Por: Paulo Rezende.
Nunca me esqueço das leituras que faço das tragédias gregas. A perplexidade me acompanha, sem deixar de lado encantamentos. Costumo começar meus cursos com a leitura das tragédias mais clássicas. É sempre um debate que afirma surpresas e admite redefinições. Lá estão Prometeu, Édipo, Antígona, Creonte e tantas figuras que nos lembram argilas frágeis de manipulações primordiais. O retorno do sentimento tem haver com a vida, com o inacabado, com as permanências que negam que o tempo é uma linha reta. Aposto nas curvas e me sinto mais seguro. Sei que há escorregões no asfalto, no barro, no piso do shopping e impaciência esquisita nas noites de pesadelo.
Sigo adiante. A ideia de destino nos prende, nos aprisiona, impressiona. Observo a agonia de Édipo, querendo escapar de identidades determinadas pelos deuses. Há uma contágio que visita mitos, programa sentimentos. Falta soltura. Será que não há espaço para autonomia? Será que a concepção de destino não é a anulação das incertezas e da aventura perdida? Muita coisa para destrinchar e compor fragmentos. As tragédias são exemplares. Como não exaltar Sófocles e se embriagar com sua sabedoria? No entanto, as inquietudes se prolongam, passamos pela modernidade, nos transformamos em mercadorias e a confusão não descansa. Os projetos de dominação não desistem das sofisticações. Mas eles também sucumbem.
A busca da salvação anda por todos cantos. Não evita abismos, nem se atemoriza com os labirintos. É no ânimo do inesperado que a história se constrói. Ela evita, em vão, que as tragédias retornem, que os acasos se espalhem, que as dúvidas não adormeçam. O destino e a história navegam por mares que mudam de cores. A complexidade da cultura traz outras sociabilidades. Há desconfianças que se parecem com ruínas. Há máscaras que nunca descolam dos rostos. Há um Ulisses que não abandona a esperteza e seduz as sereias em cada esquina. Conte e sinta que as mentiras podem desfazer amarguras.Se a cultura nos mostra o reino do inacabado, ela também nos instiga para não negar as diferenças.
O mundo gira no fluir das indeterminações. Por isso, a morte se alia com a vida. Elas possuem significações múltiplas. Cada um existe sem se distanciar das questões que alertam para o começo e o fim. As histórias costuram as possibilidades, o destino prende-se em fatalidades. Édipo foi massacrado pelas forças dos deuses. Livrar-se da culpa é agonia. A sociedade se estrutura como quem sonha a eternidade e como quem ver ruínas perenes nas arquiteturas pós-modernas. Temos nomes, mas a instabilidade risca as determinações. Há uma reinvenção contínua e perigosa. Fecho os olhos, pois a escuridão me carrega para as luzes. O sossego está, apenas, nos simulacros dos paraísos.
Professor Edgar Bom Jardim - PE
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