sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Brasil:Corrupção policial viabiliza tráfico de armas e é central na crise, diz procurador que investiga escalada da violência no Rio

Exército policiando o RioDireito de imagemEPA
Image captionPara procurador, Exército nas ruas não resolve a dramática situação do Rio
Semanas depois de assumir a chefia da Procuradoria-Geral da República (PGR), no fim do ano passado, Raquel Dodge decidiu que era preciso investigar as causas do aumento da violência no Estado e na cidade do Rio de Janeiro.
Para isso, ela reuniu um grupo de cinco procuradores e lhes deu a missão de investigar a atuação das organizações criminosas que atuam no Estado, como o Comando Vermelho (CV) e os Amigos dos Amigos (ADA), e também as forças de segurança locais - o porquê de elas estarem falhando no enfrentamento.
O procurador José Maria Panoeiro, de 47 anos, foi um dos escolhidos por Dodge para a empreitada. Em conversa com a BBC Brasil, ele é enfático: não há como explicar as cenas cotidianas de traficantes armados com fuzis nas favelas cariocas sem citar o grave problema de corrupção nas forças de segurança.
Panoeiro evita generalizações, mas diz que são frequentes as operações para apreender armas que não dão em nada graças ao vazamento de informações, e cita o caso de um inspetor de polícia que se dá ao luxo de alugar um jatinho privado para uma viagem de fim de semana.
Um dos objetivos do grupo criado por Dodge, diz ele, é descobrir o porquê de a Polícia Federal não estar sendo efetiva na investigação do tráfico de armas no Rio. O procurador não comentou os resultados colhidos até agora pela investigação, que é confidencial.
Procurador da República no Rio de Janeiro José Maria Panoeiro
Image captionJosé Maria Panoeiro faz parte de grupo criado na PGR em 2017 para investigar violência no Rio | Foto: Luis Macedo/Ag. Câmara
Na última sexta-feira, o governo decretou uma intervenção federal na área de segurança do Rio de Janeiro, cujo comando está sob responsabilidade do comandante militar do Leste, o general Walter Souza Braga Netto. Ela está programada para durar até o dia 31 de dezembro deste ano.
Para o procurador, os nove meses de atuação militar dificilmente resolverão o problema, "salvo se acontecer um milagre". Além do combate à corrupção policial, ele diz que uma solução mais definitiva passaria também pela urbanização das áreas de favela. Sem isso, afirma, é muito difícil que o Estado consiga oferecer segurança aos moradores.
Há 14 anos no Ministério Público Federal, Panoeiro já trabalhou em várias áreas. O caso mais famoso tocado por ele foi a investigação contra o ex-bilionário Eike Batista, ainda em 2015. Em 2016, coordenou um grupo de trabalho antiterrorismo da Procuradoria do Rio, durante as Olimpíadas. Antes de se tornar procurador da República, ele exerceu os cargos de promotor de Justiça e de delegado da Polícia Civil carioca.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
BBC Brasil - Qual é o pano de fundo da violência no Estado?
José Maria Panoeiro - Me parece ser (entre outras causas) um problema direto de corrupção policial. Sem querer generalizar, mas há uma série de atividades onde aparecem agentes do Estado dando cobertura a criminosos, recebendo remuneração de criminosos.
E isso fica patente em algumas operações que você tem, com as Forças Armadas cercando determinados territórios, com informes sobre a existência de fuzis, e no final das contas a apreensão (de armas) é ínfima, beira o ridículo, ou não há nenhuma apreensão. O que significa que houve vazamento de informação. E vazamento da parte de quem? Só pode ser da parte de agentes do Estado.
Então, esse é um aspecto que é fundamental. Não tem como acreditar que esta quantidade de armas chega ao Rio sem que haja um mínimo de conivência de agentes do Estado que trabalham na área de segurança.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) começou a fazer bloqueios nas rodovias e começou a apreender fuzis e munição em sequência. (...) Se a PRF começa a encontrar fuzil, por que não eram encontrados antes? Porque estava havendo algum tipo de acerto que nós não conseguimos ver, mas provavelmente havia algum tipo de acerto corrupto por trás disso.
Militares armados em missão no Rio de JaneiroDireito de imagemEPA
Image captionIntervenção federal na segurança do Rio está programada para durar até o fim do ano
BBC Brasil - O que vocês investigam nesse Grupo Estratégico do Ministério Público Federal?
Panoeiro - O grupo foi criado (em outubro passado, pela procuradora-geral Raquel Dodge) para tentar fazer um diagnóstico de quais são os problemas, e (explicar) por que é que o quadro chegou neste ponto. Entender por que é que quase não há investigação de tráfico de armas, na Polícia Federal. Por que é que esses canais de investigação estão falhando.
Será que eles não estão produzindo um tipo de informação que é inútil?
Do tipo: eu prendo um sujeito com vários fuzis na (Via) Dutra e simplesmente comunico isso para a Justiça Estadual, e vendo isso como um porte de arma, como se fosse um cidadão qualquer que está circulando na rua com uma arma na cintura sem ter autorização para isso.
Quando na verdade a gente está diante de um transporte no contexto de uma importação (de armas), ou seja: aquilo ali é uma conduta de tráfico de armas, que mereceria ser investigada para saber quem é o comprador, para onde vai, de onde veio.
Mas faz-se um corte na informação e trata-se isso como o que não é: um porte de arma de fogo.
Então o foco do grupo é determinar onde estão os gargalos da investigação, que não se chega a bom termo e o crime vai, simplesmente, se expandindo.
BBC Brasil - Há tanta corrupção no aparato de segurança do Rio quanto se diz?
Panoeiro - É difícil quantificar corrupção, mas eu vou te dar um exemplo bem simples.
Se você tem um agente policial, um inspetor de polícia com um salário que gira em torno de R$ 4 mil, R$ 5 mil, R$ 6 mil, R$ 8 mil que seja, esse sujeito não tem condições de alugar um jatinho para ir passar um final de semana em uma cidade no interior de São Paulo.
BBC Brasil - Vocês já viram um caso desses?
Panoeiro - Já. A gente tem notícia (do acontecimento).
A Procuradora-Geral da República, Raquel DodgeDireito de imagemREUTERS
Image captionRaquel Dodge designou cinco procuradores para investigar a situação da segurança no Rio de Janeiro
BBC Brasil - Qual é a dificuldade de investigar corrupção policial?
Panoeiro - Concretamente, qual é o nosso problema? Imagine que você traga para o Ministério Público Federal o seguinte: "olha, eu acho que o agente fulano de tal é corrupto, porque ele ganha tanto e ostenta um patrimônio que é absolutamente incompatível".
Ok. É óbvio que, se o patrimônio é incompatível, é bastante provável que ele esteja envolvido em algum tipo de prática criminosa (...). Mas (para denunciá-lo) por corrupção, eu teria que flagrar o sujeito no momento em que ele estivesse fazendo isso. E eu não vou ter essa prova.
Por isso, dentro daquelas Dez Medidas Contra a Corrupção, que a Câmara (dos Deputados) acabou enterrando (no fim de 2016), uma delas era contra o enriquecimento ilícito. (Seria possível denunciar) todas as vezes que você tivesse um funcionário público com patrimônio absolutamente incompatível, e alguma ligação com uma atividade ilícita. Não precisaria necessariamente comprovar (que o servidor) praticou a atividade ilícita.
Mas por exemplo: eu tenho prova de que o sujeito se relaciona com milicianos na Zona Oeste. E o sujeito está enriquecendo. Eu já poderia, a partir daí, se o patrimônio é incompatível, se não tem nenhuma razão para ele ter o patrimônio que tem, eu poderia sancioná-lo (punir) por enriquecimento ilícito (...). Agora, o Congresso não quis.
BBC Brasil - A intervenção federal na área de segurança fará bem ao Rio?
Panoeiro - A rigor, e pelo para mim, pessoalmente, é uma questão que é muito clara, a gente tem um problema no Rio de Janeiro de você ter diversos grupos criminosos que disputam um determinado espaço. E eles, ao longo dos últimos 20 anos, esses grupos vieram se armando cada vez mais para prosseguir nessa disputa por território (...).
O problema da violência do Rio, salvo melhor juízo, salvo se acontecer um milagre, a intervenção federal, em nove meses, não vai conseguir corrigir um problema que vem de pelo menos duas décadas, (que vem) se tornando mais agudo.
Policiais militares em operação no RioDireito de imagemEPA
Image caption'A gente precisaria ter uma nova visão de polícia, menos suscetível de ser cooptada pela corrupção', sugere José Maria Panoeiro
BBC Brasil - Operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), com as Forças Armadas na rua, são comuns no Rio de Janeiro nos últimos anos. Funcionou?
Panoeiro - Na verdade, o problema de trabalhar com operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) é que toda vez que você faz uma intervenção mais vigorosa naquilo que seria a função da Polícia Militar, que seria o policiamento ostensivo, você naturalmente gera uma sensação maior de segurança (...).
Há uma retração naqueles crimes que as pessoas conseguem perceber mais facilmente (crimes violentos, roubos etc.), mas não quer dizer que não estejam acontecendo crimes como o tráfico de armas, como o tráfico de drogas.
Apenas esses crimes não ficam tão visíveis quanto são nas situações em que você não tem as operações de GLO.
BBC Brasil - Qual a diferença do crime organizado do Rio para o de outros Estados brasileiros?
Panoeiro - O PCC (em São Paulo) tem um monopólio. Por isso, não precisa se armar para manter o controle territorial. Ele se arma para praticar outros tipos de delitos. Têm coisas que a gente não tem aqui no Rio, ou pelo menos não tinha, até bem pouco tempo. Roubo a carro-forte. Sempre teve em São Paulo explosão de caixa eletrônico, que é algo que está chegando aqui agora.
Na operação Furacão (apuração da qual o MPF participou em 2007, e que investigou a venda de sentenças no Judiciário do Rio) tem uma parte da investigação em que fica indicado ali que havia a postura de alguns agentes da segurança pública no sentido de meio que estimular uma briga entre as facções.
Nas interceptações (telefônicas) da investigação Furacão, foram flagrados alguns diálogos que davam a entender que eles estimulavam que houvesse um confronto entre as quadrilhas (Comando Vermelho, ADA), de modo que nenhuma delas se tornasse suficientemente grande. Que elas brigassem entre si e nunca ameaçassem o status quo da cidade (...).
BBC Brasil - Na sua opinião, o que pode ser feito para minorar o sofrimento da população do Rio?
Panoeiro - É evidente que o aumento do policiamento ostensivo (como ocorrerá na intervenção) melhoraria a percepção de segurança das pessoas. Então a gente precisaria ter uma nova visão de polícia, menos suscetível de ser cooptada pela corrupção (...).
Fora isso acho que há um problema concreto de ocupação do espaço urbano e teria que haver uma intervenção da União. O que já foi pensado, não é nada de novo.
O PAC das Favelas propunha uma urbanização, nós tivemos na década de 1990 o projeto Favela Bairro, que era também de reurbanização. Porque é inviável oferecer serviços de segurança pública na comunidade se o Estado não tem como entrar na comunidade.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Professora de Limoeiro denuncia desmandos, barganha e exploração dos políticos do município

"É uma pouca vergonha", diz professora.

A Professora Roseane Travassos, da rede Municipal,além de estudante de direito na Facju, fez um vídeo em rede social onde a mesma cobra dos vereadores a não aprovação do parcelamento da divida do Limoprev.


No vídeo ela avisa que se o projeto passar, ira  acontecer a terceira guerra civil em Limoeiro, pois ela vai passar 15 dias com um megafone, em frente a prefeitura falando tudo que segundo ela sabe.

A professora Roseane Travassos, inclusive denuncia mais de 1000 cargos comissionado com altos salários, e chama os funcionários e os limoeirenses, ou seja, o povo, a irem a luta contra este parcelamento.

No vídeo ela e bastante enérgica e dura com os vereadores e com os gestores do passado e o atual. Segundo a professora, os vereadores e o prefeito devem os baixar seus salários, e passarem a ganhar no máximo 3000 reais e o prefeito no Maximo 4mil, já que o servidor além de terem baixos salários não tem aumento com o percentual que eles têm.

E segundo ela os cargos passaram a terem um aumento de 100% em seus vencimentos. Fonte: folhadelimoeiro.com
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Aqui em Surubim é essa “zorra”, tudo pode. Opinião: o túmulo do Frevo


Por Fernando Guerra.
Se Vinícius de Moraes estivesse entre nós e fosse um defensor das legítimas expressões da musicalidade pernambucana de cunho carnavalesco, após assistir o Desfile das Virgens no domingo (18/2), certamente diria que a Avenida São Sebastião é o túmulo do Frevo.
A solicitação do Conselho Municipal de Cultura encaminhada e acolhida pelo Ministério Público e que passou a integrar o TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), exigindo que cada Trio Elétrico executasse um mínimo de 25% de frevo no repertório, foi a mesma coisa que “passar manteiga na venta de gato”.
Nenhum dos Trios que participaram de nosso carnaval e suas respectivas Bandas tocaram o ritmo pernambucano entre a Rua Malaquias Guerra e a Igreja de S. Sebastião, parte das mais importantes do trajeto do cortejo da folia, local onde se encontrava a cobertura jornalística do Correio do Agreste.
Imaginava-se que neste ano fosse possível reverter o desastre dos anos anteriores quando o carnaval da Bahia foi transplantado com malas e bagagens para Surubim. Mas, ao que parece, isso não se deu. E, como se não bastasse, em cima da queda veio o coice. O Bloco Soute trouxe uma inovação para a avenida. Sob o comando do DJ Gutto Ferreira esse Trio engrossou o caldo da descaracterização tocando ritmos de boate como Dance Music, Pancadão, etc. Um samba do crioulo doido.
Esse evento, chamado de Desfile das Virgens, prima pela falta de identidade cultural e, quando abre espaço para os chamados paredões de som, aí descemos vários degraus no rumo da imoralidade, com músicas de conteúdo sexual, beirando ao indecoroso, verdadeiro atentado aos padrões mínimos de civilidade.
Esses paredões de som deveriam merecer um tratamento de choque, ser banidos dessa festa e procurar outro espaço para a destilação dessa paupérrima musicalidade e letras absolutamente desprovidas de poesia. Interferem e desvirtuam todo o planejamento de se fazer uma festa típica de cunho essencialmente popular.
Como todos conhecemos, até hoje, nunca se promoveu no país, em tempo algum, um show de rock movido ao nosso autêntico baião. Cada macaco no seu galho.
Em nenhum dos melhores carnavais do país, como em Olinda, Recife, Salvador ou Rio de Janeiro se permite uma intervenção sonora no percurso dos cortejos carnavalescos. Aqui em Surubim é essa “zorra”, tudo pode. Chegou a hora de intervir, dar um freio de arrumação nessa bagunça.
Quem está de fora não percebe a complexidade de realizar um evento de grande porte como o Desfile das Virgens, com seus cacoetes de muitos anos, imprevistos como a ausência do Bloco 14 Bis pela irresponsabilidade do cantor André Marreta, criando uma lacuna no desfile, entre tantos outros detalhes que aparecem sucessivamente. Há, entretanto, uma clara percepção de que se pode melhorar desde que sejam corrigidas as falhas aqui relatadas.
As atrações de qualidade inferior aos anos passados quando vieram Alceu Valença, Elba Ramalho, Fafá de Belém, por exemplo, e que são indicações da Fundarpe, foram trocados por um Geraldinho Lins cuja identificação artística remete ao São João,  igualmente pesaram no conjunto do festejo.
Faz bem ressaltar a valorização dos nossos artistas, dos focos carnavalescos como Jucá Ferrado e Lagoa da Vaca, a criação dos novos polos de folia, aspectos que enriqueceram o nosso carnaval e que merecem uma avaliação à parte.
Correio do Agreste

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Aumento na conta de energia em Pernambuco


A Companhia Energética de Pernambuco (Celpe) respondeu às declarações do advogado Antônio Campos a respeito de reajustes da tarifa de energia elétrica no Estado. De acordo com a empresa, na última década, os índices estão abaixo da inflação registrada no período. 

A Celpe informa que, nos últimos dez anos, o IPCA aumentou 82,1% e o IGP-M, 89,4%, até a data da última alteração tarifária. 
“Enquanto isso, as tarifas praticadas pela Celpe tiveram variação de 42% para os clientes residenciais, cerca da metade dos indicadores oficiais de inflação”, afirma a empresa em nota. A empresa reforça que os dados são públicos e constam no site da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). 

Na nota, a Celpe informa que, por se tratar de uma empresa regulada, a empresa obedece às determinações da Aneel aplicadas a todas as distribuidoras de energia do País. 

“Todos os índices de reajustes tarifários são definidos pelo órgão regulador após serem submetidos a rigorosos processos administrativos, em conformidade com a legislação do setor elétrico e o contrato de concessão. Adicionalmente, a Celpe informa que não foi citada da ação judicial”, finaliza a Companhia na nota.
Com Informações da Folha de Pernambuco

Professor Edgar Bom Jardim - PE

"Chuva mísseis": o drama dos civis em Ghouta, enclave rebelde na Síria

home carregando criança feridaDireito de imagemAFP
Image captionMédico que conversou com a BBC disse que mais de 100 pessoas estão morrendo a cada dia no leste de Ghouta
"Os mísseis e morteiros estão caindo sobre nós como chuva. Não há onde se esconder, e o pesadelo não acabou."
É assim que Firas Abdullah, morador do leste de Ghouta, descreve a situação da população desde que as forças do governo sírio intensificaram o bombardeio à região, que fica nos arredores de Damasco.
Ghouta é o único grande reduto próximo à capital síria ainda sob controle dos rebeldes, e o governo de Bashar al-Assad tenta retomar o território.
Mas as consequências do ataque têm sido dramáticas para os moradores. O número de mortos em dois dias de bombardeios já chega a 250, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (SOHR, na sigla em inglês), instituição baseada em Londres. Pelo menos 50 crianças estariam entre as vítimas.
Paciente ensanguentado em hospital na SíriaDireito de imagemREUTERS
Image captionAlém de centenas de mortos e feridos, hospitais em Ghouta também tiveram funcionamento afetado por danos estruturais após bombardeios
É o número mais alto de mortes em 48 horas desde o ataque químico em 2013 que deixou mais de mil mortos também em Ghouta, de acordo com o SOHR.
"É possível ouvir o grito e choro das mulheres e crianças pelas janelas das casas", contou Abdullah à BBC.
As Nações Unidas advertiram que a situação está "fugindo do controle" e, segundo um porta-voz, pelo menos seis hospitais da região foram atingidos entre segunda e terça-feira.
O exército sírio não comentou os registros de mortes no leste de Ghouta, mas confirmou ter feito "ataques de precisão".
Menino feridoDireito de imagemAFP
Image captionPelo menos seis hospitais teriam sido atingidos nos bombardeios, segundo porta-voz da ONU

O que está acontecendo em Ghouta?

Forças pró-governo, apoiadas pela Rússia, intensificaram os esforços para retomar o último grande reduto dos rebeldes próximo à capital síria na noite de domingo.
O leste de Ghouta é dominado pela facção islâmica Jaysh al-Islam. Mas a Hayat Tahrir al-Sham, uma aliança jihadista com origens ligadas à al-Qaeda, também ocupa a região.
Segundo organizações que atuam no local, pelo menos dez cidades e aldeias da região foram alvo de um novo bombardeio nesta terça-feira.
A ONU pediu um cessar-fogo para a chegada de ajuda humanitária e evacuação de feridos.

Quão ruim é a situação?

Um médico local disse à União das Organizações de Cuidados Médicos (UOSSM, na sigla em inglês) que a situação em Ghouta é "catastrófica".
"As pessoas não têm para onde se voltar", disse ele. "Elas estão tentando sobreviver, mas a fome decorrente do cerco as enfraqueceu."
Outro médico ouvido pela BBC disse que cerca de 100 pessoas estão morrendo a cada dia e que hospitais, escolas, mesquitas e lojas viraram alvos de mísseis.
Crianças são resgatadas de escombros após bombardeio que matou mais de cem na Síria
O coordenador da ONU na Síria, Panos Moumtzis, disse à BBC que ficou "consternado" ao saber de relatos de que hospitais teriam sido atacados deliberadamente e alertou que tais ataques podem configurar crimes de guerra.
Desde novembro, o governo permitiu a entrada de apenas um comboio de ajuda humanitária no leste de Ghouta - o que agrava a escassez de alimentos por ali.
Um pedaço de pão agora é 22 vezes mais caro do que em todo o país e 12% das crianças com menos de cinco anos estão com desnutrição aguda.
Criança caminha perto de construções danificadas por ataques na cidade de DoumaDireito de imagemREUTERS
Image captionCriança caminha perto de construções destruídas por ataques na cidade de Douma; ONU pediu cessar-fogo para ajuda humanitária

O que mais está acontecendo na Síria?

Nesta terça-feira, forças pró-governo entraram no enclave curdo de Afrin, ao sul da fronteira turca.
A Turquia está tentando expulsar as milícias curdas, que têm autonomia parcial na área e pediram ajuda às força militares sírias.
A Síria classificou a ofensiva turca como um "ataque flagrante" à sua soberania - mas a Turquia insistiu que não vai recuar.
As forças do governo sírio também estão realizando ofensivas na província de Idlib, no noroeste do país.
Segundo a ONU, mais de 300 mil pessoas foram deslocadas pelos combates em Idlib desde dezembro.
prédios bombardeadosDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionMoradores dizem que hospitais, lojas, mesquitas e casas foram bombardeados deliberadamente

Como a guerra começou?

Os conflitos na Síria tiveram início em 2011, com a resposta violenta do governo aos protestos pedindo mais liberdade no país, inspirados na Primavera Árabe.
Simpatizantes do grupo antigoverno começaram a pegar em armas - primeiro para se defender e depois para expulsar as forças de segurança de suas regiões.
Ao longo dos meses, o conflito adquiriu contornos de guerra sectária entre a maioria sunita do país e xiitas alauítas, o braço do Islamismo a que pertence o presidente.
Diante do caos, grupos extremistas, como o autodenominado Estado Islâmico (EI), dominaram partes do país e passaram a ser combatidos por forças internacionais, principalmente dos Estados Unidos.
Os últimos redutos urbanos do EI foram retomados no fim do ano passado. A guerra entre rebeldes e as forças de Assad, porém, continua.
Com informações de 
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Como celulares roubados no Carnaval são desbloqueados e desovados em ‘feiras do rolo’ no Facebook

Celulares apreendidos com porteiro durante carnaval em São Paulo
Image captionDelegado do Deic diz que brasileiros viajam ao Paraguai para comprar aparelho que desbloqueia celular roubado | Foto: Divulgação/Deic
Os blocos de Carnaval se tornaram um sucesso de público e arrastaram milhões de pessoas pelas ruas de diversas cidades brasileiras neste ano, como São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. Mas em meio à euforia dos foliões, milhares de celulares foram roubados e furtados.
Mas o que os assaltantes fazem com esses aparelhos, já que a polícia bloqueia o IMEI (número de identificação) assim que o boletim de ocorrência é registrado?
Em 2015, o então secretário da Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, anunciou que esse bloqueio do registro do celular faria o smartphone perder todas as suas funções "e virar uma pedra" na mão dos criminosos. Mas não é o que acontece.
O bloqueio até ocorre de forma efetiva, mas os criminosos descobriram um aparelho capaz de trocar o IMEI bloqueado por outro antigo em uso - o que pode levar a dois celulares a terem o mesmo código. Depois, os assaltantes encontraram nas "feiras do rolo" do Facebook um caminho fácil para desová-los. Alguns grupos do tipo têm mais de 300 mil participantes.
Nesta terça-feira, uma mulher ofereceu 14 celulares "semi-novos" em um grupo fechado para venda e troca de celulares no Facebook, com 248 mil membros.

Desbloqueio

Mas, antes de tudo, o aparelho precisa estar funcionando plenamente.
Fabricado na China e na Coreia do Sul, o desbloqueador de IMEI apaga a identificação do aparelho registrado no Cadastro de Estações Móveis Impedidas (Cime), da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Isso "engana" o sistema das empresas de telefonia e faz o aparelho ser reconhecido como válido e efetuar ligações e acessar a internet normalmente.
Venda de celulares em grupo fechado
Image captionMulher vende 14 celulares "semi-novos" em grupo fechado no Facebook após Carnaval | Foto: Reprodução
Esse desbloqueador foi proibido no Estado de São Paulo há três anos. Mas, em entrevista à BBC Brasil, o delegado titular da Delegacia de Cybercrimes do Departamento de Investigações Criminais (Deic), José Mariano de Araújo, disse que os criminosos brasileiros passaram a compram o aparelho no Paraguai. Cada um custa cerca de US$ 350 - o equivalente a R$ 1150.
O delegado do Deic diz que hoje apenas dois modelos de celular são imunes ao desbloqueio do IMEI: o iPhone X, fabricado pela Apple, e o Galaxy S8, da Samsung. Com um aparelho desses em mãos, só resta aos assaltantes tentar desmontá-lo e vender suas peças.
José Araújo, que também é professor de cybercrimes e Direito Eletrônico da Academia da Polícia Civil de SP, diz que essa barreira é apenas uma questão de tempo para os criminosos. Como a atualização do desbloqueador é feita online, quando um hacker de qualquer parte do mundo conseguir quebrar o código para destravar o IMEI do iPhone X, por exemplo, todos os desbloqueadores do mundo também poderão ter acesso à função.
Questionada pela BBC Brasil, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo não informou quantos celulares foram roubados durante o carnaval. Mas segundo o delegado, o número de ocorrências cresceu.
"Estamos vendo uma reedição do roubo e furto de automóveis. É como pegar uma BMW novinha, descobrir uma que deu perda total, implantar o chassi dela na roubada e está lá a mesma situação (legal). Tem celular roubado, com IMEI de celulares antiguíssimos, rodando normal", explica o delegado.
No dia 12 deste mês, a polícia prendeu um porteiro de 45 anos e uma moradora do prédio onde ele trabalha, de 27 anos, sob suspeita de participarem de um esquema de roubo de celulares no Carnaval de São Paulo. Com eles, foram apreendidos 300 aparelhos. Na semana anterior, outro grupo fora detido com 32 smartphones.
Em São Paulo, a Polícia Militar reforçou a segurança com 7.504 policiais a mais nas ruas durante o Carnaval. No período, 8.843 pessoas foram abordadas, 31 presas e 4 menores apreendidos na capital. Em 2017, 4.127 celulares foram recuperados em ocorrências de receptação.

Por que não bloquear dois celulares com o mesmo IMEI?

A Anatel já fez anúncios de que bloquearia o IMEI de celulares piratas - sem o registro ou com a numeração repetida. A mais nova previsão é que a medida seja adotada a partir de maio de 2018, no Distrito Federal e Goiás.
Para o delegado do Deic, essa é uma das medidas mais importantes para evitar os roubos de celulares.
O delegado explica que o Brasil não exigiu que cada celular tivesse um IMEI diferente quando começou a registrar os aparelhos roubados no Cadastro de Estações Móveis Impedidas (Cime). Isso possibilitou que um registro fosse usado em diferentes celulares.
"Chega um aparelho da China aqui com um IMEI que nem existe e funciona. Fora isso, existe também uma configuração padrão de IMEI para testes de operadoras, que são usadas pelos fraudadores e aparecem dezenas de vezes", conta José Araújo.
Celular desmontado
Image captionNúmero de IMEI, gravado na bateria e na caixa do celular, é usado para bloquear as funções do aparelho
Segundo ele, a Anatel tem quer permitir que apenas aparelhos homologados funcionem nas redes de telefonia o mais rápido possível. "Mas as operadoras não têm nenhum interesse nisso porque o que elas querem é aumentar a sua massa de assinantes", diz.
Ele diz isso porque, caso os IMEIs piratas ou duplicados fossem bloqueados, a maior parte dos celulares importados da China deixaria de funcionar no Brasil por conta das identificações repetidas. Isso forçaria todos os brasileiros a usarem aparelhos nacionais e afetaria diretamente a quantidade de assinantes das operadoras.
O delegado do Deic ainda sugere que todos os celulares fabricados tenham um número de fábrica cravado em suas peças, como nos chassis de carros.
"Isso viabilizaria a gente saber a origem das peças de cada aparelho ao analisá-lo, além de evitar a venda das peças. Mas as fabricantes também não estão interessadas porque isso aumenta o custo de produção", explica Araújo.
Procurada pela reportagem da BBC Brasil, a Anatel não disse por que ainda não bloqueia IMEIs repetidos nem confirma quando adotará a medida.

Desova no Facebook

As "feiras do rolo", como são conhecidos os comércios ilegais de rua onde são vendidos produtos falsos ou roubados, agora migraram para a internet.
A maior parte desses grupos fechados e secretos está no Facebook e alguns são destinados exclusivamente ao comércio de celulares. A ideia inicial era de que os usuários pudessem vender aparelhos antigos ou com pequenos defeitos, mas criminosos estão aproveitando a plataforma para desovar os aparelhos roubados.
Celulares apreendidos com porteiro durante carnaval em São Paulo
Image captionCelulares apreendidos com porteiro durante carnaval em São Paulo | Foto: Divulgação/Deic
A reportagem da BBC Brasil teve acesso a mais de 10 grupos de troca e venda de celulares na rede social. Em alguns deles, pessoas vendiam até cinco aparelhos diferentes e faziam pacotes - um usuário vendia três celulares por R$ 800. Um sinal forte de irregularidade, segundo o delegado.
José Araújo e sua equipe do Deic investigam há mais de um ano os grupos criminosos que desovam celulares nas redes sociais. Diversos suspeitos foram identificados, mas nenhum foi preso.
"A infiltração virtual é muito complexa. Os criminosos agem como um exército e se blindam. É muito difícil conquistar a confiança de alguém pela internet. Assim que o cara desconfia de você, bloqueia na hora", diz o delegado.
Ele culpa redes sociais como o Facebook por dificultar o trabalho policial.
"Se nos mostrarem uma feira do rolo, eu mando uma equipe e a gente combate, mas na internet eu não tenho informação. As empresas que deveriam ajudar não vão porque elas têm que provar que possuem um ambiente seguro, não importa se o usuário é um criminoso ou não. Elas deveriam me dar acesso para trabalhar e investigar, mas não dão. Quer uma polícia eficiente que trabalhe com segurança ou preservar o anonimato de criminosos?", afirma o delegado.
Procurado, o Facebook informou que os "padrões da comunidade proíbem o uso do Facebook para praticar atividades criminosas, como as que causem danos financeiros a pessoas ou negócios". Diz ainda que "remove qualquer conteúdo desse tipo assim que fica ciente e fornece às autoridades os dados requisitados seguindo a legislação".

Como sei que um celular é roubado?

O delegado do Deic aponta a receptação como o principal combustível que impulsiona os roubos e furtos de celulares. Mas muitas vezes o comprador tem boas intenções ao participar de um grupo de trocas nas redes sociais e não sabe identificar se um aparelho é roubado.
O delegado do Deic diz que a principal dica para não colaborar com crime é aplicar os mesmos conhecimentos usados ao comprar um carro quando adquirir um celular de outra pessoa.
"O produto tem documentação ou nota fiscal? O aparelho tem o IMEI bloqueado? Eu recomendo que ainda que marque um encontro com o vendedor num local público de grande movimentação para avaliar o aparelho pessoalmente. Vá acompanhado, ligue o aparelho, veja se a conta do iTunes da Play Store estão bloqueadas, leve um chip para testá-lo e coisa do tipo", recomenda o delegado.
Mas para ele, enquanto IMEIs repetidos forem permitidos e a comercialização indevida for possível por meio das redes sociais e até mesmo em lojas que fazem manutenção de aparelhos, todas as outras ações serão apenas para "enxugar gelo".
Professor Edgar Bom Jardim - PE