segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Pela primeira vez na história Bom Jardim realiza desfile cívico da Independência em 9 de setembro


*RAIMUNDO FEZ UM BELO DESFILE CÍVICO EM HOMENAGEM AO BRASIL.    Imagem ERH /Divulgação 


A data mais importante do Brasil, 7 de setembro, foi celebrada nesta segunda-feira, dia 9, na sede de Bom Jardim. O desfile cívico do feriado da Independência do Brasil, 7 de setembro, foi transferido para esta segunda. Fato inédito na história de Bom Jardim. 

Em tempo de eleições municipais a mudança de data é vista com críticas para muitos moradores, comerciantes e novidade para muitos outros. 

As comemorações da Semana da Pátria foram iniciadas pela municipalidade no domingo, dia 01/09 na sede do distrito de Umari. Durante toda semana a programação  dos desfiles escolares ocorreram nas sedes dos distritos. 




Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 7 de setembro de 2024

3 paradoxos curiosos que mostram engenhosidade dos antigos filósofos gregos


A Escola de Atenas, pintura de Rafael.

Crédito,Getty Images

  • Author,Matthew Duncombe
  • Role,The Conversation            -    BBC

Os filósofos da Grécia Antiga usavam paradoxos por várias razões — desde aprimorar suas habilidades dialéticas e mostrar que oponentes estavam falando bobagem, até investigar questões filosóficas sérias — mas também por diversão.

Alguns paradoxos eram letais. O epitáfio de Filetas de Cos nos diz que ele morreu atormentado pelo "paradoxo do mentiroso".

E, de acordo com um biógrafo, Diodoro Cronos se matou em 284 a.C. após não conseguir resolver um paradoxo proposto pelo colega, também filósofo, Estilpo de Megara.

Essas histórias são fantasiosas, mas indicam algo irritantemente verdadeiro sobre paradoxos: não pode haver uma solução única e óbvia. Às vezes, não há uma boa solução. Às vezes, há muitas soluções boas


Os paradoxos apontam para falhas ou erros conceituais. Como corrigir esses erros, ou se eles podem ser corrigidos, raramente é óbvio.


Os três paradoxos a seguir são alguns dos exemplos mais conhecidos da Grécia Antiga.

1. O paradoxo do mentiroso

"Esta frase é falsa."

Os filósofos chamam isso de "frase mentirosa". Ela é verdadeira? Se você disser "sim, a frase mentirosa é verdadeira", então as coisas são como está dito — mas a frase mentirosa diz que é falsa.

Por outro lado, suponha que você diga "não, a frase mentirosa é falsa". Isso significa que as coisas não são como a frase mentirosa diz. Mas é exatamente isso que ela diz, então, nesse sentido, a frase mentirosa é verdadeira.

Resumindo, há boas razões para dizer tanto que a frase é verdadeira, quanto que é falsa. No entanto, nenhuma frase pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo.

Este paradoxo foi criado pelo filósofo Eubulides de Mileto, que era famoso por seus paradoxos, no século 4 a.C. Sua formulação original se perdeu, e o que apresento aqui é minha reconstrução dela.

Ruínas de colunas gregas.

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Alguns paradoxos datam do século 4 a.C.

O paradoxo do mentiroso nos aliena de noções cotidianas como verdade, falsidade e linguagem autorreferencial.

Mas também nos leva a questionar a ideia, pressuposta pela dialética de perguntas e respostas (um diálogo entre pessoas que defendem pontos de vista diferentes sobre um assunto), de que toda pergunta pode ser respondida com "sim" ou "não".

Parece que há boas razões para responder tanto "sim", quanto "não" a algumas perguntas.

Alguns filósofos concluíram que isso significa que tanto "sim" quanto "não" são boas respostas para a pergunta: "a frase mentirosa é verdadeira?".

Eles chamam isso de "excesso" de boas respostas. Para aplicar o paradoxo do mentiroso na sua vida, quando você fizer uma pergunta ou te perguntarem algo, pergunte a si mesmo: há mais de uma resposta certa?

2. O paradoxo dos chifres

Você perdeu seus chifres? Se você responder "sim", você deve ter tido chifres que agora perdeu. Se você responder "não", então você tem chifres que não perdeu. Seja qual for a sua resposta, você sugere que tinha chifres — mas isso é claramente falso.

As perguntas são uma parte fundamental da filosofia. Mas elas também são fundamentais para a forma como obtemos informações de outras pessoas.

O paradoxo do mentiroso destaca que algumas perguntas têm mais de uma boa resposta. O paradoxo dos chifres, por sua vez, destaca outro problema — as perguntas têm pressupostos.

Escultura da Grécia Antiga.

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Um dos paradoxos mais conhecidos da Grécia Antiga é o dos 'chifres'

Se eu perguntar: "você parou de comer carne?", então eu suponho que você não come mais carne, mas que costumava comer.

Essas perguntas parecem ter uma resposta do tipo "sim" ou "não" — mas, na verdade, existe uma lacuna, pois poderíamos negar o pressuposto.

Quando você fizer perguntas, ou quando te fizerem perguntas, primeiro pergunte a si mesmo: o que está sendo pressuposto?

3. O paradoxo de 'sorites'

Aqui estão 10 mil grãos de areia. Eu tenho um monte? Sim, claro. Eu removo um grão, então agora tenho 9.999 grãos. Tenho um monte? Sim. Eu removo outro grão, então fico com 9.998. Tenho um monte? Sim.

Perder um único grão não afeta se eu tenho um monte. Mas se repetir esta ação mais 9.997 vezes, eu tenho um grão. Isso deve ser um monte, mas é claro que não é.

Você pode argumentar tanto que um grão é um monte, quanto que não é. Mas nada pode ser um monte, e não ser um monte ao mesmo tempo.

Outro grande sucesso de Eubulides, o paradoxo de sorites (que deriva da palavra grega soros, que significa "monte"), usa um monte como exemplo. Mas também amontoa pergunta após pergunta.

Gravura grega em parede.

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,O paradoxo de sorites nos mostra que há lacunas e conceitos com limites difusos

Este paradoxo nos desafia porque alguns conceitos possuem limites difusos. Quando introduzimos esses conceitos difusos em uma dialética de perguntas e respostas, há respostas claras de "sim" ou "não" no início e no fim da sequência.

Dez mil grãos são claramente um monte, e um grão claramente não é. Mas não há respostas claras de "sim" ou "não" para uma região intermediária.

O paradoxo do mentiroso sugere que pode haver um excesso de boas respostas para perguntas de "sim" ou "não"; os chifres mostram que pode haver lacunas, onde nem "sim" nem "não" é a resposta certa.

Mas o paradoxo de sorites revela que pode haver lacunas que vêm e vão, com conceitos cujos limites são difusos. Mas quantos dos nossos conceitos possuem limites difusos? E será que os conceitos difusos acompanham um mundo difuso?

Os paradoxos destacam falhas em atividades comuns do dia a dia: afirmar verdades, fazer perguntas e descrever objetos.

Pensar cuidadosamente sobre isso é divertido, sem dúvida. Mas os paradoxos também devem nos conscientizar sobre se toda pergunta aparentemente boa tem exatamente uma boa resposta: algumas perguntas têm mais, outras não têm nenhuma.

*Matthew Duncombe é professor de Filosofia na Universidade de Nottingham, no Reino Unido.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).


Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Senadores apoiadores do golpismo de 8 de janeiro 2023 querem destruir Alexandre de Morais


Ministro Alexandre de Moraes é vítima da extrema direita golpista do parlamento brasileiro.



Canal Ronny Teles
Imagem TSE.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Leodi Barbosa e Socorro Canto homenageados na Semana do Patrimônio em Bom Jardim


Neste ano 2024, em que o tema Educação, Território e Participação Social: interfaces da preservação do patrimônio cultural, o Museu de Bom Jardim faz uma justa homenagem à poetisa Socorro Canto Santana e ao poeta Leodi Barbosa (in memoriam).



Professor Edgar Bom Jardim - PE

PIB sobe 1,4% no 2º tri: por que economia cresce, desemprego cai, mas percepção do brasileiro segue negativa?




Uma mulher de costas escolhendo legumes na seção de vegetais de um supermercado com outras pessoas passando ao fundo

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Consumo e investimentos foram destaque no PIB do 2º trimestre

economia brasileira cresceu 1,4% no segundo trimestre, em relação ao trimestre anterior, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (3/9).

Com isso, o país chegou até a metade de 2024 tendo crescido 2,5% nos 12 meses anteriores – o que coloca o Brasil em 6º lugar entre os países que mais cresceram do G20, grupo que reúne algumas das maiores economias do mundo.

O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre veio meio ponto percentual acima da expectativa dos economistas, que era de uma alta de 0,9%.

Na comparação com o segundo trimestre de 2023, o avanço foi de 3,3%



Trata-se de mais um resultado positivo para a atividade econômica, após uma alta de 1% do PIB de janeiro a março, em relação ao trimestre anterior (o dado foi revisado, de 0,8% divulgado anteriormente)

E isso apesar de o segundo trimestre ter sido marcado pelas enchentes no Rio Grande do Sul, que tiveram início no fim de abril.

Na semana passada, o IBGE também informou que a taxa de desemprego no trimestre encerrado em julho recuou para 6,8%, com 7,4 milhões de desocupados. Este é o menor nível de desemprego registrado para o período desde o início da série histórica do instituto, em 2012


Diante das repetidas surpresas positivas na atividade, economistas têm revisado para cima suas projeções para o PIB de 2024.

Segundo o boletim Focus do Banco Central, os analistas começaram o ano esperando um avanço de 1,6% para a economia este ano e, no levantamento mais recente (de 2/9), a mediana das projeções já estava em quase 2,5%.

Após a divulgação do PIB nesta terça-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo deve elevar sua projeção para o crescimento da economia no ano, dos atuais 2,5%, para algo como 2,7% ou 2,8%, o que pode levar a uma projeção mais alta de receitas no Orçamento do próximo ano.

Essa melhora no desempenho da economia, no entanto, não parece estar chegando à percepção das pessoas.

pesquisa AtlasIntel de avaliação do governo Luiz Inácio Lula da Silva mais recente (divulgada em 28/8) mostrou, por exemplo, que para 47% dos entrevistados a situação atual da economia é ruim, contra 33% que consideram boa. Outros 21% acham que a situação econômica está "normal".

O resultado é similar à pesquisa divulgada pela Genial Quaest em julho, que mostrou que para 36% dos entrevistados a economia do Brasil piorou nos últimos 12 meses, ante 28% que avaliam que melhorou e 32% que dizem que ficou igual.

Mas o que explica essa discrepância entre os dados e a percepção da população? Conversamos com três economistas e um cientista político sobre isso.

Destaques do PIB do 2º trimestre

Na ponta da oferta, os destaques do PIB do segundo trimestre foram as altas do setor de serviços (1%) e da indústria (1,8%), enquanto a agropecuária registrou queda de 2,3%, sempre em relação ao trimestre anterior.

Já na ponta da demanda, as maiores altas ficaram por conta do investimento (2,1%) e do consumo das famílias (1,3%), enquanto o consumo do governo cresceu 1,3%.

No setor externo, a alta das importações (7,6%) superou a das exportações (1,4%), também um sinal da demanda interna aquecida.

Caminhões novos no pátio da Mercedes-Benz do Brasil em São Bernardo do Campo

Crédito,Rovena Rosa/Agência Brasil

Legenda da foto,A retomada na produção de caminhões, após queda em 2023 devido a uma mudança regulatória, é um das fatores por trás da melhora do investimento

Para Rodolfo Margato, vice-presidente de pesquisa econômica da XP Investimentos, o mercado de trabalho aquecido – com desemprego em baixa e renda em alta – é o principal motivo por trás do bom desempenho do setor de serviços e do consumo das famílias no segundo trimestre.

"Eu também destacaria a recuperação do mercado de crédito, com um aumento das concessões de crédito tanto para pessoas físicas, quanto para pessoas jurídicas, além de um recuo, ainda que moderado, do comprometimento de renda das famílias com serviços da dívida", diz o economista.

A melhora das condições de crédito também contribuiu para a retomada dos investimentos em ativos fixos, que caíram 3% no ano de 2023, mas avançaram 3,8% no primeiro trimestre e voltaram a crescer de abril a junho.

"Além da melhora do crédito, essa recuperação do investimento se deve também a uma recuperação da fabricação de caminhões, que por questões regulatórias havia contraído bastante ano passado."

Em 2023, a produção de caminhões despencou quase 40%, em meio à migração do setor para um padrão de motor menos poluente (o Euro 6), mas mais caro. Diante da perspectiva da mudança, o mercado antecipou compras em 2022, o que elevou fortemente a produção naquele ano, derrubando no seguinte.

Além da produção de caminhões, a construção civil – puxada pelo mercado imobiliário e por obras de infraestrutura dos governos regionais – também contribuiu para o bom desempenho do investimento no trimestre, observa Margato.

Já a queda no agro vem depois de uma alta de 11,1% de janeiro a março (o dado foi revisado de 5,9% divulgados antes) e reflete em grande medida a sazonalidade do setor, que costuma concentrar a maior parte de sua produção no primeiro trimestre.

Projeções em alta para o PIB de 2024

Expectativas em alta. Mediana das projeções dos economistas para o avanço do PIB em 2024, em % .  .

Um dos fatores que surpreendeu este ano foi o fato de as enchentes do Rio Grande do Sul não terem tido um impacto tão negativo sobre os dados gerais da economia brasileira quanto inicialmente esperado, observa Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).

"O governo respondeu rapidamente [às enchentes no Sul] com políticas e o resto do país continuou crescendo forte", diz Matos.

A economista começou o ano esperando alta de 1,4% para o PIB de 2024 – após avanço de 2,9% em 2023 – e agora projeta um crescimento de 2,3% para este ano.

Outro elemento surpreendente é o mercado de trabalho, avalia Margato, da XP, que elevou sua projeção para o PIB este ano de 1,8% no início do ano, para 2,7%.

"Acredito que poucos economistas imaginavam uma taxa de desemprego abaixo de 7% em meados de 2024 e a massa de renda [soma dos rendimentos de toda a população ocupada no país] deve crescer entre 6,5% e 7% até o fechamento de 2024, muito acima da nossa estimativa de 4,5% feita no início do ano", destaca.

Ele observa que a alta da renda vem tanto do reajuste do salário mínimo no início do ano, quanto de correções acima da inflação que vêm sendo obtidas por diversas categorias nas negociações salariais.

Para Leonardo Costa, do ASA (antiga ASA Investments), a resiliência do setor de serviços – grande empregador da economia brasileira atual – também é uma das surpresas da economia em 2024.

O ASA começou o ano projetando uma alta de 2,2% para o PIB de 2024 e havia revisado sua estimativa para 2,5% antes da divulgação do PIB do segundo trimestre.

"O setor de serviços sofreu bastante com a pandemia, estava patinando, andando de lado", lembra.

"Mas, no ano passado, já foi bastante forte, com as pessoas após a pandemia com um desejo maior por consumir serviços e ter experiências, o que vemos pelos shows lotados, por exemplo. Imaginávamos que isso ficaria mais restrito a 2023, mas 2024 ainda mostra demanda forte."

Silvia Matos, do Ibre-FGV, observa ainda que a atividade este ano também teve um forte impulso fiscal – isto é, a partir de gastos do governo.

O maior impulso vem dos R$ 90 bilhões em precatórios (dívidas da União já reconhecidas pela Justiça, sem possibilidade de novos recursos) que começaram a ser pagos no fim do ano passado, após o Supremo Tribunal Federal declarar inconstitucional medida que postergava o pagamento dessas dívidas para 2027.

Também o Bolsa Família turbinado, com benefício mínimo de R$ 600, e o reajuste do salário mínimo acima da inflação – que impacta aposentadorias e benefícios sociais como o Benefício de Prestação Continuada (BPC, salário mínimo pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda) – ajudaram a impulsionar a capacidade de consumo das famílias este ano.

Matos diz ainda que era esperada uma desaceleração no agro este ano, após a safra recorde de 2023, mas que essa perda de ritmo não foi tão forte quanto antecipado. Também o cenário internacional foi menos adverso do que o previsto.

Margato cita também a possibilidade – já discutida há algum tempo pelos economistas – de que a capacidade potencial de crescimento da economia brasileira tenha aumentado nos últimos anos, graças a reformas como a trabalhista, da Previdência e mudanças microeconômicas feitas para melhorar o ambiente de negócios.

Por que população está insatisfeita?

Mal-estar econômico. Respostas à pergunta "Como você avalia a situação econômica do Brasil neste momento?", em %.  .

Para Margato, da XP, a resposta pode estar na inflação – o que faz sentido, considerando que 63% dos entrevistados na pesquisa Genial Quaest de julho avaliavam que o poder de compra dos brasileiros é hoje menor do que um ano atrás, contra 21% que diziam ser maior e 14% que consideravam igual.

"É verdade que a inflação corrente está relativamente bem comportada, ainda que a nossa projeção seja de 4,4% para [o IPCA, índice oficial de inflação do país] esse ano, mas nos últimos anos a inflação foi alta, especialmente após o choque da pandemia", diz o economista da XP.

"Períodos de inflação alta acabam diminuindo o poder de compra das famílias e, mesmo com uma recuperação nos períodos seguintes, aquelas marcas da inflação alta ficam."

Silvia Matos, do Ibre-FGV, observa ainda que, embora emprego e renda estejam crescendo, muitos dos empregos que estão sendo criados não são de qualidade – o que fica evidente pela taxa de informalidade da economia brasileira ainda próxima a 40%.

"Empregos e salários crescem, mas parece que não crescem o tanto que as pessoas esperariam, e há também muita volatilidade de renda entre informais e trabalhadores por conta própria", diz Matos.

"Há um certo desencantamento, que leva as pessoas a quererem soluções mágicas, porque parte da sociedade tem uma frustração, mesmo com o crescimento."

Rafael Cortez, cientista político da Tendências Consultoria, observa que essa dissonância entre economia em crescimento e percepção negativa da população não ocorre só no Brasil, mas também em outros países, como os Estados Unidos.

Segundo ele, isso está relacionado com a polarização política em ambas as sociedades e também com a prevalência das redes sociais como principal forma de a população se informar atualmente.

"A radicalização alimenta leituras muito distintas em relação ao desempenho do governo e dos eventos políticos", diz Cortez.

"Então, a despeito do desempenho do governo na economia, há uma rejeição pessoal ao presidente Lula que dificulta essa transmissão entre melhoria do crescimento econômico e popularidade."

Com as redes sociais, as pessoas acabam consumindo produtos e informações para reafirmar suas leituras do mundo, diz o cientista político, o que é reforçado pelo algoritmo e faz com que a ideia de livre informação vá perdendo força.

"A política da rede social é a política encurtada – a pessoa não vê o debate, ela vê o corte – e aí esse arsenal de informação que chega na cabeça do eleitor nem sempre ajuda a entender a relação de causalidade que é chave para a ideia de premiar [os governantes] pelo bom desempenho do governo. As redes sociais são perversas nesse sentido."

E o que esperar para a economia à frente?

Os três economistas ouvidos pela BBC News Brasil são unânimes na avaliação de que, apesar do desempenho surpreendente da economia no primeiro semestre, a atividade deve perder força na segunda metade do ano e em 2025.

Segundo Silvia Matos, do Ibre-FGV, houve uma concentração de estímulos no início do ano, com os precatórios, o aumento do salário mínimo e a antecipação do 13º dos aposentados.

Além disso, há uma piora nas condições financeiras, com aumento dos juros de mercado e desvalorização cambial, o que torna o ambiente menos propício ao investimento e ao consumo.

Leonardo Costa, do ASA, e Rodolfo Margato, da XP, preveem ainda que o Banco Central deve reiniciar em breve o aperto monetário, elevando gradualmente a taxa básica de juros para manter a inflação na meta (que é de 3% para este ano, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual), diante da resiliência da economia, da piora do câmbio e do aumento da percepção de risco.

"A gente imagina que o BC voltará a subir juros em setembro, começando com 0,25 ponto percentual e um ciclo total de 1,5 ponto, levando a Selic dos atuais 10,5% para 12% no começo do ano que vem. Com isso, o PIB do ano que vem desacelera", diz Costa, que vê uma alta de 1,5% para o PIB em 2025.

BBC Brasil 

  • Thais Carrança
  • Role,Da BBC News Brasil em São Paulo

Professor Edgar Bom Jardim - PE