segunda-feira, 3 de junho de 2013

De quem é esta cidade? De quem é este lugar?

Política

De quem é esta cidade? De quem é este lugar?

Pernambuco

Grupo Direitos Urbanos | Recife usa a Lei de Acesso à Informação como ferramenta para debater o impacto de obras privadas e decisões do poder público sobre a cidade
Por Patrícia Cornils
por Patrícia Cornils — Carta Capital


#Ocupe Estelita +1: ato no Cais José Estelita, dia 28 de abril de 2013, para celebrar um ano de atuação do DU contra o projeto Novo Recife.
Em março de 2012, um grupo de pessoas que compareceu a uma audiência pública sobre o projeto Novo Recife – um megaempreendimento para construir 13 torres no Cais José Estelita, uma área que liga a Zona Sul ao Centro histórico da cidade do Recife – decidiu formar uma comunidade no Facebook para debater as intervenções imobiliárias na cidade. Desejavam, eles próprios, se tornar uma força de intervenção, porque consideravam que o projeto teria um impacto negativo sobre a cidade. Elaborado somente de acordo com interesses dos empreendedores, poderia repetir erros de urbanização em uma área vital do Recife, agravando problemas de mobilidadena já congestionada ligação com o bairro de Boa Viagem, isolando ainda mais áreas degradadas, destruindo a identidade histórica do Centro e segregando ainda os usuários populares do bairro de São José.
O grupo se chama Direitos Urbanos | Recife (DU) e chegou, na semana passada, a 10 mil participantes. Por conta do Direitos Urbanos, o debate sobre o espaço urbano do Recife se tornou, de fato, público. É acompanhado por no mínimo dez mil pares de olhos atentos. E é um debate mais amplo do que a discussão sobre um empreendimento específico. O DU discute, na verdade, como, para que e para quem se constrói uma cidade.
Quem quiser saber mais sobre a história do grupo e sobre o que estão fazendo, veja a entrevista de Leonardo Cisneiros, um de seus primeiros participantes, aqui. Vale a pena. O Caixa Preta, no entanto,  é um blog sobre como abrir a caixa preta das informações públicas. Então, vou contar aqui o pedaço da história que tem a ver com isso. Que também é bem bacana, para quem quiser pensar sobre como interferir nas decisões sobre sua própria cidade.
Desde outubro de 2012, ativistas do DU fizeram onze pedidos de acesso à informação, tanto à Prefeitura do Recife quanto ao governo do estado de Pernambuco. Alguns foram respondidos satisfatoriamente, outros não foram respondidos. E em um deles o poder público decidiu que a informação solicitada pelo movimento – sobre impactos na vizinhança de um conjunto de quatro viadutos - era sigilosa.
Funciona!
O primeiro pedido foi para a Secretaria de Controle, Desenvolvimento Urbano e Obras da Prefeitura, e era assim: “Gostaria de ter acesso a uma lista com (1) todos os empreendimentos de impacto aprovadas nesta gestão e (2) as mitigações e condicionantes exigidos de cada um deles.” Ele foi feito no dia 4 de outubro e respondido 59 dias depois (fora do prazo da Lei de Acesso, que é de 20 dias), em 3 de dezembro. As “mitigações” são medidas para atenuar impactos de um empreendimento. E as “condicionantes” são as condições que um empreendedor tem que cumprir para realizar determinada obra. Essas medidas são previstas em lei e precisam ser conhecidas, para que se saiba se são proporcionais aos impactos causados pelas obras, para que se fiscalize seu cumprimento, para que fique transparente o que a cidade está “trocando” por o que.
O grupo queria ter uma ideia do valor das contrapartidas exigidas às empresas pelo impacto de suas obras na cidade e queria, também, enxergar os empreendimentos que haviam sido aprovados pela prefeitura. A tabela que receberam está aqui. Nela, pode-se ver que a Queiroz Galvão assumiu a obrigação de construir uma ciclovia ligando o Parque das Jaqueiras ao Parque das Tamarineiras. Ou que os construtores do Shopping Beira Mar se comprometeram a doar ao município um terreno com 13 mil metros quadrados, no bairro Pina, para a construção de um conjunto habitacional. Ou que em um projeto de supermercado na Rui Barbosa, uma das avenidas mais engarrafadas da cidade, a mitigação é consertar as calçadas. O que, por sinal, já é obrigação do dono do imóvel correspondente.
Este pedido tem dois detalhes importantes. Primeiro, só foi feito porque a prefeitura criou um SIC, um Serviço de Informação ao Cidadão, para receber, pela internet, as solicitações de informação. O SIC está previsto na Lei de Acesso. Mas a maioria dos órgãos públicos ainda não criou um. O segundo detalhe é a reação de Leonardo Cisneiros à resposta: “Pensei 'pô, vamos ver se essa Lei de Acesso funciona'. Foi algo sem muita esperança, só para testar mesmo, porque eu não esperava nenhuma transparência da parte da gestão passada e até fiquei surpreso quando a resposta chegou (com atraso)”. Moral da história: é melhor fazer o pedido. E se surpreender com o resultado, se for positivo. Ou exigir o cumprimento da lei, se for negativo.
Viadutos estaiados
Mas a Lei de Acesso realmente funciona? O que aconteceu com o terceiro feito pelo Leonardo mostra que a resposta a esta pergunta não depende somente da lei federal mas também das leis que regulamentam, em cada estado e município, a sua aplicação. Em 21 de fevereiro, ele pediu à Secretaria das Cidades do governo de Pernambuco o seguinte: “1. Relatório do Estudos de Circulação para elaboração do projeto básico dos viadutos da Agamenon Magalhães; 2. Simulação de Tráfego para a elaboração do projeto básico dos viadutos da Agamenon Magalhães; 3. Localização das estações de BRT do Corredor Norte-Sul; 4. Estudo técnico ambiental para implementação dos Viadutos da Agamenon Magalhães; 5. Estudo de Impacto de Vizinhança para implementação dos Viadutos da Agamenon Magalhães”.
Pense em uma grande avenida em sua cidade, uma que ligue duas regiões. A Agamenon Magalhães liga a Zona Sul à Zona Norte da cidade e à Olinda, que fica na região metropolitana do Recife. O projeto do governo do estado, de construir um corredor Norte-Sul na cidade, incluía quatro viadutos. Estaiados, como está na moda. Era, diz Leonardo, “uma gambiarra voltada para o transporte motorizado, uma solução de curto prazo, mas caríssima, e que desconsiderava toda uma série de aspectos de uma cidade além da fluidez do carro. Eram um atentado contra o pedestre, contra o ciclista, uma destruição da vitalidade urbana do entorno em nome de uma lógica rodoviária. Isso ficou muito claro em vários bons textos e um grupo de arquitetos e engenheiros conseguiu convencer o governo de que o projeto seria uma cicatriz no meio da cidade”. Os viadutos não foram construídos.  “O governo teve que elaborar uma desculpa técnica para disfarçar o recuo (…) Então apresentaram essa versão de que os estudos de impacto tinham apontado os viadutos como a melhor solução, mas que os transtornos da fase de construção recomendavam o 'adiamento' do projeto.”
O que Leonardo queria era avaliar se os estudos realmente apontavam os viadutos com uma boa solução. E o que aconteceu? Ele recebeu, depois de dois recursos, um redondo “não”. A Secretaria das Cidades do Estado de Pernambuco considerou que os estudos de impacto eram uma informação sigilosa. Pode, Arnaldo? A Lei de Acesso não diz que a regra é a publicidade das informações? Diz. Mas estabelece também que o sigilo é possível, como exceção. Afirma que informações que coloquem em risco a segurança da sociedade e do Estado podem ser classificadas como sigilosas. Onde uma informação sobre o impacto da construção de viadutos coloca em risco a segurança da sociedade e do Estado?


Informações estratégicas
A lei que regulamentou a Lei de Acesso à Informação em Pernambuco (14.804/2012) determina que “são imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado, e, portanto, passíveis de classificação, as informações cuja divulgação ou acesso irrestrito possam prejudicar ou causar risco a instalações ou áreas de interesse estratégico estadual”. Baseada nisso, a Secretaria das Cidades afirma, na resposta ao pedido de Leonardo, que “mobilidade urbana” é uma área de interesse estratégico. E informa que, além disso, o “Decreto Estadual nº 38.787, de 30/10/2012, proíbe o acesso de informações cuja divulgação prejudicaria ou tenderia a prejudicar a regular atuação de agentes públicos – no presente caso a Secretaria das Cidades na retomada da execução do Projeto quando oportuno”.
A secretaria vai mais longe e se torna, assim, explícita: “nossa intenção foi de evitar que o Estudo de Impacto de Vizinhança venha a se tornar 'massa de manobra', uma vez que a utilização de alguns de seus trechos de forma isolada e fora de todo o contexto do extenso relatório podem ser divulgados e publicados ao grande público sem qualquer espécie de critério, principalmente por oportunistas e pessoas sem outro interesse a não ser a sua própria promoção em detrimento ao bem estar e desenvolvimento social”.
Bom. Não há nada na Lei de Acesso nem em nenhum decreto sobre o que é uma informação “massa de manobra”. Fica a cargo do leitor entender – e podem me mandar sugestões sobre como interpretar isso. Fato: não se pode negar informações públicas com argumentos políticos, assim como não se pode ceder informações apenas a aliados. Existe uma lei para garantir o acesso de qualquer cidadão a informações públicas. Se as informações sobre “mobilidade urbana” forem consideradas estratégicas, para justificar a necessidade de sigilo, não se discutirá publicamente mais nenhum projeto de metrô, corredor de ônibus, ponte, viaduto, rua, ciclovia ou calçada nas cidades do país. Não faz nenhum sentido.
Informações proibidas
O Decreto Estadual 38.787/2012, que regulamentou a Lei de Acesso Estadual no âmbito do Poder Executivo de Pernambuco, cria uma categoria de informação que não existe na Lei de Acesso: a informação “proibida”. Antes de ler o parágrafo abaixo, onde reproduzirei o 2 do Artigo 3 do decreto pernambucano, pense o seguinte: a palavra “proibida” não é usada nenhuma vez na Lei de Acesso à Informação. Nenhuma, porque o objetivo da lei é regulamentar um direito – o direito de acesso  – e não o de blindar as informações públicas.
§ 2º É proibido o acesso à informação nas seguintes hipóteses:
I - cuja divulgação constitua quebra de confidencialidade prevista em ato, convênio, contrato ou outro instrumento jurídico congênere;
II - informações cuja divulgação é proibida por qualquer norma jurídica;
III - informações cuja divulgação prejudicaria ou tenderia a prejudicar as relações com outros entes da Federação ou órgãos nacionais e internacionais, ou que tenham sido fornecidas em sigilo por quaisquer desses;
IV - informações cuja divulgação prejudicaria ou tenderia a prejudicar os interesses econômicos e financeiros do Estado;
V - informações cuja divulgação prejudicaria ou tenderia a prejudicar a regular atuação de agentes públicos;
VI - informações privilegiadas do ponto de vista jurídico e econômico, cuja divulgação beneficiaria ou tenderia a beneficiar aquele que a detiver; e
VII - informações comerciais sigilosas cuja divulgação prejudicaria ou tenderia a prejudicar os legítimos interesses de quem as detém.”
Informações ultrassecretas
A prefeitura do Recife vai na mesma direção da blindagem de informações. Cria mecanismos para impedir o acesso a informações públicas. De regulamentar a Lei de Acesso contra os princípios da própria lei. O projeto de lei nº 09/2013, aprovado no dia 16 de maio na Câmara Municipal, disciplina o acesso à informação no município e prevê o sigilo de até 25 anos a informações consideradas pela prefeitura como “ultrassecretas”. Quem redigiu o texto cortou e colou o trecho da Lei de Acesso que prevê a classificação de documentos como “ultrassecretos”. E nem reparou que essa classificação só pode ser feita pelo presidente e pelo vice-presidente da República, por ministros de Estado e autoridades com a mesma prerrogativa, pelos comandantes da Marinha, do Exército, da Aeronáutica e pelos chefes de Missões Diplomáticas e Consulares permanentes no exterior. Que informação produzida por uma prefeitura, ainda que seja a prefeitura da gloriosa cidade do Recife, é da alçada dessas autoridades?
O direito de saber
Voltando ao Direitos Urbanos | Recife. Para Leonardo Cisneiros, a vantagem da Lei de Acesso é que ela permite que o trabalho de fiscalização, de controle da administração pública, seja feito colaborativamente. Que este trabalho seja distribuído, compartilhado, pelos cidadãos. Dez mil pares de olhos, lembra-se? Então, em Recife e em Pernambuco, o que acontece é que a sociedade civil se organiza, se qualifica e solicita informações para realizar uma discussão de qualidade, baseada em dados públicos, sobre o futuro da cidade. E o poder público escolhe a corrente contrária: tenta criar restrições que a Lei de Acesso, a nível nacional, não permitiria sequer imaginar.
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Sobre a autora: Patrícia Cornils é jornalista. Cobriu durante dez anos a área de telecomunicações, no Valor Econômico e outros veículos. Foi criadora da revista ARede, sobre o uso de tecnologias da informação e inclusão social. Atualmente escreve sobre projetos colaborativos na internet, cybercidadania, transparência pública. Foi colaboradora dos livros "Inclusão Digital, com a Palavra a Sociedade" e "Alencastro, o General das Telecomunicações”. Tem 46 anos, mora em São Paulo e é documentarista, eventualmente. Seu documentário "Querida Mãe" recebeu o prêmio de melhor curta-metragem no Festival É Tudo Verdade 2010. Faz parte da comunidade Transparência Hacker e trabalha no projeto Praças Digitais, da prefeitura de São Paulo.
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Pelos confins da Terra: Exposição “Gênesis” chega ao Rio



Depois de oito anos sem apresentar algo novo, Sebastião Salgado revela lugares quase inóspitos, que precisam ser preservados, em exposição no Jardim Botânico

Êxodos (1994-1999) quase privou o mundo do olhar preto e branco de Sebastião Salgado. A fuga de pessoas marcadas pela pobreza, repressão ou guerra de 40 países deixou o fotógrafo de Aimorés, Minas Gerais, devastado e sem vontade de gerar arte em cada clique. Mas há oitos anos, ele encontrou motivo para voltar a trabalhar e percorreu o planeta atrás de regiões remotas e preservadas do contato com o “homem urbano”. Nascia Genesis, mostra fotográfica que pode ser vista a partir de hoje no Museu do Meio Ambiente do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. A exposição tem curadoria de Lélia Wanick Salgado, mulher de Sebastião.

“Nos anos 90, terminei Êxodos muito marcado pela brutalidade do que eu vi. Terminei mal psicologicamente, fisicamente. Não tinha condições de fotografar mais. Coincidentemente, foi num momento em que meus pais, que estavam velhinhos, resolveram transferir uma fazenda em que a gente cresceu para mim. Quando era menino, essa fazenda era o paraíso. Tinha mais de 50% de Mata Atlântica. Quando recebi essa terra, ela estava tão doente quanto eu estava doente. Essa terra estava morta como todo o Vale do Rio Doce. Para a gente construir esse Brasil incrível, moderno e sofisticado de hoje, nós destruímos tudo. Destruímos 93% de nossa Mata Atlântica. Quando pegamos essa fazenda, a gente não sabia o que fazer e a Lélia teve uma ideia fantástica. Ela falou ‘por que a gente não replanta a floresta?’. Para recuperar a terra, a gente precisava de 2 milhões e 500 mil árvores de mais de 300 espécies diferentes. Aceitamos o desafio e a Vale trabalhou com a gente desde o início. A Natura e o Fundo Brasileiro da Biodiversidade do Rio de Janeiro também entraram no projeto. No final do ano passado, chegamos a 2 milhões de árvores. Estamos recuperando um ecossistema fabuloso. Temos onças, mais de 70 espécies de pássaros, toda linha de mamíferos. Na construção desse projeto nasceu a ideia do Genesis”, conta Sebastião Salgado.
A partir de 4 de janeiro de 2004, o mineiro, que hoje vive em Paris, França, deu início a sua aventura em Galápagos. Foram mais de 30 viagens, que envolveram aviões de pequeno porte, helicópteros, barcos, canoas e longas caminhadas.
“Quis começar em Galápagos para tentar ver se eu compreendia um pouco do que Darwin compreendeu. Lá que ele terminou toda a Teoria da Evolução das Espécies. E deu para compreender e ver a diferença da mesma espécie evoluindo em ecossistemas diferentes. Encontrei, por exemplo, tartarugas que tinham o pescoço de 20 centímetros e tartarugas da mesma espécie com 4 metros de comprimento, porque a comida era muito alta em determinadas ilhas e elas foram obrigadas a se adaptar”, explica o fotógrafo.
O projeto Genesis foi dividido em regiões distintas do mundo: Planeta Sul (Antártica, Sul da Georgia, as Falklands/Malvinas, o arquipélago Diego Ramirez e as Ilhas Sandwich); Santuários (Ilhas Galápagos, Nova Guiné e Irian Jaya, os Mentawai da Ilha Siberut e Madagascar); África (Delta de Okavango, Botswana, gorilas do Parque Virunga, na divisa de Ruanda, Congo,Uganda, Namibia, tribais Dinkas do Sudan, Etópia, Líbia e Argélia); Terras do Norte (Alasca, Colorado, Parque Nacional Kluane, Norte da Rússia, e norte da Sibéria); e Amazônia e Pantanal. Ao todo são 245 fotografias divididas nessas cinco seções geográficas.

“Foram 32 reportagens e oito anos de trabalho. Quando a gente escolhe uma fotografia, esquecemos muitas outras”, admite a curadora da mostra, que teve abertura mundial no National History Museum de Londres, em 9 de abril. 
Além de direcionar o olhar do público para alguns pontos que se enquadram na área de 46% do planeta que está “intocável” pelo “homem urbano”, Sebastião Salgado pretende alertar as pessoas sobre os graves problemas ecológicos e a possibilidade de recuperação da Terra.
“O que as pessoas vão ver na exposição é o que temos que proteger e, juntos, lutarmos para manter. Se a gente quiser viver em equilíbrio e tiver uma possibilidade de se salvar como espécie, nós temos que proteger essa parte do planeta. Essa é a ideia. E o que estamos fazendo no Vale do Rio Doce é possível fazer por todos os lados”, declara Salgado, que, agora, já apresentou o projeto de recuperação do Rio Doce à presidente Dilma Rousseff.
“Nossa proposta é salvar todas as fontes do Rio Doce. A presidente aceitou o projeto e estamos discutindo com várias empresas brasileiras. É um projeto que deve custar 1 bilhão de dólares e vai levar 35 anos para se constituir. Pode parecer muito caro, mas esses jatos de combate que a Força Aérea Brasileira quer comprar custam 250 milhões de dólares cada um”, conclui.
O Museu do Meio Ambiente do Jardim Botânico fica na Rua Jardim Botânico, 1008, Jardim Botânico A mostra fica em cartaz até o dia 26 de agosto. De terça a domingo, das 9 horas às 17 horas. . Mais informações: 2294-6619. www.ofluminense/
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Mulher é presa após agredir e insultar negros


Ela chamou dois funcionários de 'neguinhos' e bateu em outros dois.
Cliente fez imagens com celular; crime ocorreu em padaria da 113 Sul.


Uma mulher de 48 anos foi presa na tarde deste domingo (3) suspeita de chamar dois vendedores de “neguinhos” e de bater e arranhar outros dois funcionários de uma padaria da 113 Sul, em
 Brasília, por discordar do preço cobrado pelo suco e pelo salgado que ela comeu no estabelecimento – R$ 8,14. A mulher foi indicada por por injúria racial e agressão.
O estabelecimento informou estar adotando os procedimentos legais que cabem ao caso. Segundo a Polícia Civil, ela foi transferida para o Presídio Feminino do DF.
Fachada da padaria de Brasília onde funcionários foram agredidos por uma cliente (Foto: Raquel Morais/G1)Fachada da padaria de Brasília onde funcionários foram agredidos por uma cliente (Foto: Raquel Morais/G1)
A ocorrência foi denunciada por uma cliente, que fez imagens das agressões pelo celular e as divulgou em redes sociais. Segundo a assessoria da padaria, ainda durante a discussão, a mulher disse à vendedora que já havia trabalhado com negros e que sabia que eles eram "acostumados a roubar". O estabelecimento disse ainda não ter tido acesso à filmagem.
Ela deu tipo um escândalo, perguntando que valores eram aqueles. Nosso gerente, que é negro, se aproximou para saber o que estava acontecendo. É o trabalho dele, inclusive, agir assim nessas situações. Aí começaram os insultos. Depois nossa técnica de nutrição também se aproximou e ela ficou gritando ‘agora vem mais outra negra para tentar me roubar’"
Luiz Guilherme Carvalho, um dos sócios da padaria que funciona há 13 anos na 113 Sul
Um dos sócios, Luiz Guilherme Carvalho disse que a cliente havia consultado o cardápio antes de pedir o lanche, mas que só na hora de pagar a conta questionou o preço. “Ela deu tipo um escândalo, perguntando que valores eram aqueles. Nosso gerente, que é negro, se aproximou para saber o que estava acontecendo. É o trabalho dele, inclusive, agir assim nessas situações. Aí começaram os insultos. Depois nossa técnica de nutrição também se aproximou e ela ficou gritando ‘agora vem mais outra negra para tentar me roubar’.”
A padaria, que funciona há 13 anos no local e tem outra unidade em Brasília, falou em nota que os funcionários continuam trabalhando normalmente e que repudia todo tipo de preconceito. Carvalho destacou o estranhamento dele e dos outros sócios diante da situação.
"A gente ficou muito surpreso. No mundo de hoje ainda ter gente com essa cabeça, é lamentável. Eles querem levar para frente isso e nós vamos dar todo o amparo jurídico e legal para essa situação."
A suspeita foi indiciada por injúria racial e  lesão corporal. A Polícia Civil não informou por quanto tempo ela pode ficar presa, caso seja condenada. No ano de 2012, a Secretaria de Segurança Pública registrou 409 casos de injúria racial.
Dados da Companhia de Planejamento indicam que 53,5% da população no DF são de negros e pardos. A maior concentração de negros por região se encontra na Estrutural (76%) e as menores, nos lagos Sul e Norte (19%). "Essa diferença social por si só já é uma expressão do racismo existente na sociedade brasiliense", afirma a empresa.
O GDF lançou em março um serviço telefônico para receber denúncias de racismo contra índios, negros, ciganos e quilombolas. Entre 20 de abril e 17 de maio, o serviço recebeu 3.034 ligações – 28 casos foram caracterizados como caso de discriminação (injúria e racismo).

Para fazer a denúncia, é preciso ligar para o telefone 156, opção 7. As denúncias são tratadas de forma sigilosa.
Outros casos
Em março deste ano, a empregada doméstica Márcia Pereira do Nascimento afirmou a filha dela de 12 anos foi espancada perto de uma parada de ônibus da avenida Potiguar, no Recanto das Emas, no Distrito Federal, por ser negra.
"As meninas disseram que não aceitavam negras no beco delas. Minha filha falou que tudo bem, que já estava indo embora, mas elas responderam que, como ela estava lá, ela teria que pagar pelo que fez", disse, na época.
No mês anterior, a mãe de um menino de 8 anos registrou boletim de ocorrência alegando que o filho sofreu preconceito racial dentro da escola, no Núcleo Bandeirante. Uma colega de turma teria dito ao garoto que ele nunca arrumaria namorada por ser "preto, sujo, feio e fedido".
A coordenação do colégio afirmou ter conhecimento sobre o caso e disse não tolerar nenhum tipo de preconceito. O caso foi encaminhado para o Conselho Tutelar.

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Dominguinhos continua lutando pela vida


Músico, de 72 anos, está internado há cinco meses. Filho e mulher de sanfoneiro divergem sobre administração dos bens dele.

A lembrança da infância. “Quando ele morava com a gente, ainda garoto, ele já acordava tocando”, lembra Mauro Moraes, filho de Dominguinhos.
E os dias de hoje. “Agora ele pega em mim e fica fazendo como se estivesse tocando sanfona”, conta a mulher de Dominguinhos, Guadalupe Mendonça.

A segunda mulher e o filho do primeiro casamento sabem que a sanfona está fazendo falta para Dominguinhos. Há cinco meses o músico, de 72 anos, está internado em um quarto, no quinto andar de um hospital em São Paulo, longe das festas juninas do Nordeste.

“Nós lotávamos aquelas praças enormes com essa sequência de luxo, a delícia daquelas plateias nordestinas”, lembra o músico Zé Ramalho.

A famosa festa de São João de Caruaru, em Pernambuco, que sempre teve Dominguinhos, começou este fim de semana sem ele. A banda Mastruz com Leite lembrou do sanfoneiro.

Dominguinhos ficou conhecido depois que passou a tocar com Luiz Gonzaga, ainda na adolescência. Em uma entrevista, o músico se recordou de um elogio de Gonzagão.

“Eu estava gravando forró no estúdio com ele, e ele me apresentou à imprensa como o herdeiro artístico dele”, contou.

A última vez que o sanfoneiro subiu em um palco foi no dia 13 de dezembro de 2012, em Exu, Pernambuco, em uma homenagem aos 100 anos do nascimento de Gonzaga. Quatro dias depois, Dominguinhos foi internado em Recife, com infecção respiratória. Teve pelo menos cinco paradas cardíacas. Em janeiro, foi transferido para São Paulo. Os médicos dizem que Dominguinhos está melhorando.
Há cinco meses ele tinha uma infecção generalizada, insuficiência cardíaca e arritmia, usava um marca-passo, os rins não funcionavam, ele fazia hemodiálise e respirava com a ajuda de aparelhos.

Segundo o hospital, Dominguinhos já não usa mais marca-passo e se curou da infecção. Os rins voltaram a funcionar, e ele não precisa mais do respirador artificial. Mas, na parte neurológica, Dominguinhos mantém apenas uma consciência mínima, responde a alguns estímulos e consegue manter os olhos abertos.

“Eu tenho momentos de interação com ele, como quando ele começou a movimentar as mãos e me puxar. Ele puxa você para ele e chora, mas não pode falar”, descreve Guadalupe Mendonça.

Mauro e Guadalupe, que também foi companheira de banda de Dominguinhos, estão sempre no hospital, mas não se falam. Mauro pediu na Justiça a interdição do pai.
“O processo de interdição visa a manutenção da integridade daquela pessoa, da integridade do patrimônio daquela pessoa, porque a gente sabe que o processo é delicado, que os custos com a manutenção da saúde dele muito provavelmente serão altos”, explica a advogada de Mauro, Rita de Cassia Wiechnann.

O filho do sanfoneiro é contra Guadalupe ser a responsável pela administração dos bens de Dominguinhos. Mas ela mostra várias procurações que recebeu do artista.

“Dá direito a tudo: abrir conta, fechar conta, fazer tudo. Jamais usei indevidamente”, afirma Guadalupe Mendonça, explicando uma das procurações.

“Tudo bem que foi ele quem passou essa procuração para ela, mas eu não concordo porque a mulher não mora mais com ele, ela está separada há muitos anos”, justifica Mauro Moraes.

“Eu sou casada com Dominguinhos, mas a gente achou melhor morar separados”, diz Guadalupe Mendonça, confirmando ainda que eles não convivem mais como marido e mulher.

Depois de receber a equipe do Fantástico em casa, Guadalupe procurou o programa. Tinha mudado de ideia e não queria mais que a entrevista fosse ao ar. Mas o Fantástico avaliou que a participação dela era necessária como contraponto às declarações do filho de Dominguinhos.
Em um ponto, Mauro e Guadalupe concordam.

“Eu desejo para o Dominguinhos amigos leais, saúde, a recuperação dele”, diz Guadalupe Mendonça.

“A coisa que eu mais quero no mundo é, de repente, ele acordar e dizer ‘meu filho’ com aquele jeito dele”, diz Mauro Moraes.

Não é só o talento. Dominguinhos também conquista pelo carisma.

“É um ser humano de uma docilidade incrível, de uma elegância também fantástica, um humor apurado”, descreve a cantora Elba Ramalho.

Zé Ramalho lembra que Dominguinhos aprendeu a tocar sozinho.

“A musica teórica, a pauta musical, não tinha a mínima importância para ele. Ele chamava de desenhos e achava engraçados aqueles riscos. Dominguinhos toca qualquer tipo de ritmo: xote, jazz, improviso de choro”, diz Zé Ramalho.

“Eu já disse: ‘Levanta daí, Dominguinhos, e vem para o palco. A gente está aqui te esperando’”, conta Elba Ramalho.

“Dominguinhos, você nunca vai ficar só porque todo mundo está aí esperando pela sua recuperação”, declara o cantor Alceu Valença.


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sábado, 1 de junho de 2013

A beleza da Caatinga

       Fotógrafo e biólogo Carlos Eduardo Beserra Nobre revela a caatinga pernambucana a partir dos insetos

Desde 2011, o biólogo recifense Carlos Eduardo Beserra Nobre desmitifica o universo da caatinga, estereotipado em cenários secos e sem vida. Em incursões pelo Sertão pernambucano, com uma câmera fotográfica pendurada no pescoço, Carlos Eduardo vai revelando episódios da vida animal. É especialista em lepidópteros, ordem de insetos que inclui as borboletas e mariposas. Daí o nome do blog onde expõe suas imagens sertanejas: Vidas Breves (vidas-breves.blogspot.com). “Elas vivem, em média, 15 dias apenas”, conta o biólogo. “E também tem o sentido de vidas breves, abreviadas. Pela destruição de ecossistemas, pela ação humana”.

As fotos são tiradas com uma lente macro acoplada à câmera digital. No início, quando fazia o mestrado em biologia animal, na Universidade Federal de Pernambuco, entre 2005 e 2007, a intenção era documentar. Aos poucos o trabalho virou arte. O objetivo é mostrar os detalhes das carapaças, das asas, é explorar as cores. Os animais parecem mais vivos nas fotos do que em seu próprio habitat, árido até para eles. “Ainda há poucas pesquisas na caatinga, é o ecossistema brasileiro menos estudado. Não sabemos bem que estratégias esses animais utilizam para sobreviver nesses ambientes, mas eles conseguiram se adaptar”, diz Carlos Eduardo. Confira, a seguir, imagens selecionadas especialmente para a Aurora. DP
Lagarta de Agraulis vanillae (borboleta)
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Cirandeiros e cirandeiras. Assista ao Vídeo

"Projeto História, Cultura e Patrimônio"
No passado, dançar ciranda era uma forma de encontrar e pegar a mão da pessoa amada.  Ciranda, uma dança que aproximava corações apaixonados.

Ciranda é... música, ritmo, linguagem, cultura, poesia, história, sociologia, antropologia, alegria, tradição que segue... Ciranda é qualidade de vida, tecnologia social  e humanidades...
Esse é o ritmo das aulas práticas de arte com o Professor Edgar S. Santos, na EREM  Justulino F. Gomes,  com assessoria de Paulo Roberto. Bom Jardim, teve no passado vários grupos de ciranda que animavam festividades na cidade e nas comunidades rurais. O "Projeto, História , Cultura e Patrimônio" resgata essa importante brincadeira alegre e democrática. 
 Jovens são estimulados a conhecer, sentir, vivenciar e valorizar a cultura regional.


Fique por dentro CIRANDA

Lúcia Gaspar
Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco




 
É uma dança típica das praias que começou a aparecer no litoral norte de Pernambuco. Uma das cirandeiras mais conhecidas é a Lia de Itamaracá. Surgiu também, simultaneamente, em áreas do interior da Zona da Mata Norte do Estado. É muito comum no Brasil definir ciranda como uma brincadeira de roda infantil, porém na região Nordeste e, principalmente, em Pernambuco ela é conhecida como uma dança de rodas de adultos. Os participantes podem ser de várias faixas etárias, não havendo impedimentos para a participação de crianças também.
Há várias interpretações para a origem da palavra ciranda, mas segundo o Padre Jaime Diniz, um dos pioneiros a estudarem o assunto, vem do vocábulo espanhol zaranda, que significa instrumento de peneirar farinha e que seria uma evolução da palavra árabe çarand.
A ciranda, assim como o coco em Pernambuco, era mais dançada nas pontas-de-rua e nos terreiros de casas de trabalhadores rurais, partindo depois para praças, avenidas, ruas, residências, clubes sociais, bares, restaurantes. Em alguns desses lugares passou a ser um produto de consumo para turistas.

É uma dança comunitária que não tem preconceito quanto ao sexo, cor, idade, condição social ou econômica dos participantes, assim como não há limite para o número de pessoas que dela podem participar. Começa com uma roda pequena que vai aumentando, a medida que as pessoas chegam para dançar, abrindo o círculo e segurando nas mãos dos que já estão dançando. Tanto na hora de entrar como na hora de sair, a pessoa pode fazê-lo sem o menor problema. Quando a roda atinge um tamanho que dificulta a movimentação, forma-se outra menor no interior da roda maior.

Os participantes são denominados de cirandeiros e cirandeiras, havendo também o mestre, o contra-mestre e os músicos, que ficam no centro da roda. Voltados para o centro da roda, os dançadores dão-se as mãos e balançam o corpo à medida que fazem o movimento de translação em sentido anti-horário. A coreografia é bastante simples: no compasso da música, dá-se quatro passos para a direita, começando-se com o pé esquerdo, na batida forte do bombo, balançando os ombros de leve no sentido da direção da roda. Há cirandeiros que acompanham esse movimento elevando e baixando os braços de mãos dadas. O bombo ou zabumba, mineiro ou ganzá, maracá, caracaxá (espécie de chocalho), a caixa ou tarol formam o instrumental mais comum de uma ciranda tradicional, podendo também ser utilizados a cuíca, o pandeiro, a sanfona ou algum instrumento de sopro.

O mestre cirandeiro é o integrante mais importante da ciranda, cabendo a ele "tirar as cantigas" (cirandas), improvisar versos, tocar o ganzá e presidir a brincadeira. Ele utiliza um apito pendurado no pescoço para ajudá-lo nas suas funções. O contra-mestre pode tocar tanto o bombo quanto a caixa e substitui o mestre quando necessário. As músicas podem ser as já decoradas, improvisadas ou até canções comerciais de domínio público transformadas em ritmo de ciranda. Pode-se destacar três passos mais conhecidos dos cirandeiros: a onda, o sacudidinho e o machucadinho. Alguns dançarinos criam passos e movimentos de corpo, mas sempre obedecendo a marcação que lhes impõe o bombo. Não há figurino próprio. Os participantes podem usar qualquer tipo de roupa e a ciranda é dançada durante todo o ano.

A partir da década de 70 as cirandas começaram a ser dançadas em locais turísticos do Recife, como o Pátio de São Pedro e a Casa da Cultura, modificando um pouco a dança que se tornou mais um espetáculo. O mestre, contra-mestre e músicos saíram do cento da roda para melhor se adaptarem aos microfones e aparelhos de som, passando também a haver limite de tempo para a brincadeira. Compositores pernambucanos como Chico Science e Lenine enriqueceram seus repertórios, utilizando a ciranda nos seus trabalhos.

Uma das cirandas mais conhecidas é a de Antônio Baracho da Silva:

Estava
Na beira da praia
Ouvindo as pancadas
Das águas do mar
Esta ciranda
Quem me deu foi Lia
Que mora na ilha
De Itamaracá


Recife, 12 de novembro de 2004.
(Atualizado em 25 de agosto de 2009).
Ilustrações de Rosinha.



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