segunda-feira, 9 de março de 2020

A guerra de preços entre Rússia e Arábia Saudita que derrubou o preço do petróleo


Mohammed bin Salman e Vladimir PutinDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA Arábia Saudita e a Rússia parecem ter desistido de seguir cooperando para estabilizar o preço do petróleo
Não se via uma queda assim havia quase 30 anos.
O preço do petróleo do tipo Brent caiu quase 30% na abertura dos mercados na Ásia nesta segunda, 9.
Apenas segundos depois do início das operações, o barril caiu de US$ 45 a US$ 31,52, registrando uma das maiores quedas no mesmo dia e a mais pronunciada desde ao menos 1991, durante a guerra do Golfo.
O forte retrocesso é atribuído à decisão da Arábia Saudita de aumentar substancialmente sua produção e começar a oferecer em certos mercados descontos de até 20% em relação ao petróleo bruto.
Segundo analistas, trata-se de um primeiro passo de uma guerra de preços entre a Arábia Saudita e a Rússia.
Citando fontes vinculadas com a política petroleira saudita, o jornal Financial Timesinformou que o país tem planos de aumentar sua produção para além dos 10 milhões de barris diários, que inclusive podia chegar até os 11 milhões, um volume muito maior do que os 9,7 milhões que está produzindo.
Pessoas caminham em frente a uma tela que mostra queda de bolsa de Hong KongDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAs bolsas asiáticas abriram na segunda em baixa, sacudidas por uma guerra de preços de petróleo
Paradoxalmente, era Riad que defendia, até sexta passada, reduzir a produção do petróleo bruto para tentar sustentar os preços que já haviam caído 20% e que ameaçavam seguir dessa forma ante a diminuição da demanda por causa dos efeitos do coronavírus sobre a economia global.
Mas então o que explica essa mudança abrupta de política?

Ruptura de aliança

A Arábia Saudita é o maior exportador de petróleo do mundo e é considerada uma líder não declarada da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).
Ela tem uma capacidade de produzir mais de 12 milhões de barris diários, o que lhe permite aumentar ou reduzir sua produção com muito mais facilidade que outros produtores.
Depois de uma baixa nos preços do petróleo que começou em 2014, no final de 2016 um grupo conhecido como OPEP+ se formou, reunindo todos os países membros dessa organização e outros produtores. Entre eles, a Rússia, com o objetivo de coordenar cortes de produção que permitiriam recuperar preços.
A estratégia funcionou e foi se alongando até sexta passada, quando uma proposta de novos cortes para fazer frente aos desafios impostos pelo coronavírus foi rechaçada por Moscou.
Um barco petrolífero no Oceano AtlânticoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO incremento da produção pode seguir pressionando os preços do petróleo bruto para baixo
A ideia era fixar um corte de 1,5 milhões de barris diários — o que significaria reduzir a produção mundial em 3,6%—, dos quais se esperava que 500 mil barris/dia fossem sacrificados pelos países não OPEP.
Mas, segundo o Financial Times, a Rússia queria ver o impacto total do coronavírus na demanda do petróleo antes de agir. Além disso, a Rússia também queria testar a indústria de petróleo americana. Para o país, reduzir a produção só ajudaria um setor cujo crescimento fez dos EUA o maior produtor de petróleo do mundo, roubando o mercado da Rússia.
"Dada a decisão de hoje em relação aos cortes de produção, a partir de 1º de abril, ninguém — nem os países da OPEP nem os que não são membros dela — está obrigado a reduzir a produção", disse à imprensa na sexta o ministro de Energia da Rússia, Alexander Novak.
Sua postura foi considerada por especialistas como o sinal de que a partir daquele momento cada exportador de petróleo bruto deveria velar por seus próprios interesses.
Em declarações à agência estatal de notícias russa RIA Novosti, o secretário de imprensa da petroleira russa Rosneft, Mikhail Leontyev, classificou o acordo proposto na sexta como uma opção "masoquista".
"Não tem sentindo. Estamos renunciando a nossos próprios mercados, tirando o petróleo barato árabe e russo para deixar espaço para o caro petróleo dos Estados Unidos e garantir a eficácia de sua produção", explicou.
"Nossos volumes simplesmente foram substituídos pelo de nossos competidores. Isso é masoquismo", disse.
Barco que transporta petróleo de xistoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO petróleo de xisto dos EUA ganhou o mercado de produtores tradicionais
Depois da ruptura do acordo na sexta, muitos especialistas consideraram que a Rússia estava efetivamente apostando em deixar cair um pouco o preço do petróleo para tentar debilitar os produtores americanos, que têm custos de produção mais altos e, portanto, podem ser vulneráveis ante uma queda continua dos preços.
Embora a Arábia Saudita também tenha na mira as empresas petrolíferas americanas, os especialistas acreditam que sua nova política significaria a abertura de uma guerra de preços contra a Rússia.
De acordo com oFinancial Times,a Arábia Saudita fará descontos de mais de US$ 8 em seu preço de venda no noroeste da Europa, um mercado chave para a Rússia.
Também reduziu os preços na Ásia em torno de US$ 4 - US$ 6 por barril, assim como em US$ 7 para o mercado americano.
"A Arábia Saudita está protegendo sua posição no mercado ante o colapso da demanda de petróleo, em um mercado que se encolhe e com preços muito reduzidos", disse Sadad al-Husseini, un ex-vice-presidente da petrolífera estatal saudita Aramco ao The New York Times.
De acordo com ele, tanto Riad quanto Moscou sairiam desse ciclo como "jogadores mais fortes, enquanto os produtores de petróleo de xisto e outros produtores que têm mais custo ou estão politicamente instáveis teriam dificuldades financeiras".
Um homem conduz uma bicicleta nas instalações da petrolífera AramcoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA petrolífera saudita Aramco tem capacidade de produzir 12 milhões de barris de petróleo por dia
A Rússia dispõe de um fundo soberano com US$ 170 bilhões acumulados graças aos ganhos de petróleo dos últimos anos que podia lhe ajudar a enfrentar uma breve guerra de preços, inclusive se o petróleo cair para menos de US$ 42 por barril.
No entanto, as coisas podem piorar para todos os produtores de petróleo, incluindo Riad e Moscou.
A última vez que a Arábia Saudita e seus parceiros da OPEP tentaram deixar que o mercado fosse inundado de petróleo bruto barato para asfixiar os produtores de petróleo de xisto americano foi justamente em 2014, quando então o preço do barril caiu para menos de US$ 30.
Potenciais perdedores
Portanto, os sauditas parecem estar incluídos entre as primeiras vítimas dessa nova guerra de preços.
As ações da empresa petrolífera saudita Aramco caíram quase 9% durante a abertura dos mercados asiáticos nesta segunda, enquanto que o índice da Bolsa de Valores do país retrocedeu mais de 8%.
Árabe em frente à bolsa de valores da Arábia SauditaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA bolsa de valores saudita também sofreu pela guerra de preços do petróleo bruto
Se elas se mantiverem, essas quedas podem representar relevantes contratempos para os planos de modernização da economia saudita impulsionados pelo príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, cujo financiamento se apoia em grande medida na venda de ações da Aramco.
Mas o dano podia se estender a todos os produtores do produto.
"A Aramco faz o maior corte de preços das últimas duas décadas. Se a guerra de preços entre russos e sauditas se estender, o excedente de oferta combinada com o choque de demanda produzido pelo vírus pode gerar um gigantesco colapso do preço do petróleo", advertiu no domingo Francisco Monaldi, pesquisador especialista em políticas energéticas do Instituto Baker da Universidade Rice no Estado do Texas, EUA, em um post no Twitter.
O especialista agregou que um dos grande perdedores pode ser o governo de Nicolás Maduro na Venezuela.
"Para a Venezuela, o colapso do preço somado às sanções será brutal. Não vão poder vender petróleo bruto nem de graça", disse.
O Irã, cuja economia também está submetida a grandes pressões por causa das sanções americanas e que também depende enormemente da exportação de petróleo, também poderá sentir fortemente as consequências de uma guerra de preços.
As economias do Brasil, de Angola e da Nigéria também poderiam sofrer duramente os efeitos se a guerra de preços se confirmar e se estender no tempo.
Nicolás MaduroDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO governo de Nicolás Maduro, na Venezuela, pode enfrentar dificuldades econômicas adicionais se a queda dos preços de petróleo se mantiver
Outros países produtores de petróleo já estão sentindo os efeitos sobre suas moedas. A cotação da moeda noruguesa caiu a seu nível mais baixo frente ao dólar desde a década de 1980, enquanto o peso mexicano perdeu 8% de seu valor, segundo a agência Bloomberg.
Segundo especialistas, uma guerra de preços também poderia golpear efetivamente os produtores americanos de petróleo de xisto, um objetivo tanto da Rússia como da Arábia Saudita.
Muitas petroleiras americanas estão altamente endividadas. Dezenas delas fecharam as portas nos últimos anos, enquanto outras estão reduzindo seu pessoal.
Em todo caso, o que está claro é que os únicos que verão um claro benefício em curto prazo são os donos de automóveis e as empresas de transporte que poderão encher seus tanques por menos dinheiro.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 8 de março de 2020

Dia Internacional da Mulher: Participantes carregam faixas sobre violência contra a mulher e Marielle Franco. Grupos pedem a saída do presidente



No Dia Internacional da Mulher, celebrado neste domingo 8, diversos grupos feministas realizam um ato na Avenida Paulista, no centro de São Paulo. Os participantes carregam faixas que abordam temas como a violência contra a mulher, machismo, lembram a vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, e também trazem mensagens críticas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
A manifestação foi convocada para as 14h e envolve mais 80 grupos, incluindo coletivos como Evangélicas pela Igualdade de Gênero, Central Sindical Popular e Mulheres do Sindicato dos Metroviários de SP. As organizadoras esperam a presença de 60 mil pessoas.
ATO DO DIA INTERNACIONAL DA MULHER NA AVENIDA PAULISTA, CENTRO DE SÃO PAULO. FOTO: ROBERTO PARIZOTTI / CREATIVE COMMONS
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, policiais militares no local estimavam o público em 1 mil pessoas às 15h30.
Manifestantes gritavam “Fora Bolsonaro! Ele não, ela sim! Nenhuma a menos!”, enquanto outros carregavam placas pedindo a saída do presidente e novas eleições. Houve também críticas ao governador de São Paulo, João Dória (PSDB-SP).
Outros atos ocorrem em Brasília, Belém, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, entre outras cidades.
Carta Capital
Professor Edgar Bom Jardim - PE

O vírus do capitalismo



Há quem incorpore o capitalismo de forma radical. Não acredita na socialização e considera a disputa o eixo da convivência. Tudo pela intriga, pelo cinismo, pela acumulação. A falsidade dispara e se intromete na história. A ciência existe para salvar ou confunde-se com escândalos? Para que serve a indústria farmacêutica? Quem esconde a contabilidade ou se joga na complexidade das drogas?
O lucro seduz e inventa situações de caos. Observe os noticiários. Dizem que está sendo preparada uma crise que desmantelará as relações sociais. Alguns estimulam os pânicos. Quanto vale o dólar diante das máscaras cirúrgicas? Um carnaval fora de época parece invadir cada avenida e as apostas se ampliam. Por que o medo? Por que as grandes corporações não investem para abrir as portas dos descontroles? Para que fantasmas delirantes nas capas dos jornais?
Vestir-se do mal para assombrar o bem vale o poder do descaso. O importante, para alguns, é segurar a desigualdades, desfazer o comportamento ético e multiplicar os dízimos dos pastores com rebanhos cercados de interesses. Portanto, decreta- se a morte das utopias e se expulsa o sonho para que a mercadoria pulse e gire o mundo pelo avesso. O capitalismo se diverte com o vírus da exploração e contrabando do sentimento..
Na sociedade dos milhões, dos espetáculos passageiros, dos milicianos ajudados por políticos, teme-se a sombra que mora no banco da praça. Tudo será permitido? Ninguém sabe. Os destinos são comparados com as histórias e as possibilidades se entregam a um fatalismo que constrói o abismo. O lugar dos privilégios é comprado pelas fantasias das minoria. A desconfiança não anda sozinha. Quem pune aprisiona, espalha o fingimento, se mistura com a carne podre dos predadores.
Paulo Rezende
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 7 de março de 2020

O dia 8 de março nasceu para lembrar um incêndio que, em 1911, matou 146 trabalhadoras em uma fábrica de Nova York



O Dia Internacional da Mulher é comemorado em todo o mundo em 8 de março, mas quantos realmente sabem por que esse dia foi escolhido para comemorar este evento? Na realidade, a resposta remonta a pouco mais de 100 anos atrás, precisamente em 1911, na metrópole de Nova York. O que aconteceu em 25 de março daquele ano dentro da fábrica de camisas Triangle Shirtwaist foi terrível e ainda desconcertante se pensamos nisso hoje...
A tragédia que ocorreu há pouco mais de 100 anos ainda é considerada uma das piores catástrofes humanas já registradas na história do setor industrial dos Estados Unidos da América. As trabalhadoras têxteis da fábrica que morreram do terrível incêndio que eclodiu no Triangle Shirtwaist foram 146.
Essa alta taxa de mortalidade foi causada não pelos efeitos devastadores das chamas dentro da fábrica de Nova York, mas porque os gerentes da fábrica decidiram fechar as entradas e saídas do prédio para evitar o roubo de matérias-primas e roupas. 
Uma enorme tragédia que permitiu nos anos seguintes lançar uma nova luz sobre a legitimidade das lutas políticas e sociais das trabalhadoras em todo o mundo, lutas que levaram à institucionalização de 8 de março como Dia Internacional da Mulher, mas porque em 8 de março, ao invés do dia 25 do mesmo mês? Decidiu-se manter o oitavo dia do terceiro mês do ano em comemoração à instituição do "Dia Mundial dos Trabalhadores" em memória de 8 de março de 1917, quando as mulheres lideraram uma grande manifestação em São Petersburgo para comemorar o fim da Primeira Guerra Mundial. Em 1921, a Segunda Conferência Internacional de Mulheres Comunistas, realizada em Moscou, estabeleceu a data agora reconhecida.
No entanto, será necessário aguardar até 1975 para ter a decisão oficial das Nações Unidas: a partir desse momento, 8 de março é formalizado como um dia de celebração único em todos os países do mundo.
A história que levou ao feriado dedicado a todas as mulheres do mundo deixa para trás um rastro de sangue e uma enorme tragédia que permanece gravada na consciência de todos, como se fosse uma marca indelével; por mais que hoje o dia 8 de março seja considerado um dia de celebração social e festiva, no entanto, esconde uma história que todos, realmente todos deveriam saber; uma história que permitiu, nas décadas seguintes, que algumas mulheres que lutavam em todo o mundo tivessem suas vozes ouvidas e mudassem para melhor a condição das trabalhadoras em todos os países do planeta.
Um sincero agradecimento vai acima de tudo a elas.
www.olhaquevideo.com.br/
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Projeto de lei que dá amparo a mulheres agredidas está há 7 anos parado na Câmara



O Brasil tem a quinta maior taxa de feminicídios no mundo (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)
O BRASIL TEM A QUINTA MAIOR TAXA DE FEMINICÍDIOS NO MUNDO (FOTO: TÂNIA RÊGO/AGÊNCIA BRASIL)

A cada hora, 536 mulheres são agredidas no Brasil. Muitas são vítimas de seus próprios companheiros e por dependerem financeiramente deles não conseguem se livrar do ciclo da violência doméstica – que leva cerca de 13 mulheres à morte todos os dias. Há na Câmara dos Deputados um projeto de lei que ajudaria a quebrar a sucessão ininterrupta entre dependência financeira e violência doméstica, mas o PL está há sete anos aguardando votação.  
A estudante de jornalismo Fernanda Naomi, de 20 anos, teve conhecimento do projeto de lei em um workshop de empoderamento feminino, promovido pela organização Change.org no ano passado, e decidiu tomar uma atitude para pressionar os deputados federais a avançarem com a tramitação do PL: passou a recolher assinaturas em uma petição online. Em seis meses, a jovem conseguiu reunir quase 30 mil apoiadores pela causa. 
Os números da violência contra a mulher fazem parte de estudos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil tem a quinta maior taxa de feminicídios no mundo: 4,8 para 100 mil mulheres. Para Fernanda, essas estatísticas são assustadoras e demonstram a urgência da adoção de medidas como a do projeto de lei parado na Câmara

A gente tem que quebrar esse ciclo e ajudar essas mulheres. É um ciclo vicioso, você é abusada, é manipulada psicologicamente, e isso faz com que fique presa a esse cara. Muitas mulheres também têm filhos e estão ligadas a essa pessoa, é uma situação muito difícil. Então ajudá-las financeiramente é um passo gigante”, destaca a estudante. Fernanda enfatiza que esse auxílio financeiro ajudaria, especialmente, mulheres com baixa escolaridade, que têm mais dificuldade para conseguir emprego e principalmente com um salário razoável.   
O projeto de lei 5019/2013 é de autoria do senador Jayme Campos (DEM-MT) e chegou à Câmara dos Deputados em fevereiro de 2013. O último avanço na tramitação se deu em junho do ano passado, quando a Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) aprovou a proposta. Entretanto, o PL ainda precisa ser analisado, em caráter conclusivo, pela Comissão de Finanças e Tributação (CFT) e depois pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC). No momento, aguarda designação de relator na primeira comissão. 
A medida prevê a instituição do Fundo Nacional de Amparo a Mulheres Agredidas, o FNAMA, por meio do qual seria oferecido um benefício mensal equivalente ao valor do salário mínimo vigente (R$ 1.045) às mulheres que se separarem de seus companheiros após casos de agressão. A proposta é que o apoio financeiro seja concedido às vítimas de violência doméstica pelo prazo de um ano. O projeto prioriza as mulheres de baixa renda inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico).
“Cerca de 40% dos homicídios femininos acontecem dentro de casa. Esse dado mostra a necessidade da aprovação de um projeto de lei como esse, já que muitas mulheres sofrem agressão e continuam com seus companheiros por não terem autonomia financeira”, comenta Monica Souza, diretora-executiva da Change.org Brasil. “Com esse abaixo-assinado, criado pela Fernanda, esperamos que nossos parlamentares se atentem à urgência dessa causa e avancem de uma vez por todas com a aprovação do PL. Não dá mais para esperar. Enquanto o projeto fica parado, mais mulheres estão se tornando vítimas”, acrescenta a diretora.

#8M

A autora da petição online, que segue coletando assinaturas por meio da plataforma Change.org, conhece mulheres que passam pela situação de violência doméstica e dependência financeira do marido. Como jornalista, já contou histórias de vítimas abusadas. “Acho que toda menina, toda mulher, conhece alguém que já foi morta pelo marido, pelo namorado, ou escuta uma história de alguém que está passando por abuso”, ressalta. 
Os números divulgados no Atlas da Violência 2019, que traz dados até 2017, comprovam como o feminicídio é uma ameaça que paira sobre a casa de uma amiga, uma vizinha ou uma conhecida. Os casos aumentaram 30,7% entre 2007 e 2017 e 6,3% em relação ao ano de 2016. No total, 4.936 mulheres foram mortas somente ao longo de 2017, o maior número contabilizado desde 2007. O crescimento das ocorrências aconteceu em 17 estados.
PROTESTOS ESTÃO PREVISTOS PARA O DIA INTERNACIONAL DA MULHER (FOTO: ROVENA ROSA/AGÊNCIA BRASIL)
“Esses dados são muito assustadores, eles me deixam abismada e acho que deixam as mulheres do Brasil muito chocadas”, declara a estudante. No próximo domingo (8), Dia Internacional da Mulher, atos e debates públicos estão previstos em diversas cidades. Para Fernanda, a data é importante para lembrar a luta das mulheres nas últimas décadas e protestar contra as diversas formas de violência que elas sofrem cotidianamente.
“Nesse dia a gente tem que lembrar das nossas ancestrais que lutaram pela gente, de todas as mulheres que já foram mortas, não só lutando, mas sofrendo abuso”, fala a autora do abaixo-assinado. No dia 8 de março, a jovem costuma usar as redes sociais para eternizar as palavras de grandes feministas, como a escritora e intelectual francesa Simone de Beauvoir e a poetisa americana negra Maya Angelou, pseudônimo de Marguerite Ann Johnson: “Mostre a eles como soletra o seu nome: M-U-L-H-E-R!”, da autobiografia “Mamãe e eu, eu e mamãe”. 

Carta Capital
Professor Edgar Bom Jardim - PE

'Não tem comida em casa': o drama das mães de crianças vítimas do zika na fila do INSS


Jéssica e os filhosDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image captionJéssica cuida sozinha dos dois filhos com os R$ 171 do Bolsa Família e espera benefício para a filha com microcefalia há um ano, mas não passou nem pela perícia
Faz meses que o peso da pequena Brenda, de 1 ano e 5 meses, não passa dos 7,3 kg. Da última vez que levou a filha ao médico, no dia 12 de fevereiro, recebeu o alerta de que, se a menina não ganhar peso até a próxima consulta, pode precisar de uma sonda gástrica.
"Não tem comida em casa, o que tinha já acabou", conta, emocionada, a mãe Jéssica Paula Lima, de 26 anos.
Quando ela conversou por telefone com a repórter da BBC News Brasil, estava na casa de outra mãe para almoçar de favor com as crianças.
Na segunda-feira (02/03), Jéssica disse ter recebido uma resposta agendando sua perícia para o dia 12 de março, um ano após ter dado entrada no Benefício de Prestação Continuada (BPC), para idosos e pessoas com deficiência de baixa renda, em uma agência do Instituto Nacional do Seguro Social de Recife, em Pernambuco.
"Nem acredito", comemorou ela.
De acordo com o INSS, existem atualmente no país 420 mil pedidos de BPC como os de Jéssica, que aguardam mais de 45 dias para serem analisados. Os atrasos atingem justamente a parcela mais vulnerável da população, que em geral não tem outra alternativa de renda, nem condições de trabalhar.
No caso de Jéssica, como nos da maioria das mães de crianças com a Síndrome Congênita do Zika, conciliar outras atividades é impossível: os cuidados com as crianças, que têm pouca ou nenhuma autonomia para atividades cotidianas, exigem dedicação em tempo integral, e a mãe quase sempre é sobrecarregada.
Brenda tem microcefalia e outras alterações causadas pela síndrome, registrada em bebês expostos ao vírus ainda no útero e responsável por diversos efeitos neurológicos no recém-nascido, como malformações na cabeça, movimentos involuntários, convulsões, irritabilidade, problemas de deglutição, baixa visão e audição.
A epidemia atingiu principalmente mulheres de baixa renda, em áreas com falta de saneamento básico, mais favoráveis à proliferação do Aedes aegypti, o mosquito transmissor do vírus.
Jéssica dedica o tempo todo aos filhos, com quem mora em um quartinho alugado em Recife. Brayan, de 4 anos, tem autismo e também precisa de remédios de uso contínuo.
Ela já tentou pedir o benefício do BPC para o filho, mas a solicitação foi negada. O filho mais velho, de 12 anos, mora com o pai, desempregado, de quem Jéssica se separou há um ano.
"A renda que tenho são os R$ 171 do Bolsa Família. Pago R$ 100 do aluguel e com os R$ 71 eu me viro", diz. O valor do benefício é o mesmo há três anos, ela afirma, com exceção do período em que estava grávida, quando recebeu R$ 46 até a bebê completar seis meses de idade. "Depois volta ao valor normal."
Brenda precisa de fraldas, leite especial e suplemento alimentar, que Jéssica já não tem dinheiro para comprar. A medicação contra convulsões também acabou e não está disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A perda de peso da filha tem deixado a mãe cada vez mais apreensiva e triste.
"Às vezes quando tem verdura ou qualquer outra coisa eu cozinho, bato no liquidificador e dou para ela. Verdura, suco, qualquer coisa que tem ela toma, só na mamadeira. Porque ela está com disfagia (dificuldade de engolir) e não está aceitando nada na colherzinha, nem papinha mais grossa, ela engasga e vomita", conta.
"A médica disse que na próxima consulta, se não aumentar o peso um pouquinho, ela vai ter que ir para a sonda."
Agência do INSS na Liberdade, em São PauloDireito de imagemBBC NEWS BRASIL
Image captionPromessa do governo de reforço no atendimento do INSS ainda não saiu do papel

Incerteza e novas exigências

Desde que agendou pela primeira vez a ida ao INSS, em 19 de março do ano passado, Jéssica conta que levou todos os seus documentos e os dos filhos, inclusive o laudo atestando que Brenda tem a Síndrome da Zika.
Seu pedido ficou em análise e, de lá para cá, as exigências só aumentaram. Ela já levou, a pedido do INSS, uma atualização do Cadastro Único obtida no Centro de Referência em Assistência Social (Cras). Em novembro, oito meses depois da primeira solicitação, o INSS pediu que ela levasse a folha resumo do Cras, documento que identifica e caracteriza as famílias de baixa renda.
Em dezembro, mais um aviso. "Disseram que estava faltando o CPF do meu filho, o que não faz sentido, porque eu já tinha mandado, e estava tudo certo. Levei de novo. De lá para cá, está em análise."
Germana Soares, presidente e fundadora da União de Mães de Anjos, que presta assistência para mais de 400 famílias de bebês com a síndrome do zika em todo o Estado de Pernambuco, diz que o caso de Jéssica é um dos mais extremos que ela conhece em razão do atraso do INSS, mas não muito diferente da realidade que muitas das mães enfrentam, mesmo as que recebem o valor do BPC. Foi a associação, por exemplo, que colocou Jéssica em contato com outras mães para ajudar na falta de comida.
"Temos outras famílias que vivem em situação de vulnerabilidade grande, porque um salário mínimo não é nenhuma fortuna", diz. "Essas famílias precisam de alimento, de roupa, de leito especial, lenço umidecido, material de higiene. Existe um cenário de 76% de abandono paterno, essas mulheres vivem sem um companheiro. É um salário para a vida e para a morte, que mal dá para os custos com a criança, que dirá para a família", diz. "A mãe não pode trabalhar, a dedicação é infinita. As crianças convulsionam 70, 80 vezes por dia. A medicação é caríssima, alguns são liberados pelo SUS, mas vive em falta. Tem mãe que gasta R$ 600 de medicamento por mês, mais aluguel. Daí vive de quê?"
A BBC News Brasil pediu ao INSS, por meio da assessoria de imprensa, informações sobre os casos das mães entrevistadas. O contato com as seccionais do INSS tanto em Pernambuco quanto do Nordeste tampouco resultou em previsão ou resposta sobre o andamento dos casos.
Situação parecida com a de Jéssica enfrenta Rosigleide Santos da Silva, a Kel, que aos 22 anos é mãe de John, um menino de quatro anos com microcefalia. No mês passado, sem renda, ela e a mãe pediram dinheiro emprestado para a vizinha para comprar Keppra, um medicamento antiepilético cuja caixa com 60 comprimidos custa cerca de R$ 135.
"É um remédio que ele toma duas vezes ao dia, não pode faltar", conta. "Está bem difícil. Meu companheiro trabalha, mas é insuficiente para os gastos, especialmente com o meu filho, que toma remédios controlados."
Rosigleide e o filho, JohnDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image captionNo mês passado, Rosigleide precisou pegar dinheiro emprestado para comprar o remédio do filho, John
Kel afirma que o benefício do BPC foi cortado em 2019, após três anos. Ela deu nova entrada no pedido em 24 de setembro, ainda no ano passado, e desde então checa todo dia o aplicativo Meu INSS em busca de uma boa notícia. Sem a renda mensal, reduziu a compra de lanchinhos para o filho, que já perdeu cerca de 3 kg.
"Ele estava com 17 kg, indo para 18kg. Hoje ele deve estar com uns 15 kg", lamenta. "Parei de comprar lanche, tipo um iogurte, uma fruta. Como perdi o benefício tive que diminuir, comecei a dar mais gogó (leite), que sai mais em conta do que comprar outras coisas."
John não se senta, não fala, não tem muita firmeza no pescoço e só come comida pastosa ou líquida, porque tem dificuldades para engolir. "Parece um bebê de seis meses". Tinha melhorado, mas teve uma convulsão muito forte no Natal, e, desde então, a mãe notou que ele regrediu um pouco.
Ela diz gastar cerca de R$ 400 por mês só nos cuidados com o filho. John faz fisioterapia quatro vezes por semana, e é Kel quem leva o filho de ônibus, empurrando a cadeira de rodas que quase não serve mais. "Por enquanto está dando para andar, mas já está bem pequena."

Fila nacional e direitos desrespeitados

De acordo com o INSS, até 31 de janeiro, 2.021 milhões de benefícios da Previdência ainda aguardavam análise. Destes, 1.373 milhão estavam na fila havia mais de 45 dias, o prazo da lei para a concessão do benefício.
O novo presidente do INSS, Leonardo Rolim,Direito de imagemDIVULGAÇÃO/MINISTÉRIO DA ECONOMIA
Image captionO novo presidente do INSS, Leonardo Rolim, substituiu Renato Rodrigues Vieira após pedido de demissão
No fim de janeiro, em meio à crise das filas, o presidente do INSS, Renato Rodrigues Vieira, que teria pedido demissão, foi substituído pelo atual secretário de Previdência, Leonardo Rolim.
No começo do ano, o governo chegou a anunciar que reforçaria o número de servidores que analisam os pedidos. Uma das medidas seria a contratação de militares da reserva, mas o texto ainda não foi publicado. Na segunda-feira (01/03), o presidente Jair Bolsonaro assinou uma Medida Provisória que prevê a contratação de servidores aposentados para atuarem na mesma área de quando estavam na ativa.
Segundo o governo, esse trecho da MP foi elaborado especialmente para a tentativa de reduzir a fila de pedidos no INSS.
No ano passado, o presidente transformou o BPC para crianças com a Síndrome da Zika em pensão vitalícia. Pela regra, as famílias mantêm o direito ao benefício de um salário mínimo mesmo que a renda familiar aumente.
Kel diz que tem comprado bem menos comida do que a família precisa. Pediu ajuda à secretaria de Saúde para conseguir os remédios, mas não encontrou. Quando consegue algumas fraldas, são geriátricas, em tamanho bem maior que o de John. "Mas pelo menos já ajuda um pouco."
Em Maceió, Alessandra Hora, presidente da presidente da Associação Familias de Anjos de Alagoas (Afaeal), que reúne mães atingidas pelo vírus Zika, diz que só na associação há outras cinco mães que aguardam o pedido do benefício, sem previsão. Quem não recebe o BPC, explica ela, provavelmente não conseguirá o benefício da pensão vitalícia a que têm direito. "Ela tem que receber o BPC para poder migrar pra pensão vitalícia."
Alessandra também diz que, na prática, o que as mães ouvem ao pedir o BPC é que o governo não concede o benefício para quem já recebe o Bolsa Família. Tal regra, no entanto, não consta no site do INSS. O Ministério da Cidadania informou que tal restrição não existe. "Para ter acesso ao BPC, os valores de transferência de renda do Bolsa Família são descontados do cálculo da renda per capita familiar."
Professor Edgar Bom Jardim - PE