quarta-feira, 10 de junho de 2020

Rio: Alerj autoriza abertura de processo de impeachment contra Witzel




A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) decidiu, nesta quarta-feira 10, permitir a abertura do processo de impeachment contra o governador Wilson Witzel (PSC). A autorização da instauração dos trâmites ocorreu por votação simbólica entre os 70 deputados estaduais.

A decisão de dar início aos procedimentos era exclusiva do presidente da Assembleia, o deputado estadual André Ceciliano (PT-RJ). Porém, ele levou o tema para o plenário da Casa, para tornar mais democrática a decisão.

Em caso de abertura, será feito um aviso por meio de publicação no Diário Oficial, num prazo de 48 horas. Em seguida, os partidos indicam representantes para compor uma comissão especial que examinará a denúncia. Os acusados têm até 10 sessões para defesa. A comissão especial terá relator e presidente e deve emitir parecer sobre a admissibilidade da denúncia.

Admitida a denúncia, há um prazo para discussões e, em seguida, é aberta a votação nominal entre os deputados estaduais. É preciso obter maioria absoluta para acolher a denúncia, com votos favoráveis de 36 deputados. Em caso de aprovação, o governador é afastado. O Tribunal de Justiça, então, decide sobre o impedimento em conjunto com parlamentares.

Recentemente, Witzel se tornou alvo de uma investigação da Polícia Federal denominada “Operação Placebo”, que apura a prática de superfaturamento em gastos no combate ao novo coronavírus. O governador negou participação no esquema e culpou o presidente Jair Bolsonaro de interferência política na Polícia Federal.

Com Carta Capital

Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 9 de junho de 2020

Grupo de amigos se une para doar refeições a moradores de rua


Todas segundas, quartas e sextas-feiras, um grupo de amigos sai de Santana, na zona norte de São Paulo, em direção a algum bairro da região ou ao centro da cidade com um objetivo em comum: ajudar quem mais precisa com doações neste período de pandemia. O projeto, batizado de “ZN Solidária“, nasceu no início de março e já conseguiu entregar mais de 3.700 refeições a moradores de rua, além de cestas básicas a famílias vulneráveis.

A iniciativa surgiu a partir da família que comanda um estabelecimento local, o “Restaurante da Baixinha”. Com a pandemia, o local teve que fechar as portas e trabalhar apenas com delivery. A dona, chamada Nadia, é do grupo de risco e precisou ficar em casa durante muito tempo. Foi então que ela teve a ideia de arrecadar alimentos e fazer entregas de refeições.

O filho de Nadia, Vando, comentou com os amigos, que logo abraçaram a ação, comandada atualmente por cinco voluntários. No início, o grupo divulgou o projeto pelo WhatsApp com o intuito de fazer apenas dois dias de entrega na Avenida Cruzeiro do Sul, na zona norte. Com as arrecadações de mais alimentos, eles expandiram o movimento e passaram a sair às ruas três vezes por semana.

Segundo o bancário Thiago Aguilera, um dos voluntários à frente do “ZN Solidária”, o movimento tem recolhido comida para fazer as refeições, bebidas (água, suco e refrigerante), roupas e itens de higiene.

“Além disso, a gente está entregando cestas básicas para famílias mais necessitadas, que entram em contato conosco”, relata à Catraca Livre. Agora, a meta é chegar a alguns pontos da cidade onde há muitos moradores de rua, mas nos quais as doações geralmente não chegam.


#NessaQuarentenaEuVou – Dicas durante o isolamento:


A cada dia que passa, a iniciativa está crescendo mais e atraindo a participação de outras pessoas, que não conheciam o grupo. “Muitos viraram voluntários e estão em todas entregas com a gente”, afirma Aguilera.

Para o bancário, tem sido muito gratificante receber elogios de quem conhece o projeto. “Do nada, nós começamos e jamais esperávamos a proporção que está tomando. E a gente está avançando a cada dia e ajudando mais pessoas”, ressalta.

O “ZN Solidária” está arrecadando doações de alimentos e outros itens aos moradores de rua, que podem ser feitas via depósito (entrar em contato via Instagram) ou por meio de uma vaquinha online. Para ajudar o projeto, clique neste link — é possível colaborar com qualquer quantia.

Catraca Livre

Professor Edgar Bom Jardim - PE

O peso da vida e os malabarismos



Já imaginou a vida como uma infinita quarentena? Eu não tenho essa ousadia.Prefiro que haja malabarismos e não portas trancada. O movimento traz danças, brinca com sorrisos. Não que a solidão seja o fim do mundo. É bom olhar o por do sol, numa cadeira de balanço e sacudir um bola no terraço do vizinho. Não creio que tudo seja uma coisa só. Espero que marcianos me encontrem e me levem para uma viagem. Puxa!

Sei que o cotidiano está feroz. Muitas informações e misturas desqualificadas. Não jogaram a perversidade fora. Há quem curta a malícia e funde seitas diabólicas. Não curto risos fabricados, não tenho simpatia pelas edições do Congresso Nacional, nem por partidos políticos cheios de estelionatários. As palavras não conseguem se consolidar e correm soltas acusações com destinos danosos. Nada que apareça para abrir uma brecha e criar um circo de malabarismos ímpares. Muito sono nas poltronas cinzas.

Tudo pesa, se a gravidade não se inquieta. Figuras negacionistas desfiguram os sonhos e tentam se sentir soberanos. Vejo muita mediocridade, racismos, famílias milicianas que moram no mundo com o intuito de desmontá-lo. Não conhecem o azul, maltratam os mendigos, gritam para chamar as hienas e promover a carnificina. O cinismo inventa emboscadas, mostra que a vida se reparte e há bipolaridades tristes. Nem tudo está programado e o acaso pode configurar maravilhas. É o que anima.

Quem cultiva a vingança procura inspiração na treva histórica. Estão perdidos no meio de pesadelos masoquistas. Não aprecie os oradores das torturas e nem os templos feitos para virar mercados. Faça seus malabarismos sem ser insanos. Existem outras pessoas, espectadores e afetos de abraços que precisam ser retomados. Torça para que o vírus se dane, pois cansa esperar desgraças. As incertezas correm o planeta, mas sinta que os olhas tocam e podem atrair sentimentos sem amarguras.

Por Paulo Rezende
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Entenda os riscos para Bolsonaro e Mourão no TSE, onde 8 ações pedem cassação da chapa


Bolsonaro e Mourão sentados, olhando para lados opostos, em eventoDireito de imagemEVARISTO SA/AFP VIA GETTY IMAGES
Image captionTSE analisa ações que pedem a cassação da chapa do presidente Jair Bolsonaro e seu vice, Hamilton Mourão, em 2018

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) retoma nesta terça-feira (09/06) o julgamento de duas ações que pedem a cassação da chapa presidencial eleita em 2018, formada pelo presidente Jair Bolsonaro e seu vice, Hamilton Mourão.

No total, há oito ações na Corte que tentam anular a eleição presidencial, das quais quatro tratam do suposto uso de notícias falsas (fake news) pela campanha de Bolsonaro. No entanto, o julgamento dessas quatro ações, vistas como ameaças maiores ao presidente, ainda não está marcado.

Os dois casos que serão analisados nesta terça-feira tratam de um ataque virtual a um grupo de mulheres formado no Facebook em 2018 contra a eleição de Bolsonaro — após uma invasão por hackers o grupo foi alterado para parecer que apoiava o então candidato do PSL, hoje sem partido.

O ministro relator dessas duas ações, Og Fernandes, votou em novembro contra a cassação da chapa em decorrência dessa alteração do grupo. O ministro Edson Fachin, no entanto, pediu vista (mais tempo para analisar o caso), o que levou ao adiamento do julgamento para esta terça.

Para que uma chapa eleita seja cassada, não basta que se comprove que houve ilegalidade na campanha. É preciso também que os ministros considerem eventual irregularidade cometida na eleição grave a ponto de comprometer a integridade do pleito, explica Lara Ferreira, professora de direito eleitoral na Faculdade Dom Helder Câmara. É isso que os sete ministros do TSE devem analisar nessas ações.

Uma eventual cassação da chapa presidencial ainda este ano provocaria a convocação de uma eleição direta extraordinária para escolher novos presidente e vice-presidente que governariam até 2022. Se Bolsonaro e Mourão vierem a ser cassados a partir de 2021, haveria eleição indireta pelo Congresso para definir o novo mandatário do país.

Entenda melhor a seguir as oito ações que tramitam no TSE e qual o risco que representam para Bolsonaro e Mourão.

O que será julgado nesta terça-feira?

As duas Ações de Investigação Judicial Eleitoral (Aijes) que serão julgadas nesta noite foram apresentadas, respectivamente, pela coligação Unidos para Transformar o Brasil (Rede/PV), da candidata derrotada Marina da Silva, e pela coligação Vamos Sem Medo de Mudar o Brasil (PSOL/PCB), do candidato derrotado Guilherme Boulos.

Ambas argumentam que o ataque ao grupo do Facebook constitui abuso eleitoral e pedem a cassação dos mandatos de Bolsonaro e Mourão, além da declaração de inelegibilidade dos dois por oito anos.

A invasão e alteração do grupo "Mulheres Unidas contra Bolsonaro", que reunia mais de 2,7 milhões de pessoas, segundo os autores das ações, ocorreu em setembro de 2018. Após esse ataque, o grupo ganhou o nome de "Mulheres COM Bolsonaro #17" e passou a compartilhar mensagens de apoio ao então candidato, além de excluir manifestações de participantes contrárias à chapa do PSL.

No dia 15 daquele mês, Bolsonaro postou em suas redes sociais uma imagem do grupo modificado com a mensagem "Obrigado pela consideração, Mulheres de todo o Brasil!". Para as coligações de Boulos e Marina Silva, esse agradecimento publicado pelo então candidato seria forte indício de que Bolsonaro teria participado ou teria ciência do ataque.

Postagem de 15 de setembro de 2018 na página de Facebook de Bolsonaro mostra foto dele e texto: 'Obrigada pela consideração, mulheres de todo o Brasil!'Direito de imagemREPRODUÇÃO
Image captionPara coligações derrotadas e autoras de ações na Justiça Eleitoral, agradecimento publicado pelo então candidato seria forte indício de que Bolsonaro teria participado ou teria conhecimento de ataque a grupo no Facebook

A argumentação não foi aceita pelo relator das duas ações, o corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Og Fernandes. Único a votar até agora, ele considerou que as provas levantadas no processo confirmam que o grupo sofreu invasão, mas ressaltou que não foi possível confirmar a autoria do ataque.

Além disso, Fernandes avaliou que a invasão do grupo por menos de 24 horas não teve gravidade capaz de comprometer a normalidade e a legitimidade do pleito. Para o relator, a cassação da chapa eleita só deve ser adotada em situações excepcionais, quando houver provas robustas e contundentes de autoria e participação no ato ilegal.

Embora os demais ministros possam divergir do ministro relator, o voto de Fernandes é um indicativo de que estas duas ações representam baixo risco para Bolsonaro e Mourão.

O TSE é formado por três ministros do STF, dois do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e dois oriundos da advocacia, nomeados pelo Presidente da República a partir de uma lista eleita pelo Supremo.

Faltam votar nessas duas ações os ministros Tarcisio Vieira e Sérgio Banhos (oriundos da advocacia), o ministro Luiz Felipe Salomão (do STJ, assim como Og Fernandes) e os ministros do STF Edson Fachin, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, este último, atual presidente do TSE.

Como andam as 4 ações que acusam campanha de fake news?

Há quatro Aijes pedindo a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão pelo suposto uso de notícias falsas (fake news) na campanha presidencial para atacar adversários. Essas ações investigam, por exemplo, possíveis irregularidades na contratação do serviço de disparos em massa de mensagens pelo aplicativo WhatsApp durante a campanha eleitoral.

Duas dessas ações foram apresentadas pela coligação O Povo Feliz de Novo (PT/PCdoB/PROS), do candidato derrotado Fernando Haddad, e duas pela coligação Brasil Soberano (PDT/AVANTE), do candidato derrotado Ciro Gomes.

Elas foram iniciadas após reportagem do jornal Folha de S.Paulo publicada em outubro de 2018, antes do segundo turno da eleição presidencial, apontar que empresas de apoiadores de Bolsonaro teriam contratado pacotes de disparo em massa de mensagem para atacar o candidato petista, Fernando Haddad. A prática seria ilegal porque empresas estão proibidas de contribuir com campanhas desde 2015.

As acusações iniciais descritas nessas Aijes são vistas como frágeis dentro da Procuradoria-Geral Eleitoral devido à falta de provas consistentes, apurou a BBC News Brasil. Essas ações, porém, causam preocupação dentro do Palácio do Planalto devido à possibilidade de serem abastecidas por provas levantadas no Inquérito das Fake News (investigação aberta no STF para apurar ataques a seus ministros) ou na CPI das Fake News (comissão parlamentar que tem como um dos focos de investigação a utilização de perfis falsos para influenciar os resultados das eleições 2018).

No caso do Inquérito das Fake News, por exemplo, o ministro Alexandre de Moraes, que preside as investigações, determinou no final de maio que fossem quebrados os sigilos bancário e fiscal de quatro empresários bolsonaristas para apurar se eles teriam financiado uma rede de disparo de notícias falsas e ataques contra ministros do STF.

Sua decisão determinou a quebra de sigilo desde julho de 2018, o que poderia revelar eventuais ações desses empresários durante a campanha eleitoral. Entre os alvos dessa decisão está Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan.

A coligação de Haddad já pediu ao ministro Og Fernandes, relator das ações no TSE, que autorize o compartilhamento de eventuais provas colhidas no inquérito aberto no STF e na CPI, enquanto a defesa de Bolsonaro se posicionou contra essa possibilidade. Falta a Procuradoria-Geral Eleitoral se manifestar para o TSE decidir se autoriza ou não esse compartilhamento.

À BBC News Brasil, a defesa da coligação de Haddad disse acreditar que a conclusão do julgamento dessas ações ainda deve demorar, devido ao desafio que o TSE enfrenta neste ano com a realização das eleições municipais em meio à pandemia de coronavírus.

"Por um questão prática, é muito difícil que o TSE consiga analisar essas ações ainda este ano", afirma o advogado Marcelo Schmidt, do escritório Aragão e Ferraro.

O que vai influenciar no compartilhamento ou não das provas?

STFDireito de imagemSTF
Image captionParte dos juristas considera o inquérito das fake news ilegal, já que foi instaurado pelo presidente do STF (foto) sem participação do MPF

O compartilhamento de provas entre diferentes processos é algo comum, ressalta a professora de direito eleitoral Lara Ferreira. O inquérito das Fake News, porém, é considerado ilegal por parte dos juristas, já que foi instaurado pelo presidente do STF, Dias Toffoli, sem participação do Ministério Público Federal.

Nesta quarta-feira (10/06), o STF vai julgar um pedido do partido Rede para encerrar a investigação, que é conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes, por escolha de Toffoli. O resultado desse julgamento deve ser determinante para que o TSE decida se é possível importar provas do inquérito das Fake News para as ações que acusam a campanha de Bolsonaro de divulgação de notícias falas.

Como alguns ministros do STF já se manifestaram publicamente a favor do inquérito, a expectativa é que a maioria do Supremo mantenha a investigação, mas adote algumas medidas para garantir sua legalidade, como determinar a participação do Ministério Público e estabelecer que Moraes não poderá julgar eventuais processos abertos a partir dela.

No entanto, mesmo que o inquérito seja considerado legal e as provas possam ser compartilhadas, isso não significa, necessariamente, que elas serão consideradas no julgamento da chapa presidencial.

No caso do julgamento da chapa eleita na eleição de 2014, composta por Dilma Rousseff e Michel Temer, o TSE autorizou o compartilhamento de provas da Operação Lava Jato que indicavam possíveis ilegalidades na campanha eleitoral. Porém, depois, a Corte decidiu que esses elementos não poderiam ser considerados no julgamento eleitoral porque não tinha relação com os fatos narrados na acusação inicial da ação.

"Esse caso é diferente, na medida em que o próprio ministro Alexandre de Moraes determinou a quebra de sigilo dos empresários desde julho de 2018", argumenta Marcelo Schmidt, um dos advogados da coligação de Haddad.

"Por esse recorte temporal, que abarca o período eleitoral, por se tratar da mesma prática, o uso de recursos de empresários para disseminar notícias falsas, acreditamos que o compartilhamento das provas seria inevitável", disse ainda.

A professora de direito eleitoral Lara Ferreira também considera que o caso atual é diferente da ação contra a chapa Dilma-Temer e diz que, em tese, o uso das provas na ação eleitoral contra Bolsonaro é possível.

"Mas eu digo isso em tese porque será necessário verificar em cada uma das provas que forem trazidas se elas são pertinentes e necessárias nesse processo da Justiça Eleitoral", ressaltou.

A advogada Karina Kufa, que defende Bolsonaro, não atendeu ao pedido de entrevista para essa reportagem. Em manifestação ao TSE ela argumentou queo inquérito das Fake News apura ataques contra o Supremo e, portanto, não tem relação com o objeto inicial das ações eleitorais contra a chapa presidencial.

Ela também argumenta contra o uso de provas da CPI das Fake News por considerar que a comissão parlamentar se desvirtuou de seu foco original, se transformando "em arena de embates ideológicos por opositores do atual governo".

Quais as outras duas ações contra a chapa Bolsonaro-Mourão?

Jair Bolsonaro de perfilDireito de imagemMARCOS CORRÊA/PR
Image captionAções movidas pela coligação de Fernando Haddad questionam cobertura da eleição pela Record e outdoors pró-Bolsonaro

Há ainda mais duas ações movidas pela coligação de Fernando Haddad. A que está mais adiantada e aparenta menor risco para Bolsonaro e Mourão é a Aije que aponta suposto favorecimento da chapa vitoriosa pela TV Record e seu portal de notícias, o R7, durante a cobertura das eleições. Essa ação já foi rejeitada por unanimidade pelo TSE em outubro, mas a Corte ainda vai julgar um último recurso da coligação de Haddad contra essa decisão.

A outra ação acusa a campanha de Bolsonaro de ter cometido abuso econômico no uso de outdoors em 33 municípios, de 13 Estados, instrumento de propaganda que é expressamente proibido pela legislação eleitoral. Segundo a coligação O Povo Feliz de Novo, o uso de outdoors em diferentes cidades indica um uso coordenado desse instrumento em favor da campanha de Bolsonaro.

Já a defesa do presidente diz que esses outdoors foram contratados por diversos apoiadores de forma espontânea, sem prévio conhecimento de Bolsonaro. Ao pedir a rejeição da ação, seus advogados também ressaltam que os outdoors não traziam pedidos de voto, o número de candidato ou o cargo para o qual Bolsonaro concorria.

Em março, a Procuradoria-Geral Eleitoral se manifestou contra a cassação da chapa vitoriosa, por considerar não haver provas de que a ação foi coordenada pelos então candidatos do PSL.

Além disso, a PGE considerou que anúncios em favor de Bolsonaro não seriam suficientes para provocar o desequilíbrio do pleito, já que a investigação do Ministério Público indicou que outdoors utilizados representariam um investimento de R$ 141.332, valor baixo quando comparado ao gasto total da campanha de Bolsonaro (cerca de R$ 2,5 milhões) e ainda menor se comparado ao gasto da campanha de Haddad (quase R$ 40 milhões).

Essa ação já está em fase final, faltando o relator, ministro Og Fernandes, liberar seu voto para que seja marcado o julgamento.

A defesa da coligação de Haddad, porém, considera que isso ainda pode demorar, considerando que é um processo grande, que envolve muitas pessoas (os apoiadores de Bolsonaro que custearam os outdoors).

Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 8 de junho de 2020

CNBB se diz indignada com proposta de apoio ao governo

BRASÍLIA - A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) repudiou os pedidos de verbas estatais feitos ao governo Jair Bolsonaro por uma ala da igreja católica, em troca de notícias favoráveis ao governo em canais de rádio e TV, conforme revelou reportagem do Estadão publicada neste sábado, 6.
O secretário-geral da CNBB, bispo d. Joel Portella Amado
O secretário-geral da CNBB, bispo d. Joel Portella Amado
Foto: Marcelo Camargo/Agencia Brasil / Estadão Conteúdo

Por meio de nota, a CNBB demonstrou indignação com a atitude de representantes desses canais, disse que não representam a instituição e que a igreja não atua em troca de favores.

"Recebemos com estranheza e indignação a notícia sobre a oferta de apoio ao governo por parte de emissoras de TV em troca de verbas e solução de problemas afeitos à comunicação. A Igreja Católica não faz barganhas", declarou a CNBB. "Não aprovamos iniciativas como essa, que dificultam a unidade necessária à Igreja, no cumprimento de sua missão evangelizadora, 'que é tornar o Reino de Deus presente no mundo'", diz a nota, ao citar o Papa Francisco.

A nota também é assinada pela Associação Católica Internacional SIGNIS Brasil e a Rede Católica de Rádio (CRC). Como mostrou a reportagem, padres e leigos conservadores que controlam boa parte do sistema de emissoras católicas de rádio e TV, os quais são ligados à ala que diverge politicamente da CNBB, prometeram "mídia positiva" para ações do governo na pandemia do novo coronavírus. Pediram em contrapartida, porém, anúncios estatais e outorgas para expandir sua rede de comunicação.

A proposta foi feita no último dia 21, em reunião pública, por videoconferência, transmitida nas redes sociais com a participação de Bolsonaro, sacerdotes, parlamentares e representantes de alguns dos maiores grupos católicos de comunicação, no Palácio do Planalto.

A CNBB declarou que emissoras intituladas "de inspiração católica" possuem naturezas diferentes, podendo ser geridas por associações e organizações religiosas, como também por grupo empresarial particular, seguindo seus próprios estatutos e princípios editoriais. "Contudo, nenhuma delas e nenhum de seus membros representa a Igreja Católica, nem fala em seu nome e nem da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que tem feito todo o esforço, para que todas as emissoras assumam claramente as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil", informou a instituição maior da igreja católica no País.

Ainda segundo a CNBB "é urgente, que nestes tempos difíceis em que vivemos, agravados seriamente pela pandemia do novo coronavírus, que já retirou a vida de dezenas de milhares de pessoas e ainda tirará muito mais, que trabalhemos verdadeiramente em comunhão, sempre abertos ao diálogo".

Emissoras de TV ligadas a grupos religiosos receberam, no ano passado, R$ 4,6 milhões em pagamentos da Secom por veiculação de comerciais institucionais e de utilidade pública. Os veículos católicos ficaram com R$ 2,1 milhões e os protestantes, com R$ 2,2 milhões. Em 2020, emissoras de TV católicas receberam, até agora, R$ 160 mil, enquanto as evangélicas, R$ 179 mil, de acordo com planilhas da Secom.

Apesar das críticas da CNBB e demais instituições sobre o teor das declarações feitas na reunião, a Frente Parlamentar Católica do Congresso Nacional emitiu nota para declarar que "repúdio pela forma tendenciosa estampada na matéria" e que esta "distorce os temas tratados em reunião com o presidente da

República".

Segundo os parlamentares, "em nenhuma das colocações se condicionou verbas de publicidade a apoio ao governo, nem mesmo apoio político pelos membros da Frente, até mesmo, porque, entre os membros da frente

parlamentar há políticos ligados a diferentes linhas ideológicas e partidárias".

Na reunião com Bolsonaro, o padre Welinton Silva, da TV Pai Eterno, ligada ao Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO), disse que a emissora, há um ano no ar, passa por dificuldades e espera uma aproximação com a Secom para oferecer uma "pauta positiva das ações do governo" na pandemia da covid-19. A Secretaria de Comunicação (Secom) é responsável por distribuir a verba de publicidade.

"A nossa realidade é muito difícil e desafiante, porque trabalhamos com pequenas doações, com baixa comercialização. Dentro dessa dificuldade, estamos precisando mesmo de um apoio maior por parte do governo para que possamos continuar comunicando a boa notícia, levando ao conhecimento da população católica, ampla maioria desse país, aquilo de bom que o governo pode estar realizando e fazendo pelo nosso povo", disse o padre. "Precisamos ter mais atenção para que esses microfones não sejam desligados, para que essas câmeras não se fechem."

Os parlamentares afirmaram que não há "qualquer clima de animosidade entre a Frente Parlamentar Católica e a CNBB", com quem dizem manter uma relação de diálogo e respeito". Os parlamentares que assinam a carta são o deputado Francisco Júnior (PSD/GO), Eros Biondini (PROS/MG), Diego Garcia (PODE/PR), Joaquim Passarinho (PSD/BA), Hugo Leal (PSD/RJ), Miguel Lombardi (PR/SP) e Jesus Sérgio (PDT/AC).

Leia a íntegra da nota da CNBB

"NOTA DE ESCLARECIMENTO

Sobre a reportagem "Por verbas, TVs católicas oferecem a Bolsonaro apoio ao governo", com a manchete na primeira página "Ala da Igreja Católica oferece a Bolsonaro apoio em troca de verba", do jornal O ESTADO DE SÃO PAULO em 06.06.20, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação, juntamente com a SIGNIS Brasil e a Rede Católica de Rádio (RCR), associações que reúnem as TVs de inspiração católica e as rádios católicas no Brasil, esclarecem que não organizaram e não tiveram qualquer envolvimento com a reunião entre o presidente da República, Jair Bolsonaro, representantes de algumas emissoras de TV de inspiração católica e alguns parlamentares, e nem ao menos foram informadas sobre tal encontro.

Informamos que as emissoras intituladas "de inspiração católica" possuem naturezas diferentes. Algumas são geridas por associações e organizações religiosas, outra por grupo empresarial particular, enquanto outras estão juridicamente vinculadas a dioceses no Brasil. Elas seguem seus próprios estatutos e princípios editoriais. Contudo, nenhuma delas e nenhum de seus membros representa a Igreja Católica, nem fala em seu nome e nem da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que tem feito todo o esforço, para que todas as emissoras assumam claramente as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil.

Recebemos com estranheza e indignação a notícia sobre a oferta de apoio ao governo por parte de emissoras de TV em troca de verbas e solução de problemas afeitos à comunicação. A Igreja Católica não faz barganhas. Ela estabelece relações institucionais com agentes públicos e os poderes constituídos pautada pelos valores do Evangelho e nos valores democráticos, republicanos, éticos e morais.

Não aprovamos iniciativas como essa, que dificultam a unidade necessária à Igreja, no cumprimento de sua missão evangelizadora, "que é tornar o Reino de Deus presente no mundo" (Papa Francisco, EG, 176), considerando todas as dimensões da vida humana e da Casa Comum. É urgente, sim, nestes tempos difíceis em que vivemos, agravados seriamente pela pandemia do novo coronavírus, que já retirou a vida de dezenas de milhares de pessoas e ainda tirará muito mais, que trabalhemos verdadeiramente em comunhão, sempre abertos ao diálogo."

Professor Edgar Bom Jardim - PE