Depois de oito anos sem apresentar algo novo, Sebastião Salgado revela lugares quase inóspitos, que precisam ser preservados, em exposição no Jardim Botânico
Êxodos (1994-1999) quase privou o mundo do olhar preto e branco de Sebastião Salgado. A fuga de pessoas marcadas pela pobreza, repressão ou guerra de 40 países deixou o fotógrafo de Aimorés, Minas Gerais, devastado e sem vontade de gerar arte em cada clique. Mas há oitos anos, ele encontrou motivo para voltar a trabalhar e percorreu o planeta atrás de regiões remotas e preservadas do contato com o “homem urbano”. Nascia Genesis, mostra fotográfica que pode ser vista a partir de hoje no Museu do Meio Ambiente do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. A exposição tem curadoria de Lélia Wanick Salgado, mulher de Sebastião.
“Nos anos 90, terminei Êxodos muito marcado pela brutalidade do que eu vi. Terminei mal psicologicamente, fisicamente. Não tinha condições de fotografar mais. Coincidentemente, foi num momento em que meus pais, que estavam velhinhos, resolveram transferir uma fazenda em que a gente cresceu para mim. Quando era menino, essa fazenda era o paraíso. Tinha mais de 50% de Mata Atlântica. Quando recebi essa terra, ela estava tão doente quanto eu estava doente. Essa terra estava morta como todo o Vale do Rio Doce. Para a gente construir esse Brasil incrível, moderno e sofisticado de hoje, nós destruímos tudo. Destruímos 93% de nossa Mata Atlântica. Quando pegamos essa fazenda, a gente não sabia o que fazer e a Lélia teve uma ideia fantástica. Ela falou ‘por que a gente não replanta a floresta?’. Para recuperar a terra, a gente precisava de 2 milhões e 500 mil árvores de mais de 300 espécies diferentes. Aceitamos o desafio e a Vale trabalhou com a gente desde o início. A Natura e o Fundo Brasileiro da Biodiversidade do Rio de Janeiro também entraram no projeto. No final do ano passado, chegamos a 2 milhões de árvores. Estamos recuperando um ecossistema fabuloso. Temos onças, mais de 70 espécies de pássaros, toda linha de mamíferos. Na construção desse projeto nasceu a ideia do Genesis”, conta Sebastião Salgado.
A partir de 4 de janeiro de 2004, o mineiro, que hoje vive em Paris, França, deu início a sua aventura em Galápagos. Foram mais de 30 viagens, que envolveram aviões de pequeno porte, helicópteros, barcos, canoas e longas caminhadas.
“Quis começar em Galápagos para tentar ver se eu compreendia um pouco do que Darwin compreendeu. Lá que ele terminou toda a Teoria da Evolução das Espécies. E deu para compreender e ver a diferença da mesma espécie evoluindo em ecossistemas diferentes. Encontrei, por exemplo, tartarugas que tinham o pescoço de 20 centímetros e tartarugas da mesma espécie com 4 metros de comprimento, porque a comida era muito alta em determinadas ilhas e elas foram obrigadas a se adaptar”, explica o fotógrafo.
O projeto Genesis foi dividido em regiões distintas do mundo: Planeta Sul (Antártica, Sul da Georgia, as Falklands/Malvinas, o arquipélago Diego Ramirez e as Ilhas Sandwich); Santuários (Ilhas Galápagos, Nova Guiné e Irian Jaya, os Mentawai da Ilha Siberut e Madagascar); África (Delta de Okavango, Botswana, gorilas do Parque Virunga, na divisa de Ruanda, Congo,Uganda, Namibia, tribais Dinkas do Sudan, Etópia, Líbia e Argélia); Terras do Norte (Alasca, Colorado, Parque Nacional Kluane, Norte da Rússia, e norte da Sibéria); e Amazônia e Pantanal. Ao todo são 245 fotografias divididas nessas cinco seções geográficas.
“Foram 32 reportagens e oito anos de trabalho. Quando a gente escolhe uma fotografia, esquecemos muitas outras”, admite a curadora da mostra, que teve abertura mundial no National History Museum de Londres, em 9 de abril.
“Foram 32 reportagens e oito anos de trabalho. Quando a gente escolhe uma fotografia, esquecemos muitas outras”, admite a curadora da mostra, que teve abertura mundial no National History Museum de Londres, em 9 de abril.
Além de direcionar o olhar do público para alguns pontos que se enquadram na área de 46% do planeta que está “intocável” pelo “homem urbano”, Sebastião Salgado pretende alertar as pessoas sobre os graves problemas ecológicos e a possibilidade de recuperação da Terra.
“O que as pessoas vão ver na exposição é o que temos que proteger e, juntos, lutarmos para manter. Se a gente quiser viver em equilíbrio e tiver uma possibilidade de se salvar como espécie, nós temos que proteger essa parte do planeta. Essa é a ideia. E o que estamos fazendo no Vale do Rio Doce é possível fazer por todos os lados”, declara Salgado, que, agora, já apresentou o projeto de recuperação do Rio Doce à presidente Dilma Rousseff.
“Nossa proposta é salvar todas as fontes do Rio Doce. A presidente aceitou o projeto e estamos discutindo com várias empresas brasileiras. É um projeto que deve custar 1 bilhão de dólares e vai levar 35 anos para se constituir. Pode parecer muito caro, mas esses jatos de combate que a Força Aérea Brasileira quer comprar custam 250 milhões de dólares cada um”, conclui.
O Museu do Meio Ambiente do Jardim Botânico fica na Rua Jardim Botânico, 1008, Jardim Botânico A mostra fica em cartaz até o dia 26 de agosto. De terça a domingo, das 9 horas às 17 horas. . Mais informações: 2294-6619. www.ofluminense/
www.professoredgar.com
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