sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Cinzas de Francisco Brennand são levadas para oficina na Várzea



Cremação do artista plástico Francisco Brennand
Cremação do artista plástico Francisco BrennandFoto: Rafael Furtado/Folha de Pernambuco

Após velório encerrado na manhã desta sexta-feira (20), familiares, amigos e admiradores de Francisco Brennand se reuniram no cemitério Morada da Paz, em Paulista, na Região Metropolitana do Recife, para a cerimônia de cremação. De acordo com a filha mais velha do artista plástico, Neném Brennand, as cinzas do pai serão espalhadas pela Oficina Brennand, no bairro da Várzea.

“Meu pai dizia ‘Não quero missa de sétimo dia. Quero voltar para a minha casa imediatamente’. E assim será. Ele queria que as cinzas fossem espalhadas por todos os lugares da oficina. Terá uma urna simbólica, obviamente, mas vamos colocar as cinzas por todos os lugares por onde ele passou. Tudo ali ele olhava. Se saísse uma peça do lugar, ele notava”, afirmou Neném.


O caixão com o corpo de Francisco Brennand deixou a Oficina Brennand às 9h. No Morada da Paz, a família recebeu as condolências de amigos, artistas e autoridades, na capela do cemitério e, por volta das 11h, seguiu para cerimônia íntima de cremação.

“Meu pai deixa uma obra que levou uma vida inteira para ser criada. Era apaixonado pelo que fazia. Só em 2019 pintou mais de cem quadros. Trabalhava de domingo a domingo, sem feriado ou dia santo. A obra dele fala por si só, um patrimônio cultural sem precedentes no Brasil é um legado para a humanidade”, afirmou Pedro Fabrício Mendes Brennand, de 51 anos, um dos cinco filhos do artista.

Entre as autoridades presentes esteve o prefeito do Recife, Geraldo Julio, que lamentou a morte de um dos maiores ícones da cultura pernambucana. "Brennand foi um dos mais ilustres recifenses da história, admirado no mundo inteiro por sua obra. É uma perda irreparável para a cidade. Eu tive o grande privilégio de poder estar com ele algumas vezes no seu local de trabalho, ouvindo suas histórias de amor dele pelo Recife e de tudo o que ele acompanhou de transformação", contou.


Francisco Brennand: suas influências e seu legado





Francisco Brennand
Francisco BrennandFoto: Leo Motta/Folha de Pernambuco
Quando abriu a Oficina Brennand, em 1971, o artista Francisco Brennand, cuja família é de origem britânica, já se dedicava à produção artística havia mais de 20 anos. Ele começou sua trajetória em 1942, quando conheceu o artista plástico pernambucano Abelardo da Hora, também eclético em relação aos suportes que utilizava, com temas que revelam a influência direta de Cândido Portinari.

Brennand foi contemporâneo de Ariano Suassuna, com quem produzia um jornal literário. Ele se incomodava, porém, com a classificação de seu trabalho como "armorial", movimento capitaneado por Suassuna que buscava criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular nordestina. "Eu reajo de imediato e digo: armorial não, eu sou sexual", disse numa longa entrevista ao jornal Folha de S.Paulo de 2013.

As viagens nos anos 1940 e 1950 para a Europa ainda alimentaram sua bagagem de influências, principalmente entre modernistas, e especialmente da obra do arquiteto catalão Antoni Gaudí.
Suas esculturas e pinturas estão espalhadas por espaços públicos e privados de diversas cidades.

No Recife, há o mural sobre a Batalha dos Guararapes, que opôs portugueses e holandeses, além de um parque com cerca de 90 esculturas que pode ser visto do Marco Zero -a principal delas é uma torre em argila e bronze de 32 metros, a "Coluna de Cristal".

Em Miami, produziu um mural para a sede da empresa de bebidas Bacardi. Em São Paulo, é possível ver esculturas de Brennand na estação metrô Trianon-Masp e em um jardim em frente ao prédio do Sesc Pinheiros.

A notícia da morte de Brennand repercutiu sobretudo entre os políticos. Tanto o Governo do Estado de Pernambuco quanto a Prefeitura de Recife declararam luto oficial de três dias em homenagem ao artista. A Assembleia Legislativa de Pernambuco, Alepe, também pediu um minuto de silêncio em respeito à sua morte. Cristovam Buarque, ex-senador pelo PPS-DF, comparou a importância do artista à do educador Paulo Freire no Twitter.

Outras personalidades também prestaram homenagens por meio das redes sociais.
Gerson Camarotti, comentarista da Globo News, afirmou que "alquimia do barro [ele] criou um universo mítico". Marcelo Falcão, do grupo O Rappa, lembrou um clipe filmado na Oficina Brennand e chamou o artista de "mestre do seu tempo e também do nosso". O escritor Marcelino Freire lembrou que dedicou seu último romance, "Bagageiro", ao ceramista.

Há três anos, Brennand publicou seus diários, quatro volumes que cobrem o período de 1949 a 2013. Ele teve quatro mulheres, a última delas Maria Gorette, com quem viveu até o fim da vida. Deixa cinco filhos, dez netos e dez bisnetos.​
De Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

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