quarta-feira, 17 de junho de 2020

China e Índia: o que há por trás da escalada de tensão que deixou 20 soldados mortos em choque na fronteira



Soldado chinês gesticula enquanto fica perto de um soldado indiano no lado chinês da antiga fronteira de Nathu La entre Índia e ChinaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionÍndia e China entraram em conflito sobre quem possui território no alto do Himalaia

Índia e China, as duas nações mais populosas do mundo — com os dois maiores exércitos e armas nucleares — estão em conflito há semanas no Himalaia.

Mas a crise escalou nesta terça-feira. O exército indiano diz que três de seus soldados, incluindo um coronel, foram mortos em combates corpo a corpo com tropas chinesas.

Na noite de terça-feira no horário local, a imprensa indiana informou que o exército tinha perdido 20 homens e "infligiu 43 baixas aos chineses".

A China ainda não confirmou o número de mortos e feridos.

Foram as primeiras mortes em mais de quatro décadas na disputa pela fronteira reivindicada pelos dois gigantes asiáticos.

Como surgiu o confronto mais recente e o que está por trás dele?

Acúmulo de tensões

A área do confronto de terça-feira está exatamente na fronteira — chamada de Linha de Controle Real ou LAC (na sigla em inglês) — entre os dois países no vale de Galwan, em Ladakh.

Isso ocorre na disputada região da Caxemira, que é altamente militarizada e ponto de frequentes conflitos por causa de reivindicações territoriais concorrentes entre Índia, Paquistão e China.

No vale de Galwan, muitos incidentes entre patrulhas indianas e chinesas têm sido registrados. Desde abril, os dois lados acumulam tanques, artilharia e tropas nas proximidades do vale.

As forças terrestres são apoiadas por helicópteros de ataque e aviões de combate.

Mapa mostra local do conflito na Ásia

No início de maio, as tensões aumentaram depois que a imprensa indiana disse que as forças chinesas montaram tendas, cavaram trincheiras e transportaram equipamentos pesados ​​vários quilômetros para dentro do que era considerado pela Índia como seu território.

O movimento ocorreu depois que a Índia construiu uma estrada de várias centenas de quilômetros para ligar uma base aérea de alta altitude que reativou em 2008.

A Índia culpou a China pela situação. "Durante o processo em andamento no vale de Galwan, um confronto violento ocorreu ontem à noite com vítimas de ambos os lados", diz um comunicado do Exército indiano.

A China, por sua vez, pediu à Índia "para não tomar medidas unilaterais ou criar problemas", e o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, disse que foi a Índia que cruzou a fronteira, "provocando e atacando o povo chinês, resultando em sério confronto físico entre as forças fronteiriças dos dois lados".

Qual é o pano de fundo dessa disputa?

Vários fatores levaram a esse confronto, mas objetivos estratégicos concorrentes estão na sua raiz.

A Índia e a China compartilham uma fronteira com mais de 3.440 km e reivindicações territoriais ao longo dela.

Lago Pangong no distrito de Leh, do território da União de Ladakh, na fronteira entre a Índia e a ChinaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEste pitoresco lago está entre as regiões disputadas entre os gigantes asiáticos

Desde a década de 1950, a China se recusa a reconhecer as fronteiras traçadas durante a era colonial britânica.

Em 1962, isso levou a uma guerra breve e brutal, que resultou em uma humilhante derrota militar para a Índia.

Propostas e contrapropostas

Desde essa guerra, Índia e China se acusam mutuamente de invasão.

A Índia diz que a China está ocupando 38 mil km² de seu território — que fica na área onde o atual confronto está ocorrendo.

A China reivindica todo o Estado de Arunachal Pradesh, que chama de Tibete do Sul.

Oficiais indianos ocupando um dos fortes da região de Ladakh, em 1962Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionDurante a guerra de 1962, o exército chinês foi capaz de superar os postos indianos sem muita resistência

Existem também várias outras regiões em que os dois países têm opiniões diferentes sobre a localização da fronteira.

A Linha de Controle Real é mal demarcada e fica em Ladakh, onde há muitos rios, lagos e calotas de neve — o que significa que a linha que separa os soldados pode mudar e eles geralmente se aproximam do confronto.

Várias rodadas de negociações nas últimas três décadas falharam em resolver as disputas de fronteira, mas mantiveram um certo grau de estabilidade na região.

Construindo infraestrutura

Para apoiar as tropas posicionadas em um terreno tão hostil e sem habitantes, os dois lados estão construindo uma infraestrutura ferroviária e rodoviária.

Sob o governo de Narendra Modi, a Índia começou a construir dezenas de estradas ao longo da LAC e está correndo para cumprir o prazo de dezembro de 2022 para concluir esses projetos.

Uma dessas estradas vai para o vale de Galwan, onde o atual conflito aconteceu.

A China também vem construindo estradas e infraestrutura em uma área estrategicamente importante para Pequim, pois conecta sua Província de Xinjiang ao oeste do Tibete.

Poder global x poder regional

A economia chinesa é quase cinco vezes maior que a da Índia. A China se vê competindo para substituir os EUA como a potência mundial dominante.

A Índia, por outro lado, abriga visões de uma ordem mundial multipolar, onde espera desempenhar um papel significativo.

Caminhões militares indianos em direção à fronteira chinesaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionChina e Índia estão levando reforços para a região, incluindo artilharia

Os políticos e analistas indianos às vezes falam como se a Índia e a China fossem potências iguais, sem reconhecer os avanços maciços da China.

Em agosto de 2019, a Índia tomou a decisão controversa de acabar com a autonomia limitada de Jammu e Caxemira, e reformulou o mapa da região — uma ação que a China denunciou como hostil.

Isso criou o novo Ladakh, administrado pelo governo federal, que incluía Aksai Chin, uma área que a Índia reivindica, mas controlada pela China. O confronto ocorreu nessa área.

Fator Paquistão

Uma das raízes da desconfiança da Índia está na relação entre China e Paquistão, aliados de longa data. O governo indiano acusa os chineses de terem ajudado os paquistaneses a obter tecnologia nuclear e mísseis.

Havildar Palani
Image captionA suspeita é de que um dos soldados mortos seja o sargento Havildar Palani

A alta cúpula do governo nacionalista hindu BJP da Índia também conversa sobre a recuperação da Caxemira, administrada pelo Paquistão.

Uma rota estratégica, a rodovia de Karakoram, passa por essa área que liga a China ao Paquistão. Pequim investiu cerca de US$ 60 bilhões (cerca de R$ 314 bilhões) na infraestrutura do Paquistão — o chamado Corredor Econômico da China no Paquistão (CPEC, por sua sigla em inglês) — como parte de sua Iniciativa Belt and Road, e a rodovia é a chave para o transporte de mercadorias de e para o porto de Gwadar, no sul do Paquistão. O porto dá à China um ponto de apoio no mar da Arábia.

A Índia teme que, em um futuro próximo, Gwadar seja usado para apoiar as operações navais chinesas no mar da Arábia.

Questão Tibete

Por sua vez, a China suspeita da relação entre o governo indiano e o líder tibetano, Dalai Lama. O líder espiritual fugiu para a Índia após o levante fracassado em 1959 no Tibete.

A Índia se recusou a reconhecer o governo tibetano no exílio, mas seu líder estava entre os convidados durante a cerimônia de posse do primeiro-ministro Modi em 2014.

A China não leva a sério as aspirações geopolíticas da Índia e a vê como um país que poderia colaborar com seus rivais tradicionais como EUA, Japão e Austrália.

O líder espiritual tibetano exilado, Dalai Lama, recebe seus seguidores budistas no campo de Yiga Choezin, no distrito de Tawang, perto da fronteira Índia-ChinaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionChina quer que a Índia controle o movimento de independência tibetana

A Índia também alterou as regras para proibir que empresas chinesas assumam o controle de empresas indianas quebradas devido às perdas causadas pela pandemia.

Mas a China continua sendo o segundo maior parceiro comercial da Índia — assim como com a maioria dos países, a China desfruta de um enorme superávit comercial em relação à Índia.

Negociações

No passado recente, as patrulhas de fronteira de ambos os exércitos se enfrentavam centenas de vezes todos os anos.

Em 2013 e 2017, isso levou a impasses sérios que terminaram após semanas de manobras políticas e diplomáticas.

Após o último impasse em 2017, Modi e o presidente chinês Xi Jjinping realizaram duas cúpulas informais para resolver suas diferenças.

Índia e China estão mantendo conversas para neutralizar a situação — oficiais militares se reuniram em 6 de junho e novamente na terça-feira após o incidente.

A reunião mais recente foi realizada no ponto de patrulha 14 em Galwan, perto do local onde as mortes ocorreram.

Esse confronto sem dúvida aumentará a desconfiança entre as duas nações, o que pode exigir intervenção política entre as cúpulas para evitar que a situação fuja do controle.


Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 16 de junho de 2020

Vereador Rufino Filho encara mais uma batalha política em Bom Jardim



Entre os edis do atual parlamento municipal, o que tem maior privilégio em fazer parte de uma família de políticos, ter de berço veia política e ser herdeiro de uma  história no território da política e do futebol, estes são requisitos do perfil de Sebastião Rufino Ribeiro Filho, 42 anos, formado em Administração, filiado ao PSC,  partido da base de sustentação do governo federal. 
Foi eleito vereador pelo PTC  em 2016, obteve 537 votos. Faz oposição ao prefeito João Lira, mas  foi conciliador entre as bancadas na Câmara Municipal.
Atualmente é Presidente da Comissão Estadual de Árbitros de Futebol de Pernambuco.
Rufino Filho segue alguns passos do seu pai, o Coronel Sebastião Rufino, ex-prefeito de Bom Jardim, ex-deputado estadual e ex-juiz de futebol. Será que o futuro vai proporcionar ao vereador as mesmas oportunidades?  A política será paixão, vocação ou profissão? É o novo ou o conservador? Será a modernização conservadora da política bonjardinense?
O Blog Professor Edgar Bom Jardim, registra a memória, o imaginário deste jovem e experiente político.  Vamos conhecer mais a pessoa e o pré-candidato Rufino Filho. Confira:


1- Rufino Filho, por que entrou na política? Sempre gostei de trabalhar nos bastidores da política, porém, a convivência com meu pai me motivou a encarar esse desafio.

2- Você se considera um político de direita, esquerda, centro ou centrão? Nenhum. Minha decisão vai de acordo com o que acredito ser o melhor naquele momento.

3- Vai concorrer nestas eleições a vereador, prefeito ou vice-prefeito? Sei que hoje sou candidato a Vereador, amanhã posso até mudar de ideia se for da vontade de Deus e do POVO.

4- Como é conviver com os vereadores da bancada do prefeito João Lira? Temos boa convivência porém, interesses distintos.

5- Você sonha em ser prefeito de Bom Jardim,  pretende seguir os mesmos passos políticos do Coronel Rufino? Quem não pensa grande não sai do lugar. Se tiver de ser... será, do contrário, vida que segue.

6-  Boa parte da população bonjardinense avalia como fraca a atuação dos vereadores. Como  avalia este posicionamento da opinião pública? Isso é relativo. Da mesma forma que uns avaliam como fraca a atuação dos vereadores, outros avaliam como boa. Seria perfeito se pudéssemos atender aos anseios da população como um todo, porém, também temos limitações. Muitas vezes somos cobrados por culpa do PODER EXECUTIVO que se omite em atender as necessidades da população. Tenho consciência de que sempre temos algo a melhorar, cabe a cada Vereador fazer sua parte e o povo que faça seu julgamento de acordo com a atuação de cada um.

7- O que é ser um vereador em Bom Jardim? Ser Vereador é uma missão para poucos porém, gratificante quando conseguimos através dela elevar a qualidade de vida para os mais necessitados. Acredito que a política é uma ferramenta de extrema importância quando pessoas responsáveis têm o compromisso de cumprir seu papel visando o melhor para sua população e sua cidade.

8- Qual o destaque  da sua atuação como representante do povo no Legislativo?  Destaco minha humildade e transparência com toda população Bonjardinense  desde sempre. Destaco o Curso Básico de Informática onde eu, Ana Nery e Ninha (VEREADORES) conseguimos uma parceria com o Ex Dep. Zé Maurício, com duração de dois anos e aproximadamente 110 crianças e adolescentes foram contemplados. Destaco apoio ao esporte com parcerias de alguns amigos. E o mais importante de todos que é o apoio na área de SAÚDE conseguindo consultas, exames, cirurgias e partos.

9- O que você quer para o Bom Jardim do futuro? Quero um Bom Jardim sem perseguições políticas, agricultores tendo apoio merecido, professores recebendo dignamente o que tem de direito, saúde de qualidade atendendo os pacientes com eficácia, os postos de saúde abastecidos de remédios para quem precisa, educação com qualidade para que os alunos possam ter um futuro melhor, ações nas áreas de esporte e lazer com inclusão social, ações no combate às drogas e que todos os políticos possam olhar o eleitor como cidadão... fazendo por um o mesmo que faz pelo outro.

10- Sobre o fracasso do governo do presidente Jair Bolsonaro, cabe na atual conjuntura uma suposta ditadura com o apoio dos militares? Se isso fosse um problema não teríamos apenas um PRESIDENTE para GOVERNAR um país ou um GOVERNADOR para GOVERNAR um Estado. O problema está nos olhos de quem quer enxergar o problema, EU ENXERGO SOLUÇÃO. Até onde sei, seu mandato não terminou.

11- Como você avalia a atuação do prefeito João Francisco de Lira(PSD)? Um homem que age de má fé com seus eleitores jamais poderá ser visto com bons olhos.  O que observo é uma gestão voltada para benefício próprio e não para o povo, muito menos para nosso Município.


12- O prefeito e os vereadores governistas afirmam que a administração municipal tem realizado muitas ações para combater a Pandemia de Coronavírus. É isso mesmo o que acontece? Vejo muita conversa e pouquíssimas ações. Aproximadamente 90 dias de PANDEMIA e cadê os testes rápidos? Cadê o reconhecimento daqueles profissionais da saúde que estão na linha de frente? Por que em determinados postos de saúde do nosso município uns profissionais recebem os EPIs e outros não? Por que tanta demora para implantação das barreiras sanitárias? Muita conversa e pouca AÇÃO.

13- Onde o prefeito João Lira errou? Onde acertou?  Errou e permanece no erro com a falta de respeito e a verdade para com o povo. Acertou na realização do Binário (Acessibilidade da Beira Rio) uma obra IDEALIZADA pelo Ex Prefeito Fabinho Rufino conforme consta no seu Plano de Metas de 1999/2000 que irá desafogar o trânsito de nossa cidade. 

14- Vereadores da oposição fazem muitas acusações ao prefeito João Lira. Se tudo que apontam e dizem de negativo é verdade, então, por que os vereadores da oposição não o impediram de governar o município? Estamos fazendo a nossa parte e contamos que a justiça faça a dela.

15- Na sua opinião, qual o maior problema de Bom Jardim no hoje e para o amanhã? Sem dúvidas o Prefeito João Lira. 

16- Na eleição de 2016, o grupo Rufinista ao lançar candidatura própria favoreceu a vitória de João Lira. Por que não houve uma aliança com o ex-prefeito Miguel para impedir a volta de João Lira ao poder? Era esse o objetivo, enfraquecer Miguel Barbosa pensando que seria mais fácil tirar o poder do mando de João Lira  em 2020? Primeiro que o maior fracasso da eleição passada foi do próprio ex-prefeito Miguel que entregou a eleição para seu "EX CHEFE". Segundo que, fazer parte de um grupo político onde seu "líder" (MIGUEL) não tem poder de liderança nenhum.... melhor ficar só e enfrentar o MUNDO.

17- Por que o Coronel Sebastião Rufino não é mais o líder político de Bom Jardim? Por que começou bem e terminou enfraquecido? Onde errou?  SEBASTIAO RUFINO ( MEU PAI) permanece líder político na memória de toda população Bonjardinense. Ele conquistou o respeito de ambos eleitores (contra e a favor) pelo seu trabalho e serviços prestados ao nosso município. Deu sua contribuição enquanto ativo na política e mesmo fora dela como nos dias de hoje, apresentou Bom Jardim para o mundo, pode até não ser um líder político para algumas pessoas mas, para a grande maioria é muito mais que isso porque  respeito não se ganha, se conquista. Discordo quando diz que terminou enfraquecido e vou dizer porquê...
Meu pai deixou de ser Prefeito há mais de 30 anos e ainda hoje é lembrado como um grande gestor. Enfraquecido é um Prefeito em pleno mandato ter uma rejeição maior do que aprovação.


18- Qual o maior legado do seu paio, o Coronel Sebastião Rufino para a  política bonjardinense? O maior legado de meu pai é a HONESTIDADE, RESPEITO, SOLIDARIEDADE e  RESILIÊNCIA. Tudo que fez e faz é por AMOR ao próximo.



19-  Por que você deixou de ser árbitro? Que tipo de trabalho, função você desenvolve na FPF?Optei por deixar o quadro de árbitros da CBF em 2017 e permaneci no quadro local de PE. Em 2019 encerrei minha carreira pela falta de critérios e transparência da Comissão. Consegui conciliar sem problemas política e arbitragem. Hoje sou o Presidente da Comissão Estadual de Árbitros de Futebol de Pernambuco, composta pelos membros: Albert Jr. Francisco Domingos e Erich Bandeira.


20- Você foi visto na eleição passada como uma esperança para o avanço dos esportes em Bom Jardim. Por que não houve os avanços esperados? O que é fato, ilusão, esperança nessa história? Meu pai (Cel. Rufino) e meu irmão (Fabinho Rufino) investiram bastante no futebol quando Prefeito de nossa cidade, mas, o Vereador não tem a mesma força que um Prefeito. Mesmo com as dificuldades do dia a dia, sempre ajudei na medida do possível patrocinando alguns torneios de futebol, fazendo doações de bolas de futebol de campo e futsal, chuteiras, luvas de goleiro e etc... O fato de ter sido árbitro de futebol  talvez tenha gerado essa expectativa mas, o meu foco principal é na área da saúde onde as pessoas necessitam de apoio e atenção.


21- Você se considera negro?Qual sua percepção sobre a violência e o racismo contra os negros no mundo e no Brasil? Me considero NEGRO e com orgulho. Minha mãe e algumas tias me chamam de NEGO e isso nunca me diminuiu porque o grande problema não é a palavra e sim a forma como as pessoas se expressam. Todos SOMOS IGUAIS aos olhos de Deus e precisamos respeitar as pessoas da forma como eles são. Vejo, não só no Brasil mas, em muitos países que muita gente precisa evoluir nesse sentido.

22- Qual o melhor prefeito da histórias de Bom Jardim? SEBASTIÃO RUFINO RIBEIRO

23- Se você não for candidato a prefeito nestas eleições, quem vai apoiar? Janjão.


24- Cite três pessoas que você considera notáveis de Bom Jardim:Sebastião Rufino, Noé Souto Maior e Francisco Julião (In memoriam)

25- Quais os três artistas de Bom Jardim que você destaca? Bráulio de Castro (Músico), Marcos Ferreira da Silva (Artesão) e Marcelino Gouveia de Barros (Músico).


Por Edgar S. dos Santos.
*Foto Rodrigo Sedícias.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Coronavírus cancela São João: o estrago em cidades do Nordeste onde muitos fazem 'pé de meia para resto do ano' em festa


Milhares de pessoas na abetura do São João de Caruaru, em 2019Direito de imagemPREFEITURA DE CARUARU/DIVULGAÇÃO
Image captionNa festa de São João do ano passado, Caruaru recebeu 2 milhões de turistas, segundo a prefeitura

"A festa de São João é a preservação da vida do nordestino. O que seria de um repórter sem a comunicação? O que é um médico sem paciente? O que seria de Caruaru sem o São João e sua cultura popular?". Quem questiona é Sebastião Alves Cordeiro Filho, o Mestre Sebá, ator e diretor do tradicional teatro de mamulengo (um tipo de fantoche).

Mas neste ano, assim como outras cidades nordestinas, Caruaru não terá a tradicional festa anual de São João por causa das medidas de isolamento social que tentam conter a pandemia de covid-19 — a cidade já registrou 82 mortes pela doença.

O evento cultural e religioso, que dura todo o mês de junho, apresenta atrações, movimenta o turismo e a rede hoteleira, gera milhares de empregos e sustenta centenas de artistas locais, além de aumentar a arrecadação de impostos em municípios do interior, como Caruaru, Campina Grande (PB) e Mossoró (RN).

"Não ter São João é algo inédito na minha vida. Não poder me apresentar, depois de 40 anos atuando, causa uma grande angústia", diz Mestre Sebá, de 63 anos, coordenador de uma trupe teatral com 65 pessoas, entre atores, técnicos e manipuladores de bonecos.

O ator tem sobrevivido com R$ 1 mil por mês, dinheiro de uma bolsa paga pela prefeitura da cidade do agreste pernambucano, que o reconheceu como patrimônio vivo. "Mas muitos outros artistas estão passando grandes dificuldades", diz.

Além dos laços afetivos e culturais, o São João tem grande peso econômico para os municípios.

Segundo a prefeitura de Caruaru, o evento gera 20 mil empregos e movimenta cerca de R$ 200 milhões na economia local. Só em impostos, o município estima que vai deixar de arrecadar R$ 2 milhões apenas em junho — verba que poderia ser usada em diversas áreas, como saúde e educação.

"A festa movimenta todos os setores da nossa economia. Dos repentistas aos trios de forró, da gastronomia à rede hoteleira, todo mundo depende do São João", diz Raquel Lyra (PSDB), prefeita de Caruaru desde 2017.

Pessoas se inscrevendo para receber cesta básica de doaçãoDireito de imagemPREFEITURA DE CARUARU
Image captionPrefeitura de Caruaru criou uma campanha de doação de cestas básicas para artistas e comerciantes

De fato, em junho do ano passado, o setor hoteleiro de Caruaru tinha quase 100% das vagas ocupadas para turistas — a prefeitura calcula que dois milhões de pessoas de fora visitaram o município durante o evento do ano passado. Mas desta vez, com o cancelamento da festa, a rede praticamente não tem hóspedes, segundo a prefeita.

No ano passado, organizar o São João custou R$ 12 milhões. Segundo Lyra, a maior parte desse dinheiro foi arrecadado por meio de patrocínios de empresas privadas. "Antes da pandemia, já tínhamos captado R$ 7 milhões para o evento deste ano. Nosso objetivo é tornar a festa autossustentável", diz.

Para a prefeita, ficar sem São João é como se uma parte do ano não existisse. "Em Caruaru, nós dividimos o ano em antes e depois do São João. Não ter a festa deixa um vazio muito grande, porque ele faz parte da nossa identidade, tanto na questão cultural quanto religiosa", afirma.

A cidade de Campina Grande, na Paraíba, disputa com Caruaru o título de maior São João do Nordeste — e, neste ponto, não há muito consenso. No quesito econômico, porém, o município também está sofrendo com um mês de junho sem a festa, embora a prefeitura ainda queira realizá-la em outubro.

"A gente estima que o São João movimente cerca de R$ 200 milhões todos os anos. São 5 mil empregos. É uma cadeia produtiva enorme, que sustenta muita gente: dos vendedores ambulantes à gastronomia local", diz Romero Rodrigues (PSD), prefeito da cidade.

Campina Grande, que já flexibilizou a quarentena, registrou 69 mortes por covid-19.

Desde 2017, o município terceirizou a organização da festa. No ano passado, Campina Grande pagou, por meio de uma licitação, R$ 2,8 milhões para uma empresa organizar, contratar artistas e criar toda a estrutura do evento.

Cachês altos

Uma das recentes críticas ao São João é que prefeituras têm pagado altos cachês para artistas famosos que, muitas vezes, não têm grande relação com a cultura local, como nomes da música pop e do sertanejo. Por outro lado, há quem diga que a presença de celebridades nacionais leva mais turistas às cidades nordestinas.

Em junho de 2016, por exemplo, o cantor Wesley Safadão recebeu R$ 575 mil para se apresentar no São João de Caruaru — o público foi de 100 mil pessoas. À época, a Justiça chegou a suspender o show depois de uma ação civil pública questionar o alto cachê, mas o concerto foi liberado. Dias depois, Safadão se apresentou em Campina Grande por um valor bem menor, R$ 195 mil. Diante das críticas, o músico afirmou que iria doar o dinheiro para a caridade.

Mestre Sebá, em CaruaruDireito de imagemPREFEITURA DE CARUARU/DIVULGAÇÃO
Image captionMestre Sebá, ator e diretor do teatro mamulengo, se apresenta há mais de 30 anos no São João de Caruaru

Um estudo da Universidade Potiguar apontou que, para cada R$ 1 que a cidade de Mossoró investiu no São João no ano passado, outros R$ 14 foram injetados na economia do município do semiárido do Rio Grande do Norte.

Em Mossoró, 86 pessoas morreram de covid-19.

Segundo Lahyre Neto, secretário municipal de desenvolvimento econômico e de turismo, o São João movimentou R$ 94 milhões em 2019. "Neste mês, com a pandemia e o cancelamento do evento, esperamos uma queda de 30% na arrecadação", diz.

O São João de Mossoró é conhecido pela tradicional festa Pingo da Mei Dia, que reúne trios elétricos e dezenas de milhares de pessoas, e pela peça Chuva de Bala, que encena a tentativa frustrada do cangaceiro Lampião de invadir a cidade, em 1927.

"É um baque enorme não ter a festa, um vazio no coração do mossoroense. Toda a rede hoteleira está paralisada e demitindo funcionários, além dos comerciantes e dos artistas locais que dependem do São João para sobreviver no restante do ano", afirma Neto.

Forró na sacada

Apresentação da peça Chuva de Bala, que encena a frustrada tentativa de Lampião de invadir Mossoró, em 1927Direito de imagemPREFEITURA DE MOSSORÓ/DIVULGAÇÃO
Image captionEm Mossoró, no semiárido do Rio Grande do Norte, festa de São João movimento R$ 94 milhões no ano passado

Sem a renda do São João, alguns artistas têm lutado para sobreviver.

Mossoró, por exemplo, publicou um edital de R$ 242 mil para produções de artistas locais durante a pandemia. Já a prefeitura de Caruaru criou uma campanha de doação de cestas básicas a artistas, artesãos e comerciantes que agora estão parados.

Conhecido trio de forró em Caruaru, a banda Fole de Ouro é um dos grupos locais que está lutando para sobreviver em tempos de covid-19. No São João do ano passado, o trio realizou 42 shows em apenas um mês, o que dificilmente deve ocorrer nesta temporada.

"A gente vive de música. É no São João que fazemos o pé de meia para o restante do ano", explica Karla Danielly de Melo, de 37 anos, produtora do Fole de Ouro e mulher do sanfoneiro do grupo, José Antônio da Silva Junior.

Nas últimas semanas, o trio tem conseguido ganhar algum dinheiro se apresentando em condomínios residenciais de Caruaru. O grupo toca o forró no térreo — às vezes ao lado da piscina —, e o público dança nas sacadas do prédio.

"Um morador, que estava estressado com o home office e com a pandemia, nos ligou e deu a ideia. Fizemos o primeiro show, e foi um sucesso. Até fiz um grupo no WhatsApp para os moradores pedirem as músicas que gostam", explica Karla.

"Depois, pessoas de outros condomínios ficaram sabendo. Estão fazendo vaquinhas para nos contratar para outros shows. Isso não substitui o calor do público próximo, não substitui o vazio do São João cancelado. Mas é uma experiência interessante, é o que temos para hoje", diz a produtora.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Confira 7 videoaulas gratuitas sobre grandes pensadores negros


O material exalta nomes ligados ao cenário cultural brasileiro e está disponível gratuitamente no YouTube.

O Brasil é um país rico culturalmente, porém, parte da riqueza não chega para todos os públicos, principalmente quando os produtores de grandes obras são negros. Há quem não conheça nomes importantes da literaturaeducação, entre outras áreas,e é por isso que instituições socioculturais de peso devem atuando para “reparar” a desigualdade na valorização de pensadores afrodescendentes.

Centro de Pesquisa e Formação do Sesc iniciou uma série com sete vídeos em seu canal no YouTube destacando pesquisadores e intelectuais negros. O projeto “Intérpretes Negras (os) do Brasil” destaca figuras renomadas como Lélia GonzalesLuiz Gama e Milton Santos por meio de videoaulas narradas por outros nomes familiarizados com a cultura. Cada episódio gira entre 15 e 25 minutos de duração.

Milton Santos
Crédito: ReproduçãoO premiado geógrafo Milton Santos e antropóloga brasileira Lélia Gonzalez são dois dos nomes que ganharam destaque no projeto

“Tais pensadores são frequentemente relegados a marginalidade acadêmica ou confinados aos estudos afro-brasileiros num processo de dissociação entre suas reflexões e a realidade brasileira de forma mais ampla”, aponta a descrição oficial do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc.

Agora que você já sabe que os vídeos estão disponíveis no YouTube, vem conhecer esse grupo seleto:


Professor Edgar Bom Jardim - PE

Aulas online obrigam milhões de alunos a usar app de empresa desconhecida que criou TV Bolsonaro



UMA EMPRESA com sede numa sobreloja sem identificação na Região dos Lagos do Rio de Janeiro é a responsável por aplicativos usados por 7,7 milhões de alunos e professores de São Paulo, Paraná, Amazonas, Pará e Piauí para aulas à distância. A empresa, desconhecida mesmo no meio em que atua, é ligada a políticos bolsonaristas e a um acusado de participar de uma rede de prostituição de menores de idade.

Contratados a toque de caixa por conta da pandemia, os aplicativos têm problemas: apresentam defeitos de transmissão de som e imagem e não funcionam em celulares mais antigos. Mais grave, entregam à IP.TV, a empresa que os desenvolveu, uma série de dados pessoais de estudantes menores de idade e seus professores. E, em um dos apps, os alunos são expostos diretamente a mentiras e teorias da conspiração bolsonaristas.

A empresa, que em três meses saiu da obscuridade para se tornar a principal fornecedora de tecnologia para aulas à distância da rede estadual do país, entrou no negócio por acaso.

Até a pandemia, que tornou o ensino à distância fundamental, a IP.TV tinha em seu currículo um único produto de sucesso. Trata-se do Mano, um aplicativo de streaming de vídeos criado em 2018 para que a campanha de Jair Bolsonaro a presidente pudesse driblar os vetos de redes sociais a notícias falsas. À época, o garoto-propaganda do Mano foi Flávio Bolsonaro, atualmente senador pelo Republicanos do Rio de Janeiro e enrolado em investigações que o colocam como parceiro de milicianos.


O principal canal do Mano é justamente a TV Bolsonaro, criada para espalhar as mentiras e teorias da conspiração que alimentam a fanática claque do presidente de extrema direita. Quem frequenta o canal encontra um cardápio ininterrupto de programas com discursos, propagandas do governo e depoimentos de usuários que reproduzem notícias falsas e fazem apologia ao uso de armas e à ditadura militar.

A TV Bolsonaro está no menu oferecido a estudantes de Amazonas, Pará e Piauí que têm entre quatro e 17 anos de idade, ao lado de vídeos das aulas da rede de ensino público. Para terem acesso ao conteúdo didático, eles precisam baixar e usar aplicativo da IP.TV, em que são bombardeados pelos conteúdos bolsonaristas.

Já para os alunos de São Paulo e Paraná (nesse caso, como uma opção ao Mano), a IP.TV desenvolveu aplicativos específicos para exibir conteúdos didáticos. Em ambos, os estudantes ao menos estão livres de ver a TV Bolsonaro como sugestão de conteúdo.

Os governos dizem ter conhecido a IP.TV a partir de recomendações um do outro. Em São Paulo, o governo afirma que a IP.TV doou o app, chamado Centro de Mídias SP. A empresa o autoavaliou em R$ 3 milhões. Um valor obviamente exagerado, segundo três programadores a quem pedimos avaliações do sistema.

Tela inicial do Mano, a principal criação da IP.TV, com o canal da TV Bolsonaro em destaque. É com essa tela que estudantes de Paraná, Amazonas, Pará e Piauí se deparam ao abrir o app que usam nas aulas online.

Dados de 8 milhões de pessoas

A IP.TV tem capital social de apenas R$ 10 mil e sede num maltratado prédio no centro de Rio Bonito, na Região dos Lagos da Grande Rio. Estivemos lá no final de maio, mas não encontramos nada (como uma placa de identificação) que dissesse que ali havia uma empresa. Nem ninguém. Os vizinhos tampouco tinham ouvido falar nela. Quando perguntamos a respeito, a IP.TV argumentou que a maioria de seus funcionários trabalha de casa e que em Rio Bonito está apenas a sua “pequena sede administrativa”.

No site, a empresa informa que produz “soluções de transmissão digital”. Se é verdade, até hoje elas foram poucas. Fizemos uma busca na App Store (a loja do sistema iOS, dos celulares da Apple) e no Google Play (a dos aparelhos que usam Android) e encontramos apenas cinco produtos da IP.TV – justamente o Mano e as plataformas de aulas à distância usadas em São Paulo (uma para anos iniciais e outra para ensinos fundamental e médio), Paraná e Amazonas.

Mesmo com o histórico nebuloso, os governos de cinco estados acharam razoável colocar nas mãos da IP.TV os dados de quase 8 milhões de alunos. Sem cadastro, os estudantes não conseguem assistir às aulas. Além disso, para instalar os apps, é necessário autorizar o acesso a dados tão pessoais como o álbum de fotos do celular e de conexão de rede wifi. É provável que o acesso a essa montanha de dados explique por que a empresa doou aplicativos a governantes desesperados para solucionar os problemas criados pelo coronavírus.


Para usar os aplicativos, professores e estudantes são obrigados a concordar com as políticas de privacidade, que incluem o acesso da IP.TV a dados das secretarias de educação, com informações como nome, e-mail, ano e série cursados. Além do álbum de fotos, os apps também podem ter acesso ao microfone do celular e a trocas de mensagens em grupos de bate-papo, que podem ficar guardadas por até seis meses. O Mano ainda pode exibir publicidade aos usuários – apesar de a IP.TV garantir que isso nunca foi feito.

De acordo com a política de privacidade, os aplicativos retêm “a menor quantidade possível de dados pessoais, comunicações privadas e registros de acesso”. A empresa afirma ainda que eles serão excluídos após o fim do uso e que “não será realizado qualquer tratamento de dados pessoais excessivo ou fora dos limites” – uma definição vaga, que abre margem para abusos como o uso comercial dos dados de crianças e adolescentes.

Cabe notar que os termos de uso e permissões dos aplicativos para ensino à distância eram idênticos aos do Mano (criado com um objetivo totalmente diferente). Eles só foram modificados depois que políticos de oposição do Paraná reclamaram da invasão de privacidade de crianças, jovens e professores. No entanto, foram mudanças sutis – as únicas realmente relevantes retiraram a coleta de dados de localização do usuário e a veiculação de anúncios.

A programadora Ana Carolina da Hora, que desenvolve aplicativos educativos desde 2013, considera os termos de uso da IP.TV “bastante invasivos”. “Com os dados das secretarias de educação é possível identificar os alunos, que em sua maioria são menores de idade. Por isso, seria necessário que fosse claro o acordo feito entre quem criou o aplicativo com as escolas e os responsáveis desses alunos, o uso que será feito desses dados e a necessidade de pedir as informações e guardá-las”, ela nos disse.

‘O Intercept teve acesso a mais de dez conversas de estudantes menores de 18 anos do Paraná com conteúdos impróprios’.

Perguntamos à IP.TV o que ela faz com os dados sobre os estudantes e professores. A resposta, lacônica, joga a responsabilidade sobre as secretarias estaduais de Educação, “que têm a prerrogativa de escolher os dados que serão enviados, como eles serão expostos e a sua interrupção”. Questionamos, então, as secretarias da Educação dos cinco estados. Nenhuma delas respondeu a nossas perguntas sobre o uso dos dados.

Para Rafael Zanatta, advogado e pesquisador do Lavits, a Rede Latino Americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade, é “evidente” que a empresa faz tratamento de dados que permitem identificar os alunos. “Isso está sendo, de certo modo, chancelado pelas secretarias, que transmitem os dados de menores de idade mesmo com brechas como a possibilidade de uso publicitário. Muito provavelmente, isso tende a ser contestado judicialmente e ter revisão judicial sobre o compartilhamento, que pode ser considerado ilegal”, afirma.

Para o advogado, a empresa está se aproveitando do cenário da covid-19 para receber bancos de dados de órgãos públicos que, depois, podem ser usados para desenvolver outros produtos e garantir lucro. “Eles podem criar algum tipo de inteligência ou de valor a partir dos dados de utilização dos aplicativos”.


O Aula Paraná e o Centro de Mídias, aplicativos da IP.TV usados no Paraná e em São Paulo, também têm um histórico de falhas e um problema crônico de falta de moderação nas mensagens. O Intercept teve acesso a mais de dez conversas de estudantes menores de 18 anos do Paraná com conteúdos impróprios.

O Mano, que é usado pelos alunos do Amazonas, Piauí e Pará, tem vários canais com conteúdo produzido por terceiros, como a TV Bolsonaro, além de fóruns de bate-papo e um sistema de notificações para avisar os cerca de 260 mil assinantes quando começam transmissões ao vivo.

Consultamos três programadores sobre a IP.TV e o valor que a empresa atribui ao aplicativo. Segundo eles, seria razoável cobrar R$ 3 milhões caso o programa tivesse que ser criado do zero. Não é o caso dos apps vendidos pela empresa, pois o modelo, o Mano, já estava pronto e só foi adaptado. É mais fácil pagar algumas centenas de dólares por ano em programas usados no exterior ou buscar programas gratuitos, como as opções oferecidas pelo Google.

“O custo de desenvolvimento de aplicativos depende do tamanho das equipes e da necessidade de um servidor para realizar a transmissão das aulas. Se ele não é necessário, R$ 3 milhões está muito acima do mercado. O mais indicado seria uma solução mais conhecida do mercado, como o Zoom ou algum de fonte aberta, que não tem custo”, afirma Thiago Baptista, desenvolvedor de aplicativos há dez anos no Rio de Janeiro e com experiência em serviços para órgãos públicos que já trabalhou para governos.

Outros dois programadores que ouvimos, Sidney Silva, que trabalha em São Paulo, e Thiago Hackbarth, de Brasília, concordam que o mais apropriado seria optar por soluções gratuitas. Nenhum deles conhecia a IP.TV.

Do Amazonas para o Brasil

O primeiro estado a contratar a IP.TV para transmissão de aulas foi o Amazonas, em 2015. A empresa já tinha raízes no estado desde 2007, quando outras duas firmas com quem ela compartilha sócios firmaram contratos com o governo local: a VAT Tecnologia da Informação e Techlog Serviços de Gestão e Sistemas Informatizados.

Do Amazonas, a IP.TV migrou para outros estados nos anos seguintes, quando firmou contratos com Piauí, em novembro de 2016, e Pará, em dezembro de 2017. A esses governos, a empresa fornece tecnologia de ensino à distância para uso pontual, como no caso de alunos que vivem em regiões muito afastadas. Com a pandemia, ela ofereceu o seu aplicativo para uso em massa. Com as administrações de São Paulo e Paraná, ela assinou contratos no mesmo dia: 8 de abril de 2020.

O caso paulista é emblemático. O governo do tucano João Doria abriu chamamento público para escolher um sistema para ensino à distância. A IP.TV apareceu dizendo ter desenvolvido tecnologia já usada em outros estados. A assessoria de comunicação do governo de São Paulo nos disse, por telefone, que contratou a empresa pelo “excelente serviço [prestado] no Amazonas”. O secretário de Educação de São Paulo, Rossieli Soares, ocupou o mesmo cargo no Amazonas entre 2012 e 2016, quando a IP.TV já operava no estado.

O app tem problemas como de qualidade de transmissão de vídeo e áudio.

O governo do Pará também justificou sua escolha pela presença da IP.TV no Amazonas. Já o Paraná afirmou que contratou a IP.TV porque o “critério técnico apontou uma plataforma de suporte educacional consolidada há mais de dez anos” – o que carece de confirmação. Segundo o contrato, a empresa afirmou que o app para ensino à distância custava R$ 3 milhões, mas seria entregue de graça para o governo.

Na rede pública paulista, 3,5 milhões de alunos utilizam o app criado pela empresa. Ou usariam, se ele funcionasse. O app tem problemas como de qualidade de transmissão de vídeo e áudio, não permite o compartilhamento de arquivos, e usuários relatam dificuldades para se registrar, como apontam avaliações no Google Play.

“A imagem é muito ruim o áudio também e o chat trava sai do ar e tem muitas aulas por dia e cansativo e a interface é muito ruim (sic)”, postou uma usuária em 5 de maio. Já o Mano, usado em outros estados, costuma receber boas avaliações – mas sobre o conteúdo bolsonarista que veicula. “Excelente opção de compartilhamento e conversas de pessoas direitas e de direita , sempre em apoio ao nosso presidente Bolsonaro (sic)”, escreveu uma usuária em 21 de abril.

No Paraná, a IP.TV foi contratada sem licitação por R$ 300 mil. Dias depois, segundo o governo, a própria empresa pediu para alterar o contrato e não receber nada pelo aplicativo – o que é, no mínimo, curioso.

Perguntamos como a empresa se financia, já que abriu mão de receber dos governos. Em nota, ela respondeu que recebe recursos de “várias empresas privadas que licenciam sua plataforma tecnológica contratualmente” e se referiu a “grandes empresas de telecomunicação, instituições privadas de ensino e produtoras de conteúdo”. Perguntamos quais os nomes desses clientes. A IP.TV se recusou a informar, alegando que iria “ferir direito de terceiros” e o “aspecto mercadológico e concorrencial do setor”.

Raízes bolsonaristas

Para entender como uma empresa pequena e desconhecida se tornou a principal solução de ensino à distância no país, é preciso olhar para a relação de poder de seus sócios.

Apesar de ter sede no Rio de Janeiro, a história da IP.TV remonta ao Amazonas. O proprietário da empresa, Eduardo Patrício Giraldez, é sócio de Waldery Areosa Ferreira Junior, empresário do ramo da educação e acusado de participar de uma rede de prostituição de menores de idade junto com o pai. Os dois são sócios da Hexágono Soluções em Tecnologias da Informação, sediada em Manaus. Giraldez hoje mora nos Estados Unidos e defende o sistema de homeschooling, ou educação domiciliar, outra bandeira comum da extrema direita.

Um dos 11 sócios da IP.TV, Cláudio Dutra é elo entre a empresa de Rio Bonito e Amazonino Mendes, ex-governador do Amazonas. Dutra é sócio de Marcelo Potomati, que compartilha dois negócios com Amazonino e quatro com o filho do ex-governador, Armando Mendes, conhecido no estado como Armandinho. Entre eles, a rádio Mix de Manaus, uma das mais ouvidas do estado, que é administrada por Potomati e Armandinho.

A emissora é uma grande divulgadora do Mano: sua programação online está no aplicativo, que é citado em postagens em redes sociais da rádio com hashtags como #Mano e #SuperAppMano. A IP.TV disse que os negócios de um dos sócios com o grupo de Amazonino “não dizem nenhum respeito à empresa”.

Marcelo Potomati (o primeiro, da esquerda para a direita) é sócio de um dos donos da IP.TV. Ele também é dono da rádio Mix de Manaus junto com o filho de Amazonino Mendes, o Armandinho (de camiseta preta, ao centro). 

A VAT já teve um contrato suspeito com o governo do Amazonas, assinado quando Jorge Melo, aliado de Amazonino, era governador do estado. Melo e o vice foram cassados por compra de votos em 2016. Com isso, Amazonino voltou ao poder: foi eleito para cumprir os 14 meses de mandato que restavam. O político tentou a reeleição em 2018, pelo PDT, mas não se elegeu. No primeiro turno, apoiou Ciro Gomes. No segundo, Bolsonaro. “O candidato que vou dar minha mão, vou dar meu braço, com toda a força, é o Bolsonaro”, declarou em vídeo. A aliança ganhou um apelido no Amazonas: Bolsonino.

A IP.TV tinha a sua operação restrita ao Amazonas até 2018, quando o Mano foi usado para a campanha de Jair Bolsonaro. O primeiro a divulgar amplamente o aplicativo foi Flávio Bolsonaro. Num vídeo que chegou à internet quatro meses após o lançamento do app, em julho de 2018 – não por acaso, quando esquentava a campanha eleitoral –, o senador disse o seguinte:

A empresa nega ter relação com os Bolsonaro. De acordo com a IP.TV, “o Mano está aberto para a instalação e adesão de qualquer figura de destaque em nossa sociedade (em qualquer ramo de atividade), bem como para qualquer pessoa que simplesmente deseje ter um canal na plataforma”.

A empresa diz, ainda, “que não tem viés político-partidário e nem apoia nenhum agente político ou candidato”. “Também ressalta que não possui vínculos com a família Bolsonaro, a qual não ajudou a financiar ou desenvolver o aplicativo”, prossegue em nota enviada ao Intercept.

Não sabemos o que a empresa vai fazer com os dados dos milhões de alunos e professores a que teve acesso e nem como está sendo o contato deles com o conteúdo bolsonarista veiculado no Mano. Com contratos feitos às pressas, os governos estaduais também não parecem saber. A pequena empresa sediada em uma sobreloja pode estar bem intencionada, oferecendo uma solução tecnológica de graça. Mas o preço, nesse caso, são os dados e informações dos professores e alunos.

 

*Colaborou Pedro Prado.

Professor Edgar Bom Jardim - PE