sexta-feira, 26 de abril de 2019

Lula:"Governo tem complexo de vira-lata"

Há um ano em uma sala da Polícia Federal em Curitiba, ele assiste a filmes e faz cursos entregues a eles em um pendrive.  Assista aqui:https://www.facebook.com/guimaraes13pt/videos/3198325683526253/UzpfSTEzNjUyNjU0OTcyMDcwOTpWSzozMTk4MzI1NjgzNTI2MjUz/

Há um ano em uma sala da Polícia Federal em Curitiba, ele assiste a filmes e faz cursos entregues a eles em um pendrive
Há um ano em uma sala da Polícia Federal em Curitiba, ele assiste a filmes e faz cursos entregues a eles em um pendriveFoto: Folhapress
Na entrevista exclusiva que concedeu à Folha de S.Paulo e ao El País nesta sexta (26), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou de sua rotina da prisão e disse que passa o tempo todo sozinho.

Há um ano em uma sala da Polícia Federal em Curitiba, ele assiste a filmes e faz cursos entregues a eles em um pendrive. 

"Eu curto a solidão tentando aprender, mentalizar a minha espiritualidade, tentando gostar mais do ser humano, tentar ficar um pouco mais humano. Eu acho que eu vou sair daqui melhor do que eu entrei", afirmou. 
"Quando sair daqui, sairei doutor", disse. 

Como é a rotina na prisão? O sr. passa muito tempo sozinho?

Eu passo o tempo inteiro sozinho. Eu leio, eu vejo pendrive que o pessoal me manda, assisto a filmes, muitos filmes. Muita série, muito discurso, muita aula. Eu por exemplo fiz, na minha cela... Que eu não trato de cela, eu trato de sala porque é melhor. Eu fiz um curso sobre Canudos no canal Paz e Bem [na internet], recuperando a história e mostrando as mentiras que Euclides da Cunha contou sobre Canudos [no livro "Os Sertões"].Ou seja, a história não é aquela. Então eu fiz um curso de oito aulas. Agora eu sugeri a eles que façam um curso, Retratos do Brasil. Sobre todas as lutas sociais no Brasil. E agora acho que toda segunda-feira tem uma aula [no canal].Eu espero juntar umas quatro ou cinco, recebo um pendrive, vou assistindo e vou me aprimorando. Quando sair daqui, sairei doutor.

Mas o sr. lava a sua própria roupa, lava suas coisas? E a prisão mudou o sr. em alguma coisa?

É engraçado porque eu sempre tive vontade de morar sozinho. Quando eu fiquei viúvo a primeira vez, em 1971, eu fiquei bravo com a minha mãe [dona Lindu] porque meu sonho era alugar uma quitinete e morar sozinho. A minha mãe morava com a minha irmã, a minha mãe abandonou a minha irmã, foi na minha casa e exigiu que eu alugasse uma casa para morar comigo. E eu morei com a minha mãe durante três anos e meio. Sabe aquele sonho de jogar a cueca para qualquer lado a meia para qualquer lado, a camiseta, não ter que prestar contas, não ter ninguém atrás de mim, "recolhe, põe no chuveiro"?Hoje, eu faço isso. Mas eu preencho o meu tempo vendo muita coisa.

O sr. lava suas roupas?

Não. Eu mando para o meu pessoal lavar. Mas eu curto a solidão tentando aprender, mentalizar a minha espiritualidade, tentando gostar mais do ser humano, tentar ficar um pouco mais humano. Eu acho que eu vou sair daqui melhor do que eu entrei. Com menos raiva das pessoas. Eu vou sair um cidadão bom daqui. Bom e motivado para brigar. Estou doido para fazer uma caravana.

Um grupo perto da prisão diz "boa noite" e "boa tarde todos os dias para o senhor.
Eu escuto todo santo dia. Quando tem atividade, eu escuto discurso das 9h às 21h. É música, é canto. Eu sinceramente não sei como um dia eu vou poder agradecer a essa gente. Tem gente que está aqui [numa vigília em frente à PF] desde o dia em que eu cheguei aqui. Vai para casa, lava a roupa e volta para cá. Eu serei eternamente grato, não sei se isso já aconteceu alguma vez na história com alguém. Mas eu sinceramente não sei como fazer para agradecer. Eu já disse para todo o mundo aqui. Mas quando eu sair daqui, quero sair daqui a pé e quero ir lá no meio deles. A primeira cachaça eu quero tomar com eles. E brindar

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Ditadura em curso:Bolsonaro determina que estatais submetam propagandas a análise do Planalto


Presidente da República, Jair Bolsonaro
Presidente da República, Jair BolsonaroFoto: Flickr/ Palácio do Planalto
O governo Jair Bolsonaro determinou que, a partir de agora, empresas estatais submetam previamente à avaliação da Secom (Secretaria de Comunicação Social) campanhas publicitárias de natureza mercadológica.

A orientação foi dada a companhias públicas -como Petrobras, Correios, Embratur, Banco do Brasil e Banco do Nordeste- em e-mail enviado na quarta-feira (24) pelo secretário de publicidade e promoção da Secom, Glen Lopes Valente. 

Na mensagem, obtida pela reportagem, ele explicou que, em momento oportuno, a instrução normativa que disciplina a publicidade federal será atualizada, com a inclusão da determinação. 
Segundo ele, a mudança tem como objetivo "maximizar o alinhamento de toda ação de publicidade do Poder Executivo Federal".

"Nós comunicamos que, a partir desta data, o conteúdo de todas as ações publicitárias, inclusive de natureza mercadológica, nos termos dos conceitos dispostos no art. 4º da Instrução Normativa Secom nº 1, de 27 de julho de 2017, abaixo copiados, deverão ser submetidos para conformidade prévia da Secom", ressaltou. O artigo citado detalha as modalidades de publicidade.

Anteriormente, eram submetidos à análise do Palácio do Planalto apenas publicidades de empresas estatais de perfis institucional e de utilidade pública.

As propagandas mercadológicas, ou seja, que têm como objetivo alavancar vendas ou promover produtos e serviços, não passavam pela chancela do Poder Executivo.

Nos bastidores, assessores presidenciais reconhecem que a mudança pode ser questionada juridicamente, uma vez que ela pode representar uma interferência indevida em empresas de capital misto, como a Petrobras.

A inclusão das propagandas mercadológicas foi uma orientação do presidente após ele ter se irritado e censurado anúncio televisivo do Banco do Brasil, no qual atores representavam a diversidade racial e sexual do país. 

No ar desde o início de abril, a propaganda de perfil mercadológico, voltado ao público jovem, foi suspensa depois que Bolsonaro assistiu ao filme.

No comercial, alguns atores tinham tatuagens e cabelos coloridos. Bolsonaro telefonou ainda para o presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, para solicitar a demissão do diretor de marketing da instituição financeira, Delano Valentim.

Procurada pela reportagem, a Secom ainda não se pronunciou sobre o assunto.

Com informações de Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 23 de abril de 2019

Tchutchucada: Comissão de Constituição e Justiça aprovou proposta de reforma da Previdência



Projeto vai para comissão especial
Depois de 10 horas de sessão, a Comissão de Constituição e Justiça aprovou, nesta terça-feira 23, o projeto da reforma da Previdência do governo Bolsonaro. Essa é a primeira fase para a aprovação do projeto, que passou pela análise dos deputados sobre a constitucionalidade da proposta apresentada pelo governo e obteve 48 fotos a favor contra 16.
No dia 9 de abril, o deputado Marcelo Freitas (PSL-MG), relator da reforma da Previdência na CCJ,  votou pela admissibilidade do projeto. Na sessão desta terça-feira, 45 deputados seguiram o relator e consideraram a proposta constitucional.
Os dados que embasaram o projeto e foram considerados sigilosos sofreram pedido de anulação por parte da oposição. O ministro da Economia, Paulo Guedes, prometeu a liberação dos dados até a próxima quinta-feira, 25.
Os partidos do centrão, junto à oposição, tentaram articular o adiamento do debate, enquanto o governo tentou antecipar a votação. O presidente Jair Bolsonaro quer aprovar o projeto ainda no primeiro semestre, mas a articulação do governo tem feito alguns partidos deixarem de apoiar o presidente.
O deputado Alessandro Molon (PSB), líder da oposição na Câmara, tentou barrar a votação ao entrar com mandado de segurança na Justiça do Distrito Federal para que a votação não fosse realizada antes da derrubada do sigilo dos dados.
Entramos com mandado de segurança na Justiça do DF para que sejam abertos os números que embasam a Reforma da Previdência de Bolsonaro, e para que a votação na CCJ não aconteça antes que o sigilo seja derrubado. Este debate requer transparência, em respeito à população. pic.twitter.com/kZkbRJuCmN


Entramos com mandado de segurança na Justiça do DF para que sejam abertos os números que embasam a Reforma da Previdência de Bolsonaro, e para que a votação na CCJ não aconteça antes que o sigilo seja derrubado. Este debate requer transparência, em respeito à população.

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No fim da tarde, a deputada Jandira Feghali (PCdoB), líder da minoria, apresentou um requerimento com 1/5 do Congresso que dá o direito de sustar a tramitação do projeto até que os dados detalhados sobre o projeto sejam liberados aos deputados. Francischini insistiu em votar a matéria ainda hoje. E a maioria dos partidos disse não ao pedido da oposição.
Presidente da CCJ não pode atropelar a Constituição! A oposição reuniu as assinaturas necessárias p/ suspender a votação da Reforma da Previdência por 20 dias, p/ que o governo apresente os dados que até o momento escondeu, mas o presidente se recusa a aceitar o requerimento.

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Próximos passos

Na comissão especial será examinado o mérito da proposição. Essa comissão terá o prazo de 40 sessões do plenário, a partir de sua formação, para aprovar um parecer. Para Felipe Francischini (PSL), presidente da Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania, é uma liberalidade do ministro Paulo Guedes enviar os dados ou não. O deputado defende que é responsabilidade da Comissão Especial analisar os méritos e números.
Ali poderão ser apresentadas emendas, com o mínimo de 171 assinaturas de deputados cada uma, no prazo de dez sessões do plenário.
Após a publicação do parecer e intervalo de duas sessões, a proposta será incluída na ordem do dia do plenário, onde será submetida a dois turnos de discussão e votação.
Entre os dois turnos, há um intervalo de cinco sessões do plenário. Para ser aprovada, a proposta precisa ter, em ambos os turnos, 3/5 dos votos dos deputados (308), em votação nominal. Em seguida, o texto vai para o Senado onde será submetido a uma nova tramitação.

Entenda a proposta

Para a aprovação na CCJ, o governo se reuniu na segunda 22 para realizar a mudança dos seguintes pontos no parecer do projeto:
  • O fim do pagamento do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço)
  • A alteração da idade máxima de aposentadoria compulsória para ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que seria possibilitada por lei complementar.
  • A exclusividade do Foro do Distrito Federal para julgar processos contra a reforma.
  • O garantia que somente o Executivo tenha a possibilidade de propor mudanças na Previdência.
O projeto mantém a mudança na idade mínima: de 62 anos para mulheres e 65 anos para homens, e estabelece três regras de transição. Antes vinculadas ao salário total, as alíquotas de contribuição passam a aumentar conforme a faixa salarial, podendo chegar a 14%. A lógica é semelhante à do Imposto de Renda.
Outro ponto de destaque é a mudança no regime próprio dos servidores públicos. Na prática, o texto dificulta o acesso e reduz o valor dos benefícios. No caso dos servidores, a alíquota de contribuição pode chegar a 22%. A idade mínima de aposentadoria dos professores será de 60 anos (antes não havia idade mínima), e com no mínimo 30 anos de contribuição.



A apresentação também detalha a proposta do governo para regimes de capitalização.

Com informação de Carta Capital
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Conta de luz vai ficar mais cara


Energia
EnergiaFoto: ABR
Os consumidores da distribuidora de energia pernambucana Celpe terão um reajuste médio nas tarifas da contas de luz de 5,04%. Para os consumidores residenciais, o aumento será de 5,14%.
A Celpe atende cerca de 3,7 milhões de unidades consumidoras em 185 municípios de Pernambuco. Os novos valores, aprovados nesta terça-feira (23) pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), começam a valer no dia 29 de abril.
De acordo com a Aneel, ao calcular o reajuste, conforme estabelecido no contrato de concessão, a agência considera a variação de custos associados à prestação do serviço. Entre os itens que contribuíram para o aumento da tarifa estão o custo de aquisição de energia, que teve peso de 4,45%; a inclusão de componentes financeiros, com 6,51% e os custos de distribuição, com 2,34%.
Cooperativas
A Aneel também aprovou hoje o reajuste tarifário de cinco cooperativas de eletrificação rural localizadas nos estados de Sergipe, São Paulo e Rio de Janeiro. A Cooperativa de Eletrificação e Desenvolvimento Rural Centro Sul de Sergipe (Cercos) teve reajuste médio de 7,29%; a Cooperativa de Eletrificação Rural de Itaí–Paranapanema–Avaí (Ceripa) teve reajuste médio de 12,84%; a Cooperativa de Eletrificação Rural de Resende (Ceres), teve aumento de 16,67%; a Cooperativa Regional de Eletrificação Rural Cachoeiras – Itaboraí (Cerci) e a Cooperativa de Eletrificação Rural de Araruama (Ceral Araruama), ambas com reajuste de 10% cada.
As cooperativas Ceres, Cerci e Ceral ficam no estado do Rio de Janeiro, a Cercos em Sergipe e a Ceripa em São Paulo. Os novos índices também entram em vigor em 29 de abril
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Vice-presidente afirmou que o escritor Olavo de Carvalho 'não está sendo bom para o governo'



BRASÍLIA - O vice-presidente Hamilton Mourão ironizou nesta segunda-feira, 22, as críticas a militares feitas em vídeo pelo escritor Olavo de Carvalho. Em resposta à divulgação do vídeo, Mourão afirmou que Olavo deveria se concentrar no exercício da "função de astrólogo" por ser a que ele "desempenha bem".
vídeo em que Olavo de Carvalho aparece fazendo duras críticas aos militares chegou a ser compartilhado no sábado pela conta oficial do presidente Jair Bolsonaro no YouTube, mas foi apagado no domingo. "Qual a última contribuição das escolas militares à alta cultura nacional? As obras do Euclides da Cunha. Depois de então, foi só cabelo pintado e voz impostada. E cagada, cagada", disse Carvalho.
Segundo Mourão, Bolsonaro teria dito que não viu o vídeo e que ele 'deve ter sido' compartilhado por outra pessoa. Um dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro republicou o vídeo no domingo. "Em relação ao Olavo de Carvalho, mostra o total desconhecimento dele de como funciona o ensino militar. Acho até bom a gente convidar ele para ir nas nossas escolas e conhecer. E acho que ele, Olavo de Carvalho, deve se limitar à função que ele desempenha bem, que é de astrólogo. Pode continuar a prever as coisas que ele é bom nisso", afirmou Mourão.
Mourão
O vice-presidente Hamilton Mourão Foto: FABIO MOTTA / ESTADÃO
Questionado sobre se a série de ataques feitas pelo escritor aos militares gera um desconforto no governo, Mourão afirmou que o desconforto é apenas pessoal. "Olavo de Carvalho perdeu o timing e não sabe o que está acontecendo no Brasil, até porque ele mora nos Estados Unidos. Ele não está apoiando o governo e não está sendo bom para o governo", disse.
De acordo com o vice-presidente, ele não conversou com Bolsonaro ainda sobre o tema. "Até porque acho que ele prefere não dar maior repercussão ao que Olavo de Carvalho vem dizendo", afirmou. 

Pedido de impeachment

Além das críticas de Olavo, Mourão também foi alvo de um pedido de impeachment. O vice-líder do governo no Congresso, o deputado federal Pastor Marco Feliciano (Podemos-SP), acusa o general da reserva de “conduta indecorosa, desonrosa e indigna” e de “conspirar” para conseguir o cargo de presidente. 

Um dos argumentos sustentados no pedido é uma “curtida” (like) da conta de Mourão no Twitter em uma publicação da jornalista Rachel Sheherazade, do SBT. “A denúncia por crime de responsabilidade contra Mourão se deu por comportamento indecoroso em várias ocasiões. Exemplo: na medida em que ele curtiu tweet de Rachel Sheherazade, detonando com o presidente Jair Bolsonaro, o louvando como melhor opção para governar o País.” / COLABOROU RENATO ONOFRE
Com informações de Estadão
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Educação:Pais x professores - a ciência pode ajudar a diminuir essa tensão



Crédito: Arquivo/Agência Brasil

A boa vontade é uma virtude supervalorizada em educação. Dada a ausência do básico em muitas escolas país afora, transformamos uma virtude em ferramenta de trabalho. Um dos resultados é fácil de auferir. Hoje, a relação entre pais e professores está ruim de dar dó. Quem é o culpado favorito? A boa vontade, apontada como sujeito ausente em muitas conversas país afora - tanto na sala de professores quanto na sala de estar.
Pois bem, trago algumas notícias. A primeira é amarga. A boa vontade, tal como a gentileza, é muito apreciada por aqui, importante, de verdade. Porém, ela não vai mudar o mundo e é incapaz de mudar situações em que a reunião de pais e mestres já foi para o cantinho da disciplina (o famoso brejo escolar). A segunda é melhor - e não necessariamente mais fácil de engolir. Existe muita ciência para melhorar esse diálogo entre a turma do “meu filho perfeito, minhas regras maravilhosas” versus “seu filho insuportável, minha aula destruída”

Recentemente, visitei uma escola pública em San Diego, extremo sul da Califórnia (EUA). Para os padrões americanos, era uma instituição modesta. Se não fosse pela abundância de computadores, poderia estar em um bairro de classe média baixa de São Paulo. Fui até lá durante uma viagem pela Nova Escola e, confesso, me surpreendi pouco - exceto por um cargo muito específico da instituição. Havia uma pessoa responsável por organizar a relação entre pais e mestres, veja só. “Rapaz, temos aí uma pessoa capaz de colocar fim ao conflito Israel e Palestina”, tive vontade de falar (mas não falei). Fui conversar com ele e recebi um choque de esperança (nem sabia que ainda era capaz de nutrir tão bela sensação).
Antes da criação do posto, as escolas pobres de San Diego tinham problemas semelhantes a muitas escolas brasileiras, independentemente da classe social. A discussão entre pais e professores, tal como aqui, também era recheada de ressentimento e desconfiança. Alguns anos atrás, a escola geralmente só chamava os responsáveis quando algo dava errado ou para cobrar algo - de nota a disciplina. Muitas mães e pais também não colaboravam e adotavam a política da relação mínima com a instituição. Só procuravam a escola quando algo dava muito errado.
O especialista de San Diego me contou como as coisas começaram a mudar. Primeiro passo: no começo do ano, eles substituíram as terríveis e burocráticas reuniões sobre material escolar e deveres por um encontro sobre os sonhos dos pais para seus filhos. Em vez de começar a relação com o confronto, cada um dividiu desejos e aspirações sobre os pequenos entre si.
Depois, e isso se repete ao longo do ano, os professores compartilham os resultados dos estudantes. Isso inclui não apenas as notas nas provas, mas observações sobre comportamento e relação com os outros colegas. O objetivo é mostrar o quão perto (ou distante) está o aluno do sonho do pai e do sonho do próprio aluno.
Por fim, os professores ensinam os pais a estudar junto com seus filhos. Como fazer os deveres de um jeito construtivo, como tirar dúvidas, o que ler, o que pesquisar. Os pais têm orientações simples sobre como se relacionar com a vida escolar dos seus filhos. Não se sentem perdidos nem impotentes.
Resultado? A escola consegue provar que, quando os pais participam, a vida dos meninos e meninas melhora. O estresse diminuiu muito e os estudantes começaram a ir muito melhor - nas notas e na vida. 
Fiquei surpreso com a clareza e a segurança das orientações. Imaginei que o especialista fosse me dizer algo que sempre escuto em escolas Brasil afora: “Com um pouquinho de boa vontade, dá para fazer grandes mudanças”. Em vez disso, ele me passou o endereço de um site da escola de educação de Harvard e me convidou a participar do congresso americano sobre pais e professores.
Obviamente, me afundei nas pesquisas. No site de Harvard, há orientações sobre como estudar matemática com os filhos e como envolver os pais (se você lê em inglês, veja aqui). Em outro endereço, há dicas muito úteis sobre o que professores devem (e não devem) fazer com os dados dos estudantes (dica prática: a humilhação pública não é educativa).
Também há pesquisas sobre os efeitos do envolvimento dos pais, mostrando como uma uma relação bem construída entre pais e professores aumenta a chance do dever de casa ser feito e diminui a quantidade de broncas que um educador deve dar em sala de aula.
Enfim, tem um universo de dicas práticas, construídas a partir de pesquisas, para resolver um dos maiores problemas da Educação no Brasil de hoje. E esse problema, aliás, tem consequências não apenas para o desempenho dos estudantes, mas para a confecção de políticas públicas. Tenho certeza que se pais e professores tivessem uma relação melhor, debates como Educação Domiciliar e Escola sem Partido seriam muito menores.
Não me considero um otimista, mas há dias em que faço essa concessão. Quando a boa vontade encontra a ciência, coisas boas acontecem (pronto, abracei a poesia de papel colado no muro. Me desculpe).

Professor Edgar Bom Jardim - PE

O inferno são os outros?


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A convivência é fundamental. Alimenta a  história, traz aprendizagens.Seria impossível haver uma solidão inatacável. A inquietude nos torna seres humanos envolvidos  por aventuras. Ficar escondido mostra que a covardia impede a invenção e o ânimo de criar as sociabilidades. Não dá para apagar os espelhos. Como deixar de olhar para os olhos dos outros? Como naufragar sem gritar por socorro e receber ajuda? A convivência não existe sem as dúvidas. Surgem as as dissonâncias, pois os conflitos e as diferenças não abandonaram a construção de cada época. Não é sem razão que existem inseguranças. Já se viu sem a embriaguez e dominado pela apatia?
As suspeições avisam que não somos seres acabados. Buscamos. Profetizamos. Desfazemos. A história não é resignação a destinos malditos. Sem o desejo de transformar, a desconfiança ganharia todos os espaços. Os outros nos ameaçam e podem nos expulsar de seus territórios. Mas a multiplicidades nos acena para as curvas, os abismos, as calmarias, os desapegos. Portanto, nomear tudo é impossível. A ambiguidade está presente, não é apenas um maniqueísmo tolo que nos sustenta. Acusamos, mostramos violências. Elas intimidam. Ficam na memória. Quem esquece dos deuses do Olimpo? As intrigas viajam, estão guardadas nas memórias.
Os outros possuem seus projetos. Por que negar as discordâncias? A cultura sofistica, transcende, porém não elimina comportamentos que habilitam invejas. Os fracassos se abraçam com as culpas e as identidades flutuam perdidas. Não é fácil arquitetar uma geometria sossegada, com visibilidade plena. Observe como Picasso desenhou, imaginou figuras, dançou com as cores e as formas. A convivência pede movimentos, apresenta pesadelos, daí os mitos, as fantasias, os infernos, os deuses enlouquecidos. Você sabe o que salvará o mundo?
Talvez, tudo seja um grande delírio. As lacunas não param de nos assombrar. Há quem desista de elaborar respostas e morram na agonia das perguntas. Temos que navegar. As idas e as vindas surpreendem. Nada está definido. O sempre é uma palavra que evita certos resgastes. O tempo é desafio. Treme, mascara-se, atiça. Os outros nos contemplam ou nos detestam? Parece estranho tantos quebra-cabeças. Lembre que as reações não são homogêneas. Imagine a sua ficção, o seu outro, seu abraço mais acolhedor. O caos e o cais formam um par eterno. Compreendê-lo é uma ousadia.
A astúcia de Ulisses

Professor Edgar Bom Jardim - PE

As memórias assanham dores ou escondem trapaças?



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As interpretações históricas atiçam reflexões. Não são uniformes.  Multiplicam as fantasias ou requerem cuidados com a objetividade. Um debate complexo que nos remete a muitas armadilhas. Quem consegue abraçar os sentimentos que andam pelos nossos corações? Quem critica as ações totalitárias? Quem celebra as rebeldias como encantamentos superiores? Não há como definir as certezas e congelá-las. A busca da verdade incomoda, merece análise, inquieta e sacode a experiência. Hoje, vivemos cercados de dúvidas, porém mecanismos de manipulação existem, de forma quase opressiva. Produzem perplexidades, confundem lembranças, refazem enganos.
Atravessar a história sem observar as ambiguidades é um grande escorregão. Nada indica que houve sossegos perenes e dádivas indiscutíveis. Freud assustou-se com a violência humana, Marcuse tentou saídas para nos livrar da unidimensionalidade e Adorno se frustrou com os genocídios arrasadores. As mudanças esperadas não aconteceram,  facharam as portas da liberdade e inventaram censuras abrangentes. Fica a angústia de não compreender as razões de cinismos tão frequentes. Consulta-se a memória. As dores se formam e os pesadelos convergem para as distopias.
A história continua, com balas e governos de privilégios. Não há expectativa de desarrumar as violências, acabar com a miséria ou refazer as aventuras tristes dos refugiados. Temos que manter os afetos próximos, conversar, imaginar . Entregar-se ao desespero não resolve. O absurdo não se apaga.  Ha quem justifique a ação das milícias e quem se ache dono de poderes inacabáveis. Para isso, os disfarces sempre se ampliam. Observem como a imprensa se comporta, desfaçam os sensacionalismos e não apaguem a forca dos interesses. Há enigmas treinados e mesquinhos. Os desejos são múltiplos, nunca serão decifrados de forma absoluta. A incompletude é ninho que desampara.
O jogo da memória é ousado. Quem o domina não deixa vazio para criar argumentos que empurram para um abismo sofisticado. Mesmo que a obscuridade permaneça, quem domina sabe da importância de controlar as emoções. O sistema de propaganda e anúncios é gigantesco, adoece as memórias. Chegam as depressões, as bipolaridades, o medo de enfrentar uma noite na rua. Refletir não significa que a moradia da história é um lixo, mas lançar suspeitas, não fixar regras inabaláveis. Perpetuar espertezas? Fragilizar sonhos? Nunca se atrapalhe, pois as perguntas não cessam. A construção da história é inquieta como a rebeldia de Prometeu. Não anula as esquizofrenias soltas no mundo.
A astúcia de Ulisses
Professor Edgar Bom Jardim - PE