sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Heróis de guerra ou 'otários'? A saia-justa de Trump com os militares


O presidente Donald TrumpDireito de imagemREUTERS
Image captionO presidente Trump teria dito que um importante cemitério dos EUA estava 'cheio de perdedores'

Historicamente, presidentes americanos costumam ter um respeito reverencial às Forças Armadas do país. Mas, segundo uma reportagem publicada na quinta-feira (03/09), pela revista americana The Atlantic, esse não é o caso de Donald Trump.

Em um texto que despertou a ira do republicano, candidato à reeleição em novembro, a publicação afirma ter colhido relatos de diferentes fontes sobre o que chama de "desdém" de Trump por veteranos e heróis de guerra dos Estados Unidos. Segundo a The Atlantic, Trump teria chamado soldados de seu país que foram feridos, capturados ou mortos no front de "perdedores" e "otários".

A revista descreve que, em uma visita à França em 2018, Trump teria inventado uma desculpa para não ir ao cemitério Aisne-Marne, onde estão enterrados os corpos de 1,8 mil fuzileiros navais americanos mortos em confronto com forças alemãs na Batalha de Belleau, em 1918, durante a Primeira Guerra Mundial.

"Por que eu deveria ir àquele cemitério? Está cheio de perdedores", Trump teria dito. Ainda na mesma viagem, ele teria perguntado "quem eram os mocinhos nessa guerra?".

O presidente americano teria também recomendado a seus assessores que não incluíssem veteranos amputados ou desfigurados em uma parada militar em 2018: "Ninguém quer ver isso", ele teria dito.

O conteúdo da reportagem foi integralmente confirmado por fontes da agência Associated Press.

Histórico desfavorável

Não é a primeira vez que o nome de Trump aparece associado a mostras de pouco apreço à atividade militar.

Ele mesmo conseguiu ser dispensado de cinco convocações diferentes para a Guerra do Vietnã — em uma delas, apesar de ser atleta, justificou-se com um atestado médico que dizia que ele tinha esporão ósseo no pé.

Cemitério Aise-Marne
Image captionTrump cancelou uma visita ao cemitério de Aise-Marne, onde os mortos na batalha de Belleau estão enterrados

Segundo seu ex-advogado pessoal Michael Cohen, Trump teria admitido a ele que o atestado era falso. "Quando eu pedi os registros médicos dele, ele não me deu nenhum e disse que não havia cirurgia. Ele finalizou com: 'Você acha que eu sou estúpido? Eu não ia para o Vietnã'", testemunhou Cohen à uma comissão da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, em 2018.

Em outro episódio envolvendo a Guerra do Vietnã, Trump afirmou que o senador republicano John McCain, que passou mais de cinco anos como prisioneiro do exército vietcongue, era "um perdedor".

"Ele não era um herói de guerra. Ele era um herói porque foi capturado? Eu gosto de pessoas que não foram capturadas", afirmou Trump durante a campanha de 2015.

Horas após a publicação da reportagem, Trump foi ao Twitter dizer que o conteúdo é "falso". E negou que tivesse chamado McCain de "perdedor", contrariando postagens que ele mesmo fez em sua conta na mesma rede social há cinco anos.

"Eu juro por qualquer coisa ou qualquer pessoa pela qual queiram que eu jure que jamais chamei nossos grandes soldados mortos de qualquer outra coisa além de HERÓIS. Isso é mais uma história falsa criada por perdedores invejosos e abjetos em uma desgraçada tentativa de influenciar as eleições de 2020!", postou o presidente na noite desta quinta-feira.

Impopular entre as tropas

A reportagem da Atlantic gerou reações públicas especialmente entre membros da reserva das Forças Armadas do país. Em um vídeo no Twitter, o major aposentado Paul Eaton pediu a seus colegas de farda para votarem em um "patriota de verdade"e não em Trump e afirmou que "ficaria surpreso se alguém nas Forças Armadas dos Estados Unidos considerasse você (Trump) qualquer coisa, além de um perdedor ou um otário".

Outro veterano da guerra do Afeganistão, David Weissmann, que se apresenta como um ex-apoiador de Trump, recomendou a seus seguidores que colocassem fotos usando fardas nos seus perfis em redes sociais, para mostrar ao presidente quantas pessoas ele ofendeu.

John McCain e Donald TrumpDireito de imagemREUTERS
Image captionTrump já foi criticado no passado por comentários sobre o veterano de guerra John McCain

Trump não vive seu melhor momento junto às tropas americanas. Em junho deste ano ele foi pública e duramente criticado por ter empregado militares na dispersão de manifestantes pacíficos das cercanias da Casa Branca.

A remoção da passeata pacífica com bombas de efeito moral e balas de borracha foi feita para que Trump pudesse posar para uma fotografia com uma bíblia na mão diante de uma igreja parcialmente queimada em um dos protestos. O presidente não é conhecido por sua religiosidade.

"Eu jamais deveria ter estado ali", afirmou o General Mark A. Milley, comandante do Exército, 10 dias após o incidente. Ele disse ainda que sua "presença naquele momento e naquele ambiente criou uma percepção dos militares envolvidos na política interna", algo que não deveria ter ocorrido.

Até mesmo o secretário de Defesa de Trump afirmou que as tropas não deveriam ser usadas pelo presidente para controlar protestos domésticos.

No fim daquele mesmo mês, o jornal The New York Times revelou que Trump havia sido informado pelo serviço secreto americano de que soldados americanos tinham se tornado alvo de milícias ligadas ao Talebã, remuneradas pelo governo russo para matá-los.

Trump teria ignorado a informação por meses e não tomado nenhuma medida para proteger seus homens, embora no Afeganistão os atentados contra militares dos Estados Unidos estivessem de fato ocorrendo.

Segundo a inteligência americana, a estratégia da Rússia era, com as mortes, desestabilizar um acordo de paz entre americanos e o regime Talebã.

A informação gerou descontentamento nos círculos militares e a percepção de que Trump não se empenhava em protegê-los. Uma pesquisa feita junto às tropas pelo jornal especializado Military Times e divulgada nessa semana mostrou os impactos desses episódios na popularidade do presidente.

Trump é aprovado por apenas 38% dos militares ouvidos na pesquisa. E, em relação à intenção de votos, 41,3% deles afirmam que votarão no democrata Joe Biden, contra 37,4% que dizem preferir Trump.


Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Queda de meteoritos provoca 'corrida' por pedras no Sertão de Pernambuco




Primeiro, um rasgo de luz no céu como um cometa. Aí, de repente, caem rochas por tanto canto a ponto de encher a cidade de pedras. A maioria é pequena, mas algumas são grandes, do tamanho de um recém-nascido. A maior encontrada até agora pesa 38 quilos. Parece cena de filme, mas foi assim a queda de meteoritos em Santa Filomena, no Sertão do Araripe, município de 6.906 habitantes a 710 km do Recife.

A “chuva” propriamente dita foi registrada no dia 19 de agosto. Os fragmentos caíram muito rápido no solo. Segundo relatos, alguns atravessaram telhados e copas de árvore, mas ninguém se feriu. Esse foi o terceiro fenômeno desse tipo na região em pouco mais de um mês. O primeiro ocorreu em 16 de julho. O segundo, em 14 de agosto.
 
“É raro acontecer assim em lugares tão próximos e em tão pouco tempo, mas é coincidência”, diz o diretor técnico da Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros (Bramon), Marcelo Zurita. Para ele, o caso de Santa Filomena chamou mais atenção por atingir uma área urbana. “Por exemplo, o de julho foi bem grande, mas a provável área de dispersão dele foi na zona rural, com menos gente”.

Os fragmentos vêm de asteroides que transitam no espaço e acabam colidindo com a atmosfera terrestre. “A atmosfera da Terra funciona como um escudo. A resistência do ar vai aquecendo o ar em volta e as pedras, desintegrando completamente essas rochas espaciais que atingem a Terra com frequência”, explica Zurita. Segundo Adalberto Tavares da Silva, técnico do Laboratório de Astronomia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), esses minerais são de valor inestimável para a ciência. “É através da coletiva e da análise que nós compreendemos o material que formou o Sistema Solar. E é importante também para entender o futuro e fazer algum tipo de previsão de onde ele pode cair”, afirma.

Por isso, desde que os relatos sobre a chuva de meteorito ganharam o mundo, pesquisadores e “caçadores de metais” passaram a circular pela cidade pouco acostumada a grandes movimentações. Enquanto alguns moradores doam pedras a estudiosos, outros guardam para vender. O prefeito de Santa Filomena, Cleomatson Vasconcelos, diz que o uso comercial de pedras de meteorito não é regulamentado por lei. 

“Algumas pessoas chegaram alguns dias depois do fato oferecendo dinheiro de uma forma aleatória. Criou-se até uma ‘corrida do ouro’”, descreve. “Somos um município pacato, que vive da agricultura familiar, então não tenho orçamento para fazer um investimento [em recolher os fragmentos]. Procuramos o Ministério de Ciência e Tecnologia, a Secretaria de Ciência e Tecnologia e pesquisadores que possam ajudar o município”.

Com informações de Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

A curiosa origem do mito de que a alma humana pesa 21 gramas



ilustração de balança com pena de um lado e o desenho de representando uma alma do outroDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionUm experimento nos Estados Unidos já tentou medir o peso da alma

Se os antigos egípcios estiverem certos, após a morte nós empreendemos uma longa e tortuosa jornada dentro no barco de Re ou Ra, o deus Sol, até chegarmos ao Salão da Dupla Verdade, para enfrentar o Julgamento da Alma.

No clímax, o coração — no qual todas as boas e más ações são registradas — é pesado em uma balança para ser comparado com a pena de Maat, a deusa da Verdade e da Justiça.

Se tivermos levado uma vida decente, nossa alma pesará menos ou o mesmo que a pena, e será possível viver para sempre no paraíso com Osíris.

Ecos dessa cerimônia apareceram em um estudo publicado nas revistas American Medicine e no Journal da American Society for Psychic Research em 1907 sob o título "Hipótese sobre a substância da alma junto com a evidência experimental da existência dessa substância".

O peso da alma

Uma manchete do jornal The New York Times, o primeiro a publicar o resultado do estudo, foi mais clara e concisa: "A alma tem peso, diz um médico."

Balança FairbankDireito de imagemTHOMAS
Image captionAntes das escalas de Fairbanks, a pesagem precisava de objetos para pendurar objetos em uma trave de equilíbrio; como resultado, objetos particularmente pesados ​​não podiam ser pesados ​​com precisão

O médico em questão era Duncan MacDougall, que nasceu em Glasgow, na Escócia, em 1866, e se mudou para Massachusetts, nos Estados Unidos, aos 20 anos. Ele então se formou em Medicina na Universidade de Boston.

Como profissional, ele trabalhou de maneira voluntária em um hospital de caridade para pacientes incuráveis ​​na cidade de Haverhill.

A balança ideal

A sede original da Casa da Tuberculose Cullis pertencia a um comerciante que negociava com a China e, quando ele se mudou, tudo foi trazido para o novo prédio, até mesmo artefatos irrelevantes.

Um deles era uma balança de plataforma padrão Fairbanks, um dispositivo inventado em 1830 que se tornou mundialmente famoso por permitir que grandes objetos fossem pesados ​​com precisão.

Encontrar balança em um hospital onde a morte era uma constante fez MacDougall ter uma ideia: por que não tentar pesar a alma?

Segundo o artigo publicado no The New York Times seis anos depois, seu objetivo era investigar "se a saída da alma do corpo eram acompanhada por alguma manifestação que pudesse ser registrada por algum meio físico".

Embora seu propósito não fosse tão importante quanto o dos deuses egípcios, implicitamente o escopo de seu estudo, sim.

ilustração de uma 'alma' flutuandoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionSegundo algumas religiões, a alma é uma substância espiritual e imortal dos humanos, que deixa o corpo após o morte

MacDougall partiu da premissa de que a alma deixa o corpo na hora da morte, então ele não questionasse sua existência. O resultados de sua pesquisa tinham o potencial de provar cientificamente que a alma existe, embora não fosse essa a sua intenção.

Ele construiu uma cama especial ao colocar uma estrutura leve em balanças delicadamente equilibradas, sensíveis a dois décimos de onça (cada onça equivale a 28,3 gramas).

No local, eram colocados pacientes em fase terminal, que eram meticulosamente observados durante e após o processo de morte.

Qualquer variação correspondente ao peso era medida, levando-se em consideração nos cálculos até perdas de fluidos corporais, como suor e urina, e de gases, como oxigênio e nitrogênio.

Com "quatro outros médicos" sob sua direção, "cada um fazendo suas próprias medições", foi estabelecido, de acordo com MacDougall, que "um peso de 0,5 a 1,25 onça deixa o corpo no momento da morte".

"No instante em que a vida cessa, a bandeja na balança oposta caiu com velocidade surpreendente, como se algo tivesse deixado repentinamente o corpo", disse o médico.

MacDougall também fez o mesmo experimento com 15 cães e observou que "os resultados foram uniformemente negativos, sem perda de peso na morte", corroborando a hipótese de que a perda de peso registrada em humanos foi devido à saída da alma do corpo, visto que (de acordo com sua doutrina religiosa) os animais não têm almas.

Problemas metodológicos

Um problema sério com aquele estudo que durou seis anos é que foi baseado exatamente em um número pequeno de casos: seis.

Além disso, duas pessoas não puderam ser consideradas para os resultados. A primeira porque "infelizmente nossas balanças não foram ajustadas com precisão e houve muita interferência de pessoas que se opuseram ao nosso trabalho", segundo MacDougall.

O outro caso foi descartado porque "não foi um teste justo: o paciente morreu quase cinco minutos depois de ser colocado na cama e enquanto eu ajustava a haste".

E não só a conclusão partiu da observação de apenas quatro casos. Embora em três tenha havido queda imediata de peso, em dois deles o peso aumentou com o tempo. Já no quarto caso, a queda foi revertida, e depois se repetiu.

Adicione a isso o fato de que MacDougall e sua equipe tiveram dificuldade em determinar a hora exata da morte, um fator determinante na investigação.

Para ser justo, embora vários jornais (principalmente da região mais religiosa dos Estados Unidos) tratassem os resultados do experimento como uma prova irrefutável da existência da alma, o próprio MacDougall não estava convencido de que seu trabalho havia provado alguma coisa.

Para ele, seu relatório foi uma avaliação preliminar e mais estudos eram necessários.

Mas nem isso nem o fato de que a comunidade científica negou a validade do experimento o impediu de influenciar o público.

A ideia de que a alma pesa 0,75 onça, ou melhor, 21 gramas, que foi a diminuição de peso registrada no primeiro caso do experimento de MacDougall, continua viva.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 1 de setembro de 2020

João Caboclo confirma pré-candidatura a vereador em Bom Jardim




(João Caboclo, pré-candidato a vereador)

Buscando a mudança e a renovação na Câmara Legislativa de Bom Jardim, João Manuel dos Santos (PT), conhecido como João Caboclo, chega como nome promissor para as eleições de 2020. Carregando uma herança importante de seus pais que possuem grande histórico de luta pelos trabalhadores, o pré-candidato volta o seu foco a igualdade social, promovendo a participação popular na gestão do município. “Eu conheço e vivencio de perto as necessidades da população há muito tempo”, destacou João Caboclo. “Desde muito jovem, estive perto da luta de meus pais pelo povo desta cidade. O exemplo deles me inspira a fazer um trabalho ainda melhor para os bonjardinenses”, afirmou.
Para a mãe do pré-candidato, Margarida do Sindicato, o filho sempre demonstrou interesse nas causas sociais e no desejo de representar a causa dos trabalhadores.                    “Estamos juntando nossos esforços para que João possa ser eleito. Acreditamos na vitória e na vontade do povo de ser representado por alguém que também é do povo”, enfatizou Margarida que foi vereadora no município por quatro mandatos consecutivos. 
Casado, 38 anos, João “Caboco” – como é chamado- também sempre esteve ligado a realidade de quem vive no campo e sobrevive da agricultura. “Sempre estive engajado na atividade do campo e da agricultura familiar para promover o bem comum. Formado em técnico agrícola, no EREM Justo Lino Ferreira Gomes, em 2008, o pré candidato destaca ser necessário voltar atenção para a geração de emprego e por consequência, promover melhorias para o município.
A história de vida e trabalho de João Caboclo também é destacada pelo pai, o ex-vereador, Manuel Francisco dos Santos, o Mané Caboclo. “Temos a oportunidade de colocar na Câmara uma pessoa jovem, forte e com uma visão muito boa e verdadeira do que realmente o povo de Bom Jardim precisa”, revelou. “Pedimos aos trabalhadores do nosso município que coloquem o bem estar de Bom Jardim e as oportunidades de melhorias para a classe trabalhadora nas mãos de quem realmente é possível confiar”, concluiu Manuel.
Fonte: Blog Acesse Notícia Já
Professor Edgar Bom Jardim - PE

O Rio miliciano





O Brasil possui muitas capitais ou cidades de belezas monumentais, mas transas nada decentes e grupos preparados para o crime organizado. O caso do Rio de Janeiro é exemplar.Perdeu o charme, depois de tantos roubos feitos nos cofres do Estado. O inesquecível Sérgio Cabral continua nas manchetes. Ganhou destaque, está preso, faz tempo, porém é um assaltante de dotes fabulosos e de seguidores espertos. Sobram Benedita e Leonel. As milícias ocupam espaços. não só nos morros, sobem palácios, esnobam em todas as recepções ditas finas. Temem alguma coisa?

Não esqueça da polêmica família Bolsonaro. Jair é graciosos, gosta do vírus e engana com facilidade. Ensinou para todos suas idas e vindas e criou filhos para o ódio e negação da dignidade. Em Brasília, empurram escândalos, se dizem inocentes, gritam como antigos senhores capitães do mato. Sente-se o descaso com o dinheiro público.Não se cansam de mentir, de correr paras as cavernas do cinismo e desenhar quadros celebrativos das desigualdades. São íntimos das astúcias palacianas, amigos de discursos evangélicos, cultivam preconceitos.

Tudo espantoso. O país numa corda bamba. Não faltam pastores milionários e milagres de salvação. Muitos acompanham Malafaia, Everaldo, Edir soltos para imaginar magistrais golpes.A política vive naufrágios contínuos e não se sabe quando haverá respiração para segurar a honestidades. Os condenados enchem prisões e fazem amizades. Muitos assassinatos, inocentes mortos, polícia expandindo a corrupção e conservadorismos que afirmam desditas do passado.

Lamenta-se que a Cidade Maravilhosa decline assustadoramente. As falcatruas se espalham e vão de Norte ao Sul.Existe saída ou as eleições formam quadros de especialistas em propagandas danosas? O Brasil mantém intrigas e pouco liga para sacudir fora a miséria,pois os governos se viciaram na negação constante, num populismo totalmente desfigurado.As quedas preparam um violência incessante e desespero para quem cultiva a fraternidade. Há uma cansaço de alguns e uma dança perversa de outros. O peso é grande e a mediocridade dói.

 A astucia de Ulisses

Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

PE: aulas presenciais do ensino superior podem voltar em 8 de setembro; ensino básico segue suspenso




As aulas presenciais em instituições de ensino superior das Macrorregiões 1, 2 e 4 (delimitada na Geres VIII ,com sede em Petrolina) receberam o aval do Governo do Estado para serem retomadas a partir do próximo dia 8 de setembro. A data foi anunciada pelo secretário estadual de Educação, Fred Amâncio, em entrevista coletiva online na tarde desta segunda-feira (31). O secretário também anunciou a prorrogação do decreto sobre a Educação Básica em todo o Pernambuco, mantendo as aulas suspensas até o dia 15 de setembro.

A macrorregião 1 engloba a Região Metropolitana do Recife e as Zonas da Mata Norte e Sul; e a 2 compreende os municípios de Caruaru, Garanhuns e seus entornos, no Agreste. Já a 8ª Geres, que faz  parte da macrorregião 4, reúne as cidades do grupo que tem como polo o município de Petrolina, no Sertão. Estão fora dessa autorização de aula presencial do Ensino Superior a macrorregião 3 e as Geres com sede em Arcoverde, Serra Talhada e Afogados da Ingazeira, assim como as duas Geres que são da macrorregião 4 com sede em Ouricuri e Salgueir

De acordo com o secretário estadual de Saúde, André Longo, também presente na coletiva, ainda não é possivel igualar a situação epidemiológica de todas as regiões de Pernambuco. "Ainda não há uma homogeneidade dentro das proprias macrorregiões. Ainda temos  situações em algumas das Gerências Regionais de Saúde (Geres) que ainda exigem cuidado. A gente ainda não tem esse comportamento uníssono nos 15 dias em todas as regiões. É por isso que nós não vamos tomar medidas homogêneas para todas as macrorregiões do Estado", explicou. 

Segundo o Governo de Pernambuco, o protocolo para o retorno das aulas nas faculdades será divulgado até a próxima sexta-feira (4), e caberá a cada instituição a decisão da retomada - ou não - das aulas. "Além de se tratar de uma autorização dada pelo Comitê de Combate à Covid-19, vale destacar que é um público adulto atendido. Outro ponto a ser destacado é que esse processo de retomada vai ser feito em etapas, e as aulas poderão assumir, a partir da decisão das instituições, várias configurações", observou Fred Amâncio.

O retorno das aulas presenciais nas faculdades, segundo o Governo de Pernambuco, será escalonado. Na primeira etapa, que começa dia 8, as instituições de ensino só poderão receber até 25% da sua capacidade. No dia 14 de setembro, as atividades poderão ser retomadas com com até 50% da capacidade de estudantes. O retorno às aulas presenciais segue nos dias 21 e 28 de setembro, estando as instituições estão autorizadas a retomarem as atividades com 75% e 100% de sua capacidade, respectivamente. "A própria instituição vai definir quais são as turmas e cursos que vão retomar. É uma decisão que vai caber a cada uma das instituições. Mas a nossa sugestão é que a grande prioridade seja dada para os estudantes concluintes", indicou o secretário Fred Amâncio. 

Com informações da Folha de Pernambuco

*Foto:Arquivo Blog ProfessorEdgarBomJardim

Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 30 de agosto de 2020

Como Datena e os programas pinga-sangue ensinaram os evangélicos fundamentalistas a odiar




Os programas sensacionalistas educaram o brasileiro no ódio ao bandido e parecem ter alcançado de forma particular o coração dos fundamentalistas.

É UMA LUTA que provavelmente as gerações mais jovens não conhecem. A guerra da televisão. Nos tempos de TV CRT de 30 quilos, anos 1990, era comum ter uma só em casa. Então, um controle-remoto dava um poder desproporcional a quem dele se apossava.

Na minha casa, quem detinha o poder era o pastor. Meu avô. Como um toque de recolher, minha liberdade de escolher o que ver na TV terminava todo dia às 4h da tarde. Era quando começava a maratona de programas favoritos dele. O primeiro era Carlos Alborghetti, o furioso apresentador que virou um meme. Depois o “Aqui Agora”, um ambicioso e bem financiado projeto de jornalismo sensacionalista, que duraria até 1997. Terminava com o Telejornal Brasil, de Boris Casoy. O primeiro de uma afiliada da TV Gazeta em Curitiba, os demais, por uma do SBT de Sílvio Santos. No total, a tirania do pastor sobre a TV durava cinco horas.

Talvez o velho estivesse se esbaldando com um novo vício. Ser pastor da Assembleia de Deus era guiar uma igreja na qual o consenso era que crente nem sequer devia ter TV em casa. Não chegava a ser proibido, mas passava a impressão que o dono da TV não tinha compromisso com o modo de vida cristão e permitia às tentações do mundo entrarem em casa pela antena. E, dentro do espaço possível na Assembleia na década de 90, meu avô era até moderno: não tinha nada contra calças para mulher ou cortar o cabelo. Dizia que essas coisas eram só costumes, não doutrina (isto é, são coisas não bíblicas, só hábitos da igreja). Mas TV mesmo, ele só foi ter depois de aposentado.

Mas quando teve uma, esbaldava-se em programas pinga-sangue. Hoje ou 30 anos atrás, quem viu a cobertura jornalística de um programa pinga-sangue, viu todas. “Travesti injeta silicone industrial e pede ajuda para não morrer” – apresentador chama de imbecil, mas ajuda. “Esposa queima marido com álcool”. “Marido esfaqueia esposa e joga no riacho”. Alguém faz sexo com animais. Crimes menos espetaculares. Gente pobre. Sempre o bandido tentando esconder a cara da câmera, o policial forçando. Alguns vítimas terminando tão humilhadas como seus abusadores. 



Jacinto Figueira Júnior, ‘O Homem do Sapato Branco’, foi um dos pioneiros no show de miséria nos anos 80.

 

Foto: Reprodução/Youtube - SBT

Crias da ditadura

Sempre odiei esses programas, mas até pouco tempo atrás nunca havia pensado na ideologia que eles transmitem. Quando eu vi o documentário “Bandidos na TV”, na Netflix, me deu o estalo. Programas pinga-sangue estão entre os maiores eleitores de Bolsonaro: eles influenciaram os crentes a odiar não só o pecado, mas o pecador.

O pinga-sangue educou o brasileiro no ódio ao “bandido” – ódio também ao “amigo do bandido” e seus “direitos humanos”. Por diversas razões, parece ter falado de forma particular ao coração dos fundamentalistas, ajudando-os a desabrochar nas figuras agressivamente políticas do presente.

Um pouco de história: programas pinga-sangue têm origem nos tempos da ditadura. “Um dos pioneiros nesta linha foi Jacinto Figueira Júnior, que estreou, em 1966, o programa ‘O Homem do Sapato Branco e permaneceu no ar com seu show de misérias por vários anos”, escreveu o filósofo e teólogo padre Jaime Carlos Patias, em “O telejornal sensacionalista, a violência e o sagrado”. “Seu programa foi veiculado pela Bandeirantes, Globo, SBT e até mesmo pela TV Cultura, emissora teoricamente mais preocupada com o padrão de qualidade da sua programação.”

Jacinto começou na TV e depois foi também para o rádio. Várias outras figuras pioneiras, como Gil Gomes, Afanásio Jazadji e Carlos Alborghetti, começaram como radialistas de noticiário policial antes do fim do regime. Em 1968, Gil Gomes descobriu que um crime sexual havia ocorrido no mesmo prédio de sua rádio e resolveu, pela primeira vez, cobrir ao vivo, andando com o microfone, inaugurando seu estilo dramático.

Nessa época, a ditadura e os sensacionalistas estavam mais ou menos em lados opostos. Jacinto, eleito em 1966 deputado estadual em SP pelo MDB, a oposição permitida pela ditadura, perdeu o mandato (por “atentado contra a moral e bons costumes”), em 1969, após o AI-5, e foi tirado do ar até 1979. Gil Gomes relatou que foi preso 30 vezes no período.

‘Sempre odiei esses programas, mas até pouco tempo atrás nunca havia pensado na ideologia que eles transmitem’.

A era de ouro do sensacionalismo viria na democracia. No momento em que a censura foi banida, com a Constituição de 88. Foi uma época em que as TVs partiram para testar os limites. Fausto Silva falando palavrão no meio da tarde – parece difícil de acreditar hoje, mas babaca e pentelho já foram palavrões. No SBT, surgia um programa baseado em mostrar seios, “Cocktail”. A banheira do Gugu. Em 1991, o já citado noticiário pinga-sangue “Aqui Agora” (que o Sílvio Santos, aliás, pretende trazer de volta).

É um paradoxo. A ditadura não se entendia com o pinga-sangue, mas no final das contas o pinga-sangue acabou por abraçar, reproduzir e divulgar talvez a mais duradoura herança da guerra suja, do porão da ditadura. A cultura da brutalidade policial, da ilegalidade, do grupo de extermínio.

Isso porque, nesse ramo, de certa forma, o papel do jornalista não é só ser simpático ao policial. Ele se confunde com o próprio policial. Em entrevista ao Intercept, o jornalista Danilo Angrimani, autor de “Espreme que sai sangue: um estudo do sensacionalismo na imprensa”, traz um exemplo antigo. “Essa ‘promiscuidade’ entre o repórter policial e a polícia não é nova. Lembro de Nelson Gatto, que prendeu, pessoalmente, um bandido e rendeu a manchete ‘Promessinha preso’, em letras garrafais no Última Hora, em 1958. Ou seja, ele não se limitava a informar. Ele mesmo ‘criava’ a notícia”.

Ritual na TV

Os dois estudiosos descrevem o papel do apresentador-sensacionalista como um agente da notícia. “O sensacionalismo opera em uma espécie de balança, atuando, às vezes, como transgressor e, em outros momentos, como ‘instrumento’ de punição”, afirma Angrimani. “O veículo sensacionalista, em alguns momentos, alardeia a quebra da ordem e, em outros, glorifica o restaurador da moralidade.”

O filósofo e teólogo Jaime Patias faz uma análise sob a ótica religiosa dos programas sensacionalistas. Com base no trabalho do filósofo francês René Girard, estabelece uma distinção entre violência sagrada e profana, suja e limpa, pecaminosa ou purificadora. Como funciona: as vítimas em um programa policial, lesadas pela violência profana, são resgatadas pela violência sagrada. “Quando um sistema ou instituição se coloca acima das demais instituições, ao combater a violência, o faz como violência purificadora”, afirma. “A sua atuação se dá numa dimensão religiosa, transcendental.”

Isto é a polícia, acima das leis, ocupando uma função sagrada, e o apresentador cumprindo um papel de sacerdote, numa espécie de ritual de expiação do pecado. “No apresentador [José Luiz] Datena, do Brasil Urgente, percebe-se traços característicos de mediador religioso que se pretende purificador ante a violência comum”, define.



O jornalista e radialista Gil Gomes do “Aqui e Agora”, levado ao ar pelo SBT.

 

Ari Vicentini/AGE via Estadão Conteúdo

E aqui retornamos ao meu avô. Patias defende que essa relação do espectador com o apresentador é uma substituta da religião. “De certa forma, a mídia é, ao mesmo tempo, produtora da notícia e detentora das grandes verdades e soluções. Dessa forma, ocupa o lugar que outrora foi de Deus, como a verdadeira religião a quem a pessoa recorre.”

Não consigo imaginar meu avô pastor realmente trocando Deus por Datena. Acredito que é algo que corre em paralelo. Uma espécie de sincretismo, digamos assim.

Quando a gente brigava pelo controle da TV, eu achava que o entusiasmo do meu avô por programas policialescos era mero mau gosto, falta de estudo – apesar de, por causa de sua profissão, o pastor ser o único na família a ter uma biblioteca não era decorativa.

Mas a relação era mais profunda. Bíblica. A TV sensacionalista traz uma visão do mundo externo que condiz com o que os evangélicos fundamentalistas pensam. É um mundo caído, em pecado, onde a falta de Jesus no coração leva a todo tipo de abominação, de desgraça, de vergonha. A violência profana da qual fala o professor Patias, que domina o mundo fora da igreja. Ou simplesmente “O Mundo”, como gostam de falar.

Basicamente tudo na vida de um crente fundamentalista se divide entre O Mundo e a Graça, a vida em pecado e em comunhão com Cristo. Coisas d’O Mundo são ruins: música, filmes, ciência que contradiz a Bíblia, bebida, drogas, sexo, tudo o que pode levar o crente a se perder. Um filme ou música profana são a porta de entrada do Diabo na vida de alguém. O objetivo da vida de um evangélico fundamentalista é viver ao máximo segregado d’O Mundo. Essa era a razão para os crentes antigos rejeitarem a televisão.

“O pastor, ao falar para seus fiéis, cita o Diabo como responsável por todas as transgressões”, afirma Danilo Angrimani. O crente precisa se afastar do Diabo, para não pecar mais, para não transgredir.” Os pinga-sangues mostram a vida profana, o mundo do Diabo, exatamente como os crentes o imaginam.

‘Os pinga-sangues mostram a vida profana, o mundo do Diabo, exatamente como os crentes o imaginam’.

Do lado oposto, eles já trazem uma visão que se parece com a do policial encarnado em anjo vingador por esses programas. Uma cultura de autoridade, de leis duras, de tradições pétreas e de guerra – uma guerra constante com o Mundo, o pecado, como é a “guerra” contra o crime do policial militar brasileiro. Uma cultura na qual o bandido está do lado do diabo, em que é basicamente um possesso. E uma cultura policialesca na qual aqueles que se opõem às ações da polícia são como pedras no caminho desse trabalho sagrado. Defender os direitos humanos dos encarcerados e dos alvos da polícia é estar do errado da guerra santa contra o crime. Os que fazem isso costumam ser os mesmos que defendem aborto, religiões afro e “gayzismo”. A esquerda, assim, passa a ter algo de satânico.

Em um programa de 2010, José Luiz Datena demonstrou, de forma transparente, essa relação. Atribuiu a execução de uma criança de dois anos à “ausência de Deus”, num nietzschianismo vulgar.

“Esse é o exemplo típico de um sujeito que não acredita em Deus. Matou um menino de dois anos de idade. Essa gente é quem mata, enterra pessoas vivas, quem estupra, quem violenta nossas mulheres. (…) É por isso que o mundo está essa porcaria, guerra, peste, fome e tudo mais. São os caras do mal. (…) Quem não acredita em Deus não tem limite. Quem não acredita em Deus não respeita limite porque se acha o próprio Deus”.

O insulto mobilizou os descrentes do Brasil. Datena acabou perdendo judicialmente contra a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos, a Atea. Mas o resultado foi, segundo o presidente da entidade, “vinhetas bem aguadas e genéricas sobre tolerância religiosa”.

Da minha parte, na época, soou uma coisa óbvia a alguém como Datena dizer. Um insulto no topo de uma montanha. Datena – e pouco importa o que pense ou diga sobre Bolsonaro em si – representa uma faceta central desse bolsonarismo ancestral no qual eu fui criado.

Mas poderia ter sido diferente. Eu mesmo nunca imaginei que um dia haveria um presidente “deles”. Quem sabe os crentes fundamentalistas – e o Brasil – tivessem ficado melhor se continuassem sem televisão.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 29 de agosto de 2020

Panfletos catarinenses para tirar pobres da vista




Por Paolo Colosso e Maria Inês Sugai

Nesta semana, um jornal do grupo ND (Notícias do Dia), de Santa Catarina, publicou uma série de reportagens sobre as áreas de pobreza em Florianópolis e municípios vizinhos que chocou urbanistas por sua combinação de inconsistências e preconceitos.

Através do jornal ND+ e da NDTV, que possui seis emissoras afiliadas à Record TV, lançaram um caderno denominado “Relatório Cidade Ameaçada”.

O caderno é, na realidade, um conjunto de panfletos que reproduzem justificativas pretensamente racionais para dar fundamento às insatisfações de elites conservadoras, ao oportunismo do mercado imobiliário e de grupos empresariais e o desejo permanente de manter os mais pobres afastados das áreas de seus interesses.

Na cesta de pérolas do jornal há afirmações como “a nova rocinha não é aqui em Florianópolis”, comparando com a “ocupação favelada de morros” do Rio de Janeiro e propondo a seguinte solução: “ainda há tempo de expulsar”. Enquanto isso, a trajetória da pandemia sequer foi mitigada na capital.

Boa parte do “relatório” mobiliza e reforça incongruências e lugares comuns que permeiam o imaginário social, como o “crescimento desordenado”, o “caos urbano” gerado por “invasões” e “obras clandestinas”. As reportagens reproduzem a torto e a direito estigmas que vinculam as ocupações e áreas de informalidade a uma população perigosa, onde estão as “facções criminosas”, que tornam a “cidade ameaçada”.

O discurso de ódio é recheado por imagens e algumas opiniões de profissionais que parecem incitados por questões tendenciosas e cujas respostas se tornam insuficientes em meio a tantos estereótipos e preconceitos.

A urbanização nunca foi desordenada, mas sempre seguiu a ordem de um poder público muito generoso com as camadas de alta renda e compromissado em satisfazer suas pressões e garantir os seus interesses, porém, extremamente omisso com os mais pobres. Mesmo nos tempos de intensa urbanização no Rio de Janeiro, em São Paulo ou Florianópolis, não faltou planejamento.

No geral, historicamente, o poder público sempre destinou os seus planos e os grandes investimentos em infraestrutura e serviços públicos para sustentar projetos grandiosos de elites ou para abrir frentes de investimento para o capital imobiliário, segregando os excluídos e invisibilizando essa realidade do conjunto da população. A prioridade sempre foi garantir espaços urbanos com qualidades semelhantes às cidades da Europa e dos EUA. Governantes e camadas de alta renda criavam as áreas embelezadas onde viviam, enquanto deixavam à própria sorte os subalternos que faziam o cotidiano urbano funcionar e ainda eram estigmatizados como violentos e perigosos.

O fim do século XIX e o século XX todo estão perpassados de intervenções urbanísticas setorial e privilegiada, contribuindo para ampliar e consolidar o atual apartheid social e a segregação urbana. Foi assim que se formaram as periferias, os morros, as favelas, e todas as áreas de pobreza; e é assim que se reproduzem as desigualdades hoje, sobretudo porque os investimentos setorizados geram curvas de especulação muito acima da alta dos salários, elevando o custo da terra urbanizada, impedindo que as camadas pobres consigam habitar dignamente e usufruir das cidades.

Precisamos reconhecer que outras reportagens mostram mais consciência, ao reconhecerem que a valorização da ilha “empurrou a população mais pobre para as encostas de morros e periferias”. E também até têm uma razão (cínica) ao dizer que “favelas desvalorizam o entorno”. Mas o fato é que nenhuma delas vai a fundo no problema e muitas questões ficam sem respostas.

Qual a parcela de responsabilidade das camadas que querem fazer de Florianópolis a cidade inteligente, sustentável, internacional e que, junto de seus governantes, investem em ilusões, em saneamento e transporte para todos, ao invés de investir em moradia adequada? Os culpados pela pobreza urbana são os que vão para as áreas centrais em busca de sobrevivência, de moradia, de emprego e ainda são sub-remunerados, ou a culpa é donos de glebas que assediam a prefeitura para que a área urbanizada possa avizinhar-se dos seus terrenos? A responsabilidade de toda essa desigualdade recairia sobre os promotores imobiliários e empresários da construção civil que se utilizam de financiamento publico para investir onde têm interesse e do modo que desejam, ou sobre os pobres que perdem longas horas diárias em transportes ruins, abarrotados e em vias precárias?

Numa caricatura, Florianópolis é isso: na aparência, uma cidade internacional, qualificada, com patrimônio natural, arquitetônico e histórico preservados, uma futura smart city, mas com áreas de pobreza nas depressões dos morros, nas periferias e no continente, com mobilidade urbana inadequada, transporte publico insatisfatório, moradias com preços altamente especulados, além de precariedade no abastecimento de água e saneamento.

As reportagens do ND+ de Santa Catarina não falam desse processo histórico de construção da cidade, tão pouco sobre as situações dos que moram nessas ocupações e nos assentamentos informais, onde vivem milhares de famílias com muitas crianças e muitos idosos.

O noticiário parece ignorar que a imensa maioria dos que moram ali são trabalhadores, não apenas nas atividades informais. Muitos trabalham nos supermercados, como motoristas de ônibus e caminhões, em shoppings centers, escritórios, na politica militar e até no serviço público. Ao dizer que as favelas e seus modos de vida desvalorizam os bairros do entorno, trazendo imagens de habitações precárias e de criminalidade, essas opiniões fortalecem os estereótipos. Somado à omissão do poder público, esse discurso legitima a ação violenta de policiais despreparados a baterem nesses trabalhadores e na juventude negra e pobre, pois responsabilizam esses trabalhadores e suas famílias pela depreciação e pela ameaça à cidade. É importante lembrar que esse tipo de opinião, quando publicada em jornais com grande circulação local, ganham ar de legitimidade pública.

No limite, essas narrativas povoam o imaginário de playboys que queimam morador de rua. Esses sujeitos e setores da mídia não se dão conta de que, ao reforçarem esses estigmas e preconceitos, contribuem para acirrar a incompreensão recíproca, o ódio, a hostilidade e a violência.

Esses panfletos conservadores são verdadeiros manifestos anti-urbanos, que não só inviabilizam o convívio e a solidariedade, mas, sobretudo, incitam a vida social apartada e hostil: os pobres isolados em suas comunidades, as camadas de alta renda encasteladas em condomínios fechados e as camadas médias com medo, atrás de câmeras, grades e dentro de shopping centers.

Ainda que entremos num domínio das hipóteses, não podemos diminuir a capacidade da imprensa em absorver as insatisfações difusas de seus simpatizantes e apoiadores. É de se supor que essa ofensiva pedindo limpeza social seja uma forma de pedir a abertura de frentes pra os negócios imobiliários, que de 2009 a 2015 se acostumaram a ganhar muito, mas desde 2016 oscilam entre estagnação e crescimento pífio, por conta da crise econômica nacional, agora acirrada pela pandemia.

Entretanto, essas reportagens-panfleto não são apenas nocivas, elas também têm o seu lado didático. Há ali material riquíssimo para muitas aulas sobre como a urbanização desigual e segregadora se reveste de narrativa racional e legitima uma sociedade fraturada. São didáticas também, na medida em que convocam professores, profissionais e entidades responsáveis a estarem mais presentes nos debates públicos porque, do contrário, estes são ocupados por pessoas despreparadas, opiniões inconsistentes e por vezes oportunistas.

Se as camadas populares não têm voz, se os urbanistas e as universidades não debatem como as cidades funcionam e são produzidas, outros atores sociais se sentem à vontade para fazê-lo. E, na realidade, é exatamente isso que eles têm feito, quase sempre denunciando os problemas e tragédias sociais como sendo causados pela ausência de fiscalização, pela irresponsabilidade dos moradores das favelas, ou por serem casos de polícia.

O mesmo serve a jovens e estudantes das mesmas disciplinas: vejam a importância de disputar as narrativas sobre a cidade. Não podemos deixar que atores sociais tão irresponsáveis se coloquem no papel de dizer qual cidade queremos para o futuro. O que mais precisamos neste momento é disputar esse futuro. As reportagens-panfleto destilam agressividade sem propostas efetivas, a não ser criminalizar as comunidades pobres, depreciar aqueles que buscam subsistir na cidade, e exigir do poder público fiscalização rigorosa, policiamento ostensivo, remoção da pobreza e o distanciamento.

Cabe a nós recolocar no horizonte que uma política urbana responsável demanda, antes de tudo, uma redistribuição justa de investimentos públicos, com critérios claros sobre as necessidades sociais urgentes. Em seguida, é necessário dar atenção para a multiplicidade das necessidades habitacionais, ou seja, a regularização fundiária, a urbanização de assentamentos precários, a melhoria através de reformas ou de manutenção das moradias, além de construção de novas moradias de interesse social em áreas centrais e providas de serviços públicos e de infraestrutura urbana.

Para tanto, é preciso mobilizar redes de entidades técnicas e profissionais, instituições governamentais das esferas municipais e estadual, as universidades e institutos compromissados com os reais desafios, com a implementação de legislação urbanística e especifica como lei da Assistência Técnica para a Habitação Social e, certamente, com os recursos públicos necessários e a gestão social do processo. É com essas redes que podemos recolocar um horizonte de cidade minimamente mais qualificada, mais inclusiva, mais digna, mais segura e mais justa para todas e todos.

Maria Inês Sugai é professora associada na Universidade Federal de Santa Catarina, onde foi coordenadora do Programa de Pós-Graduação. Foi membro do Conselho Estadual das Cidades do Estado de Santa Catarina e compõe a coordenação da Rede BrCidades Santa Catarina.

Paolo Colosso é professor no Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Arquiteto e urbanista, é bacharel em filosofia pela Unicamp, mestre e doutor em filosofia pela USP. Atualmente compõe a coordenação nacional da Rede BrCidades.

Com informação de Carta Capital


Professor Edgar Bom Jardim - PE

Chadwick Boseman, estrela de “Pantera Negra”, morre aos 43 anos




O ator Chadwick Bosman, estrela do inovador filme de super-heróis “Pantera Negra”, faleceu de câncer de cólon aos 43 anos nessa sexta-feira 28.

Bosman nunca havia falado publicamente sobre a doença, que foi diagnosticada pela primeira vez em 2016, e continuou trabalhando em diversos filmes de Hollywood.

“Foi um honra para sua carreira dar vida ao rei T’Challa em Pantera Negra”, afirmou uma declaração postada nas redes sociais do ator. “Ele faleceu em casa, com a esposa e a família ao seu lado”.

Boseman se tornou o primeiro ator negro a interpretar um super-herói como protagonista em seu próprio filme do universo Marvel, estrelando em “Pantera Negra”, um enorme sucesso de bilheteria em 2018. O filme arrecadou mais de 1 bilhão de dólares em todo o mundo.

A obra, ambientada no fictício reino africano de Wakanda, foi aclamada pela crítica e pelo público e disputou o Oscar de melhor filme.

No início da carreira, Boseman interpretou os ícones negros Jackie Robinson em “42: A História de uma Lenda” e James Brown em “Get on Up”.

Recentemente, apareceu em “Destacamento Blood”, do diretor Spike Lee, e estrelaria na continuação de “Pantera Negra”, prevista para 2022.

Com Folha de Pernambuco


Professor Edgar Bom Jardim - PE