do Ministério Público do Trabalho também disse que o órgão e os auditores fiscais de trabalho encontram situações que "em nada se assemelham aos exemplos dados pelo presidente". Bolsonaro havia mencionado "colchão abaixo de oito centímetros" e "quarto com ventilação inadequada" como critérios para definir as condições análogas às de escravidão.
"Questão de colchão fino, não. O que encontramos e que se caracteriza como trabalho análogo ao de escravo são trabalhadores tendo que dormir em curral, ou no chiqueiro. São trabalhadores sem acesso a água potável, que não têm local para fazer suas necessidades e têm que fazer na beira do rio, têm que tomar banho no rio, porque não têm sequer água para tomar banho", disse Fleury. "As condições não são, com certeza, as que foram informadas ao presidente."

Mais de 1 mil casos em 2018

Segundo dados divulgados em fevereiro pelo Ministério da Economia, a fiscalização encontrou 1.723 pessoas trabalhando em condições análogas às de escravidão em 2018.
Ainda de acordo com o governo, as multas aplicadas aos que exploravam essas pessoas somaram cerca de R$ 3,4 milhões.
BBC

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Brasil:o dicionário ativo do Jair, o mensageiro das tormentas



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Como se localizar diante de tantos ruídos? Compra-se um lugar para que o silêncio adormeça. Seria uma revolução testemunhar uma sociedade que não temesse os gestos de quem a governa. Não vou proclamar o fim das diferenças, nem confesso acreditar num reino pleno de harmonias. Mas há dores  que se misturam com agressividades e desmontam qualquer possibilidade de imaginar a utopia. Jair solta o verbo. Não conhece regras ou quer ser chamado de louco? Ameaça sem cerimônia ,faz amizades estranhas, protege os filhos com manobras intensas, alicerça massacres.
Seria interessante reunir suas afirmações ou avaliar seu desejo de nutrir ódios. Dizem que representa as iluminações de um messias. Traz as vestes do contemporâneo na sua mediocridade maior. Não se trata de exigir inteligência. Nada exclama que não estimule a violência. O pior é que não se livra de deboches. Amassa o passado, destrói quem o critica, adora bajulações. Governa com ajudas, porém se torna  dono de um narcisismo desmesurado. Seu seguidores o convertem em mito.Os desamparos também atingem os debates políticos. Jair atrai quem se jugava fora da sociedade, reforça hegemonias que alimentam  profetas perigosos.
Ele não é único. Existiram guerras para derrubar fascismos, sem contudo apagar vestígios e anular ressentimentos. O retorno de preconceitos se amplia. Observe a chamada vitória de grupos de direita em nações europeias. Não se negue a olhar  o discurso de Trump e suas repercussões. A memória não é absoluta. Há quem eleja comportamentos nacionalistas radicais quando a economia abre as portas para exploração. O cinismo corrói. A pobreza se foi? O trabalho escraviza? Não se lance nas alucinações de que novo vence sempre o velho. Os tempos históricos se entrelaçam.
Não sei se a cultura dará respostas as incompletudes humanas. As turbulências se amarram em projetos que tramam mortes e buscam diminuir os pedidos das maiorias. Muitos se colocam no altar da verdade. Jair consolida-se espalhando convicções, escuta ecos e encontra quem ouça seus dizeres.Não está só, se aproxima de troca de favores que ignoram qualquer civilidade. Os rebeldes chegam e reclamam que os totalitarismos se refazem. Será que a virtualidade não torna as disputas num desenho retórico? Tudo isso engessa alegrias e forma neuroses gigantescas. A obscuridade apaga as luzes. Jair não se cansa. Imagina-se invulnerável.
De Paulo Rezende. A astúcia de Ulisses
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 30 de julho de 2019

#Brasileiros querem Bolsonaro fora da presidência

Nas redes sociais circula a hashtag  #ImpeachmentDeBolsonaroJá

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Trump elogia Eduardo Bolsonaro e diz que não vê nepotismo na indicação


O presidente dos EUA, Donald Trump, falou pela primeira vez sobre a indicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro para comandar a embaixada brasileira em Washigton. Em entrevista coletiva nesta terça-feira 30, o republicano mostrou satisfação com a indicação do filho do presidente e disse que não classifica a escolha como nepotismo.
Eu conheço o filho dele (Jair Bolsonaro) e eu considero que ele é extraordinário, um jovem brilhante e incrível. Estou muito feliz com a indicação”, disse Trump. Em seguida o presidente foi questionado se a indicação não se classifica como nepotismo. “Não, eu não acho que é nepotismo porque o filho ajudou muito na campanha. O filho dele é extraordinário”, concluiu o presidente.
Por Carta Capital
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 29 de julho de 2019

OAB repudia Bolsonaro


A Ordem dos Advogados do Brasil, através da sua Diretoria, do seu Conselho Pleno e do Colégio de Presidentes de Seccionais, tendo em vista manifestação do Senhor Presidente da República, na data de hoje, 29 de julho de 2019, vem a público, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo artigo 44, da Lei nº 8.906/1994, dirigir-se à advocacia e à sociedade brasileira para afirmar que segue:
1. Todas as autoridades do País, inclusive o Senhor Presidente da República, devem obediência à Constituição Federal, que instituiu nosso país como Estado Democrático de Direito e tem entre seus fundamentos a dignidade da pessoa humana, na qual se inclui o direito ao respeito da memória dos mortos.
2. O cargo de mandatário da Chefia do Poder Executivo exige que seja exercido com equilíbrio e respeito aos valores constitucionais, sendo-lhe vedado atentar contra os direitos humanos, entre os quais os direitos políticos, individuais e sociais, bem assim contra o cumprimento das leis.
3. Apresentamos nossa solidariedade a todas as famílias daqueles que foram mortos, torturados ou desaparecidos, ao longo de nossa história, especialmente durante o Golpe Militar de 1964, inclusive a família de Fernando Santa Cruz, pai de Felipe Santa Cruz, atingidos por manifestações excessivas e de frivolidade extrema do Senhor Presidente da República.
4. A Ordem dos Advogados do Brasil, órgão supremo da advocacia brasileira, vai se manter firme no compromisso supremo de defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado Democrático, e os direitos humanos, bem assim a defesa da advocacia, especialmente, de seus direitos e prerrogativas, violados por autoridades que não conhecem as regras que garantem a existência de advogados e advogadas livres e independentes.
5. A diretoria, o Conselho Pleno do Conselho Federal da OAB e o Colégio de Presidentes das 27 Seccionais da OAB repudiam as declarações do Senhor Presidente da República e permanecerão se posicionando contra qualquer tipo de retrocesso, na luta pela construção de uma sociedade livre, justa e solidária, e contra a violação das prerrogativas profissionais.
Brasília, 29 de julho de 2019
Diretoria
Colégio de Presidentes
Conselho Pleno

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Quem não se arrependeu de ter eleito Bolsonaro morreu como ser humano


Tente esquecer um pouco a sua rixa com o PT. Esforce-se em relembrar que o ex-presidente Lula está preso há mais de ano, e que Dilma Rousseff já foi impichada há quase três. Ou seja, vamos focar em quem realmente nos interessa no momento: o atual presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL).
Em outubro de 2018, quando o Brasil foi às urnas elegê-lo, muitos de seus eleitores depositaram a confiança em Bolsonaro com a esperança de ver um país diferente, sem corrupção e rumo à ascensão econômica, como há alguns anos não acontecia.

O resultado tem sido bem diferente do que eles previam: economia ainda estagnada, com previsões do PIB caindo semanalmente, exaltações ao preconceito e à ignorância, discursos absurdos que não esperamos nem mesmo de um adolescente revoltado.

jair bolsonaro
Crédito: reprodução/Instagram/@jairmessiasbolsonaro“Se você ainda não se arrependeu de ter eleito Bolsonaro, é porque você morreu enquanto ser humano”
Além das tomadas de decisões mais do que equivocadas (como indicar o filho à embaixada dos EUA, deixar as leis de trânsito ainda mais maleáveis, e liberar centenas de agrotóxicos nocivos à saúde e ao meio ambiente, por exemplo), outra coisa que fere o povo brasileiro é a forma como o presidente se refere à história do país.

A exaltação à Ditadura, a exaltação à máxima anticristã de que “bandido bom é bandido morto”, e o desprezo a direitos de pessoas em situação de fragilidade social, como mulheres, negros e LGBTs, são só algumas das irracionalidades do presidente, tornando-o cada vez menos empático com a figura humana.

E a prova maior de que, se você ainda não se arrependeu de ter eleito Bolsonaro, você morreu como ser humano, é o seu último discurso.

Ofensa ao passado do Brasil

Na manhã desta segunda-feira, 29 de julho, Bolsonaro fez uma afirmação bastante triste ao presidente da Ordem do Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz.

“Um dia se o presidente da OAB [Felipe Santa Cruz] quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto para ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Eu conto para ele”, disse Bolsonaro. O pai do jurista desapareceu durante a ditadura.

Se isso não te faz repensar o que foi o regime militar no Brasil e ficar com um mínimo de repulsa do presidente, independentemente de sua posição política, você já morreu um pouco por dentro.

Seu senso de humanidade está para lá de distorcido e você se tornou tudo aquilo que sempre criticou: alguém que tem político de estimação.



https://catracalivre.com.br/cidadania/quem-nao-se-arrependeu-de-ter-eleito-bolsonaro-morreu-como-ser-humano/?fbclid=IwAR0lidgJqDgUZE4T_E5PYrbyO4SmEt67sFAqOyHKNaLC1VJDq5cwBfXRHQ4
Professor Edgar Bom Jardim - PE

'Palavras desumanas', diz Paulo Câmara sobre ataque de Bolsonaro a pai de presidente da OAB



Paulo Câmara classificou falas de Bolsonaro sobre desaparecimento de pai do presidente da OAB como 'grosseiras'. Foto: Roberto Pereira/SEI. (Paulo Câmara classificou falas de Bolsonaro sobre desaparecimento de pai do presidente da OAB como 'grosseiras'. Foto: Roberto Pereira/SEI.)
Paulo Câmara classificou falas de Bolsonaro sobre desaparecimento de pai do presidente da OAB como 'grosseiras'. Foto: Roberto Pereira/SEI.
O governador Paulo Câmara (PSB) repudiou, por meio de nota, a declaração do presidente Jair Bolsonaro sobre o desaparecimento do pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, na manhã desta segunda-feira (29). Para o chefe do executivo estadual, a fala de Bolsonaro foi desumana. 

“Considero que o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, foi hoje violentamente agredido, por palavras que não são apenas grosseiras, são desumanas”, disse Paulo. “O Brasil precisa, cada dia mais, de exemplos que valorizem a tolerância, o diálogo, a solidariedade, a construção. O Presidente da República, lamentavelmente, tem seguido a direção contrária”, complementou o socialista. 

A divergência de ideias não deve, nunca, extrapolar os limites da civilidade e do respeito ao próximo. Considero que o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz (@felipeoabrj), foi hoje violentamente agredido, por palavras que não são apenas grosseiras, são desumanas
Paulo Câmara 40 (@PauloCamara40) July 29, 2019
 

O advogado Felipe Santa Cruz é filho do pernambucano Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira, desaparecido em fevereiro de 1974, no ápice da Ditadura Militar, depois de ter sido preso junto de um amigo chamado Eduardo Collier, no Rio de Janeiro. Fernando era estudante de Direito e integrante da Ação Popular Marxista-Leninista. Felipe Santa Cruz tinha 2 anos quando o pai desapareceu. 

Na manhã desta segunda, o presidente Jair Bolsonaro deu uma declaração ao comentar o desfecho do processo judicial que considerou Adélio Bispo, autor da facada durante a campanha eleitoral, isento de pena devido à doença mental). Por isso, ele ficará em um manicômio em vez de um presídio. 

Antes de falar sobre o pai de Santa Cruz, Bolsonaro criticou a atuação da OAB no caso de Adélio Bispo e perguntou qual era a intenção da entidade. Segundo o presidente, a ordem teria impedido o acesso da Polícia Federal ao telefone de um dos advogados do autor da facada. 

“Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de um dos caríssimos advogados [de Adélio]? Qual a intenção da OAB? Quem é essa OAB?”, indagou Bolsonaro. 

Sem ser questionado, o presidente falou na sequência sobre o pai do presidente da OAB.
“Um dia se o presidente da OAB [Felipe Santa Cruz] quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto para ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Eu conto para ele”, disse Bolsonaro. “Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar às conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco, e veio a desaparecer no Rio de Janeiro”, acrescentou. 

A vice-governadora Luciana Santos escreveu, no Twitter, que a fala de Bolsonaro foi irresponsável e classificou a declaração do presidente como "mesquinhez
Toda solidaridade ao presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, ao amigo Marcelo Santa Cruz e a todos os parentes de desaparecidos na ditadura do Brasil, cujo sentimento a mesquinhez e irresponsabilidade do presidente avilta e desrespeita.
— Luciana Santos (@lucianasantos) July 29, 2019
". 

Veja a íntegra da nota do governador Paulo Câmara:

“A divergência de ideias não deve, nunca, extrapolar os limites da civilidade e do respeito ao próximo. Considero que o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, foi hoje violentamente agredido, por palavras que não são apenas grosseiras, são desumanas. O Brasil precisa, cada dia mais, de exemplos que valorizem a tolerância, o diálogo, a solidariedade, a construção. O Presidente da República, lamentavelmente, tem seguido a direção contrária. Sob o ponto de vista político e pessoal, o comentário que buscou atingir Felipe e a memória do seu pai, o pernambucano Fernando Santa Cruz,  ataca a todos os que prezam princípios básicos da convivência em sociedade. A Felipe e sua família, toda a minha solidariedade.”
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 28 de julho de 2019

Dos amores e das paixões: o mundo se desenha


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Quem acredita em desenhos fixos? O mundo se refaz, embora não deixe de manter valores e buscar sentimentos do passado. O amanhã nem sempre é outro dia, pois há cotidianos ferozes  que machucam as memórias. O tempo não pode ser definido com escritas marcadas. Há infernos agonizantes e paraísos que nunca chegam. Tudo possui complexidade. Configuram-se labirintos que fecham as portas para as paixões e acreditam que amores salvarão os passados mal resolvidos. Portanto, não se acanhe se tiver visões estranhas e se a chuva apagar todos os vestígios. Há moradias abertas para renascer o que parecia sepultado.
Os poetas sentem falta de muita coisa. O mundo apressado traz recordações apressadas. Como se agarrar aos amores se a rapidez exige reflexões e nega as magias? As escritas se debruçam em relatórios, com palavras pálidas. Os poetas lamentam a morte de um insperado  que criava encantos. As tecnologias garantem lucros, mas empurram códigos. a mesmice não tem conexão com a poesia e termina confundindo os sentimentos. As paixões ganham cores violentas que ocupam imagens pesadas. Assim seguem manchetes que buscam assassinar as histórias.
É um desafio compreender os cercos que a vida monta. Não há como consolidar lembranças para aliviar as frustrações do presente. Valem as redes do trabalho, os interesses em grande eventos, a ausências de sinceridade. Todos pensam que os fantasmas estão escondidos nos casarões coloniais. Porém não custa observar as ruínas que se vestem de novidades. O amor aparece nas telas dos cinemas e os psicanalistas tentam salvar as neuroses mais estranhas.  Restar contar  sobre o mundo  que ainda não nasceu. Já leu Mia Couto e conversou com as ousadias de cada personagem? Não se lança nas fantasias?
Se a sociedade se abraça com a velocidades, anula sentimentos e se diverte com os impulsos. Nada há de seguro, nem os deuses conseguem sair dos templos lucrativos dos pastores astuciosos. O mundo gira, nós sabemos medir certas loucuras, contudo o medo não se vai de quem desqualifica as diferenças e entra no mercado cheio de vitrines. É muito comum dialogar com os espelhos, anunciar êxitos nas redes sociais. O capitalismo inquieta simpatias e espalha epidemias de acumulação. O perigo é transformar o amor numa imensa contabilidade e navegar nos delírios constantes das paixões. Paulo Rezende

Professor Edgar Bom Jardim - PE

As travessias históricas do poder: diversidades




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O poder não é solitário. Veste-se de relações. Possui seus dramas, mas avança pelo cotidiano. Não  há sociedade sem choques, sobretudo de interesses e desejos de vinganças. Criam-se utopias, prometem-se espaços de harmonias, mas as competições continuam deixando suas marcas. Nem toda relação de poder significa a saliência do mal. Na política, há quem jogue fora corrupções e arquitete projetos coletivos. Portanto, a complexidade existe, porque os valores se  costuram e as tradições não são absolutas. Não há como remover instabilidades num mundo de desconfortos.
Lembre-se de Luís XIV. Pense na extensão do império romano, nas ambições de Hitler, nas astúcias de Vargas, nos colonizadores portugueses, nos exércitos dos países agressivos. Não faltam  exemplos. Se há tempos em que a força  física prevalece, em outros as sofisticações disfarçam violências. Os anúncios consumistas divulgam fascínios que mantêm relações de poder e trazem euforias fabricadas por especialistas. Analise as redes socais. Não se empolgue com certas generosidades ou declarações ditas neutras. Há quem puxe plateias, conheça as ondas do mercado e arme arapucas. O fascismo não se foi, apenas se redesenha nas suas invasões.
As relações sociais indicam  que as multiplicidades aumentam. No entanto, a massificação banaliza e celebra a idiotização das pessoas. A tecnologia desfez preconceitos, mas também firmou manipulações. Nem todos conseguem estabelecer juízos críticos. Quem concentra  poderes viaja por pântanos e agita fanatismos. Daí, as grandes crises, a fragilização das utopias, a força da grana e do individualismo. A política se estrutura, muitas vezes, para consagrar o imediato e consolidar as minorias. É preciso estratégia e  se armar argumentos  astuciosos. Não é fácil assegurar dominações.
Os significados mudam para mascarar permanências. Há golpes com novas formas de iludir. Sobram teorias, a sociedade se polariza, se formam redes de poder. As amarguras ameaçam, os desamparos atingem os afetos, as relações de poder buscam configurações e identidades. Tudo se inquieta, ma os oportunismos estão  presentes. Não esqueça que somos animais. Falam de racionalidades, de consensos, de imaginários. Muitas divagações estão acompanhadas de sofrimentos. O barco do poder pesa e nega ajuda aos mais próximos, quando exclui e massacra. Por Paulo Rezende.

Professor Edgar Bom Jardim - PE