terça-feira, 10 de março de 2020

Prometeu: a rebeldia insistente



Não me canso de celebrar Prometeu. Quando leio a tragédia de Ésquilo sempre me comovo. Os diálogos são ensinamentos, mostram que a cultura duvida e cria novos caminhos. Prometeu desafia os deuses, provoca as profecias, inventa possibilidade de redefinir o mundo e expandir as leituras. Não deixo de ler e assinalar como as hierarquias se formam e imaginar que os nomes trazem configurações que atiçam desejos.
Os diálogos históricos são fundamentais.Eles sacodem as rebeldias. Analise os paradigmas da filosofia grega, as pretensões vaidosas dos iluministas, as promessas dos revolucionários do século XIX. Prometeu ameaçava. Conhecia as fragilidades dos deuses, não se enganava com o absoluto.Na era das máquinas o fetiche da mercadoria tumultua. Consolida-se o efêmeros, constroem tempos que vendem e compram uma fé esfarrapada.
A rebeldia não desapareceu. Há quem se inquiete, quem critique, quem observe o espelho das farsas fabricadas. Estamos cheios de complexidades, atordoados com as necessidades que se multiplicam para desenhar a mais-valia que traz a poeira da ambição. Prometeu se lançava no futuro, incomodava, irritava quem se sentia dono dos destinos. Cantou a liberdade, abriu as portas dos labirintos, acedeu a luz da gramática, desaprisionou. A mesmice não merece atenção. Olhe o fogo e se banhe nas águas inesperadas.
Se, atualmente, a sociedade se locupleta de fantasias de riquezas desiguais, as rebeldias podem mergulhar nos abismos das mediocridades. Tudo tem um preço que agita e ilude. Perder o espaço da utopia é sepultar a memória da tragédia e esquecer que a incompletude é o alimento da cultura. Não olhe de lado, nem atravesse a esquina da homogeneidade. Desfaça, desaliene, emagreça as jogadas dos que se julgam promotores da verdades. Prometeu não é um fantasma, mas a veia vermelha da história. O trapézio do voo quebra as correntes e aquece a sensibilidade.
Paulo Rezende.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

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