Estrutura é construída em Qunu para o enterro de Mandela no dia 15 de dezembro. (Foto: Carl de Souza/AFP)
O corpo de Nelson Mandela, ex-presidente sul-africano e líder da luta pela igualdade,
chegou neste sábado (14) a Qunu, onde será enterrado neste domingo (15). Ele foi levado da Base Aérea de Pretória à residência de sua família em Qunu, povoado onde o líder cresceu. Os rituais tradicionais da etnia xhosa, incluindo o sacrifício de um boi, protagonizarão a despedida final.
14/12 - O caixão de Mandela chega à residência da
família do líder sul-africano em Qunu coberto por
uma pele de leão (Foto: Elmond Jiyane/GCIS/AP)
Depois do velório formal em Pretória, a tradição vai dominar a cerimônia do enterro, que será acompanhado por dirigentes e ex-dirigentes de todo o mundo e convidados especiais.
O funeral do Prêmio Nobel da Paz e primeiro presidente negro da
África do Sul depois do fim do apartheid será supervisionado pelos anciões do clã e acontecerá na fazenda da família Mandela.
O sacrifício do animal - recorrente em momentos importantes da vida - será parte crucial do evento.
"Um funeral é uma cerimônia complicada que envolve se comunicar com os ancestrais e permitir que o espírito da pessoa que se foi descanse", declarou o chefe Jonginyaniso Mtirara, do clã Thembu, ao qual Mandela pertence.
"Derramar o sangue do animal é parte importante do processo", acrescentou.
Durante a cerimônia, Mandela será tratado como "Dalibhunga", o nome que lhe deram aos 16 anos no rito de iniciação à vida adulta.
Seu corpo será recebido ao grito de "Aaah! Dalibhunga!", que se repetirá durante a cerimônia.
Os xhosa utilizarão o traje típico dos funerais, branco e azul, adornado com colares.
Os oradores xhosa estarão divididos em três grupos, um deles o Thembu, ao qual Mandela pertencia.
Embora ele nunca tenha demonstrado sua fé, a mãe de Mandela incutiu nele sua confissão metodista.
Seu casamento em 1998 com sua terceira esposa, Graça Machel, foi realizada por um sacerdote metodista, Mvune Dandala, com bênçãos de reverendos de outras confissões, incluindo um rabino.
A comissão de assuntos tradicionais regional pediu que o governo não interfira na organização da cerimônia.
"Se o governo intervier, os anciões não o aceitarão e não será bem-vindo, e isso terá um efeito pernicioso nos membros da família, porque o espírito voltará para persegui-los", explicou o chefe da comissão, Nokuzola Mdenge.
Os vizinhos e uma empresa privada prepararam cuidadosamente o panteão familiar, protegendo-o dos curiosos com um muro.
É o local onde foram enterrados novamente seus três filhos, depois que uma parte da família os transferiu a Mvezo, o povoado no qual Mandela nasceu, após uma disputa.
Em muitas áreas rurais da África do Sul é normal enterrar os parentes nas terras da família.
O antropólogo e historiador Mda Mda declarou que Mandela não terá um enterro real, apesar das conexões familiares com a realeza Thembu.
"Não era um rei, seu pai não era um rei, como alguns gostam de acreditar", declarou.
A filha mais velha de Mandela, Makaziwe, declarou em julho que não queria que o túmulo de seu pai se convertesse em local de peregrinação e que não estaria aberto ao público.