quarta-feira, 27 de junho de 2018

Na contramão de Europa e EUA, Brasil caminha para liberar mais agrotóxicos

Homem borrifando vegetais em hortaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionProjeto de lei foi aprovado em comissão especial na Câmara após oito tentativas de votação nos últimos meses; matéria ainda deve ir a plenário
Se o novo PL 6.299/2002, aprovado na noite de segunda-feira por uma comissão especial da Câmara dos Deputados, virar a nova lei de agrotóxicos, o Brasil estará na contramão das decisões recentes de países da União Europeia.
É o que diz a pesquisadora Larissa Mies Bombardi, do Laboratório de Geografia Agrária da Universidade de São Paulo (USP), autora do atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia, de 2017, que mapeia o uso dessas substâncias em todo o país e o compara com o uso nos países da UE.
"Para se ter uma ideia, eles (os europeus) acabaram de proibir o uso de inseticidas chamados de neonicotinoides, que são dos mais vendidos no mundo, por que pesquisas mostravam uma relação entre eles e a mortandade de abelhas", disse à BBC News Brasil.
"Aqui, essas substâncias ainda são usadas. E agora, com o novo projeto de lei, ainda vamos ampliar o leque de agrotóxicos disponíveis no mercado."
O projeto, proposto originalmente pelo ex-senador e atual ministro da Agricultura Blairo Maggi (PP-MT) e cujo relator é o deputado Luiz Nishimori (PR-PR), também dá mais poderes ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para realizar a avaliação toxicológica das substâncias e aprovação do seu uso, dimuindo as competências de controle e fiscalização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no processo.
O debate vem causando polêmica entre ruralistas, a favor do PL, e órgãos como Anvisa, Ibama, Fiocruz, Instituto Nacional do Câncer (Inca) e Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), que se posicionam contra, afirmando que a mudança reduz os níveis de segurança para o consumidor.
Máquina agrícola em campoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionSegundo pesquisador da escola de Agronomia da USP, mudança na legislação sobre agrotóxicos é necessária para modernizar a produção brasileira
Os produtores reclamam da demora na liberação dos agrotóxicos e dizem que, quando o governo autoriza a aplicação, os produtos já estão obsoletos. Pessoas favoráveis ao novo projeto de lei afirmam que ele é mais eficiente e condizente com as normas internacionais de uso das substâncias.
Opositores, por sua vez, afirmam que a nova medida favoreceria apenas os fabricantes dos químicos, facilitando a entrada de produtos possivelmente danosos à saúde e ao ambiente no mercado.
O PL foi aprovado na comissão após pelo menos oito tentativas de votá-lo, que foram palco de debates acalorados, xingamentos entre deputados e manobras para atrasar a decisão sobre o tema. O texto ainda não tem data para ser levado ao plenário da Câmara.
A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, ligada ao MAPA), além de organizações e sindicatos que representam produtores das substâncias usadas nas lavouras, se posicionaram a favor da medida.
Do outro lado, reuniram-se, além de Anvisa, Ibama e Consea, organizações ambientalistas e até celebridades, como Caetano Veloso, Bela Gil e atores de televisão, que chamam o projeto de "PL do Veneno".
Saiba quais os principais pontos polêmicos da medida:

'Risco inaceitável'

Uma das principais controvérsias do projeto é a ideia de que agrotóxicos só serão proibidos no país caso apresentem "risco inaceitável", que é definido como "nível de risco considerado insatisfatório por permanecer inseguro ao ser humano ou ao meio ambiente, mesmo com a implementação das medidas de gerenciamento dos riscos".
Atualmente, a lei 7.802/1989, que rege o uso de agrotóxicos, é mais rígida, e proíbe especificamente substâncias que revelem características teratogênicas, carcinogênicas ou mutagênicas (que provoquem câncer ou alterações em embriões ou no DNA), de acordo com resultados de experiências da comunidade científica; que provoquem distúrbios hormonais e danos ao aparelho reprodutor, que se revelem mais perigosos para o homem do que os testes de laboratório, com animais, tenham podido demonstrar e que causem danos ao meio ambiente.
"Na prática, essa proposta é um grande retrocesso porque põe a perder o nosso parâmetro de precaução. Como vamos saber o que é risco inaceitável? Como exatamente se define isso?", diz Bombardi.
"Já somos muito mais permissivos no limite de substâncias que permitimos que sejam usadas nas plantações e que estejam nos alimentos e na água. Por exemplo, permitimos um nível de glifosato na água (considerado cancerígeno para animais e provavelmente para o homem pelo Centro Internacional de Pesquisa sobre o Câncer) até 5 mil vezes maior do que a UE permite".
De acordo com o atlas, o limite máximo de resíduos permitido em alguns alimentos no Brasil chega a ser 400 vezes superior ao da União Europeia. No caso da água, essa diferença pode ser de 5 mil vezes mais.
A definição de risco inaceitável, de acordo com a PL, seria feita por técnicos responsáveis por fazer uma avaliação de risco, outra novidade introduzida no projeto.

Análise de risco, não só de perigo

Atualmente, os órgãos responsáveis no Brasil fazem uma avaliação do perigo dos agrotóxicos, ou seja, de qual perigo eles podem oferecer à saúde e ao ambiente, segundo a ciência, como determina a lei. Em outros países, como na União Europeia e nos Estados Unidos, também é feita, juntamente com a avaliação do perigo, uma análise de risco.
Manuseio de produtos químicos agrícolasDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionNova lei, se aprovada, institui avaliação de risco de substâncias químicas, que identifica os riscos que elas trazem mesmo quando utilizadas de maneira correta
Esta análise leva em conta a exposição que as pessoas realmente têm ao produto no dia a dia, caso ele seja aplicado da maneira correta definida pela empresa que o fabricou.
"Este é o grande avanço do PL. Possibilitar uma analise dos produtos não apenas pelo perigo, mas pelo risco, que é o conceito moderno de avaliar qualquer substância e processo. É um procedimento mais complexo, mas muito mais seguro em termos de ambiente e de saúde", disse à BBC News Brasil José Otávio Menten, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) e presidente do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS).
A questão é que cada agrotóxico deve ter uma dosagem e uma maneira correta de aplicar em produtos diferentes, o que torna a análise de risco complexa e, 0também, "não tão objetiva", segundo Menten.
"Esse procedimento requer técnicos mais experientes, porque ele não é tão objetivo. É um dos procedimentos que mais exigem qualificação e preparo de técnicos que possam entender até que ponto a gente pode e não pode ir", afirma.
Anvisa e Ibama reclamam da falta de recursos para o preparo de profissionais para avaliar com mais rapidez, de acordo com a lei atual, os pedidos de registro de agrotóxicos. Em nota técnica sobre o PL 6922/2002, a Anvisa diz que, o país não tem estrutura, atualmente, para fazer a análise de risco dos agrotóxicos.
"Há estratégias de possibilidade de avaliação do risco que não estão ainda internacionalmente pacificadas, o que demanda maturidade regulatória, necessidade de condução de estudos para quanficação da exposição no Brasil e técnicos especializados em número suficiente para o atendimento da demanda, o que não corresponde à realidade brasileira no momento", afirma o órgão.
Para Menten, no entanto, isso são "limitações" que o país pode ultrapassar. "Os nossos técnicos talvez tenham que ser reciclados, atualizados. Não é uma coisa que vai acontecer de um dia para o outro, mas não podemos ficar parados por falta de técnicos suficientes. Vamos qualificando nossos técnicos com o tempo."

Mais substâncias no mercado provisoriamente

A lei atual de agrotóxicos também não estabelece prazos-limite para que os registros de novos produtos sejam concedidos. Na prática, o processo pode levar entre cinco e oito anos, e os produtores reclamam que essa lentidão impede que o Brasil consiga usar produtos mais eficientes e menos tóxicos que estão no mercado internacional.
Com o novo PL, ficam estabelecidos os prazos de 30 dias - para o registro especial temporário de um produto que precise ser usado para pesquisas acadêmicas - até 24 meses (dois anos), para produtos completamente novos no Brasil.
No entanto, se esses prazos de análise não forem cumpridos pelos órgãos federais, as empresas, segundo o projeto, podem pedir um registro temporário para seus produtos, e já colocá-los no mercado enquanto eles esperam a aprovação (ou reprovação) do Ministério da Agricultura.
Para conseguir esse registro temporário, basta que o produto tenha sido autorizado da mesma maneira por três países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), organização que reúne alguns dos países mais desenvolvidos do mundo.
"A OCDE tem 37 países. Nela estão Japão e União Europeia, que podem ser exemplos no uso de agrotóxicos. Mas também estão México, Turquia e Chile, que nem sempre são bons exemplos. Quais três países serão escolhidos? Novamente, não fica claro", questiona Larissa Bombardi.
Cientista colocando produto em plantaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionNova lei permitiria que novos produtos químicos chegassem ao mercado brasileiro antes que pareceres técnicos fossem finalizados
O projeto de lei diz que os três países que aprovaram previamente o agrotóxico devem obedecer ao Código Internacional de Conduta sobre a Distribuição e o Uso de Pesticidas da FAO, organização da ONU para a alimentação.
"Um terço dos 504 agrotóxicos que são autorizados no Brasil são proibidos na UE. Dos dez mais vendidos no Brasil atualmente, dois são proibidos lá. O que pode acontecer agora é que essa diferença pode aumentar. Outros agrotóxicos que o Brasil proibiu podem voltar a ser avaliados e permitidos", diz a pesquisadora.
A possibilidade de colocar agrotóxicos no mercado provisoriamente da forma como proposto no PL não existe na União Europeia, ressalta a pesquisadora.
Para José Otávio Menten, que é favorável ao novo projeto de lei, o registro provisório é o ponto mais "delicado" e "preocupante".
"Se esse registro servir para que haja um estímulo para a análise mais rápida, é até válido. É uma maneira de pressionarmos por maior eficiência. Mas temos de lutar pela melhoria do Ibama e da Anvisa para usarmos esse dispositivo da lei em casos raros, que não vire uma regra", pondera.
"Temos cerca de 30 produtos já registrados em outros países e não no Brasil. E, se estão registrados em países onde passaram por análise bem feita, espera-se, acho que a chance de termos problemas com eles é pequena. Mas o ideal seria que eles só entrassem no mercado depois da consulta aos nossos órgãos, e que eles fossem ágeis."
Atualmente, a Anvisa tem 32 agrotóxicos novos - ou seja, cujas moléculas nunca foram registradas no Brasil - esperando pelo parecer que pode conceder o registro para serem vendidos no país.
A agência, no entanto, é apenas uma parte da equação, que envolve os pareceres do Ibama e do Ministério da Agricultura. O Ibama tem cinco produtos ainda em análise na lista divulgada em seu site. Até o fechamento desta reportagem, o Ministério da Agricultura não havia divulgado quantos agrotóxicos estão pendentes do registro no Brasil.

Sem reavaliação determinada por lei

Segundo Larissa Bombardi, o PL também perdeu a oportunidade de implantar uma reavaliação cíclica dos registros dos agrotóxicos, como em países desenvolvidos.
Nos Estados Unidos, eles devem ser reavaliados a cada 15 anos. No Japão, a cada três. Na Europa, são 10 anos. Após esse período, as autorizações devem ser revistas de acordo com as novas pesquisas científicas disponíveis sobre elas. Em todos os casos, a sociedade também pode pedir a reavaliação.
No Brasil, uma substância só é reavaliada atualmente mediante pedido. O glifosato, por exemplo, está sendo reavaliado desde 2008. Na UE, sua licença foi renovada no ano passado, mas continua sendo questionada por instituições de saúde. A França determinou que o produto será proibido a partir de 2022.
Menten, no entanto, diz que o sistema brasileiro é "mais inteligente". "Teríamos que parar outros serviços para fazer essa revisão, se ela fosse implantada. Mas sempre que houver um fato novo, podemos revisar", diz.
Cientista examinando morangos em laboratórioDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionSegundo pesquisadora da USP, Brasil permite quantidade muito alta de agrotóxicos em alimentos e na água em relação à União Europeia

Agrotóxicos x Fitossanitários x Pesticidas

A controvérsia em relação ao projeto de lei chegou até mesmo ao nome utilizado para se referir aos produtos químicos usados na agricultura.
Inicialmente, o PL sugeria que o nome agrotóxicos fosse substituído por "produtos fitossanitários". Em resposta à reclamação de opositores, o relator do projeto, Luiz Nishimori, decidiu pelo termo "pesticidas".
"Além de depreciativo, o termo agrotóxico só é utilizado no Brasil", diz o relatório.
"Cabe lembrar que a escolha natural seria o termo adotado em Portugal, que denomina essas substâncias pesticidas. Nas principais línguas do mundo, adotam-se variações com a mesma etimologia: pesticidas (espanhol), pesticide (inglês), Pestizide (alemão), pesticides (francês), pesticidi (italiano), pesticider (dinamarquês e sueco), pesticiden (holandês), пестициды (pestitsidy - russo). Ademais, os tratados e acordos internacionais utilizam o termo pesticidas."
Para Menten, a denominação não é relevante, mas a expressão "agrotóxicos", de fato, inadequada.
"Pesticida também não é adequado, é qualquer produto para matar pragas. Se eu estou falando apenas de produtos para manejo de pragas agrícolas, o correto é fitossanitários. Mas isso tem uma importância menor", diz.
Já Larissa Bombardi, que também se opõe a esta mudança, afirma que a questão não é "apenas semântica".
"É uma estratégia para mascarar o risco para a saúde humana que esses produtos têm. Quando você fala em pesticida, diminui a gama de significados. Os dois mais vendidos no Brasil são herbicidas, por exemplo, não pesticidas. Pesquisadores europeus já me disseram que era um ganho termos a expressão 'agrotóxico' na nossa lei, e que não deveríamos perder", diz.


Professor Edgar Bom Jardim - PE

Protesto:Petição exige que TV Cultura se retrate por ataques a Manuela D'Ávila no Roda Viva


Deputada e pré-candidata à presidência Manuela D'Ávila usou camiseta com os dizeres: Lute como uma garota. Foto: Instagram/Reprodução
Deputada e pré-candidata à presidência Manuela D'Ávila usou camiseta com os dizeres: Lute como uma garota. Foto: Instagram/Reprodução


Após repercussão da entrevista da deputada estadual e pré-candidata à presidência pelo PCdoB Manuela D’Ávila no programa Roda Viva, internautas criaram uma petição online exigindo que a TV Cultura se retrate com a candidata. A atriz Maria Casadeval defende a deputada e compartilhou a campanha no Instagram nesta quarta-feira. O documento repudia a postura desrespeitosa e machista com que Manuela foi tratada no programa e solicita um espaço para que ela possa expor suas propostas sem ser interrompida. 

Na noite desta segunda-feira (25), a deputada estadual do Rio Grande do Sul foi entrevistada pela bancada do Roda Viva de forma hostil e vítima de ataques machistas, tendo sua fala interrompida cerca de 60 vezes e impossibilitada de terminar frases. Um dos entrevistadores foi Frederico D’Ávila, o coordenador programa de agronegócio do PSL, partido de Bolsonaro.

"Repudiamos a postura desrespeitosa e machista com que a pré-candidata Manuela D’Ávila foi tratada no programa Roda Viva na TV Cultura. Exigimos que a emissora cumpra seu papel de veículo público de comunicação dando espaço para que a a pré-candidata exponha de fato suas propostas, marcando uma nova data para um debate real e qualificado, já que ficou impossível no programa exibido na segunda-feira (25), dado o número de interrupções feitas pelos entrevistadores convidados pelo canal e pelo mediador. A emissora deve também se retratar, pois a reprodução do machismo e do desrespeito a mulher foi propagada em rede nacional pública em uma sociedade com altíssimos índices de violência contra a mulher", diz o texto da campanha. (Clique aqui para assinar)

O apresentador do Roda Viva, o jornalista Ricardo Lessa, negou a acusação de preconceito contra Manuela. "Ela teve mais de 50% de cada bloco de fala sem interrupção. Ao todo, isso deve dar mais de 40 minutos de falas limpa [de total de 80 minutos]. É normal que um debate fique mais acalorado. Não é questão de gênero, mas de jornalismo". 
Fonte: Diario de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 26 de junho de 2018

Pertencimentos: amores, paixões, consumos


Resultado de imagem para paixão

Fala-se na rapidez. Nada permanece, tudo custa segundos. Não há como se segurar, pois as tempestades invisíveis ganham o mundo. Os intelectuais se lamentam  da fugacidade dos saberes. Como compreender  tanta complexidade e ainda exigir clareza das atitudes políticas?  Vivemos a falta de transparências ou ela nunca existiu ? Não me angustio. Os exageros tomam contas das manchetes, as bandeiras de lutas se multiplicam, mas as relações sociais banham-se com pragmatismos. Sempre considero o afeto. Não proclamo apostas, nem disciplinas pesadas. É preciso que a leveza consiga seu espaço, pois  o sonho distrai e o movimento afasta a preguiça.
A quem pertenço? Qual é a minha raiz? Boas perguntas, respostas confusas. Ficar preso na solidão desbotada nada traz. Sair para desfrutar as festividades produzidas com artificialidade , cansa o corpo. Portanto, busco uma conversa ajuda para costurar o tempo. Se não conseguimos nos escutar, o sinal vermelho nos coloca dificuldades. Saber a radicalidade de cada um é um desafio da vida. Como olhar o outro se eu me despedaço nas minhas agonias? Deixar a mesquinhez de lado ferve a alma; A frieza é um desencanto, um pacto com fim do mundo, uma festa de demônios sem fogo e danação.
O mundo da mercadoria pede consumo. O amor parece que se foi ou promove liquidações de sentimentos. Não podemos ser seduzidos por todas as fascinações. Porém. nada como o calor de outro corpo e a vida driblando seus infernos astrais. A paixão também agita. Ela gosta de delírios e se inquieta com a paciência. Imagina paraísos e solta-se para voar como um pássaro. A paixão possui descuidos, tem pressa, engana e nem sempre chega ao amor. Ela reverte expectativas e  resume, às vezes,e instantes de pouca clareza.  Formula tensões e especula sobre a perda. É preciso lembrar que desde os tempos mais remotos, a cultura se reinventa.
Não acredite na programação de uma história sem portas fechadas escancaradas. Há tropeços e esclarecimentos tardios. Toda vida requer agilidade e o começo de alguma contemplação. Hoje, sobrevive o império do virtual e das drogas sintéticas. Ninguém define o que se espera. As cartomantes jogam cartas com registros nas redes sociais. As armas circulam com esquizofrenias mortais.Fala-se na liquidez, no crédito, no desejo de descobrir a fórmula de eternidade. É preciso acrobacias para desmontar o feitiço da novidade. Quem não se pertence viaja num barco que não encontra a luz do cais. Consome-se, sem se observar as distâncias fatais entre a paixão e o amor. Pós modernos ou pós-orgânicos?
A astúcia de Ulisses
Por Paulo Rezende
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Saúde:com 55% de gestações não planejadas, Brasil falha na oferta de contracepção eficaz

Ilustração de mulher com exame de gravidez dando positivoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO Brasil tem uma das maiores taxas de gestações não planejadas do mundo. Para especialistas, isso é resultado de falhas na política de contracepção, como pouca oferta de métodos contraceptivos de longo prazo (DIU e adesivo hormonal).
A conversa por telefone com Maria Carolina Silva Flor, de 23 anos, é permeada por sons de bebês. Ela conseguiu 30 minutos entre a fisioterapia da pequena Maria Gabriela e os horários de alimentação das crianças para falar com a BBC News Brasil. Moradora da cidade de Esperança, no interior da Paraíba, a jovem já tinha um filho de um ano quando engravidou pela segunda vez, em 2016.
No início da gestação, que não foi planejada, passou uma semana sentindo fraqueza, teve febre e dor de cabeça. Logo, começaram a aparecer manchas. Era o vírus da zika. Os ultrassons feitos durante a gravidez não foram conclusivos. A certeza só veio depois do parto. A bebê tinha microcefalia.
A vida da família mudou com a rotina de tratamentos da menina. Para tentar evitar uma nova gravidez inesperada, Maria Carolina e o marido, Joselito, decidiram ir atrás de um método contraceptivo de longo prazo, que não dependesse tanto da memória quanto o anticoncepcional em pílula.
"Quando a gente vai para o médico, a primeira coisa que eles fazem é oferecer a pílula ou camisinha. Eles nunca oferecem o DIU. Para chegar ao DIU eu que fui atrás. Li sobre isso na internet e cheguei ao posto e falei que sabia desse método", contou.
Mas, ao pedir para colocar o DIU (Dispositivo Intra-Uterino) de cobre pela rede pública, a resposta foi desanimadora. Teria que passar por uma bateria de exames e a espera para conseguir fazer tudo era longa. Os meses foram passando sem previsão de conseguir colocar o dispositivo.
Maria Carolina Silva FlorDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image captionMaria Carolina Silva Flor só conseguiu implantar o DIU, após ter uma bebê com microcefalia, com ajuda de uma ONG. No posto de saúde, da cidade onde mora, os profissionais só ofereciam anticoncepcional em pílula
Ao saber da situação de Maria Carolina, uma ONG se mobilizou para doar a ela o DIU de cobre; uma médica de Campina Grande, na Paraíba, soube do problema e se dispôs a fazer o procedimento. "Gabi fez três meses e nada de eu conseguir nem marcar consulta. Foi aí que, por outros meios, eu consegui o DIU de cobre."
A dificuldade enfrentada por Maria Carolina não é um caso isolado. Nessa reportagem exclusiva, a BBC News Brasil mostra o falho e desigual acesso a métodos contraceptivos pelo Sistema Único de Saúde.
As dificuldades incluem desinformação, falta de equipamentos e treinamento dos profissionais de saúde, além de expressivas diferenças entre Estados.
As mulheres em idade fértil (dez a 49 anos) que recorrem ao SUS podem, em tese, escolher entre sete métodos: injetável mensal, injetável trimestral, minipílula, pílula combinada, diafragma, e Dispositivo Intrauterino (DIU) de cobre, além de camisinha. Também é possível fazer laqueadura, processo de esterilização, se a mulher tiver mais que 25 anos ou dois filhos. No caso dos homens, o acesso é gratuito a camisinha e vasectomia, também se o homem tiver mais de 25 anos e dois filhos.
A pílula do dia seguinte deve ser oferecida gratuitamente a quem procurar as unidades de atenção básica relatando ter feito sexo sem proteção ou falha do preservativo.
Mas, na prática, a dificuldade para agendar a colocação do DIU é grande e, em alguns Estados, esse método sequer é oferecido. Também falta injeção trimestral em postos de saúde e a espera para fazer vasectomia e laqueadura é longa, principalmente no Norte e Nordeste, de acordo com pacientes, funcionários de saúde e especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.
O obstáculo, em outros casos, é religioso. Um exemplo é o do Hospital Santa Marcelina, entidade filantrópica de São Paulo (SP) que atende pacientes do SUS e conveniados, mas não realiza o procedimento de laqueadura.
DiuDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEspecialista da USP diz que ampliação da oferta de métodos contraceptivos de longa duração, como o DIU de cobre, DIU Mirena e implante hormonal, reduziria drasticamente a gravidez indesejada e o número de abortos provocados
A BBC News Brasil fez o teste: ligou para o Santa Marcelina perguntando se poderia agendar a cirurgia e foi informada de que isso não seria possível. Ao perguntar o motivo, recebeu a informação de que se trata de uma entidade filantrópica, controlada por freiras.
A reportagem perguntou à instituição se o motivo, então, seria religioso, e a resposta foi "sim". Procurada por email, a assessoria de imprensa do Santa Marcelina disse que não comentaria o assunto e disse que há outros hospitais na cidade de São Paulo que fazem o procedimento.

Alta taxa de gravidez indesejada

Métodos contraceptivos de longa duração, que não dependem tanto da "memória" de quem usa, não estão acessíveis a grande parte das mulheres brasileiras.
Essa carência está na raiz do alto número de gestações indesejadas no Brasil, segundo a pesquisadora e médica Carolina Sales Vieira, professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo.
Mais de 55% das brasileiras que tiveram filhos não haviam planejado a gravidez, segundo uma pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz que ouviu 24 mil mulheres entre 2011 e 2012.
O percentual está acima da média mundial, de 40% de gestações não planejadas.
Além disso, mais de 500 mil abortos clandestinos são realizados todos os anos no Brasil, como resultado de gestações indesejadas, de acordo com a Pesquisa Nacional do Aborto.
AnticoncepcionaisDireito de imagemAREEYA_ANN
Image captionEficácia do anticoncepcional oral cai quando é considerado o uso 'real', ou seja, a possibilidade de esquecimento na hora de tomar as pílulas diariamente
"A gente se apoia, no Brasil, em pílula e camisinha, que são métodos que dependem muito do usuário. Se ele esquecer, dançou", afirma Carolina Vieira.
"Os métodos de longa duração são raramente oferecidos por médicos particulares aos pacientes e o SUS só fornece o DIU de cobre. Mesmo assim, é a coisa mais difícil do mundo uma mulher conseguir implantar o DIU de cobre pelo SUS."
Entre os métodos de longa duração estão o DIU de cobre, o DIU hormonal (também conhecido como DIU Mirena, que solta baixas doses de hormônio) e o implante hormonal (normalmente subcutâneo e que também libera hormônios). Desses três métodos, apenas o DIU de cobre é oferecido pelo SUS.

Longa espera pelo DIU

Mas em vários Estados falta DIU nos hospitais e nos postos de saúde. Em outros, a carência é de profissionais habilitados para implantar o dispositivo, embora o procedimento seja simples - dura de 15 a 30 minutos e não precisa de anestesia.
A BBC News Brasil fez um levantamento em todo o país pelo Data SUS, para verificar se o DIU de cobre é disponibilizado. Há uma enorme discrepância no oferecimento desse método por região. Mulheres do Norte e Nordeste são as que menos têm acesso.
No Acre, por exemplo, apenas três implantes de DIU foram feitos em um ano – de abril de 2017 a abril de 2018. No Amapá, só 10 mulheres conseguiram colocar esse método pelo SUS no mesmo período, segundo os dados.
Em Alagoas, foram 22. No Amazonas, 29, e em Sergipe, 30. Em São Paulo, foram realizados 9,3 mil procedimentos com DIU em um ano, ainda de acordo com o Data Sus.
Mesmo na capital paulista há atrasos e interrupções no fornecimento dos métodos contraceptivos de longa duração. Em 2016, a clínica de Jardim D'Abril, na periferia, ficou três meses sem material necessário para esterilização, o que dificultou o processo de colocação do DIU. Médicos relataram à BBC News Brasil que paralisações de uma semana no serviço se repetem a cada ano, por falta de material.
A cidade de São Paulo também está há meses sem o anticoncepcional injetável trimestral.
DIUDireito de imagemLALOCRACIO
Image captionNo Acre, apenas três implantes de DIU foram feitos em um ano- de abril de 2017 a abril de 2018. No Amapá, só 10 mulheres conseguiram colocar esse método pelo SUS no mesmo período

Os 'mitos' do DIU

Médicos e especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que mitos que circulam sobre o DIU de cobre também reduzem o acesso das mulheres a esse método contraceptivo de longa duração.
"Tem médico que diz que adolescente não pode usar o DIU, mas pode sim. E há profissionais que afirmam que a paciente já precisa ter tido filho para usar, mas não precisa. Além disso, alguns médicos pedem uma bateria de exames desnecessários que acabam tornando o DIU caro demais", afirma a professora da USP Carolina Vieira, que defende que médicos da família, integrantes do Mais Médicos e funcionários de postos de saúde recebam treinamento específico para colocar o DIU.
Tania Di Giacomo do Lago, coordenadora do Núcleo de Direitos Humanos e Combate à Intimidação Sistemática da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, também aponta pedidos desnecessários de exames e exigência de participação em reuniões de planejamento familiar como obstáculos para o acesso a métodos eficazes de contracepção.
Coautora da pesquisa Práticas contraceptivas de mulheres jovens: inquérito domiciliar no Município de São Paulo, Giacomo diz que perguntou a mulheres que pagam por seus contraceptivos por que elas não haviam procurado o SUS. Ouviu que as mulheres não confiam no produto da rede pública ou acham o procedimento burocrático e demorado demais.

Custos aos cofres públicos

O foco da política pública de contracepção em métodos hormonais de curta duração, como pílulas anticoncepcionais, pode causar o famoso fenômeno do "barato que sai caro", na visão da médica Carolina Sales Vieira. Embora uma cartela de comprimidos seja mais barata que colocar o DIU ou um implante hormonal, a maior eficácia compensa esse custo.
O DIU de cobre dura 10 anos e apresenta 6 falhas em mil. O DIU hormonal dura cinco anos e apresenta duas falhas em mil. O implante hormonal dura seis anos e apresenta cinco casos de falha a cada 10 mil.
métodos contraceptivosDireito de imagemJPC-PROD
Image captionEficácia da pílula e da camisinha cai muito quando esses métodos não são usados corretamente. Para especialista, ideal é governo investir em métodos de longa duração, que não dependam da 'memória' dos usuários
A pílula tem eficácia em 99,7% dos casos, mas isso quando se considera o uso "perfeito", ou seja, quando o medicamento é tomado todos os dias corretamente. Mas esquecimentos são comuns e aí a proteção cai significativamente - para em torno de 91%.
Carolina Vieira, da USP, destaca que a camisinha é extremamente eficiente e importante no combate a doenças sexualmente transmissíveis, mas a taxa de falha no caso de gravidez também é maior que a de métodos contraceptivos de longa duração – 98% de eficácia, quando usada perfeitamente. Quando ela não é usada corretamente, ou seja, quando consideramos o seu "uso real", a eficácia cai para 82%.
A eficácia "real" dos métodos contraceptivos foi verificada a partir de uma pesquisa da Universidade de Princeton (EUA) que acompanhou 100 mulheres que usaram diferentes métodos contraceptivos durante um ano.
"Mais de 80% das mulheres brasileiras usam anticoncepcionais no Brasil. Como que a taxa de gestação não planejada chega a 55.4%? Isso é explicado pela falta de métodos de longa duração. Só temos 2% das mulheres usando DIU ou implante", destaca Vieira.
Cada gravidez não programada custa R$ 2.293 ao país, só considerando gastos com pré-natal e nascimento, conforme Vieira. "Isso dá R$ 4,1 bilhões ao ano no Orçamento. E esse número não inclui escola e abrigo, caso a mãe abandone a criança, nem gastos com complicações decorrentes de abortos clandestinos."
Além disso, as gestações não planejadas têm consequências sociais graves - mortes de mulheres em abortos clandestinos, abandono de bebês e empobrecimento das famílias. Segundo a pesquisadora da USP, 75% das adolescentes que engravidam deixam os estudos. "Você perpetua, com isso, o ciclo da pobreza", destaca a professora.

Redução da gravidez indesejada em outros países

A pesquisadora da USP apresenta dados que mostram que a disponibilização de todos os tipos de DIU e de implante hormonal no sistema de saúde de diferentes países reduziu drasticamente a taxa de gravidez não programada e de abortos provocados.
Uma experiência de investimento em métodos de longa duração na cidade de St. Louis, nos Estados Unidos, reduziu as taxas de aborto provocado em 75%, conforme Carolina Vieira.
"Ninguém quer fazer aborto a princípio. Normalmente, é porque falhou o contraceptivo, falhou a pílula do dia seguinte e essa é a opção que a pessoa teve."
No Reino Unido, onde 31% das mulheres usam métodos contraceptivos de longa duração, a taxa de gravidez não planejada é de 16,2%.
O México, que é um país em desenvolvimento como o Brasil, reduziu para 36% o percentual de gestações não planejadas depois de um programa que aumentou para 15% o percentual de mulheres com DIU ou implantes.
No Brasil, só 2% das mulheres usam métodos de longa duração e a taxa de gravidez não programada, como mencionado no início desta reportagem, é de 55,4%.
"Não existe meta em planejamento familiar no Brasil. Não tem meta de redução de gestação não planejada, não tem meta de redução de gestação na adolescência. Se você procura outros países, eles têm metas e método para alcançar", critica a pesquisadora da USP.
O Ministério da Saúde informou que, a partir de março de 2017, iniciou a ampliação do acesso ao DIU de cobre nas maternidades para as mulheres que tiveram filhos ou passaram por um processo de abortamento. Segundo a pasta, até 2019, 800 serviços e 4 mil profissionais serão qualificados. O objetivo, de acordo com o Ministério da Saúde, é ampliar o acesso ao DIU em 20%, em todos os Estados, até 2022.
Acesso 'zero' à vasectomia e restrições à laqueadura
Outros métodos mais definitivos, como vasectomia e laqueadura, que ajudariam a reduzir a gravidez não planejada, também são difíceis de conseguir pelo SUS, a depender da região.
A vasectomia sequer é oferecida em alguns Estados – em um ano, nenhum procedimento foi realizado em Alagoas e Amapá, de acordo com os dados do Data SUS.
No caso de laqueadura, mais uma vez Alagoas (37 procedimentos) e Amapá (23) aparecem com os piores resultados.
Para fazer laqueadura e vasectomia, a pessoa precisa ter mais de 25 anos ou dois filhos. Em vários postos de saúde, os profissionais se confundem com essa regra e exigem que a pessoa tenha mais de 25 e dois filhos, em vez de ser uma coisa ou outra. Pessoas casadas precisam, por exigência da lei, de autorização do marido ou esposa.
"No caso da vasectomia, embora seja um procedimento mais simples que a laqueadura, há ainda menos profissionais habilitados para fazer. Precisa ter um urologista e tem menos urologista que ginecologistas no SUS", disse Carolina Vieira.
O Ministério da Saúde afirmou que, por serem procedimentos difíceis de serem revertidos, laqueadura e vasectomia "devem ser realizados com cautela". De acordo com a pasta, foram realizadas 60 mil laqueaduras pelo SUS em 2017 e 45 mil vasectomias. O ministério não respondeu sobre a discrepância dos números por região. Pesquisa no Data SUS mostra que o Sudeste concentra a maior parte das cirurgias.

Falta de educação sexual e reprodutiva

quadro negro com explicação sobre camisinhaDireito de imagemSELIMAKSAN
Image captionMédica relata que diretores de escolas resistem a abrir as portas para palestras sobre educação sexual e reprodutiva, com receio de críticas dos pais
Outra causa apontada pelas especialistas para alto número de gestações não programadas no Brasil é o baixo nível de conhecimento da população sobre sexo e contracepção.
"Na última palestra que eu dei, num município do interior, uma das perguntas que os adolescentes fizeram foi se a pílula protege contra o HIV. É uma dúvida muito básica", relatou a médica infectologista Mardjane Nunes, coordenadora do Ambulatório Especializado no Atendimento de Pessoas com HIV, do Hospital Escola Dr. Hlevio Auto, em Maceió.
Ela contou que, quando participou de um programa de controle de doenças sexualmente transmissíveis, nas escolas de Alagoas, os próprios colégios tinham resistência em aceitar que o tema fosse levado aos alunos. "A gente percebe dificuldade dos diretores das escolas em deixar a gente entrar para falar com os alunos. Geralmente querem que a gente faça uma comunicação prévia para que os pais autorizem as ações", disse.
A preocupação de alguns pais e grupos contrários a ações que tratem de prevenção e contraceptivos em sala de aula é de que a educação sexual nas escolas estimule a atividade sexual precoce.
Também há quem seja contra a obrigatoriedade da educação sexual nas escolas, como é o caso do movimento Escola Sem Partido. Projeto de lei baseado no programa diz que o professor deve respeitar "o direito dos pais a que seus filhos recebam a educação moral que esteja de acordo com suas próprias convicções", tendo "os valores de ordem familiar precedência sobre a educação escolar nos aspectos relacionados à educação moral, sexual e religiosa".
A agente comunitária Gil Pereira, que faz a ponte entre a comunidade de uma favela na zona oeste de São Paulo e uma unidade de saúde na região, diz que há muita desinformação, especialmente entre adolescentes.
A pesquisadora Carolina Vieira lembra que, na educação para prevenção, os efeitos demoram para aparecer. "Educação é vital, mas ela demora gerações. Temos que disponibilizar métodos contraceptivos de longa duração, além de treinamento dos profissionais e educação."

Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 25 de junho de 2018

PESQUISA: perfil do desempregado é mulher, nordestina, entre 18 e 24 anos


Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil
Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil
O desempregado no Brasil tem um perfil: é mulher, nordestina, e com idade entre 18 e 24 anos. Ela tem ensino fundamental incompleto e mora em regiões metropolitanas. É o que consta da seção Mercado de Trabalho, da Carta de Conjuntura, divulgada nesta segunda-feira (25) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Tendo por base dados obtidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o estudo identifica um comportamento distinto da ocupação, dependendo da idade do trabalhador e de seu grau de instrução. De acordo com o Ipea, o recuo da taxa de desocupação ocorre “de modo disseminado em todas as categorias, sendo mais significativo nas regiões Norte e Centro-Oeste e no grupo de trabalhadores com idade entre 25 e 39 anos, com ensino médio incompleto e não residente nas regiões metropolitanas”.

Na comparação com os números obtidos em 2017, os estados que registraram aumento da desocupação foram Piauí, Sergipe, Maranhão, Pernambuco e Rio de Janeiro. Já os estados que apresentaram queda mais acentuada no índice de desemprego foram Amazonas, Tocantins, Goiás e Mato Grosso do Sul.

Idoso
A população ocupada com idade superior a 60 anos aumentou em 8%, percentual bem acima ao do registrado na população de trabalhadores com idade entre 25 e 39 anos, que aumentou 0,9% no primeiro trimestre de 2018, na comparação com o mesmo período de 2017. Entre os com ensino médio incompleto, a ocupação aumentou 10%. Já entre os com ensino fundamental, a ocupação recuou 9%.

Na avaliação do Ipea, o crescimento dos mais idosos na força de trabalho tem ocorrido pelo fato de a parcela de idosos que decidem deixar a força de trabalho e ir para a inatividade vem recuando, e não devido ao aumento do número desses trabalhadores que estão saindo da inatividade e retornando ao mercado de trabalho.

Alguns fatores são citados pelos pesquisadores como relevantes para explicar a permanência dos mais velhos no mercado de trabalho. Um deles está relacionado à busca por um aumento na renda. O outro fator está relacionado ao aumento de expectativa de vida do brasileiro.

Desemprego
Citando números divulgados pelo PNADC, o estudo mostra que em abril o desemprego voltou a cair, após ter apresentado aumento no primeiro trimestre de 2018, na comparação com o último trimestre de 2017. Se comparado aos números de abril do ano passado, o recuo do desemprego ficou em 0,7 ponto percentual (p.p.). A construção civil apresentou saldos mensais positivos mas, no acumulado de 12 meses, o setor continua apresentando “destruição de empregos”, segundo o Ipea.

“Em maio de 2018, esse setor abriu mais de 3 mil vagas com certeira assinada, apresentando um resultado bem superior ao observado no mesmo mês de 2017”. O setor que apresentou maior dinamismo foi o de serviços, com um saldo positivo líquido próximo a 190 mil novos postos de trabalho nos 12 meses até maio.

Autora da pesquisa, Maria Andréia Lameiras avalia que apesar de o mercado ter apresentado sinais de melhora nos últimos trimestres, dados recentes apontam uma estabilidade que “coloca em dúvida o ritmo da recuperação”. Devido à desaceleração do crescimento da população ocupara, a taxa de desocupação vem se mantendo em torno de 12,5%. “Viemos de um período de retração muito grande. Nossa recuperação apresenta bases ainda frágeis, com muita informalidade, o que traz alta volatilidade para o setor, tanto em termos de ocupação, quanto de rendimento”, explicoua pesquisadora do Ipea por meio de nota.

No primeiro trimestre de 2018, o grupo instituído pelos chamados desalentados – pessoas que não procuram emprego por não acreditarem na possibilidade de conseguir uma vaga – voltou a avançar “de forma mais significativa, correspondendo a quase 3% do total da população em idade ativa”. De acordo com o Ipea, o aumento desse grupo “ocorreu por conta da migração de trabalhadores que até então estavam ocupados, mas ao perderem seus postos de trabalho transitaram diretamente para o desalento, ao invés de permanecerem na desocupação”, não estando, portanto, relacionado a pessoas que estavam sem emprego e desistiram de procurar emprego.

Com Informações do Diario de Pernambuco

Professor Edgar Bom Jardim - PE