quarta-feira, 17 de julho de 2024

Frida Kahlo: como mexicana se tornou uma das mulheres mais conhecidas do mundo?



Foto em preto e branco de Frida Kahlo, usando tranças no cabelo e sentada sobre a relva

CRÉDITO,TONI FRISELLI

Legenda da foto,Transformação de sofrimento pessoal em arte fez com que obra de Frida Kahlo se tornas

Magdalena Carmen Frida Kahlo Calderón, mundialmente conhecida por Frida, seguido do sobrenome alemão herdado do pai, Kahlo, morreu aos 47 anos em 1954.

Sua curta vida, no entanto, foi seguida por décadas em que se transformou em uma das figuras femininas mais conhecidas do mundo, de mito à mercadoria.

Além das pinturas e esculturas, fotografias, vídeos, documentos, desenhos, cartas e até o diário íntimo da artista viraram alvo do interesse público.

"O conceito de usar a si mesma como tema de sua obra elevaram Frida a um lugar excepcional", aponta o escritor mexicano Francisco Haghenbeck, autor do livro O segredo de Frida Kahlo


As principais obras da pintora são seus autorretratos — especialmente uma série de quadros em que ela aparece de corpo inteiro, muitas vezes sangrando, sofrendo e em hospitais

Na última década, os objetos artísticos e pessoais da mexicana têm circulado o mundo em diversas exposições.

E a imagem de Frida também se transformou em um ícone pop: seu rosto estampa camisetas, canecas, ímãs de geladeira, bolsas e diversos produtos.

"Kahlo reúne em uma só pessoa e obra vários elementos que contribuíram para que sua imagem se tornasse um mito: o exótico, o mundo subdesenvolvido como pano de fundo e o ser mulher, além de um talento plástico inegável e original", disse à BBC Brasil a professora da Universidad Autónoma Metropolitana de Xochimilco, Eli Bartra, autora de Frida Kahlo. Mujer, ideología, arte.

Objetos pessoais de Frida Kahlo

CRÉDITO,LAÍS MODELLI

Legenda da foto,Objetos pessoais da artista, incluindo seu diário íntimo, tornaram-se de interesse público e correm o mundo em exposições

Mito

Segundo Bartra, o mito em torno de si começou a ser construído pela própria artista em vida.

"Nos lugares por onde passou, na Europa e nos Estados Unidos, a vida e a obra de Frida despertaram muito interesse. Com sua morte, estes lugares deram continuidade à construção do mito", diz a pesquisadora.

"Logo veio o interesse das feministas alemãs, por causa de sua origem alemã e por causa do nome 'Frida'. O movimento de 'chicanos' (mexicanos que moram nos EUA) também passou a se interessar pela figura da artista por acreditar que ela representava uma mexicanidade por excelência."

Para Haghenbeck, o "mito Frida" também foi reforçado pelos romances que a pintora teve com personagens famosos de sua época.

"O amor e atração de personagens como André Breton, Trotsky, Picasso e Rockefeller, além de Diego Rivera, ajudaram a tornar conhecida e venerada a vida de Frida, de personalidade forte e dócil, alegre e sofrida", afirma o escritor.

Muro da Casa Azul, onde viveu Frida Kahlo, com os dizerem em espanhol: Frida e Diego viveram nesta casa 1929-1954

CRÉDITO,LAÍS MODELLI

Legenda da foto,'Frida era uma metáfora do México: colorida, dinâmica, mas que sofre com grandes feridas', diz escritor mexicano Francisco Haghenbeck


Frida Kahlo casou-se duas vezes, em 1929 e em 1940, ambas com o muralista mexicano Diego Rivera.

Devido a relações extraconjugais de ambos — Rivera chegou a ter um caso com a irmã de Frida, o que pôs fim ao primeiro casamento — o casal teve uma relação longa, porém conturbada.

Entre idas e vindas, a pintora teve romances com artistas e intelectuais, como Leon Trotsky, a quem Frida ofereceu abrigo político em sua própria casa, em 1937.

O acidente de ônibus, ocorrido em 1925, e as mais de 30 operações às quais foi submetida — uma barra de ferro atravessou sua barriga e virilha no momento do acidente — também contribuíram para a imagem da mulher que transformava o próprio sofrimento em arte.

Ela tinha também um defeito no pé resultado de ter contraído poliomielite na infância.

Para Edla Eggert, pesquisadora com pós-doutorado em Estudos da Mulher pela Univesidad Autónoma Metropolitana de Xochimilco e professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), foi esta apresentação do sofrimento humano em diversas dimensões que tornou Frida uma das artistas mais conhecidas do mundo.

"Há esse enigmático ponto de contato que ela produz com todo mundo que já viveu uma tragédia com seu corpo", explica Eggert.

Na principal biografia de Kahlo, escrita por Hayden Herrera, a aparência exótica da pintora, com seus adereços e vestimentas típicas de comunidades mexicanas, foi descrita como uma estratégia para tirar o foco de suas cicatrizes e deformidades físicas nas pernas e pés.

Rivera e Kahlo em foto em preto e branco

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,Rivera e Kahlo se casaram duas vezes e tiveram relação conturbada, marcada por traições e declarações de amor



Rivera e Kahlo em foto em preto e branco

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,Rivera e Kahlo se casaram duas vezes e tiveram relação conturbada, marcada por traições e declarações de amor

"Assim como os autorretratos confirmavam sua existência, as roupas faziam com que a mulher frágil, quase sempre presa à cama, se sentisse mais magnética, mais visível e mais enfaticamente presente como objeto físico no espaço", escreveu Herrera em Frida - a biografia.

"Paradoxalmente, eram uma máscara e uma moldura. Uma vez que definiam a identidade de quem as usava em termos de aparência, as roupas distraiam Frida — e o observador — da dor interior"

Quando precisava usar coletes ortopédicos para corrigir desvios na coluna, por exemplo, Frida deixava o item a mostra e o enfeitava com os adereços, como se ele fizesse parte de sua roupa.

Segundo Herrera, à medida que a saúde de Frida piorava, seus adereços e joias foram ficando mais elaborados e coloridos.

A pintora se vestia dessa maneira até nos dias em que não conseguia sair do quarto.

Ícone pop

Eli Bartra diz que grande parte desta "Frida mito", contudo, ajudou a criar uma "Frida pop" — uma reprodução em massa da imagem da pintora que é, muitas vezes, esvaziada de sentido.

"O que funciona agora é a mercadoria Frida. Ela foi transformada em arte popular justamente porque vende."

A pesquisadora explica que, no México, Frida atualmente tem uma dimensão mais normal e menos mítica.

"Ela é conhecida, reconhecida e apreciada, mas em uma medida mais humana. O mito, na verdade, contribuiu para que muitos se cansassem de Kahlo", afirma Bartra.

"Frida, hoje, talvez não seja mais querida que outras pintoras nacionais, como Remedios Varo e María Izquierdo."

Para a antropóloga e professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Sônia Maluf, o sucesso contemporâneo de Frida está ligado à atualidade de sua obra, mas também a uma releitura superficial de sua vida.

"Algumas leituras acabam 'higienizando' Frida de dimensões que não interessaria serem ressaltadas, como seu ativismo de esquerda, sua bissexualidade e mesmo o modo como ela transformava o que seria a tragédia da mutilação física em obra de arte, em algo belo e sublime", diz.

"O acidente e suas operações quase sempre foram abordados de maneira sensacionalista", completa Bartra.

Camisetas com diferentes ilustrações representando Frida Kahlo

CRÉDITO,REUTERS

Legenda da foto,Imagem da pintora tornou-se ícone pop e feminista nos últimos anos, mesmo que ela nunca tenha se apresentado especificamente como feminista

Feminista?

Na década de 1950, Diego Rivera descreveu Frida como "a primeira mulher na história da arte a tratar, com absoluta e descomprometida honestidade, poderíamos até dizer com uma crueldade indiferente, aqueles temas gerais e específicos que apenas dizem respeito às mulheres".

"Ela nunca se disse feminista, pelo menos nunca se apresentou assim. Mas podemos ver como sua obra retrata um universo de mulher e de uma rebeldia contra condição social das mulheres da época", explica Bartra.

Segundo Haghenbeck, Frida estava longe de ser a figura que hoje é apresentada como exemplo de feminismo.

"Mesmo assim, ela foi uma rebelde, uma mulher firme de suas convicções e comprometida com seus ideais."

A maneira como Frida expôs sua bissexualidade e seu casamento e o modo como retratou de maneira crua uma maternidade frustrada — a pintora sofreu três abortos espontâneos por causa das sequelas do acidente —, anteciparam questões atuais de gênero em todo o mundo.

No quadro O Hospital Henry Ford, por exemplo, a pintora retratou o momento do seu segundo aborto espontâneo, sofrido no hospital de mesmo nome.

"Feministas ainda se interessam pela obra de Frida porque ela foi capaz de expressar, plasticamente, uma rebeldia contra uma feminilidade imposta às mulheres. Ora se apresentou andrógina, ora pintou cenas de parto, abortos, assassinatos de mulheres, coisa que não se expunha até então", aponta Bartra.

Uma das fases em que Frida mais pintou autorretratos foi durante o divórcio, em 1935, quando a artista saiu de casa e foi morar em um apartamento pobre no centro da Cidade do México.

Mesmo se recuperando de uma cirurgia que lhe amputou dedos do pé direito, ela lutou para obter independência econômica do ex-marido e passou a comercializar seus quadros.

Frida ao lado de Trotsky e outras pessoas, em retrato em preto e branco

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,Amizades e romances com personalidades da época, como Leon Trotsky, reforçaram mito em torno de Frida

Em Autorretrato com Cabelo Cortado, pintado durante a separação, a pintora aparece de cabelo curto — uma das longas tranças que costumava usar, e que Rivera tanto gostava, está na sua mão — e vestindo um terno masculino.

Na parte superior do quadro, Frida escreveu o trecho de uma canção mexicana: "Olha, se te amei foi pelo teu cabelo; agora que estás careca, já não te amo".

Outra obra conhecida dessa época foi Unos Cuantos Piquetitos (1935), que retrata uma mulher nua e ensanguentada em cima de uma cama, com um homem em pé ao lado, segurando uma faca.

A obra foi feita depois que Frida leu uma notícia de que um homem matou a esposa a facadas por causa de ciúme e, ao se defender no tribunal, disse ao juiz: "foram apenas uns cortes pequenos".

"Unos Cuantos Piquetitos é uma denúncia sobre a violência contra as mulheres e a condescendência da cultura machista para com o agressor", observa Eggert.

O maior legado da obra de Frida, contudo, foi a ideia de que assuntos considerados privados na vida das mulheres deveriam ser tratados como políticos.

"A vida e a obra de Frida são elementos que colocam sob tensão a tradicional condição da mulher", diz Sônia Maluf, da UFSC.

"Alguns autores consideram que o feminismo está presente em sua obra não de forma referencial, mas através da antecipação do que se tornou um lema feminista após os anos 1960: 'o pessoal é político'."

Filha da Revolução

Frida Kahlo se declarava "filha da Revolução Mexicana", que ocorreu em 1910, três anos após seu nascimento, e se estendeu até 1920.

Até os treze anos, ela cresceu em meio a tiroteios, conflitos populares e camponeses armados e assistiu sua mãe oferecer comida e ajuda aos Zapatistas quando estes passavam pelo bairro de Coyoacán, então periferia da Cidade do México onde morava a família Kahlo.

Roupas de Frida Kahlo expostas em museu

CRÉDITO,LAÍS MODELLI

Legenda da foto,Durante período vivendo nos EUA, pintora homenageava costumes e povos mexicanos com roupas e adereços típicos

Já a adolescência da artista foi marcada por um México pós-revolução, um momento histórico de efervescência cultural.

"Frida amava a cultura popular mexicana, desde a comida até os trajes típicos. Era uma mulher que gostava de tacos e mariachis, não era elitista", aponta Haghenbeck.

"Ela viveu alguns anos nos EUA, mas, mesmo estando lá, fazia festas com papel picado, tequila e usava vestidos típicos. Tanta cor e alegria, para os americanos, era algo exótico. Esse imaginário colorido deixado por Frida no estrangeiro plantou uma semente que, de 1960 em diante, levou estrangeiros ao México porque eles se lembravam dela."

"Frida era uma metáfora do México: colorida, dinâmica, mas que sofre com grandes feridas", acrescenta o escritor




BBC News Brasil
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 16 de julho de 2024

Festa de Nossa Senhora do Carmo: fiéis lotam pátio no Centro do Recife para missa Campal







Milhares de fiéis chegaram cedo e lotaram o Pátio do Carmo nesta terça-feira (16) para celebrar a Missa Solene Campal em homenagem a Nossa Senhora do Carmo, Padroeira do Recife e da Província Eclesiástica de Pernambuco. 

A cerimônia eucarística começou às 16h, no palco montado em frente a Basílica De Nossa Senhora do Carmo, no bairro de Santo Antônio, centro do Recife. 

A família de Klirllys Barbosa chegou cedo para agradecer pelas benção alcançadas em nome de Nossa Senhora do Carmo


“Eu vim de Olinda para agradecer pela melhora na vida dos meus filhos. Um deles é cadeirante e o outro autista, desde que nasceram eu peço pela melhora dos dois e, graças a Nossa Senhora, eles melhoraram demais”, contou. 

O ato litúrgico será presidido pelo arcebispo de Olinda e Recife, Dom Paulo Jackson.
 
“A humanidade precisa dessa ternura eterna que Maria oferece. O perfil Mariano deve estar presente em cada um de nós, que é a característica da ternura e da bondade de Deus”, destacou o Arcebispo.

Confira o percurso o percurso completo da Procissão de Nossa Senhora do Carmo

Pátio do Carmo – Avenida Nossa Senhora do Carmo – Avenida Martins de Barros – Praça da República – Rua do Sol – Avenida Guararapes – Avenida Dantas Barreto – Pátio do Carmo.





Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Humberto Costa revela os crimes dos bolsonaristas com base em dados da Polícia Federal. Assista o vídeo em LEIA MAIS





Ramagem, Bolsonaro e Flávio (Fotomontagem HP)




A Polícia Federal está de posse de uma gravação, no computador do ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Alexandre Ramagem, de uma reunião entre ele e Jair Bolsonaro (PL) onde foi discutido um plano para proteger o senador Flávio Bolsonaro das investigações sobre desvios de recursos nas chamadas “rachadinhas”, ocorridas em seu gabinete, quando era deputado estadual no Rio.

O plano era inventar acusações e abrir procedimentos contra os auditores responsáveis pelo documento da Receita Federal que embasou a investigação dos crimes cometidos pelo senador Flávio Bolsonaro. O relatório da PF aponta que o tema da reunião incluía “supostas irregularidades cometidas pelos auditores da Receita Federal na confecção do Relatório de Inteligência”


Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 12 de julho de 2024

Visão do Brasil no século 19 deixadas por famoso pintor francês


“Aplicação do Castigo do Açoite”, de Jean Debret

CRÉDITO,COLEÇÃO ITAÚ CULTURAL

Legenda da foto,Aplicação do Castigo do Açoite, de Jean Debret, que provocou revolta ao ser pregado em uma seção do Arquivo Público de SP em 2018


São desenhos e aquarelas que, mais tarde, formariam um registro fundamental do cotidiano de violência na sociedade brasileira colonial e imperial — a qual quase sempre recaía sobre negros escravizados e indígenas arrancados de suas terras.

O filósofo franco-suíço Jacques Leenhardt explora no seu recente livro Rever Debret (2023, editora 34) o impacto do pintor até a atualidade — revisitado (e subvertido) por artistas brasileiros da nova geração.

O livro aborda também o papel de Debret em capturar um país em formação após a concretização da independência.

Leenhardt defende que Debret se esforçou em representar "os verdadeiros atores da história emergente do Brasil, a saber, os trabalhadores que produzem as riquezas do país".

Essa avaliação se contrapõe à imagem de que o retratista teria servido apenas aos detentores do poder na época.

Em entrevista à BBC News Brasil, o autor diz que Debret foi influenciado pelo iluminismo e pela Revolução Francesa, "convencido da igualdade dos seres humanos".

Segundo Leenhardt, o pintor condenava o tráfico de pessoas e compartilhava a ideia de que a abolição deveria ser preparada para garantir a integração dos ex-escravos à sociedade.

"Podemos ver traços de um certo paternalismo [de Debret] ligado aos preconceitos raciais da época. Por outro lado, Debret critica sem reservas a violência perpetrada contra as populações indígenas e que marcaram as relações raciais no Brasil colonial escravocrata."

As relações socieconômicas entre as várias populações daqueles tempos também entraram na mira de Debret. É o caso de Loja de Barbeiro (veja abaixo), em que o artista contrasta — e explicita isso no comentário que acompanha o desenho — a atitude de portugueses e negros em relação ao trabalho





"Selvagens civilizados, soldados índios de Curitiba conduzindo prisioneiros", de Jean Debret

CRÉDITO,DIVULGAÇÃO

Legenda da foto,Selvagens Civilizados, Soldados Índios de Curitiba Conduzindo Prisioneiros, de Jean Debret

Em algumas oportunidades, essa brutalidade dos quadros de Debret representou um constrangimento para autoridades brasileiras.

Em 1840, a Comissão do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro vetou o tema da coleção sobre escravidão sob a justificativa de apresentar corpos esqueléticos e torturadores sádicos: "Pode ser que o sr. Debret tenha assistido a um tal castigo, com efeito existem por toda parte feitores bárbaros: porém isso não é senão um abuso".

Assim, Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil desapareceu da vista do público até, na década de 1920, o antropólogo Sérgio Milliet traduzir o trabalho para o português.

Com uma mudança de mentalidade, o pintor francês passa nas décadas seguintes a ser reconhecido como uma das fontes documentais essenciais sobre o primeiro império brasileiro.

Mas ao longo do tempo, houve também interpretações de que o retratista ou a arte em si de alguma forma apoiassem os atos representados na tela.

"Gê Viana, uma das artistas cujas revisões críticas das imagens de Debret estou estudando, fala sobre como ficou chocada com o fato de que os livros didáticos de história nos quais ela descobriu as imagens de Debret não ofereciam nenhuma explicação ou contextualização dessas imagens violentas", afirma Leenhardt.

Ele fala na necessidade de contextualizar histórica e socialmente a obra de Debret.

"É fácil entender por que isso a perturbou, e é vital que as novas gerações de artistas confrontem essas imagens e ofereçam estratégias para lê-las hoje. Não é menos importante que todo esse trabalho de retomada seja acompanhado de uma reflexão sobre a evolução das sensibilidades e concepções políticas e filosóficas."

Trabalho de releitura de obra de Debret pelo artista mineiro Heberth Sobral

CRÉDITO,DIVULGAÇÃO

Legenda da foto,Trabalho de releitura de obra de Debret pelo artista mineiro Heberth Sobral

Além de Gê Viana, Leenhardt analisa no livro releituras feitas por Denilson Baniwa, Isabel Löfgren, Patricia Gouvêa, Heberth Sobral, entre outros "artistas brasileiros contemporâneos que se referenciam e subvertem as imagens de Debret".

"É um movimento de reapropriação absolutamente essencial, uma contribuição importante para uma questão incômoda ao longo da história intelectual e política brasileira: quem somos nós como nação? Acho que é muito útil e benéfico para uma nova geração de artistas se posicionar sobre as imagens que lhes foram legadas", afirma o franco-suíço.

Refletir sobre a obra de Debret à luz do entendimento atual da história brasileira pode ser um bom exercício, diz Leenhardt.

"Assim, veremos não apenas sua ambivalência e contradições, mas também a extensão da poderosa ironia que ele usou como uma arma impiedosa contra os poderosos da época."

"Suas descrições das cenas que adornam suas placas litografadas são muitas vezes verdadeiros contos, em apenas algumas páginas, uma espécie de 'fisionomia' no estilo de Balzac que ridiculariza os costumes de sua época", completa


Fragmento: BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 11 de julho de 2024

O planeta onde chove vidro e que fede a ovo podre e pum




ilustração d exoplaneta HD 189733 b

CRÉDITO,ROBERTO MOLAR CANDANOSA/JOHNS HOPKINS UNIVERSITY

Legenda da foto,HD 189733 b está a 64 anos-luz da Terra. Possui temperaturas escaldantes de cerca de 1.000 °C, chuva feita de vidro e ventos de mais de 8.000 km por hora

Cientistas da Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos, utilizaram dados do Telescópio Espacial James Webb para estudar o exoplaneta conhecido como HD 189733 b, um gigante gasoso do tamanho de Júpiter.

E descobriram que a atmosfera do planeta possui traços de sulfeto de hidrogênio, a molécula responsável pelo cheiro característico de ovos podres e dos gases liberados pela flatulência de seres humanos.

O HD 189733 b possui temperaturas escaldantes de cerca de 1.000 °C e uma chuva feita de vidro (por causa da proximidade com o seu sol e por ser formado basicamente por gases) com ventos de mais de 8.000 km por hora.

"Portanto, se o seu nariz pudesse operar a 1.000°C a atmosfera cheiraria a ovos podres", disse o Dr. Guangwei Fu, astrofísico da Johns Hopkins que liderou a pesquisa


HD 189733b está a apenas 64 anos-luz da Terra e é o “Júpiter quente” mais próximo que astrônomos podem observar passando diante de sua estrela. Isto o tornou, desde que foi descoberto, em 2005, uma referência para estudos detalhados de atmosferas exoplanetárias, explicou Fu.

O exoplaneta está cerca de 13 vezes mais próximo de sua estrela do que Mercúrio está do Sol e leva cerca de dois dias terrestres para completar uma órbita


‘Não buscamos vida’

Trata-se de uma das primeiras detecções de sulfeto de hidrogênio em um exoplaneta

E embora a presença de sulfeto de hidrogênio possa indicar a possibilidade de planetas distantes abrigar organismos alienígenas, os pesquisadores não procuram vida no HD 189733 b por ele ser um gigante gasoso, como Júpiter, e muito quente.

Encontrar sulfeto de hidrogênio é, no entanto, um passo para entender como os planetas se formam, segundo os pesquisadores.

“Não estamos procurando vida nesse planeta porque ele é muito quente. Mas encontrar sulfeto de hidrogênio é um trampolim para encontrar essa molécula em outros planetas e entender melhor como os diferentes tipos de planetas se formam”, disse Fu.

Além de detectar o sulfeto de hidrogênio e medir o enxofre total na atmosfera do HD 189733 b, os cientistas avaliaram as principais fontes de oxigênio e carbono dele: água, dióxido de carbono e monóxido de carbono.

“O enxofre é um elemento vital para a construção de moléculas mais complexas e, tal qual com o carbono, o nitrogênio, o oxigênio e o fosfato, os cientistas precisam estudá-lo ainda mais para compreender como os planetas se formam e do que são feitos”, disse Fu.

ilustração do exoplanetaHD 189733 b

CRÉDITO,ROBERTO MOLAR CANDANOSA/JOHNS HOPKINS UNIVERSITY

Legenda da foto,O exoplaneta é quente demais para haver vida

O mistério dos metais

Com uma precisão sem precedentes, os pesquisadores também descartaram a presença de metano no HD 189733 b e mediram os níveis de metais pesados.

Planetas gigantes gelados de menor massa, como Netuno e Urano, contêm mais metais do que os gigantes gasosos como Júpiter e Saturno, os maiores planetas do sistema solar.

A maior presença de metais sugere que, durante os primeiros períodos de formação, Netuno e Urano acumularam mais gelo, rochas e outros elementos pesados do que gases como hidrogênio e hélio.

E os cientistas querem determinar se essa correlação também se aplica aos exoplanetas, explicou Fu.

“Esse planeta com a massa de Júpiter está muito próximo da Terra e foi muito bem estudado. Agora temos essa nova medição para mostrar que, de fato, as concentrações de metais que ele possui fornecem um ponto muito importante para o estudo de como a composição de um planeta varia de acordo com sua massa e raio”, acrescentou o cientista.

ilustração do telescopio espacial James Webb

CRÉDITO,NASA, ESA, CSA, NORTHROP GRUMMAN

Legenda da foto,O Telescópio Espacial James Webb abriu uma nova janela para a análise da composição dos exoplanetas

Telescópio revolucionário

James Webb está abrindo uma nova janela para a análise de substâncias químicas em planetas distantes e ajudando os astrônomos a aprender mais sobre as origens desses planetas.

“Está realmente revolucionando o campo da astronomia. Cumpriu o que foi prometido e até superou as nossas expectativas em certos aspectos”, disse o Dr Fu.

Nos próximos meses, a equipa de Fu pretende usar dados do telescópio espacial para rastrear o enxofre em outros exoplanetas e entender como níveis elevados da substância influenciam com que distância se formam de suas estrelas-mãe.

estudo foi publicado na revista Nature


Fonte: BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE