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Há perguntas que, sempre, reaparecem.Vivemos cheios de dúvidas. Elas não cessam, pois a sociedade assume outros comportamentos e os desejos fluem. Não há destinos, mas grandes aventuras que nos jogam em incertezas frequentes. Quando conseguimos mergulhar nas objetividades até que o controle de certas possibilidades nos traz algum sossego. Somos marcados pelas inquietudes. Todo esforço da ordem dominante para espalhar a mesmice tem falhas. Não seria nada agradável viver num mundo que consagrasse verdades permanentes. Portanto, os malabarismos nos pedem atenção. Seguimos.
As dúvidas se firmam, porque nem tudo pode ser esclarecido. As questões principais que nos atormentam não são recentes. A mitologia nos acolhe, mostrando vacilações, fantasias, coragens e medos seculares. As razões variam, dançam com os ritmos da história. Há quem confie na linha reta, numa linearidade sem sustos, com geometrias conhecidas, sentimentos petrificados. Não é exagero. A diversidade é não artigo da pós-modernidade. Faz parte da cultura que se move fabricando significados. O que é a justiça nas falas de Prometeu? O que é justiça nos discursos políticos dos partidários do pragmatismo? Não é à toa que Freud citava o equilíbrio instável, a busca da felicidade que se esconde. Recordo-me de Guimarães Rosa, dos sertões, das travessias, das belezas, das agonias…
Nas escritas de vida, nas narrativas que contam as histórias, há lugar para os encantos. O inesperado não é incomum. As convivências redesenham ânimos, apesar da sufocante burocracia que cerca as instituições sociais. Existem os escorregões nem sempre perigosos. Pior é adormecer, negando o sonho, com os olhos fixos num único espelho. O espaço do encanto desmancha a mediocridade. No entanto, o encanto também, se quebra. As turbulências convivem com calmarias, acelerando os ponteiros do relógio, reinventando o tempo. O amor romântico dialoga com o afeto líquido dos momentos atuais? Como se formam as diferenças, os desencontros, as fugas?
O vaivém da história nos acompanha. Ele fermenta as dúvidas, nos alerta para as permanências. Muitas vezes, nem observamos as sutilezas. Os encantos mudam de lugar, perdem aquela antiga magia. As fadas possuem moradias em cidades ocupadas por torres e viadutos? A imaginação está presa nas vitrines do shopping? Tudo tem muitas respostas, as teorias se misturam, terminam assombrando. O que inventamos nunca é para sempre. As coisas se desfazem, os sentimentos se equivocam, as lágrimas expressam dores e alegrias. As perguntas não abandonam quem atiça os olhos e o coração.
Estamos no mundo. Começamos o dia, sem saber qual será seu fim. O encanto é a sobrevivência? Talvez, seja. Diante de violências surpreendentes e hipocrisias assustadoras, não entrar nas armadilhas da intolerância é uma conquista. Os valores não possuem transparências. O mundo das mercadorias é fugaz. A solidariedade não cabe nas suas artimanhas. Por isso que a magia da força das utopias se fragiliza. Não estamos no inferno, mas é preciso se preocupar com o cotidiano. Se não ousarmos redefini-lo, não há como retomar o encanto. As perguntas devem existir junto com a vontade de respondê-las. Não importa que haja certos enganos. Como negar o humano?
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