segunda-feira, 15 de junho de 2020

Aulas online obrigam milhões de alunos a usar app de empresa desconhecida que criou TV Bolsonaro



UMA EMPRESA com sede numa sobreloja sem identificação na Região dos Lagos do Rio de Janeiro é a responsável por aplicativos usados por 7,7 milhões de alunos e professores de São Paulo, Paraná, Amazonas, Pará e Piauí para aulas à distância. A empresa, desconhecida mesmo no meio em que atua, é ligada a políticos bolsonaristas e a um acusado de participar de uma rede de prostituição de menores de idade.

Contratados a toque de caixa por conta da pandemia, os aplicativos têm problemas: apresentam defeitos de transmissão de som e imagem e não funcionam em celulares mais antigos. Mais grave, entregam à IP.TV, a empresa que os desenvolveu, uma série de dados pessoais de estudantes menores de idade e seus professores. E, em um dos apps, os alunos são expostos diretamente a mentiras e teorias da conspiração bolsonaristas.

A empresa, que em três meses saiu da obscuridade para se tornar a principal fornecedora de tecnologia para aulas à distância da rede estadual do país, entrou no negócio por acaso.

Até a pandemia, que tornou o ensino à distância fundamental, a IP.TV tinha em seu currículo um único produto de sucesso. Trata-se do Mano, um aplicativo de streaming de vídeos criado em 2018 para que a campanha de Jair Bolsonaro a presidente pudesse driblar os vetos de redes sociais a notícias falsas. À época, o garoto-propaganda do Mano foi Flávio Bolsonaro, atualmente senador pelo Republicanos do Rio de Janeiro e enrolado em investigações que o colocam como parceiro de milicianos.


O principal canal do Mano é justamente a TV Bolsonaro, criada para espalhar as mentiras e teorias da conspiração que alimentam a fanática claque do presidente de extrema direita. Quem frequenta o canal encontra um cardápio ininterrupto de programas com discursos, propagandas do governo e depoimentos de usuários que reproduzem notícias falsas e fazem apologia ao uso de armas e à ditadura militar.

A TV Bolsonaro está no menu oferecido a estudantes de Amazonas, Pará e Piauí que têm entre quatro e 17 anos de idade, ao lado de vídeos das aulas da rede de ensino público. Para terem acesso ao conteúdo didático, eles precisam baixar e usar aplicativo da IP.TV, em que são bombardeados pelos conteúdos bolsonaristas.

Já para os alunos de São Paulo e Paraná (nesse caso, como uma opção ao Mano), a IP.TV desenvolveu aplicativos específicos para exibir conteúdos didáticos. Em ambos, os estudantes ao menos estão livres de ver a TV Bolsonaro como sugestão de conteúdo.

Os governos dizem ter conhecido a IP.TV a partir de recomendações um do outro. Em São Paulo, o governo afirma que a IP.TV doou o app, chamado Centro de Mídias SP. A empresa o autoavaliou em R$ 3 milhões. Um valor obviamente exagerado, segundo três programadores a quem pedimos avaliações do sistema.

Tela inicial do Mano, a principal criação da IP.TV, com o canal da TV Bolsonaro em destaque. É com essa tela que estudantes de Paraná, Amazonas, Pará e Piauí se deparam ao abrir o app que usam nas aulas online.

Dados de 8 milhões de pessoas

A IP.TV tem capital social de apenas R$ 10 mil e sede num maltratado prédio no centro de Rio Bonito, na Região dos Lagos da Grande Rio. Estivemos lá no final de maio, mas não encontramos nada (como uma placa de identificação) que dissesse que ali havia uma empresa. Nem ninguém. Os vizinhos tampouco tinham ouvido falar nela. Quando perguntamos a respeito, a IP.TV argumentou que a maioria de seus funcionários trabalha de casa e que em Rio Bonito está apenas a sua “pequena sede administrativa”.

No site, a empresa informa que produz “soluções de transmissão digital”. Se é verdade, até hoje elas foram poucas. Fizemos uma busca na App Store (a loja do sistema iOS, dos celulares da Apple) e no Google Play (a dos aparelhos que usam Android) e encontramos apenas cinco produtos da IP.TV – justamente o Mano e as plataformas de aulas à distância usadas em São Paulo (uma para anos iniciais e outra para ensinos fundamental e médio), Paraná e Amazonas.

Mesmo com o histórico nebuloso, os governos de cinco estados acharam razoável colocar nas mãos da IP.TV os dados de quase 8 milhões de alunos. Sem cadastro, os estudantes não conseguem assistir às aulas. Além disso, para instalar os apps, é necessário autorizar o acesso a dados tão pessoais como o álbum de fotos do celular e de conexão de rede wifi. É provável que o acesso a essa montanha de dados explique por que a empresa doou aplicativos a governantes desesperados para solucionar os problemas criados pelo coronavírus.


Para usar os aplicativos, professores e estudantes são obrigados a concordar com as políticas de privacidade, que incluem o acesso da IP.TV a dados das secretarias de educação, com informações como nome, e-mail, ano e série cursados. Além do álbum de fotos, os apps também podem ter acesso ao microfone do celular e a trocas de mensagens em grupos de bate-papo, que podem ficar guardadas por até seis meses. O Mano ainda pode exibir publicidade aos usuários – apesar de a IP.TV garantir que isso nunca foi feito.

De acordo com a política de privacidade, os aplicativos retêm “a menor quantidade possível de dados pessoais, comunicações privadas e registros de acesso”. A empresa afirma ainda que eles serão excluídos após o fim do uso e que “não será realizado qualquer tratamento de dados pessoais excessivo ou fora dos limites” – uma definição vaga, que abre margem para abusos como o uso comercial dos dados de crianças e adolescentes.

Cabe notar que os termos de uso e permissões dos aplicativos para ensino à distância eram idênticos aos do Mano (criado com um objetivo totalmente diferente). Eles só foram modificados depois que políticos de oposição do Paraná reclamaram da invasão de privacidade de crianças, jovens e professores. No entanto, foram mudanças sutis – as únicas realmente relevantes retiraram a coleta de dados de localização do usuário e a veiculação de anúncios.

A programadora Ana Carolina da Hora, que desenvolve aplicativos educativos desde 2013, considera os termos de uso da IP.TV “bastante invasivos”. “Com os dados das secretarias de educação é possível identificar os alunos, que em sua maioria são menores de idade. Por isso, seria necessário que fosse claro o acordo feito entre quem criou o aplicativo com as escolas e os responsáveis desses alunos, o uso que será feito desses dados e a necessidade de pedir as informações e guardá-las”, ela nos disse.

‘O Intercept teve acesso a mais de dez conversas de estudantes menores de 18 anos do Paraná com conteúdos impróprios’.

Perguntamos à IP.TV o que ela faz com os dados sobre os estudantes e professores. A resposta, lacônica, joga a responsabilidade sobre as secretarias estaduais de Educação, “que têm a prerrogativa de escolher os dados que serão enviados, como eles serão expostos e a sua interrupção”. Questionamos, então, as secretarias da Educação dos cinco estados. Nenhuma delas respondeu a nossas perguntas sobre o uso dos dados.

Para Rafael Zanatta, advogado e pesquisador do Lavits, a Rede Latino Americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade, é “evidente” que a empresa faz tratamento de dados que permitem identificar os alunos. “Isso está sendo, de certo modo, chancelado pelas secretarias, que transmitem os dados de menores de idade mesmo com brechas como a possibilidade de uso publicitário. Muito provavelmente, isso tende a ser contestado judicialmente e ter revisão judicial sobre o compartilhamento, que pode ser considerado ilegal”, afirma.

Para o advogado, a empresa está se aproveitando do cenário da covid-19 para receber bancos de dados de órgãos públicos que, depois, podem ser usados para desenvolver outros produtos e garantir lucro. “Eles podem criar algum tipo de inteligência ou de valor a partir dos dados de utilização dos aplicativos”.


O Aula Paraná e o Centro de Mídias, aplicativos da IP.TV usados no Paraná e em São Paulo, também têm um histórico de falhas e um problema crônico de falta de moderação nas mensagens. O Intercept teve acesso a mais de dez conversas de estudantes menores de 18 anos do Paraná com conteúdos impróprios.

O Mano, que é usado pelos alunos do Amazonas, Piauí e Pará, tem vários canais com conteúdo produzido por terceiros, como a TV Bolsonaro, além de fóruns de bate-papo e um sistema de notificações para avisar os cerca de 260 mil assinantes quando começam transmissões ao vivo.

Consultamos três programadores sobre a IP.TV e o valor que a empresa atribui ao aplicativo. Segundo eles, seria razoável cobrar R$ 3 milhões caso o programa tivesse que ser criado do zero. Não é o caso dos apps vendidos pela empresa, pois o modelo, o Mano, já estava pronto e só foi adaptado. É mais fácil pagar algumas centenas de dólares por ano em programas usados no exterior ou buscar programas gratuitos, como as opções oferecidas pelo Google.

“O custo de desenvolvimento de aplicativos depende do tamanho das equipes e da necessidade de um servidor para realizar a transmissão das aulas. Se ele não é necessário, R$ 3 milhões está muito acima do mercado. O mais indicado seria uma solução mais conhecida do mercado, como o Zoom ou algum de fonte aberta, que não tem custo”, afirma Thiago Baptista, desenvolvedor de aplicativos há dez anos no Rio de Janeiro e com experiência em serviços para órgãos públicos que já trabalhou para governos.

Outros dois programadores que ouvimos, Sidney Silva, que trabalha em São Paulo, e Thiago Hackbarth, de Brasília, concordam que o mais apropriado seria optar por soluções gratuitas. Nenhum deles conhecia a IP.TV.

Do Amazonas para o Brasil

O primeiro estado a contratar a IP.TV para transmissão de aulas foi o Amazonas, em 2015. A empresa já tinha raízes no estado desde 2007, quando outras duas firmas com quem ela compartilha sócios firmaram contratos com o governo local: a VAT Tecnologia da Informação e Techlog Serviços de Gestão e Sistemas Informatizados.

Do Amazonas, a IP.TV migrou para outros estados nos anos seguintes, quando firmou contratos com Piauí, em novembro de 2016, e Pará, em dezembro de 2017. A esses governos, a empresa fornece tecnologia de ensino à distância para uso pontual, como no caso de alunos que vivem em regiões muito afastadas. Com a pandemia, ela ofereceu o seu aplicativo para uso em massa. Com as administrações de São Paulo e Paraná, ela assinou contratos no mesmo dia: 8 de abril de 2020.

O caso paulista é emblemático. O governo do tucano João Doria abriu chamamento público para escolher um sistema para ensino à distância. A IP.TV apareceu dizendo ter desenvolvido tecnologia já usada em outros estados. A assessoria de comunicação do governo de São Paulo nos disse, por telefone, que contratou a empresa pelo “excelente serviço [prestado] no Amazonas”. O secretário de Educação de São Paulo, Rossieli Soares, ocupou o mesmo cargo no Amazonas entre 2012 e 2016, quando a IP.TV já operava no estado.

O app tem problemas como de qualidade de transmissão de vídeo e áudio.

O governo do Pará também justificou sua escolha pela presença da IP.TV no Amazonas. Já o Paraná afirmou que contratou a IP.TV porque o “critério técnico apontou uma plataforma de suporte educacional consolidada há mais de dez anos” – o que carece de confirmação. Segundo o contrato, a empresa afirmou que o app para ensino à distância custava R$ 3 milhões, mas seria entregue de graça para o governo.

Na rede pública paulista, 3,5 milhões de alunos utilizam o app criado pela empresa. Ou usariam, se ele funcionasse. O app tem problemas como de qualidade de transmissão de vídeo e áudio, não permite o compartilhamento de arquivos, e usuários relatam dificuldades para se registrar, como apontam avaliações no Google Play.

“A imagem é muito ruim o áudio também e o chat trava sai do ar e tem muitas aulas por dia e cansativo e a interface é muito ruim (sic)”, postou uma usuária em 5 de maio. Já o Mano, usado em outros estados, costuma receber boas avaliações – mas sobre o conteúdo bolsonarista que veicula. “Excelente opção de compartilhamento e conversas de pessoas direitas e de direita , sempre em apoio ao nosso presidente Bolsonaro (sic)”, escreveu uma usuária em 21 de abril.

No Paraná, a IP.TV foi contratada sem licitação por R$ 300 mil. Dias depois, segundo o governo, a própria empresa pediu para alterar o contrato e não receber nada pelo aplicativo – o que é, no mínimo, curioso.

Perguntamos como a empresa se financia, já que abriu mão de receber dos governos. Em nota, ela respondeu que recebe recursos de “várias empresas privadas que licenciam sua plataforma tecnológica contratualmente” e se referiu a “grandes empresas de telecomunicação, instituições privadas de ensino e produtoras de conteúdo”. Perguntamos quais os nomes desses clientes. A IP.TV se recusou a informar, alegando que iria “ferir direito de terceiros” e o “aspecto mercadológico e concorrencial do setor”.

Raízes bolsonaristas

Para entender como uma empresa pequena e desconhecida se tornou a principal solução de ensino à distância no país, é preciso olhar para a relação de poder de seus sócios.

Apesar de ter sede no Rio de Janeiro, a história da IP.TV remonta ao Amazonas. O proprietário da empresa, Eduardo Patrício Giraldez, é sócio de Waldery Areosa Ferreira Junior, empresário do ramo da educação e acusado de participar de uma rede de prostituição de menores de idade junto com o pai. Os dois são sócios da Hexágono Soluções em Tecnologias da Informação, sediada em Manaus. Giraldez hoje mora nos Estados Unidos e defende o sistema de homeschooling, ou educação domiciliar, outra bandeira comum da extrema direita.

Um dos 11 sócios da IP.TV, Cláudio Dutra é elo entre a empresa de Rio Bonito e Amazonino Mendes, ex-governador do Amazonas. Dutra é sócio de Marcelo Potomati, que compartilha dois negócios com Amazonino e quatro com o filho do ex-governador, Armando Mendes, conhecido no estado como Armandinho. Entre eles, a rádio Mix de Manaus, uma das mais ouvidas do estado, que é administrada por Potomati e Armandinho.

A emissora é uma grande divulgadora do Mano: sua programação online está no aplicativo, que é citado em postagens em redes sociais da rádio com hashtags como #Mano e #SuperAppMano. A IP.TV disse que os negócios de um dos sócios com o grupo de Amazonino “não dizem nenhum respeito à empresa”.

Marcelo Potomati (o primeiro, da esquerda para a direita) é sócio de um dos donos da IP.TV. Ele também é dono da rádio Mix de Manaus junto com o filho de Amazonino Mendes, o Armandinho (de camiseta preta, ao centro). 

A VAT já teve um contrato suspeito com o governo do Amazonas, assinado quando Jorge Melo, aliado de Amazonino, era governador do estado. Melo e o vice foram cassados por compra de votos em 2016. Com isso, Amazonino voltou ao poder: foi eleito para cumprir os 14 meses de mandato que restavam. O político tentou a reeleição em 2018, pelo PDT, mas não se elegeu. No primeiro turno, apoiou Ciro Gomes. No segundo, Bolsonaro. “O candidato que vou dar minha mão, vou dar meu braço, com toda a força, é o Bolsonaro”, declarou em vídeo. A aliança ganhou um apelido no Amazonas: Bolsonino.

A IP.TV tinha a sua operação restrita ao Amazonas até 2018, quando o Mano foi usado para a campanha de Jair Bolsonaro. O primeiro a divulgar amplamente o aplicativo foi Flávio Bolsonaro. Num vídeo que chegou à internet quatro meses após o lançamento do app, em julho de 2018 – não por acaso, quando esquentava a campanha eleitoral –, o senador disse o seguinte:

A empresa nega ter relação com os Bolsonaro. De acordo com a IP.TV, “o Mano está aberto para a instalação e adesão de qualquer figura de destaque em nossa sociedade (em qualquer ramo de atividade), bem como para qualquer pessoa que simplesmente deseje ter um canal na plataforma”.

A empresa diz, ainda, “que não tem viés político-partidário e nem apoia nenhum agente político ou candidato”. “Também ressalta que não possui vínculos com a família Bolsonaro, a qual não ajudou a financiar ou desenvolver o aplicativo”, prossegue em nota enviada ao Intercept.

Não sabemos o que a empresa vai fazer com os dados dos milhões de alunos e professores a que teve acesso e nem como está sendo o contato deles com o conteúdo bolsonarista veiculado no Mano. Com contratos feitos às pressas, os governos estaduais também não parecem saber. A pequena empresa sediada em uma sobreloja pode estar bem intencionada, oferecendo uma solução tecnológica de graça. Mas o preço, nesse caso, são os dados e informações dos professores e alunos.

 

*Colaborou Pedro Prado.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Presa nesta manhã, Sara Winter é alvo de três inquéritos. Entenda




Mais cinco pessoas tiveram prisão decretada dentro do inquérito do STF que investiga participação em protestos antidemocráticos

A ativista Sara Winter não deve ser única presa no âmbito do inquérito que investiga protestos antidemocráticos. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, autorizou mais cinco mandados de prisão de integrantes do grupo 300 do Brasil. Os nomes ainda não foram divulgados.

A ação da Polícia Federal iniciada nesta manhã decorre de um ato realizado no sábado 13 em que manifestantes lançaram fogos de artifício contra o prédio do STF, simulando um bombardeio.

O ato aconteceu depois que a Polícia Militar do Distrito Federal desmontou um acampamento de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Sara, então, liderou um grupo de cerca de 20 pessoas para tentar invadir o Congresso Nacional, mas foi contida pela  Polícia Legislativa.


“Vocês tiram nossa casa que nós tiramos o Congresso”, afirmou a militante. Os manifestantes entoavam uma frase já citada pelo presidente Bolsonaro “acabou, porra”, para pedir a intervenção militar, o fechamento do Congresso, além de promoverem ataques à imprensa. Eles também rezaram e pediram bênção ao presidente.

A ação da Polícia Federal nesta segunda acontece após a Procuradoria Geral da República abrir uma investigação para responsabilização dos autores, a pedido do presidente do tribunal, Dias Toffoli.

A militante é investigada em mais dois inquéritos. Um deles é o das fake news, que investiga ameaças, ofensas e fake news disseminadas contra integrantes da Corte e seus familiares. Após ser alvo de busca e apreensão, Sara publicou um vídeo afirmando ter vontade de “trocar socos” com Alexandre de Moraes, relator do inquérito, e prometendo infernizar a vida do ministro e perseguí-lo. As declarações motivaram a expulsão da militante do DEM.

Ela também é investigada por improbidade administrativa a pedido do Ministério Público Federal (MPF) do Rio de Janeiro, que investiga possível irregularidade na utilização de R$ 25 mil recebidos do Fundo Especial de Financiamento de Campanhas em 2018, o chamado fundo eleitoral. Ela disputou uma vaga de deputada federal pelo DEM, teve 17.246 votos e não foi eleita.



Zambelli diz que ativista bolsonarista não era perigosa e políticos comentam a prisão nas redes

prisão da manifestante bolsonarista Sara Winter na manhã desta segunda-feira 15 repercutiu rápido nas redes sociais.

Sara é uma das figuras responsáveis pelo acampamento “300 do Brasil”, que foi desmantelado pela Polícia Militar do Distrito Federal no sábado 13, e que, mesmo assim, teve membros envolvidos na explosão de rojões contra um dos prédios do Supremo Tribunal Federal.

A militante simpatizante da extrema-direita também é alvo no inquérito das fake news que tramita no STF e que investiga a articulação de ataques virtuais contra a corte. Ela foi presa pela Polícia Federal após mandado de prisão autorizado pelo ministro Alexandre de Moraes.

Gilmar Mendes, também ministro da Corte, afirmou em entrevista à Rádio Bandeirantes que “a prisão preventiva pode ser o adequado remédio neste momento”.

Outros ministros ainda não se manifestaram sobre a prisão, mas divulgaram notas de repúdio contra a tentativa de atingir o Supremo com rojões. Na noite de ontem, Alexandre de Moraes publicou que o Supremo não se curvaria diante de agressões estimuladas por grupos antidemocráticos. “A lei será rigorosamente aplicada e a Justiça prevalecerá.”, escreveu nas redes.

No Twitter, o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) escreveu que a prisão de Winter também explicita uma relação dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, que “se protegem atrás do mandato parlamentar e estimulam essas pessoas a atacarem o Supremo Tribunal Federal”, argumenta.

Sara Winter, líder do movimento de extrema direita 300 é presa em Brasília. Os filhos do Bolsonaro se protegem atrás do mandato parlamentar e estimulam essas pessoas a atacarem o Supremo Tribunal Federal.

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Alexandre Frota, deputado do PSDB, publicou uma foto de Sara da época em que ela se denominava ativista contra Bolsonaro. “A justiça tarda mas não falha”, escreveu.

Já a deputada Carla Zambeli (PSL-SP), participante da base bolsonarista na Câmara dos Deputados, relativizou a prisão da ativista ao questionar se ela representava “tanto risco” e se “era pra tanto”. Zambelli afirmou ainda que conversou com a ativista para pedir aos manifestantes “abaixarem a temperatura”.

“Ela fez o contrário, aumentou a temperatura e tem uma personalidade explosiva, mas nem de longe é uma pessoa perigosa.”, opinou Zambelli.

Precisamos nos unir! Unir em torno do governo, pois, estamos no momento mais duro da República, pós CF/88.

Vamos nos manifestar pacificamente, buscando ajudar o Presidente Jair Bolsonaro, eleito por 57 milhões de brasileiros que tem esperança na mudança!

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Mas diante do cenário, ficam algumas perguntas:

Era pra tanto?
Ela representa tanto risco? Outras medidas não seriam cabíveis, antes desta?
E os que tomaram spray de pimenta enquanto rezavam o Pai Nosso, correm risco?

👉 Zé Rainha se tivesse feito o mesmo, estaria preso?

2.095 pessoas estão falando sobre isso

Já para Joice Hasselmann (PSL-SP), que como Alexandre Frota era uma enfática apoiadora de Jair Bolsonaro no começo de seu governo, chegou a afirmar que “os investigadores obtiveram vídeos de Sara Winter sobre os financiadores do movimento 300”. A informação não foi confirmada por nenhuma fonte oficial até o momento.

Manifestantes profissionais:
Os investigadores obtiveram vídeos de Sara Winter sobre os financiadores do movimento 300.
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O que mais estes empresários estariam bancando...?

 Com informações de Carta Capital

Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 14 de junho de 2020

Os delírios e mentiras de Bolsonaro isolaram o Brasil da América Latina, China, Europa e até dos EUA


BRASILIA, BRAZIL - JUNE 05: President of Brazil Jair Bolsonaro speaks with press at Alvorada Palace on June 05, 2020 in Brasilia, Brazil. Brazil has over 614,000 confirmed positive cases of Coronavirus and OVER 34,000 deaths. (Photo by Andressa Anholete/Getty Images)

Foto: Andressa Anholete/Getty Images


O BEM-SUCEDIDO projeto de destruição da democracia do governo Bolsonaro está promovendo uma lenta e dolorosa morte da reputação do país. Com a chegada da pandemia, ficou claro para o mundo que o Brasil está nas mãos de conservadores xucros, fundamentalistas religiosos e psicopatas dispostos a empurrar compatriotas para o cemitério em nome da salvação da economia. Se antes já havia motivos de sobra para a desconfiança internacional, agora a coisa ficou escancarada.

Bolsonaro é, sob qualquer ponto de vista, o pior presidente do mundo no enfrentamento ao coronavírus. A extrema direita avançou no mundo inteiro, mas no Brasil esse avanço está se dando com requintes de crueldade. Mesmo Trump e Orbán, dois presidentes extremistas que são referências para Bolsonaro, basearam suas ações na ciência e determinaram o isolamento social como fundamental para a contenção da infecção. Já Bolsonaro, com base em misticismos forjados no WhatsApp e nos delírios do vovô da Virgínia, trabalha na direção contrária.


Relembremos os mais recentes episódios que chocaram o mundo. Em um intervalo de um mês, dois ministros da Saúde foram demitidos em plena crise do coronavírus, justamente por insistirem em seguir as recomendações da ciência. E, até hoje, seguimos sem um ministro. Eduardo Bolsonaro mentiu (ou não) para a imprensa internacional ao dizer que o presidente estava com a covid-19. A cura pela cloroquina virou uma tara do governo. Em plena pandemia, o presidente vai até uma manifestação que pede o fechamento do Congresso e do STF e abraça o povo sem máscara. Esses fatos, somados às recentes ações para maquiar a contagem dos mortos por covid-19, foram a tampa que faltava para fechar o caixão da nossa imagem internacional.

O enterro está sendo agora, mas o velório começou antes mesmo do bolsonarismo tomar posse. Ainda em novembro de 2018, a xucrice bolsonarista já exibia suas credenciais para o mundo: desrespeitaram abertamente a China, nosso principal parceiro comercial. Atacaram o Mercosul. Criaram atrito com os países árabes ao anunciar mudança da embaixada de Israel para Jerusalém. Ameaçaram sair do Acordo de Paris. Tudo isso aconteceu ainda faltando um mês para a posse. O estrago feito em poucos dias já era um indicativo da tragédia que viria nesse ano e meio de mandato.

A política internacional bolsonarista é guiada exclusivamente pela ideologia barata de Steve Bannon, o promoter da extrema direita no mundo. É uma ideologia que considera razoável o filho do presidente, que mal sabe falar inglês, se tornar o embaixador brasileiro nos EUA. Estar preparado para o cargo não é uma condição para assumi-lo. Para isso basta ser reaça. As ações internacionais desse governo, portanto, não são pensadas para trazer bons negócios para o país e melhorar a vida do povo brasileiro, mas para cumprir a agenda “anti-globalista” de uma turminha delirante. A expectativa era fazer nosso comércio exterior se aproximar dos capitalistas dos EUA e se afastar dos comunistas chineses. A realidade está sendo outra: EUA e China se afastando cada vez mais do Brasil.

Essas patacoadas internacionais foram se acumulando e atingiram o pico com a maneira esotérica como enfrentamos o coronavírus. A comunidade internacional está nos isolando progressivamente. Mesmo o principal aliado, Trump, tem criticado reiteradamente o Brasil e proibiu a entrada de brasileiros em seu país. Este 2020 pode ser considerado o ano em que o Brasil se transformou em pária internacional.

O bolsonarismo prometeu acabar com a política internacional ideologizada dos governos do PT, ignorando que a relação política entre Brasil e EUA, por exemplo, já foi tão boa que Lula quase virou amigo do direitista George Bush. Ainda antes de tomarem posse, Eduardo Bolsonaro esteve nos EUA com Steve Bannon e desfilou com um boné da campanha Trump 2020. Essa vergonhosa puxação de saco com Trump foi, por óbvio, uma tragédia em termos diplomáticos. Trump não é o dono dos EUA e praticamente todas as importantes decisões do governo precisam de aprovação da Câmara, que hoje é composta por uma maioria democrata.

Na semana passada, uma comissão da Câmara americana declarou que rejeitará qualquer parceria econômica com “o Brasil do presidente Jair Bolsonaro”. Sim, a rejeição não é ao país, mas especificamente ao país presidido por Bolsonaro. Em carta enviada ao principal negociador comercial dos EUA, o embaixador Robert Lighthizer, a Câmara a justifica a rejeição: “há um completo menosprezo (do governo Bolsonaro) por direitos humanos básicos, pela necessidade de proteger a floresta amazônica e pelos direitos e dignidade dos trabalhadores (…) O aprimoramento do relacionamento econômico entre os EUA e o Brasil, neste momento, iria minar os esforços dos defensores dos direitos humanos, trabalhistas e ambientais brasileiros para promover o estado de direito e proteger e preservar comunidades marginalizadas”.

Outra razão para a rejeição de acordos comerciais com o Brasil: “as declarações depreciativas sobre mulheres, populações indígenas e pessoas identificadas por gênero ou orientação sexual, além de outros grupos”.  É claro que também há interesses econômicos por trás dessa rejeição dos democratas, mas é inegável que a imagem manchada do país atrapalha os negócios.

Na Europa, há uma enxurrada de países rejeitando parcerias comerciais com o Brasil. Na última quarta, o parlamento holandês se colocou contra o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, que ainda depende da aprovação de países participantes. Motivos? A devastação da Amazônia e o descaso com os povos indígenas comandados por Jair Bolsonaro.

Se antes o Brasil era uma referência em diplomacia internacional e almejava ser protagonista nas relações com o mundo, hoje o país é rejeitado até mesmo pelos seus vizinhos.

Em fevereiro, um parlamento regional na Bélgica rejeitou por unanimidade o mesmo acordo, usando as mesmas justificativas. Além desses países, França, Irlanda e Alemanha também já deram sinais claros que não vão assinar acordos comerciais com o Brasil pelos mesmos motivos.

Mês passado, Yasmin Fahimi, deputada alemã que preside o Grupo Parlamentar Brasil-Alemanha, afirmou que não sabia como seria possível conciliar as políticas de Bolsonaro com as exigências para o acordo União Europeia-Mercosul. E completou: “Bolsonaro representa um perigo para a democracia, para o estado de direito e para a existência da floresta amazônica”. O bolsonarismo está descobrindo na prática que se apresentar ao mundo como inimigo do meio ambiente e dos direitos humanos não é bom para os negócios — uma obviedade que nem o chimpanzé mais esperto do bando, o Paulo Guedes, conseguiu enxergar.

Além dos EUA impedirem a entrada de brasileiros no país pelo descaso do governo no combate à pandemia, outros países estão fazendo o mesmo. Nossos vizinhos de continente temem que o descaso do governo brasileiro respingue em seus países. O Paraguai fechou as fronteiras do país por temer, segundo uma autoridade paraguaia, que a “situação caótica” vivida pelo Brasil chegue ao país. Argentina e Uruguai também reforçaram o controle nas fronteiras com o Brasil, levando motoristas de caminhão brasileiros a sofrerem discriminação pelas autoridades estrangeiras.

Na Colômbia, o maior número de casos de coronavírus está em uma cidade amazônica que faz fronteira com o Brasil. O ministro da Saúde colombiano atribuiu o problema à falta de diálogo com as autoridades brasileiras.  Na Bolívia, o quadro se repete. As cidades que fazem fronteira com o Brasil estão entre as que  mais têm casos no país. O sistema de saúde da região boliviana na Amazônia já entrou em colapso.

Apesar da profunda recessão econômica, o governo que prometeu ultraliberalismo na economia vem implodindo todas as pontes comerciais do país. A nossa diplomacia não está a serviço dos brasileiros, mas de uma agenda global da extrema direita. Em nenhum outro momento da República, o Brasil esteve tão isolado. Se antes o país era uma referência em diplomacia internacional e almejava ser protagonista nas relações com o mundo, hoje é rejeitado até mesmo pelos seus vizinhos. A transformação do Brasil em pária internacional é consequência direta do até aqui muito bem-sucedido plano de destruição progressiva da democracia.

Hoje, nós somos vistos pelo mundo como uma republiqueta das bananas cujo líder é um homem autoritário que renega a ciência, esconde dados fundamentais para a segurança sanitária e faz ameaças semanais de golpe de estado. Esse é o paiseco que nós viramos. theintercept.com/

Professor Edgar Bom Jardim - PE