O Coração das Trevas (Joseph Conrad)
O imperialismo foi um fenômeno que aconteceu durante a Segunda Revolução Industrial. Trata-se de uma forma de dominação econômica, política, social e cultural de uma nação sobre outra.
As principais potências da segunda metade do século XIX dividiram entre si o controle de muitos outros países do mundo. Inglaterra, França, Alemanha, Rússia, Estados Unidos e Japão passaram a ter grande influência sobre diversas regiões do mundo.
Causas do imperialismo
O imperialismo pode ser explicado com base em fatores:
- Econômicos: no modelo capitalista, é necessária uma expansão constante da produção para que não haja crises. As potências industriais tinham grande acúmulo de capital, vindo dos lucros da atividade industrial, e precisavam de novas fontes de matérias-primas e novos mercados consumidores. Para não estagnar, buscaram controlar outras regiões do mundo. Com isso, essas localidades tornaram-se mercados exclusivos das potências dominadoras.
- Políticos: desde a derrota de Napoleão Bonaparte, foi construído um grande acordo chamado Concerto Europeu, que tentava manter a paz na Europa. Ao mesmo tempo, Estados Unidos e Japão despontaram como novas potências, possíveis rivais das nações europeias. Para manter a paz dentro da Europa e controlar os ânimos das novas potências, era importante utilizar os domínios imperiais como moeda de troca. Em vez de uma disputa direta entre elas, os conflitos se davam por meio do controle de territórios coloniais.
- Sociais: com a urbanização e o aumento da expectativa de vida, a população dos países industriais crescia cada vez mais e aglomerava-se nas cidades. As colônias eram uma forma de retirar essa pressão das grandes cidades europeias. Pessoas que, no país de origem, estariam desempregadas ou teriam cargos com baixos salários, agora poderiam trabalhar em uma colônia, ocupando cargos mais bem pagos e com mais status. Para os governos europeus, isso era positivo porque diminuía o risco de pressões populares, como aconteceu na Primavera dos Povos de 1848.
Comparação do imperialismo com o antigo sistema colonial
Podemos chamar o imperialismo de neocolonialismo porque muitos historiadores o consideram uma atualização do colonialismo, ou seja, uma nova forma de dominação que se afastava do colonialismo da Idade Moderna. Veja no quadro a seguir uma comparação entre esses dois conceitos:
ANTIGO SISTEMA COLONIAL | IMPERIALISMO CONTEMPORÂNEO | |
---|---|---|
Época | Séculos XV ao XVIII. | Segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX. |
Local | Foco na América e em pequenos entrepostos comerciais na África e na Ásia | Foco na África e na Ásia, com algumas influências comerciais e econômicas nas Américas. |
Contexto | Revolução comercial / Mercantilismo | Segunda revolução industrial / Capitalismo industrial |
Exploração | Ouro, prata, especiarias e produtos tropicais. | Busca por mercados consumidores, matérias-primas (petróleo, cobre, manganês e ferro), diamantes e ouro. |
Mão de obra | Escravizada | Local |
Domínio | Direto, por meio da posse da terra e do direito de exploração. | Econômico, que pode ser direto (caso da África) ou indireto (caso de regiões da Ásia). |
O imperialismo e a missão civilizatória
Algo que já existia no antigo sistema colonial, mas que se intensificou no imperialismo, era a ideia de missão civilizatória. As potências consideravam que os outros povos eram menos desenvolvidos e, por isso, precisavam ser civilizados por um povo superior
Nesse período, nasceu e ganhou força uma ideia deturpada que defendia ser possível aplicar os conceitos de Charles Darwin para explicar processos sociais. O darwinismo social foi desenvolvido no Reino Unido, nos Estados Unidos e na Europa Ocidental a partir de 1870. As teses evolutivas de Darwin explicam a transformação dos seres vivos com base na ideia de que os mais aptos sobrevivem e os menos aptos deixam de existir.
Os defensores do darwinismo social passaram a afirmar que esse princípio também valia para sociedades humanas, existindo sociedades mais e menos avançadas. As mais avançadas teriam supostamente o direito de dominar as menos avançadas. Porém, essa tese não era científica e foi utilizada para justificar o controle econômico, cultural, religioso e social de alguns países por outros.
Com isso, o darwinismo social serviu como justificativa para a dominação imperialista e fortaleceu crenças racistas que consideravam africanos e asiáticos povos atrasados.
As potências imperialistas
Agora que já entendemos melhor o que foi o imperialismo e quais ideias justificavam esse domínio, vamos analisar como as potências da época construíram seus impérios.
Rússia
O império dos czares seguia o exemplo de outras nações europeias. Tentou se modernizar economicamente, aboliu a servidão em 1861 e começou a expandir seus domínios. Primeiro, dominando a atual Finlândia, depois as atuais Moldávia e Ucrânia, o Grão-Ducado de Varsóvia (atual Polônia) e, principalmente, a Sibéria, chegando ao Alasca.
Essa foi a chamada Eurásia russa, ou seja, uma enorme massa territorial que estendia- -se do centro da Europa ao extremo leste da Ásia.
Observe o mapa do Império Russo e note como a expansão foi feita no limite das fronteiras russas, para oeste, leste e sul. Não por acaso, a Rússia era a grande potência terrestre do mundo naquela época.
Inglaterra
Durante o antigo sistema colonial, a Inglaterra teve uma participação pequena por conta de seus problemas internos. Além de algumas ilhas no Caribe, os ingleses tiveram apenas algumas colônias na América do Norte, que depois se tornariam as Treze Colônias, que dariam origem aos Estados Unidos. Porém, desde meados do século XVIII, a Inglaterra começou a construir o mais vasto império da História.
A Inglaterra tinha colônias na Austrália, na Nova Zelândia e no Canadá, onde exercia controle rígido para não perdê-las, como aconteceu com as colônias ao norte da América.
Os ingleses dominaram a África do Sul, anteriormente uma ocupação holandesa, e tiveram como grande base de operações coloniais a Índia, a partir de onde espalharam seu domínio por Ceilão, Ilhas Maurício, Cingapura (cidade da Malásia) e Hong Kong (no Império Chinês). O império chegou a seu auge em 1921.
Este foi o maior império do período, com vastos territórios em todos os continentes. Não por acaso também, a Inglaterra era a grande potência marítima da época.
França
No início do século XIX, a França perdeu boa parte de suas antigas colônias. O Haiti, por exemplo, se libertou após uma grande e vitoriosa revolta de escravizados. A Louisiana foi vendida para os Estados Unidos e a derrota de Napoleão Bonaparte em 1815 fez com que os franceses perdessem mais alguns de seus domínios.
Em 1848, após a Primavera dos Povos, a Inglaterra concordou que os franceses dessem início a uma colônia no norte da África, que viria a ser a Argélia. Tentando não desagradar os ingleses, a França expandiu seus domínios para Costa do Marfim, Gabão e algumas ilhas dos oceanos Índico e Pacífico. Após a ascensão de Napoleão III em 1851, a corrida colonial francesa acelerou- -se e expandiu-se para Nova Caledônia, Indochina (Vietnã, Laos etc.), Cochinchina (uma região do Camboja) e Madagascar, entre outros territórios.
Várias possessões francesas faziam fronteira com as colônias inglesas. Durante muito tempo houve grande tensão entre essas duas potências, mas elas se tornaram aliadas no fim do século XIX.
Portugal, Espanha e Holanda
Esses três Estados foram pioneiros do antigo sistema colonial e foram as principais potências coloniais dos séculos XV ao XVIII. Porém, perderam força econômica e política, especialmente durante a Era Napoleônica, e nunca mais voltaram a ter a grandeza de antes.
A Espanha perdeu suas colônias na América, as quais se tornaram independentes, e depois perdeu outras possessões para os Estados Unidos após uma guerra em 1898. Ficou com pequenos domínios na África (Rio Muni e território de Fernando Pó) e no Caribe.
Portugal perdeu sua principal colônia, o Brasil, em 1822, e ficou com posses africanas como Guiné, Ilhas de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique. Essas colônias portuguesas foram as últimas a conquistar a independência, algo que aconteceu apenas em 1975.
A Holanda manteve a ilha de Curaçao e as pequenas Antilhas, no Caribe; e o Suriname, na América do Sul. Além disso, manteve alguns entrepostos comerciais em pequenas ilhas oceânicas, sendo a Ilha de Java, na Ásia, a mais rentável.
Japão
Inicialmente, o Japão estava em desvantagem, sendo apenas uma esfera de influência dos Estados Unidos no Pacífico. Porém, com pesados investimentos do Estado já no início da Era Meiji, o Japão conseguiu se industrializar. Com isso, deixou de ser apenas um fornecedor de matérias-primas e um mercado consumidor para produtos industrializados e tornou-se uma grande potência da época.
Além do comércio, a industrialização trouxe possibilidades bélicas e o Japão tornou-se uma potência militar. Tendo poder militar e uma indústria própria, já não fazia mais sentido para os japoneses se submeter a interesses estadunidenses, russos ou de qualquer outro país europeu. Assim, o Japão começou a buscar novos domínios.
O Japão foi a única potência imperialista fora do mundo ocidental e apenas a segunda fora da Europa. No mapa, vemos o alcance máximo do Império Japonês, algo que foi construído muito lentamente. A maior expansão começou após a vitória na guerra contra a Rússia em 1905, continuou ao longo do século XX e chegou ao ápice durante a Segunda Guerra Mundial.
Além de derrotar os russos, os japoneses travaram guerras contra a China, o que permitiu a dominação da Península Coreana, da Manchúria, de boa parte do leste da China e da ilha de Formosa (atual Taiwan).
Entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, o Japão chegou a tomar antigas posses europeias e estadunidenses. Foi o caso da Indochina e da Cochinchina (da França), das Filipinas (dos Estados Unidos) e da Indonésia (da Inglaterra).
Estados Unidos
Ao longo do século XIX, regiões da América começaram a se transformar em zonas de influência dos Estados Unidos. A influência diplomática, cultural e, principalmente, econômica era cada vez mais forte.
Entre 1852 e 1855, os Estados Unidos tentaram ocupar a Amazônia brasileira, o que foi evitado graças a esforços diplomáticos do Brasil. Em 1898, vitoriosos na Guerra Hispano-Americana, os Estados Unidos tomaram Filipinas, Porto Rico, Guam e Cuba da Espanha. As Filipinas conquistaram a independência em 1946, Cuba foi um protetorado até 1959 e Porto Rico e Guam são territórios estadunidenses até hoje.
No início do século XX, os Estados Unidos apoiaram grupos separatistas no Panamá, que pertencia à Colômbia, e com isso se favoreceram. Após a independência desse novo país, foi construído o Canal do Panamá, com total domínio dos Estados Unidos. O imperialismo estadunidense nesse período foi marcado pelo Corolário Roosevelt (em alusão a Franklin Delano Roosevelt, o presidente da época). Era a política do big stick, cujo lema era “Fale macio, mas tenha um grande porrete”. Ou seja, em relação à América Latina, os Estados Unidos tinham uma abordagem diplomática, mas por trás disso havia uma poderosa força militar como ameaça.
Império Alemão
O Império Alemão unificado teve, em suas primeiras décadas, o comando de Otto von Bismarck. Este estadista não era favorável à colonização e considerava que essa forma de imperialismo era mais uma disputa de vaidade entre os líderes da Europa do que uma ação realmente lucrativa. Enquanto estados como Inglaterra e França ampliavam seus impérios, a Alemanha tornava-se um dos grandes centros industriais do mundo, um dos países precursores da Segunda Revolução Industrial.
Com o grande avanço do capitalismo industrial alemão e a competição com estados europeus rivais, a necessidade de um avanço imperialista era cada vez mais forte. Com Bismarck, houve alguns movimentos alemães para buscar colônias, mas não foram o sufi ciente para mantê-lo no cargo. Em 1890, Bismarck foi demitido pelo kaiser (imperador alemão), que voltou seus olhos e sua força para o mundo.
O Império Alemão, como podemos ver, ocupou regiões não controladas por Inglaterra e França. Porém, não deixou de ser uma grande potência.
Rapidamente, os alemães começaram a disputar espaço entre as potências imperialistas. Comparado à França e à Inglaterra, o Império Alemão não teve muitas colônias, mas teve uma presença importante na África e na Oceania.
Consequências do Imperialismo
O desrespeito pelas populações autóctones das regiões dominadas foi enorme e um ótimo exemplo disso foi o que ocorreu quando os países europeus partilharam entre si o continente africano (Conferência de Berlim 1884-1885), sem considerar as diferenças étnicas daqueles povos.
A Guerra do Ópio (1939-1942 e 1956-1960) promovida na China pelos britânicos e o domínio da Manchúria pelos russos e Japoneses na mesma China são algumas das muitas arbitrariedades neocoloniais que ocorreram nesse período do século XIX.
Somente na metade do século XX que essas colônias iniciaram seus processos de emancipação e independência, porém herdaram uma série de conflitos, problemas socioeconômicos e dificuldades políticas que perduram até os dias de hoje, enquadrando assim esses países em suas condições estruturais de subdesenvolvimento.
Texto: Wilson T Moutinho. ( coladaweb.com)
QUESTÕES SOBRE O IMPERIALISMO
1- Com a publicação do livro do economista inglês Hobson, Imperialismo, um estudo, em 1902, difundiu-se o significado moderno da expressão “imperialismo”, que passou a ser entendido como:
a) um esforço despendido pelas economias centrais, no sentido de promover as economias periféricas
b) a condição prévia e necessária ao incremento do desenvolvimento industrial nos países capitalistas
c) um acordo entre as potências capitalistas, visando dividir, de forma pacífica, os mercados mundiais
d) a expansão econômica e política em escala mundial das economias capitalistas na fase monopolista
e) o “fardo do homem branco”, um empreendimento europeu, procurando expandir a civilização na África
I. A chamada Segunda Revolução Industrial é o fenômeno econômico condicionante do neocolonialismo, à medida que amplia, nos países industrializados, a necessidade de fontes externas de matérias-primas, bem como de novas áreas fornecedoras de mão de obra escrava em larga escala
II. A descoberta de diamantes no Transvaal (1867) e de ouro e cobre na Rodésia (1889) motivaram os países industrializados da Europa a tentar garantir domínio exclusivo sobre parcelas do continente africano
III. A Conferência de Berlim (1885-1887), convocada por Otto Von Bismarck, fixou regras para a chamada partilha da África, as quais favoreceram a Alemanha e a Itália recém-unificadas, que assim compensaram seu ingresso tardio na corrida imperialista
IV. O Japão e os Estados Unidos, como potências não europeias, participaram ativamente da corrida imperialista, buscando estabelecer áreas de influência colonial ou semicolonial, em guerras contra a Rússia e a Espanha, respectivamente
Estão corretas somente as afirmativas
a) I e II
b) I e III
c) II e III
d) II e IV
e) I, III e IV
3-No início do século XIX, o naturalista alemão Carl Von Martius esteve no Brasil em missão científica para fazer observações sobre a flora e a fauna nativas e sobre a sociedade indígena. Referindo-se ao indígena, ele afirmou:
“Permanecendo em grau inferior da humanidade, moralmente, ainda na infância, a civilização não o altera, nenhum exemplo o excita e nada o impulsiona para um nobre desenvolvimento progressivo (…). Esse estranho e inexplicável estado do indígena americano, até o presente, tem feito fracassarem todas as tentativas para conciliá-lo inteiramente com a Europa vencedora e torná-lo um cidadão satisfeito e feliz.”
Carl Von Martius. “O estado do direito entre os autóctones do Brasil”. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/EDUSP, 1982.
Com base nessa descrição, conclui-se que o naturalista Von Martius
a) apoiava a independência do Novo Mundo, acreditando que os índios, diferentemente do que fazia a missão europeia, respeitavam a flora e a fauna do país
b) discriminava preconceituosamente as populações originárias da América e advogava o extermínio dos índios
c) defendia uma posição progressista para o século XIX: a de tornar o indígena cidadão satisfeito e feliz
d) procurava impedir o processo de aculturação, ao descrever cientificamente a cultura das populações originárias da América
e) desvalorizava os patrimônios étnicos e culturais das sociedades indígenas e reforçava a missão “civilizadora europeia”, típica do século XIX.
4- A partir da segunda metade do século XIX, as potências europeias começaram a disputar áreas coloniais na África, na Ásia e na Oceania. Seus objetivos eram a busca por fontes de matérias-primas, mercado consumidor, mão de obra e oportunidades de investimento.
As justificativas morais para essa colonização, no entanto, estavam relacionadas com o que se chamava de darwinismo social, cujo significado é:
a) o homem branco tinha a tarefa de cristianizar as populações pagãs de outros continentes, resgatando-as de religiões animistas e de práticas antropofágicas
b) o homem branco de origem europeia estava imbuído de uma missão civilizadora, através da qual deveria levar para seus irmãos de outras cores, incapazes de fazer isso por si mesmos, as vantagens da civilização e do progresso, resgatando-os da barbárie e do atraso aos quais estavam submetidos
c) os colonizadores europeus tinham a tarefa de ensinar os princípios fundamentais da democracia, ensinando aos povos colonizados o processo de governo democrático, permitindo-lhes se afastar de governos tirânicos e autocratas
d) a colonização tinha como tarefa repassar aos povos colonizados os fundamentos da economia capitalista, para que eles mesmos pudessem gerenciar as riquezas de seus territórios e, com isso, possibilitar o desenvolvimento social de seu país
e) estudar, segundo uma perspectiva antropológica, a organização das sociedades colonizadas, conhecer seus princípios religiosos, políticos, culturais e sociais, com o objetivo de ajudar a preservá-los
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