O capitalismo articula-se com a modernização, pois precisa mudar comportamentos e acelerar consumos. Tudo dentro de uma ordem em que as novidades não sejam desrespeitadas. Ele segue seu ritmo de controle ou sua fábrica de ilusões. Nem tudo é quietude, mas nada de ameaças e transtornos. Estamos, no Brasil, passando por momentos bem singulares que mostram que as contradições não se foram. Há uma badalada preparação para sediar competições internacionais. As polêmicas não deixam de ser frequentes. Gasta-se, sem uma fiscalização transparente a grana voa. Os negócios imperam com propagandas insistentes.
Os escândalos acontecem. Denúncias não cessam. Há dinheiro solto, num país onde as carências acusam desgoverno e monopólio. Destruíram patrimônios em nome do conforto e dos ajustes impostos pela Fifa. É uma oportunidade de fermentar projeções. Os políticos não perdem tempo. O que fizeram nas obras do Maracanã não tem medida. Além dos excessos de custos, desligam-se da memória, querem o imediato. Há um acordo que envolve interesses públicos e privados. É difícil combatê-lo, apesar das evidências de despreparo e concentração de poderes. O campo da ação é amplo. Demolem-se antigas construções, forjam-se compromissos, montam-se consórcios.
O futebol é o centro. Com a construção das famosas arenas muita coisa mudará. Os espetáculos exigirão resultados nunca antes esperados. Muita organização, mas quem pode pagá-la? Não há negar que o esporte popular caminha para cercar-se de sutilezas. Nas reportagens das TVs observa-se que o jogo é alto. As disputas marcam as transmissões, porque o patrocínio multiplica milhões. O público diminui nos estádios atuais, diferentemente do que está sucedendo na Europa. E quando as arenas se fixarem como ponto de divertimento quem gozará dos seus luxos?
Não se trata de pessimismo. Gosto de futebol, porém vejo manipulações e silêncios que registram omissões. Há protestos. Eles parecem que não incomodam os acordos das construtoras. O capital alarga suas armadilhas, como senhor da lei, da estética, do lazer. A educação e a saúde continuam esquecidas. Faltam médicos, professores, condições mínimas para a sobrevivência. Com, então, esperar que a crítica ganhe espaço, se a política do pão e circo é festejada?A centralização procura disfarces, com a velha história que a modernização é necessidade para o desenvolvimento.Portanto, o que era divertimento, com ares democráticos, passa por modificações concretas. O desperdício tem justificativas. A mentalidade de colonizado mantém-se.
Hoje, o futebol brasileiro rende homenagem aos europeus e despenca. Os clubes possuem dívidas monumentais. Tudo é muito obscuro. Não é caso de negar as excelências do futebol no exterior, mas de pensar o que está minando as atividades do antigo reino da bola.Não podemos sustentar profecias, porque a história está grávida de surpresas. Não dá para refazer certos passados. No entanto, não custa atiçar as atenções e os cuidados. Tudo isso dilui sociabilidade e exercita as desconfianças. Quem domina conhece os limites e fôlego para enganar. O discurso da modernização usa fórmulas. É preciso não desconhecê-las. Elas se afirmam mascarando e elitizando, com celebrações globalizadas e sedutoras. Por astuciadeulisses.com/ Antônio Rezende/