quinta-feira, 12 de março de 2020

Coronavírus livra Bolsonaro da humilhação de manifestação fracassada



Pronunciamento de Bolsonaro é exibido em TV no meio da rua à noite no Rio de Janeiro, ao lado de combe e pedestreDireito de imagemREUTERS/RICARDO MORAES
Image captionPronunciamento de Bolsonaro é exibido em TV no Rio de Janeiro; na fala, o presidente pediu que atos convocados em seu apoio fossem 'repensados' devido ao avanço do coronavírus
O presidente Jair Bolsonaro recomendou nesta quinta-feira (12) que os atos convocados em seu apoio para este domingo fossem "repensados" devido ao avanço do coronavírus no país. Ele próprio é suspeito de ter contraído a doença durante viagem que fez aos Estados Unidos — o resultado do exame deve sair nesta sexta.
A recomendação do presidente foi reforçada esta noite em pronunciamento nacional em rede de televisão. Pouco antes, Bolsonaro já havia sugerido a suspensão dos atos em uma transmissão pelo Facebook ao lado do ministro da Saúde, Luiz Mandetta, em que ambos usaram máscaras no rosto.
"O sistema de saúde brasileiro, como os demais países, tem um limite de pacientes que podem ser atendidos. O governo está atento para manter a evolução do quadro sob controle. É provável que o número de infectados aumente nos próximos dias, sem no entanto ser motivo de qualquer pânico", disse durante o pronunciamento em cadeia nacional de TV.
Após destacar a "recomendação das autoridades sanitárias para que evitemos grandes concentrações populares", o presidente disse também: "Os movimentos espontâneos e legítimos marcados para o dia 15 de março atendem os interesses da nação, balizados pela lei e pela ordem. Demonstram um amadurecimento da nossa democracia presidencialista e são expressões evidentes de nossa liberdade. Precisam, no entanto, diante dos fatos recentes, serem repensados. Nossa saúde e de nossos familiares deve ser preservada".
No Brasil, os casos de Sars-cov-2, como é chamado oficialmente o novo coronavírus, têm crescido exponencialmente nos últimos dias — até esta quinta-feira eram 77 registros, segundo o Ministério da Saúde.
Grupos como o Movimento Avança Brasil e Nas Ruas, que mais cedo ainda mantinham o chamado para os protestos, decidiram cancelar as convocações para domingo após a sinalização do presidente pela suspensão dos atos. Os movimentos ainda vão decidir nova data para as mobilizações.
"Conclamamos porém, que todos juntem-se a nós em um MEGA PANELAÇO no dia 15/03 às 20h em desagravo às atitudes de congressistas IRRESPONSÁVEIS que não tem o BRASIL ACIMA DE TUDO e que somente pensam em seus benefícios particulares", convocou por meio de nota o Movimento Avança Brasil, ao anunciar o adiamento dos atos.
O grupo República de Curitiba também desistiu de participar dos atos horas antes da solicitação presidencial.
"Continuaremos através de nossas redes sociais e equipe combatendo a corrupção e lutando por um Brasil melhor, apoiando o governo eleito democraticamente do presidente Jair Messias Bolsonaro", disse o presidente do grupo, Paulo Generoso.

Polêmicas

A mobilização em apoio ao presidente estava prevista para dezenas de cidades do país e foi marcada com semanas de antecedência. A convocação gerou críticas de parte dos brasileiros que enxergou no movimento pró-governo um víes antidemocrático de defesa de fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal.
Por causa disso, um vídeo de divulgação dos atos compartilhado por Bolsonaro pelo WhatsApp no final de fevereiro gerou forte reação, inclusive com manifestações críticas do ministro Celso de Melo, decano do STF, e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Nas redes sociais, mensagens de convocação aos atos com ataques a Rodrigo Maia e aos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e do STF, Dias Toffoli, foram comuns.
O ministro Luiz Mandetta, o presidente e intérprete de Libras com máscaras durante transmissão ao vivo no FacebookDireito de imagemREPRODUÇÃO/FACEBOOK
Image captionO ministro Luiz Mandetta, o presidente e intérprete de Libras durante transmissão ao vivo no Facebook em que Bolsonaro sugeriu a suspensão dos atos em seu favor por conta de avanço da doença
Monitoramento da FGV Dapp (Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas) entre os dias 20 de fevereiro e 10 de março indicou que as dez hashtags mais usadas nas postagens em convocação aos atos incluíam: #dia15porbolsonaro, #somostodosbolsonaro, #maiagolpista e #queromaianacadeia.
Lideranças ouvidas pela BBC News Brasil, porém, negam que os atos sejam a favor do fechamento do Congresso e do STF. Eles acusam, no entanto, os dois poderes de agirem contra iniciativas do governo Bolsonaro. Já os que defendem essa atuação do Legislativo e do Judiciário argumentam que os dois Poderes têm legitimidade para barrar propostas do Executivo.
"Obviamente a gente tem restrições contra alguns congressistas e alguns membros do STF, por causa de suas atitudes, mas não é em reação às instituições", disse o coordenador do Avança Brasil, Nilton Caccáos.

Divergências no foco dos protestos

As últimas semanas de mobilização pelos atos foram marcadas por forte tensão entre o governo e o Congresso devido à disputa pelo controle de cerca de R$ 30 bilhões do Orçamento Federal, questão que ainda está em aberto.
Um dos momentos de maior desgaste entre os dois Poderes ocorreu quando o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), General Augusto Heleno, acusou o Congresso de estar chantageando o governo na tentativa de controlar essas verbas. Sem ele saber, a fala foi captada por uma transmissão ao vivo da página oficial do presidente no Facebook, tornando-se pública.
"Não podemos aceitar esses caras chantageando a gente. Foda-se", disse a autoridades próximas a ele no evento.
Em meio às críticas ao teor das manifestações, alguns apoiadores das mobilizações defenderam dar maior enforque à defesa das reformas econômicas — como o empresário Winston Ling, forte apoiador de Bolsonaro. Outros bolsonaristas, porém, insistiram que os atos deveriam ter uma pauta única de defesa de Bolsonaro, contra o Congresso, e referendaram a fala de Heleno.
"Vejo movimentações para incluir reformas e ideais como pautas, mas pensem comigo, não haverá efetividade, se antes não livrarmos o executivo das garras do establishment, que semanalmente inventa uma nova forma de chantagear o Governo Bolsonaro. Esse foi o desabafo do Gen. Heleno!", escreveu no Twitter Maurício Costa, coordenador nacional do Movimento Brasil Conservado, no dia 5 de março.
"Não permitam que subvertam a pauta ÚNICA do dia 15, mesmo que seja para incluir reformas que apoiamos. Neste momento, estamos indo às ruas ESPECIFICAMENTE para demonstrar apoio total a Jair Bolsonaro. Como o prof. Olavo já alertou tantas vezes, é hora de defendermos o Presidente", escreveu também, em seguida.
O grupo também criticou o movimento República de Curitiba por enfatizar nas suas convocações para os atos a defesa da aprovação pelo Congresso da prisão após condenação em segunda instância.
"Nós incluímos nessa pauta de apoio ao governo a prisão em segunda instância, que é uma pauta do projeto anticrime do (ministro da Justiça, Sergio) Moro. Então, nós consideramos que ao apoiar a segunda instância estamos apoiando o governo da mesma forma", explicou à BBC News Brasil Paulo Generoso, presidente do movimento República de Curitiba.
"Fomos criticados por isso por alguns movimentos de São Paulo, mas não respondemos a crítica, entendemos a posição de cada um. Acho que é importante a gente focar naquilo que a gente concorda, do que nas pequenas diferenças que possam ter surgido", ressaltou.
O enfoque de defesa de Bolsonaro, porém, afastou da mobilização movimentos que lideraram os atos pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2015 e 2016, como Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem Pra Rua, apesar de eles apoiarem as agendas dos ministros Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) e Paulo Guedes (Economia).
"Essa manifestação foi marcada tendo pauta única e nacional o apoio ao presidente Bolsonaro, e o Vem Pra Rua nunca apoiou e não apoia pessoas incondicionalmente. A gente apoia causas", disse à BBC News Brasil Rogério Chequer, um dos integrantes do movimento.
"Não apoiamos a manifestação por ser uma manifestação governista. Nós somos um movimento crítico e de fiscalização, não importa o governo", afirmou também à reportagem o coordenador do Movimento Brasil Livre, Renan Santos.
Bolsonaro é visto dentro do Palácio da AlvoradaDireito de imagemREUTERS/ADRIANO MACHADO
Image captionBolsonaro é visto dentro do Palácio da Alvorada; o presidente é suspeito de ter contraído a Covid-19 durante viagem aos EUA — o resultado do exame deve sair nesta sexta-feira

Mobilização nas redes vinha em queda

Mesmo antes do cancelamento, o monitoramento da FGV Dapp nas redes sociais já indicava que a convocação para os atos vinha perdendo força. Segundo esse levantamento, o debate sobre as manifestações de 15 de março somou 3,6 milhões de menções no Twitter de 20 de fevereiro a 10 de março, mas houve queda de 62% no engajamento sobre os protestos que ocorreriam neste domingo entre a última semana de fevereiro e a primeira semana de março.
"O pico de interações sobre os protestos, em mobilização ativa das bases digitais a favor do governo, foi em 26 de fevereiro, após divulgação de que o presidente compartilhou no WhatsApp vídeo de endosso ao #15m. Desde então, os protestos apresentam contínua queda de impacto no Twitter, com leve aumento de repercussão no sábado (07), após fala do presidente em defesa das manifestações", nota o estudo da FGV Dapp.
Monitoramento da consultoria Quaest entre 24 de fevereiro e 10 de março teve conclusão semelhante.
"Dados que temos das manifestações (em apoio a Bolsonaro) em maio do ano passado mostram que, dias antes do protesto, a coisa estava esquentando. Não tava tão fria como essa semana no Twitter, às vésperas dos atos", nota Felipe Nunes, diretor da Quaest e professor de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

'Momento é de prudência, não de pânico', dizem especialistas

No fim da tarde desta quinta-feira (12), a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) divulgou um novo boletim sobre a evolução da doença Covid-19, causada pelo novo coronavírus Sars-CoV-2. Segundo a SBI, o momento no Brasil é de "prudência".
"O momento da epidemia no Brasil é de prudência; não de pânico. A epidemia é dinâmica e as informações e recomendações deste informe podem ser atualizadas em poucos dias, à medida que a epidemia aumente e que novos conhecimentos científicos são publicados", diz o boletim da entidade.
No boletim, a SBI também desaconselha medidas como o fechamento de escolas, faculdades ou escritórios — decisões deste tipo foram anunciadas esta semana pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).
O presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Clovis Arns, frisa que a disseminação do novo coronavírus é muito dinâmica: neste momento não há transmissão comunitária da doença, isto é, o vírus ainda não circula de forma livre no país — mas a situação deve ser reavaliada constantemente.
"Hoje, o risco em Brasília, em Curitiba (PR) seria pequeno (em participar de uma manifestação), porque a gente não tem ainda a transmissão chamada comunitária. Que é quando o número de pessoas fica tão grande que você não consegue mais identificar quem passou para quem."
"Sempre que alguém nos pergunta sobre um evento, a gente diz: 'hoje pode. Mas me pergunte de novo amanhã'", diz ele.
"Cada cidade vai ter que avaliar como vai estar o vírus naquele momento (da manifestação). Qual que deve ser a primeira cidade com alguma restrição? São Paulo. Pois é a mais populosa, e a que a mais recebe viajantes (de fora do país). Se chega na sexta-feira (13) e São Paulo já tem, digamos, 300 casos, o ideal seria cancelar as manifestações", diz Arns à BBC News Brasil.
Eduardo Sprinz é chefe do departamento de infectologia do Hospital das Clínicas de Porto Alegre e professor da disciplina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Segundo ele, as pessoas que forem ao protesto "ficarão potencialmente mais expostas". "Mas a gente não sabe ainda em que medida", diz ele.
"O vírus ainda não está circulando muito no nosso meio. Mas, de qualquer forma, se a gente vai tentar conter a epidemia, o melhor seria ficar em casa ou evitar essas aglomerações", diz Sprinz à BBC.
"O mais importante neste momento é manter a boa educação sanitária. Manter as mãos longe da face, da boca. E, se tocar em alguém, vale a pena usar o álcool em gel", diz ele.
Sprinz estima ainda que a chamada "transmissão comunitária" do vírus deve começar em questão de "alguns dias" nas principais cidades brasileiras, como São Paulo e Rio de Janeiro.
Heloisa Ravagnani Muniz é a presidente da seção local da Sociedade Brasileira de Infectologia no Distrito Federal. Neste momento, diz ela, a entidade "não orienta que seja proibido este tipo de evento".
"Como é um evento em local aberto, não teria uma taxa de transmissão tão alta do coronavírus", diz ela.
"Agora, claro que as pessoas que tem mais de 60 anos, com alguma comorbidade, com alguma doença crônica, devem evitar aglomeração. Tanto pelo corona quanto por causa de outros vírus que possam estar circulando pelo local", diz a especialista.
Com informações Da BBC News Brasil em Brasília

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Roubos caem por 30 meses consecutivos em Pernambuco



Queda dos roubos no Estado atingiram o 30° mês consecutivo
Queda dos roubos no Estado atingiram o 30° mês consecutivoFoto: Divulgação
Mantendo a sequência de queda no número de roubos em Pernambuco, o mês de fevereiro passado registrou uma redução de 12,2% comparada ao mesmo período de 2019. Os dados fazem parte da maior série histórica do programa Pacto pela Vida. A diminuição de 6.520 para 5.725 integra um levantamento que inclui roubos de veículos e celulares, bancos, caixas eletrônicos e carros-fortes.

O freio nessa modalidade criminosa foi maior no Recife, que, em fevereiro deste ano, recuou 21,34% - saiu de 2.404 casos no segundo mês de 2019 para 1.891 no do ano atual. Na Zona da Mata, as 615 queixas do ano passado caíram para 541 (-12,03%), enquanto os municípios da Região Metropolitana do Recife (RMR) retrocederam de 2.073 para 1.931 (-6,85%). Agreste e Sertão obtiveram resultados similares: -4,79% (de 1.065 para 1.014) e -4,13% (de 363 para 348), respectivamente.
O secretário de Defesa Social de Pernambuco, Antonio de Pádua, frisa que os números são resultado da atuação do Pacto pela Vida no Estado. "Sabemos que temos muito trabalho ainda pela frente, mas a expectativa é que, com o reforço de mais de 1.000 policiais na PMPE e na PCPE que fizemos no início deste ano, continuemos a proporcionar mais tranquilidade para os cidadãos", afirma.

Como resposta à diminuição no número de roubos, está o aumento no número de prisões. Em janeiro e fevereiro deste ano, as forças de segurança pública de Pernambuco prenderam 6.693 pessoas em flagrante delito, além de terem apreendido 973 adolescentes por cometerem ato infracional. Nesse intervalo, também retiraram 841 armadas que estavam em poder de criminosos e atuaram em 927 ocorrências de tráfico de entorpecentes.

Celulares roubadosPor meio das polícias Civil e Militar, o número de apreensões de celulares roubados no mês de fevereiro cresceu com em relação ao mesmo período de 2019. No segundo mês do ano passado, as forças de segurança públicas retiraram das mãos dos criminosos 678 aparelhos. Neste ano, o número subiu e chegou a 970 apreensões, uma diferença de mais de 43%.

No total dos primeiros meses, foram confiscados 31% a mais no confronto entre os dois anos: de 1.403 para 1.844 telefones encontrados em posse de suspeitos.

Desde o surgimento do Programa Alerta Celular, em março de 2017, foram recuperados 19.930 aparelhos. No mês passado, a Polícia Civil registrou 2.489 denúncias de celulares roubados, 127 a menos que em fevereiro de 2019. Com a soma dos dois primeiros meses desse ano, a redução de roubo foi de 5.237 para 4.966 aparelhos subtraídos.



Confira a tabela de redução:
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Com Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Coronavírus: como a queda da bolsa afeta a 'economia real'?



Homem em corretora nos EUA observa queda de indicadoresDireito de imagemSPENCER PLATT
Image captionPela primeira vez desde 2008, as operações na bolsa brasileira foram interrompidas duas vezes em um mesmo dia
Esta quinta-feira (12/03) marcou mais um dia de caos no mercado financeiro.
As negociações na bolsa de valores brasileira foram paralisadas duas vezes, por um período de uma hora e meia no total.
O primeiro circuit breaker, como é conhecido o mecanismo de interrupção do mercado financeiro, foi acionado poucos minutos após o início do pregão, quando o principal índice da bolsa, o Ibovespa, caia cerca de 11,65%.
O mecanismo foi acionado outra vez pouco depois das 11h, quando as perdas chegavam a 15%, interrompendo o lançamento de ordens de compra e venda por um hora. O pregão fechou com queda de 14,76% no Ibovespa, que recuou a 72 mil pontos.
A última vez em que a bolsa brasileira acionou dois circuit breakers em um mesmo dia foi em 2008, ano em que eclodiu a grande crise financeira internacional mais recente — foram duas interrupções no dia 6 de outubro. Naquele mês, a bolsa registrou ao todo 5 circuit breakers.
Neste março de 2020, as operações na bolsa já foram interrompidas quatro vezes.
A medida, explica a consultora econômica Zeina Latif, é uma tentativa de conter o pânico no mercado, interrompendo o "efeito manada" que geralmente caracteriza momentos de grande incerteza — uma grande quantidade de investidores tentando se desfazer dos papéis ao mesmo tempo.
Quais as razões para o "nervosismo" do mercado e quais implicações o ciclo de queda da bolsa tem para a economia real, para aqueles que não necessariamente investem em ações?

Aumento da incerteza

Um dos principais impactos é uma espécie de "efeito contágio" da incerteza, afirma Rafael Leão, economista-chefe da Arazul Capital.
"O aumento da incerteza leva as empresas a postergarem decisões de investimentos, o que, por sua vez, tem impacto sobre o emprego e a renda", avalia.
Ainda há uma série de perguntas sem respostas em torno da atual pandemia de covid-19, entre elas a possibilidade de que a piora nas condições financeiras provoque uma crise no crédito ou uma recessão em diversos países.
Diante da indefinição, os empresários tendem a manter os projetos na gaveta e os investidores, a procurar ativos considerados mais seguros — muitos saem de mercados emergentes, como o Brasil, e migram para títulos da dívida pública americana e para o dólar.
Dólar e realDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionNervosismo dos mercados também se refletiu no dólar: depois de bater R$ 5, moeda americana fechou cotada a R$ 4,78

Empresas com dificuldade para se financiar

Outra consequência das repetidas quedas da bolsa é uma dificuldade para que empresas consigam se financiar, acrescenta Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos.
Isso porque a tendência de redução nos preços de ações desestimula o lançamento de novas ofertas, os IPOs (sigla em inglês para Initial Public Offering), que são um dos instrumentos usados pelas empresas para captação de recursos.
As variações bruscas em índices como o Ibovespa, por si, não impactam diretamente o caixa das empresas, já as ações são negociadas no mercado secundário, entre investidores.
Mas essas perdas também acabam tendo impacto na economia real, pondera Rafael Leão, já que representam, na prática, uma perda financeira para fundos e investidores pessoas físicas — o que pode, por sua vez, ter reflexo negativo no consumo.
Zeina Latif lembra ainda que "tem gente que tem dinheiro aplicado na bolsa e nem sabe".
É o caso, por exemplo, de quem tem dinheiro aplicado em fundos de previdência, que investem os recursos tanto em ativos de renda fixa quanto de renda variável — ainda que seja uma menor parte, já que eles têm risco maior.
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, destaca ainda que parte da queda nos preços de ações vem da expectativa negativa em relação aos efeitos do coronavírus sobre a própria economia real.
A pandemia tem colocado países inteiros em quarentena e restringido a circulação de pessoas e mercadorias. Assim, a tendência é de um desaquecimento das atividades no comércio, nos serviços, nos transportes.
Aeroporto vazio em Nova YorkDireito de imagemPETER FOLEY/EPA
Image captionAeroporto vazio em Nova York: pandemia tem tido impacto negativo forte sobre a indústria do turismo
A estimativa atual da consultoria para o crescimento do PIB do Brasil em 2020 foi recentemente revisada de 2% para 1,5%.
Para o economista, a possibilidade de que o resultado do primeiro trimestre deste ano seja negativo é cada vez maior.

Piora das condições financeiras

O crédito, outra fonte de financiamento importante para as empresas, também é impactado pelo pânico no mercado financeiro.
Diante da indefinição e do aumento de risco, os juros futuros dispararam nos últimos dias.
Por mais que a Selic esteja na mínima histórica, em 4,25%, os juros para a pessoa física e jurídica sofrem influência das taxas negociadas nos mercados futuros, explica a economista Solange Srour.
Além disso, os bancos têm uma tendência a serem mais cautelosos na concessão de crédito em momentos de incerteza como o atual — no qual, em um cenário mais pessimista, existe a possibilidade de que a redução no nível de atividade afete a capacidade de pagamento das empresas.
Nesse sentido, a situação é mais preocupante nos Estados Unidos, onde há um excesso de endividamento no setor privado, ressalta Sergio Vale.
Em uma década de juros muito baixos — uma resposta do país à crise financeira, na tentativa de estimular a economia —, as empresas do país captaram um volume grande de recursos por meio de empréstimos ou pela emissão de títulos de dívida.
O nível da dívida do setor privado hoje é recorde, de cerca de 47% do PIB americano.
E parte relevante hoje, diz o economista, tem classificação apenas um nível acima do "junk", que é aquele em que há alto risco de inadimplência.
Um eventual desaceleração da atividade que prejudique a receita dessas empresas pode dificultar o pagamento dessas obrigações.
Essa é uma das razões que explicam as quedas fortes e sucessivas observadas na bolsa americana.
Na quarta-feira (11/03), o índice Dow Jones entrou no que é conhecido no mercado como bear market, quando há queda de 20% ou mais na comparação com picos recentes por um período mais prolongado.
É o contrário do bull market, termo usado quando a bolsa entra em uma sequência de altas.

O que aconteceu hoje?

Analista de bolsa observa pronunciamento de TrumpDireito de imagemBRYAN R. SMITH/AFP
Image captionPara analistas, resposta ineficiente dos EUA ao surto aumenta incerteza nos mercados
Para os economistas, a queda forte das ações nesta quinta-feira é reflexo do acúmulo de notícias negativas nos últimos dias — entre elas, a queda forte no preço do petróleo, os sinais de que a economia e o comércio global vão desacelerar e, internamente, os conflitos entre Executivo e Legislativo.
Sergio Vale cita ainda o pronunciamento "surpresa" do presidente americano, Donald Trump, na noite anterior, em que foi anunciada a suspensão das viagens entre Europa e Estados Unidos — o fato, ele avalia, reforçou a avaliação de que a resposta do país à covid-19 não está sendo eficiente.
"Trump não é uma liderança que a gente queria ter em um momento como esse", pontua.
Rafael Leão, da Arazul Capital, lembra ainda a declaração desastrosa dada pelo presidente americano alguns dias atrás, em que questionou os dados de letalidade do novo coronavírus anunciados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de 3,4% — e lançou um "palpite" de que o número real estaria na casa de 1%.
O posicionamento do presidente Jair Bolsonaro, acrescenta o economista, foi na mesma direção. Em visita aos EUA, ele disse achar que a crise da covid-19 seria "mais fantasia".
Nesse sentido, também cresce o temor de que o Brasil não consiga dar uma resposta satisfatória a um eventual aumento exponencial de casos da doença nas próximas semanas.
Nesta quinta, o Palácio do Planalto confirmou que o Secretário de Comunicação da Presidência da República, Fábio Wajngarten, está com coronavírus. Bolsonaro fez testa para detecção da doença e a expectativa é que o resultado saia nesta sexta-feira.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

A esquina do mundo confuso


A geometria ajuda a organizar a convivência dos objetos. Surgem desenhos, desafios, ousadias. É espaço de invenções, de assegurar as relações sociais e ampliar as histórias que atravessam o tempo. Mas a sociedade aumentou sua ambições, entrou nas armadilhas, estimulou as disputas e as invejas. As geometrias ganharam forma estranhas e se misturam com os fazeres da tecnologia.
Não se sabe a localização das esquinas e as cidades se enchem de avenidas. Tudo é sinal de perigo. Não se olha para outra. Registra-se a pressa, a falta de cuidado. Será que existem tantas geometrias que o mundo se confunde e a esquizofrenia criam formas que atormentam? O corpo possui seus desenho, porém não esqueça da sensibilidade, não cultive o sucesso como sinal de uma felicidade doentia.
Não subestimo as conquistas, no entanto contemplo encruzilhadas mórbidas e o medo traz quarentenas. Tudo se toca como uma ameaça. Há lugar de encontros? Conversa-se nas esquinas ou os fantasmas assustam? As sociabilidades não se se esticam e a solidão arruína afetos. É preciso dialogar, porém o lugar do cinismo, o jogo das palavras vazias espalhas desconfianças.
Mudaram-se as formas, celebram-se ganhos isolados, desfazem-se culturas. A geometria se articula com a objetividades das bolsas de valores e não busca encantar o mundo. A esquina é o assalto e a política não se liga no coletivo. Mesmo que as tecnologias multipliquem suas forças, a sociedade não consegue acreditar nos valores que aproximam as possibilidades das magias. Confusos não medimos a dimensão da autonomia e os escândalos divertem com seus delírios. Para quê?

Por Paulo Rezende
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Brasil desacreditado:Evento para Bolsonaro em Miami tem mesas vazias e menos de 100 empresários



© Beatriz Bulla/Estadão Salão esvaziado no último evento de Bolsonaro na visita a Miami, EUA
MIAMI, ESTADOS UNIDOS - O último evento do presidente Jair Bolsonaro na visita a Miami estava marcado para começar às 9h30. Às 9h40, seis das 25 mesas reservadas a empresários e investidores ainda estavam completamente vazias. Ao chegar, o presidente fez um discurso para menos de 100 convidados, no qual negou que haja uma crise com a reação dos mercados à queda violenta no preço dos barris de petróleo e disse que “muita coisa é fantasia”, ao falar sobre coronavírus.
Alguns integrantes da comitiva presidencial sentaram nas mesas ao fundo, ainda vazias, quando Bolsonaro começou a discursar.
A conferência desta terça-feira foi organizada pelo empresário Alvaro Garnero, que, junto com o pai, articula o apoio ao presidente nos Estados Unidos desde antes da eleição.
A plateia tinha analistas de investimentos, o ex-lutador de UFC Vitor Belfort, o ex-piloto de fórmula 1 Emerson Fittipaldi, e alguns empresários que já haviam comparecido no dia anterior, em evento com o presidente organizado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, a Apex. Fittipaldi e Belfort também já haviam encontrado Bolsonaro nos eventos prévios realizados desde domingo.
Analistas presentes na reunião com empresários comentavam nos bastidores que não encontraram nomes do alto escalão de grandes empresas entre os convidados.
A agenda da visita a Miami foi confirmada de última hora, mas já havia sido ensaiada pelo Planalto desde o ano passado. Bolsonaro teve o voto de 90% dos eleitores brasileiros na Flórida no segundo turno das eleições de 2018.
https://www.msn.com/
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terça-feira, 10 de março de 2020

Questionado sobre provas, Bolsonaro diz que brasileiros não confiam no sistema eleitoral


BolsonaroDireito de imagemMARCO BELLO/REUTERS
Image captionNos EUA, Bolsonaro disse ainda que o 'poder destruidor' so coronavírus estaria 'superdimensionado'
O presidente Jair Bolsonaro comentou nesta terça-feira (10/03) as declarações dadas na noite de ontem em que afirmou ter provas, sem apresentá-las, de que havia vencido as eleições de 2018 em primeiro turno — e que, portanto, teria havido fraude no pleito.
"Eu quero que você me ache um brasileiro que confie no sistema eleitoral brasileiro", disse em coletiva de imprensa ao se despedir de Miami, em sua quarta viagem aos Estados Unidos como presidente.
Na tarde desta segunda-feira, em discurso a cerca de 300 apoiadores, Bolsonaro disse pela primeira vez desde sua eleição, em 2018, que teria provas de que a eleição que ele venceu havia sido fraudada. As urnas sofreram diferentes auditorias por parte da Justiça Eleitoral e nenhum candidato contestou os resultados.
Foi a primeira vez que o presidente foi categórico sobre isso. Ao longo da campanha, ele repetiu diversas vezes que não confiava nas urnas eletrônicas e afirmou ser defensor de que as máquinas também imprimissem o voto, para contraprova.
Hoje, questionado pelos jornalistas sobre se não confia na Justiça eleitoral, ele interrompeu a pergunta e afirmou: "Não é na Justiça, não deturpe as minhas palavras, não façam essa baixaria que a imprensa sempre faz comigo".
Instado a mostrar provas, ele saiu apressadamente do hotel sem apresentar nenhuma evidência do que disse.
Ainda em discurso aos apoiadores, na tarde de ontem, Bolsonaro retomou um tema que lhe era caro durante a campanha: a alteração da votação exclusivamente via urna eletrônica.
"Nós precisamos aprovar no Brasil um sistema seguro de apuração de votos. Caso contrário, (é) passível de manipulação e de fraudes. Então, eu acredito até que eu tive muito mais votos no segundo turno do que se poderia esperar, e ficaria bastante complicado uma fraude naquele momento."
BolsonaroDireito de imagemZAK BENNETT/AFP
Image captionA uma plateia de apoiadores, Bolsonaro afirmou em Miami ter provas de que as eleições teriam sido fraudadas - sem, entretanto, apresentá-las


Ao mencionar a campanha, Bolsonaro rememorou ainda a facada que levou durante ato de campanha em Minas Gerais, em setembro de 2018. Nesse momento, ele chegou a chorar duas vezes."Quando cheguei em Juiz de Fora, mais de 40 mil pessoas na praça, Haufman, falei para o pessoal que estava comigo, como já era campanha, eu tinha a Polícia Federal do meu lado. Falei que era a última vez que eu enfrentaria o povo daquela forma, de peito aberto. Porque eu falei: 'vão me matar'. Infelizmente foi a última vez. Aconteceu, mas graças a Deus, por um milagre, segundo os médicos, eu sobrevivi."Ao que a plateia respondeu: "Amém".

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Imip é eleito um dos melhores hospitais do Brasil pela revista Newsweek


Fachada do IMIP
Fachada do IMIPFoto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco

 O Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), no bairro da Boa Vista, no Recife, está entre os dez melhores hospitais do Brasil eleitos pela revista norte-americana Newsweek em um ranking com 41 unidades hospitalares do País. De 100%, o instituto marca 83.4% pontos na escala e ocupa a nona posição nacional e a primeira do Nordeste.
Nas primeiras três colocações estão, respectivamente, o Hospital Israelita Albert Einstein, o Hospital Sírio Libanês e o Hospital Oswaldo Cruz, todos de São Paulo. Além da unidade Recifense, outro hospital do nordeste também faz parte do ranking. A Santa Casa de Misericórdia de Maceió, em Maceió, está na 19ª posição com a pontuação de 80,0%.
Para estabelecer as colocações, a Newsweek se baseou em recomendações de especialistas (médicos, gerentes de hospitais e profissionais de atendimento), que recomendaram hospitais em seus países e em outros, resultados de pesquisas sobre a satisfação de pacientes em relação aos cuidados médicos, serviço e organização e indicadores-chave de desempenho médico como a qualidade de desempenho do atendimento para tratamentos específicos, sobre higiene e segurança dos pacientes e números de pacientes por doutores e enfermeiros.
Com Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Prometeu: a rebeldia insistente



Não me canso de celebrar Prometeu. Quando leio a tragédia de Ésquilo sempre me comovo. Os diálogos são ensinamentos, mostram que a cultura duvida e cria novos caminhos. Prometeu desafia os deuses, provoca as profecias, inventa possibilidade de redefinir o mundo e expandir as leituras. Não deixo de ler e assinalar como as hierarquias se formam e imaginar que os nomes trazem configurações que atiçam desejos.
Os diálogos históricos são fundamentais.Eles sacodem as rebeldias. Analise os paradigmas da filosofia grega, as pretensões vaidosas dos iluministas, as promessas dos revolucionários do século XIX. Prometeu ameaçava. Conhecia as fragilidades dos deuses, não se enganava com o absoluto.Na era das máquinas o fetiche da mercadoria tumultua. Consolida-se o efêmeros, constroem tempos que vendem e compram uma fé esfarrapada.
A rebeldia não desapareceu. Há quem se inquiete, quem critique, quem observe o espelho das farsas fabricadas. Estamos cheios de complexidades, atordoados com as necessidades que se multiplicam para desenhar a mais-valia que traz a poeira da ambição. Prometeu se lançava no futuro, incomodava, irritava quem se sentia dono dos destinos. Cantou a liberdade, abriu as portas dos labirintos, acedeu a luz da gramática, desaprisionou. A mesmice não merece atenção. Olhe o fogo e se banhe nas águas inesperadas.
Se, atualmente, a sociedade se locupleta de fantasias de riquezas desiguais, as rebeldias podem mergulhar nos abismos das mediocridades. Tudo tem um preço que agita e ilude. Perder o espaço da utopia é sepultar a memória da tragédia e esquecer que a incompletude é o alimento da cultura. Não olhe de lado, nem atravesse a esquina da homogeneidade. Desfaça, desaliene, emagreça as jogadas dos que se julgam promotores da verdades. Prometeu não é um fantasma, mas a veia vermelha da história. O trapézio do voo quebra as correntes e aquece a sensibilidade.
Paulo Rezende.
Professor Edgar Bom Jardim - PE