sábado, 8 de janeiro de 2022

Sete mortos, mais de 30 feridos e 3 desaparecidos: o que se sabe sobre o acidente com lanchas em cânion em Furnas



Local onde ocorreu acidente em Capitólio, Minas Gerais

CRÉDITO,DIVULGAÇÃO

Legenda da foto,

Local onde ocorreu acidente em Capitólio, Minas Gerais

Reportagem atualizada às 21h30

Ao menos sete pessoas morreram e 30 ficaram feridas neste sábado (8/1) após um acidente envolvendo lanchas entre os cânions na represa de Furnas, em Capitólio, Minas Gerais. Até o início da noite, três pessoas permaneciam desaparecidas. As informações foram repassadas pelo Corpo de Bombeiros durante a tarde. Segundo a corporação, o número de vítimas ainda pode subir.

O tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, informou em um vídeo enviado à imprensa que ao menos dois dos mortos confirmados são homens ainda não identificados. Segundo ele, o reconhecimento é dificultado pela gravidade das lesões nos corpos das vítimas.

Segundo os bombeiros, os corpos ainda não foram encaminhados para identificação no Instituto Médico Legal (IML) e estavam em um clube náutico da região.

Vídeos do momento do acidente circulam pelas redes sociais. Nas imagens, é possível identificar uma rocha despencando na região onde turistas faziam um passeio de lancha.


De acordo com o porta-voz dos bombeiros, quatro embarcações foram atingidas pelo rolamento e queda de estruturas rochosas. Duas dessas lanchas sofreram impacto direto e afundaram após o acidente.

Uma das embarcações, de nome EDL, onde foram resgatadas 14 pessoas vivas e a lancha Jesus, onde dez pessoas foram resgatadas vivas.

As outras duas sofreram impactos indiretos. Uma delas, uma lancha vermelha sem identificação, teve dez passageiros socorridos com vida. Também foram resgatadas oito pessoas vivas da quarta lancha, de nome Nova Mãe.

Segundo os bombeiros, 23 pessoas receberam atendimento médico na Santa Casa de Capitólio após o acidente e foram liberadas. Outras duas foram internadas na Santa Casa de Pimhui, com fraturas expostas.

Três pessoas receberam atendimento na Santa Casa de Passos, mas não há informações sobre o estado de saúde delas. Quatro vítimas foram levadas para a Santa Casa de São João da Barra com ferimentos leves.

Outras sete pessoas eram procuradas pelos bombeiros, mas foram encontradas após contato por telefone.

"Muitas pessoas foram socorridas por embarcações que estavam na região e foram levadas por meios próprios para unidades hospitalares", informou a corporação por meio de nota.

BBC
Atualizado em 10/01/2022

foto de arquivo mostra barcos em cachoeira em Capitólio

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Reportagem atualizada às 16h10 deste domingo (9/1).

Ao menos dez pessoas morreram e 30 ficaram feridas no sábado (8/1) após um acidente envolvendo lanchas entre os cânions na represa de Furnas, em Capitólio, Minas Gerais. Duas pessoas permaneciam desaparecidas até o fim da manhã deste domingo (9/1), mas foram localizadas pelo Corpo de Bombeiros.

Os três últimos corpos foram encontrados durante buscas na região do acidente neste domingo. O trabalho de resgate havia sido suspenso na noite de sábado, por segurança da equipe.

Segundo o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, mais de 50 militares foram encaminhados para a área de busca, entre eles 11 mergulhadores especializados em resgates e que são familiarizados com a área.

Os corpos foram levados ao Instituto Médico Legal (IML). Uma das dificuldades encontradas para o reconhecimento deles, segundo a equipe que acompanha o caso, foi a gravidade das lesões nos corpos das vítimas.

De acordo com o porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, o tenente Pedro Aihara, quatro embarcações foram atingidas pelo rolamento e queda de estruturas rochosas. Duas dessas lanchas sofreram impacto direto e afundaram após o acidente.

Vídeos do momento do acidente circulam pelas redes sociais. Nas imagens, é possível identificar uma rocha despencando na região onde turistas faziam um passeio de lancha.

Os oito mortos no acidente e os dois desaparecidos, segundo o Corpo de Bombeiros e a Polícia Civil, estavam em uma lancha chamada "Jesus". Conforme o delegado, essas pessoas estavam hospedadas em uma pousada em São José da Barra, em Minas Gerais.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, outras três lanchas foram atingidas, sendo duas delas indiretamente, e os ocupantes delas foram resgatados com vida, pouco após o acidente. Alguns deles estavam com ferimentos.

Segundo os bombeiros, 23 pessoas receberam atendimento médico na Santa Casa de Capitólio após o acidente e foram liberadas. Outras duas foram internadas na Santa Casa de Pimhui, com fraturas expostas.

Três pessoas receberam atendimento na Santa Casa de Passos, mas não há informações sobre o estado de saúde delas. Quatro vítimas foram levadas para a Santa Casa de São João da Barra com ferimentos leves.

Outras sete pessoas eram procuradas pelos bombeiros, mas foram encontradas após contato por telefone.

"Muitas pessoas foram socorridas por embarcações que estavam na região e foram levadas por meios próprios para unidades hospitalares", informou a corporação por meio de nota.

A operação em busca dos desaparecidos inclui, além do Corpo de Bombeiros, a Polícia Militar, a Polícia Civil, a Defesa Civil e a Marinha.

A Polícia Civil de Minas Gerais informou que abriu um inquérito para apurar a motivação do acidente. Testemunhas deverão ser ouvidas e geólogos deverão prestar apoio à apuração para identificar as possíveis causas da queda da rocha.

A Marinha também informou que abrirá um inquérito sobre o caso.


Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Eleições 2022: veja as principais mudanças e datas da corrida eleitoral deste ano


Mão aperta tecla de urna

CRÉDITO,ABDIAS PINHEIRO/SECOM/TSE

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Primeiro turno das eleições acontecerá em 2 de outubro

Os brasileiros irão às urnas em outubro para escolher seus próximos deputados, senadores, governadores e presidente, mas o calendário eleitoral já está valendo.

Aprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em dezembro de 2021, o calendário eleitoral de 2022 determina que o primeiro turno das eleições acontecerá em 2 de outubro, e um eventual segundo turno, em 30 de outubro. A previsão é que os resultados sejam divulgados nos mesmos dias. Neste ano, outra novidade é que o horário de votação será uniformizado em todo o país, deixando de haver diferenças por conta de fuso horário.

O ano já começou com algumas regras do calendário em vigor: desde 1º de janeiro, pesquisas de opinião devem ser registradas em um sistema do TSE. Além disso, já há limites impostos à distribuição de bens e benefícios pela administração pública; à realização de ações sociais por entidades nominalmente vinculadas a candidatas e candidatos; e ao gasto público com publicidade.

Na corrida eleitoral deste ano, valerão algumas das novas regras eleitorais definidas por leis aprovadas pelo Congresso em 2021.

Uma delas prevê que, entre 2022 e 2030, para distribuição de verbas do fundo partidário e do fundo eleitoral, os votos dados a candidatas mulheres ou a candidatos negros para a Câmara dos Deputados serão contados em dobro.

Para 2022, o valor total previsto para o fundo eleitoral na proposta orçamentária de 2022 aprovada pelo Congresso é de R$ 4,9 bilhões e para o fundo partidário, R$ 1,1 bilhão. O texto aguarda sanção do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Uma outra mudança para este ano é a inauguração das federações partidárias. Elas foram criadas após a extinção das coligações partidárias em eleições proporcionais (deputados e vereadores), mas valem também para eleições majoritárias (presidente, governadores, senadores e prefeitos).


As federações buscam solidificar mais a união de dois ou mais partidos: elas devem permanecer juntas por pelo menos 4 anos e têm abrangência nacional. As regras que recaem sobre elas são bem parecidas com obrigações que têm os partidos, como um estatuto e uma direção nacional em comum. Também recaem sobre os políticos vinculados a federações as regras de fidelidade partidária.

As coligações partidárias seguem permitidas nas eleições majoritárias.

Confira abaixo algumas das principais datas selecionadas pela BBC News Brasil do calendário eleitoral de 2022 (a íntegra do calendário publicada pelo TSE pode ser acessada aqui).

3 de março a 1º de abril: janela partidária

Durante o período, é permitido que deputados estaduais, distritais e federais mudem de partido para concorrer em eleições proporcionais ou majoritárias sem perder o período final de seus mandatos.

2 de abril: limite para filiações, estatutos e renúncias

A seis meses da votação, esta é a data limite para que candidatos tenham sua filiação confirmada pela legenda com a qual pretendem concorrer; também é o prazo para que partidos e federações tenham seus estatutos registrados pelo TSE; e para que aqueles no cargo de presidente, governador e prefeito renunciem aos seus mandatos caso pretendam concorrer a outros cargos.

4 de maio: limite para transferência de título

Este é o prazo para que os eleitores solicitem o alistamento (primeira via do título), transferência (do domicílio eleitoral, em caso de mudança de cidade, por exemplo) ou revisão (de informações do cadastro eleitoral). Por conta da pandemia de coronavírus, estes serviços estão concentrados no atendimento online, através da plataforma Título Net.

- 12 de julho a 18 de agosto: voto em trânsito

Eleitores que estiverem fora de seu domicílio eleitoral podem votar caso estejam no dia do pleito em uma capital ou cidade com mais de 100 mil eleitores e façam a habilitação para o voto em trânsito entre 12 de julho e 18 de agosto — indicando onde pretendem votar. Isto também pode ser feito no Título Net.

Foto aproximada mostra mão na cadeira de roda

CRÉDITO,GETTY IMAGES

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Pessoas com mobilidade reduzida podem solicitar mudança de seção ou local de votação entre 18 de julho e 18 de agosto

- 18 de julho a 18 de agosto: adaptações para eleitor com deficiência ou mobilidade reduzida

Pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida podem pedir neste prazo, através do Título Net, para votar em outra seção ou local de votação mais convenientes para sua acessibilidade.

- 20 de julho a 5 de agosto: convenções partidárias

Período fundamental nas eleições, as convenções são encontros decisórios em que parte dos filiados de um partido, normalmente uma cúpula, decide os cargos para os quais a sigla concorrerá, assim como quem serão os candidatos. A data da convenção varia de partido para partido.

- 15 de agosto: limite para registro de candidaturas

Após as convenções, os partidos já podem registrar seus candidatos, com prazo final para isso em 15 de agosto.

- 16 de agosto: campanha na rua (e online)

A partir desta data, é permitida a propaganda eleitoral na internet e na imprensa escrita; o uso de alto-falantes (em determinados horários); e a realização de comícios, caminhadas, carreatas, entre outras modalidades de campanha. Há um prazo para que estas formas de publicidade terminem antes da realização do primeiro turno, variando entre 29 de setembro e 1º de outubro a depender do tipo de divulgação. Para o segundo turno, a realização de campanha é retomada em 3 de outubro.

- 26 de agosto a 29 de setembro: propaganda eleitoral gratuita na TV e rádio de 1º turno

Câmera no tripé, com três mulheres sentadas no plano de fundo, sendo gravadas

CRÉDITO,GETTY IMAGES

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Debates têm período delimitado para acontecer, de acordo com o calendário eleitoral

- 29 de setembro: último dia para debate

Esta quinta-feira será o último dia em que será possível realizar debates na TV e rádio antes da realização do primeiro turno, mas há uma tolerância para que o debate se estenda até às 7h do dia 30 de setembro, segundo resolução do TSE.

- 2 de outubro: primeiro turno

- 7 de outubro (a 28 de outubro): propaganda eleitoral gratuita na TV e rádio de 2º turno

- 30 de outubro: segundo turno

- Janeiro e fevereiro de 2023: posse

Depois de serem diplomados pela Justiça Eleitoral até o mês de dezembro, os eleitos aos cargos de presidente e governador tomam posse em 1º de janeiro de 2023; em 1º de fevereiro, é a vez dos senadores e deputados escolhidos assumirem seus cargos.

BBC

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Padre Júlio Lancellotti: o que é a arquitetura 'antipobres' denunciada por religioso em São Paulo


Morador de rua deitado ao lado de banco cilíndrico instalado em Florianópolis

CRÉDITO,REPRODUÇÃO/ INSTAGRAM PADRE JÚLIO LANCELLOTTI

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Procurada, Prefeitura de Florianópolis disse que está trocando todos os bancos 'anti-humanos' por novos modelos

Pedras, grades e espetos de ferro. Esses objetos foram inseridos na arquitetura de diversas construções e equipamentos públicos em diversas cidades do Brasil, como São Paulo e Florianópolis, para evitar a presença e permanência dos mais pobres, principalmente os moradores de rua.

Há meses, o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua em São Paulo, usa as redes sociais para criticar essas intervenções e pressionar para que empresas e até mesmo órgãos públicos recuem e retirem essas instalações.

Em uma das fotos publicadas pelo padre, é possível ver um banco de praça com uma grade no meio dele, para evitar que uma pessoa se deite. Júlio Lancellotti define essas ações como aporobofia — aversão aos mais pobres.

Outra imagem mostra o banco de um ponto de ônibus em Florianópolis feito com ferros em forma de cilindro e espaçado. A estrutura também impede que alguém se deite. Nessa mesma foto, aparece um morador de rua dormindo no chão, em cima de um papelão.

Novos bancos instalados em Florianopolis

CRÉDITO,PREFEITURA DE FLORIANÓPOLIS

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Prefeitura de Florianópolis disse que vai retirar todos os bancos 'anti-humanos' da cidade e usar os antigos para fazer barreiras para proteger pedestres nas calçadas

Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Florianópolis informou, por meio da Secretaria Municipal de Mobilidade e Planejamento Urbano, que os abrigos de passageiros que aparecem na publicação do padre Júlio no Instagram "já estão sendo substituídos por novos há mais de um ano".


A prefeitura disse ainda que "os novos pontos de ônibus são humanizados, modernos e têm baixo impacto na paisagem". A administração municipal afirmou que os novos modelos já estão implantados em diversos pontos da cidade e que os antigos serão reciclados e transformados em balizadores urbanos de proteção de pedestres nas calçadas.

A pasta concluiu dizendo que "o modelo antigo de abrigo de passageiros foi feito em outra gestão" e que não sabe quem o projetou.

Campanha nacional


Com quase 1 milhão de seguidores no Instagram, o padre Júlio Lancellotti disse à BBC News Brasil que está sensibilizado pela quantidade de pessoas que estão mobilizadas nessa campanha para denunciar instalações hostis.


"Eu não peço nada, mas elas me mandam fotos e dizem: 'lembrei de você'. Outros falam que não percebiam que existiam construções hostis na cidade e agora estão percebendo. Isso tem sido importante porque a intenção das minhas publicações é sensibilizar as pessoas e sair da hostilidade para a hospitalidade", afirmou.

O padre ressaltou que é importante não confundir instalações hostis com o portão de uma casa ou a grade de um jardim. Mas ele afirmou que algumas pessoas instalam alguns objetos quase imperceptíveis, como obras de arte, vasos e plantas que servem como obstáculo, com a intenção de apenas obstruir um espaço público.

Entre os exemplos mais desumanos, o padre cita um sistema de gotejamento instalado em uma calçada na cidade de Santa Rita do Sapucaí, no interior paulista, para evitar que pessoas fiquem paradas na calçada.

Pule Instagram post, 1

Final de Instagram post, 1

"Teve gente dessa cidade que ficou irritada porque fiz duas publicações de lá. Alguns não conseguem entender que eu não quero que as pessoas fiquem ao relento ou embaixo dos viadutos e marquises. Mas que essas pessoas que estão mais preocupadas com hostilidade oferecem menos com acolhimento".

O padre lembrou ainda que essas instalações com grades e ganchos, por exemplo, podem causar acidentes. A preocupação dele é especialmente com os mais vulneráveis, como idosos e pessoas com deficiência física.

"Além de ser desumano, coloca uma sociedade inteira em risco. A pessoa pode sofrer uma queda e se acidentar gravemente nesses ganchos. A cidade que instala isso não odeia os pobres. Mas nessa cidade existe ódio contra os pobres", afirmou o padre Júlio.

Mas o padre disse ter recebido notícias de que alguns bancos estão reunindo os gerentes para discutir esse assunto com eles e pedir para que não implantem mais esse tipo de instalação nas agências.

padre Júlio Lancellotti

CRÉDITO,AGÊNCIA BRASIL

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O padre Júlio Lancellotti tem usado as redes sociais para criticar as intervenções

Aporofobia

Aporofobia foi eleita a palavra do ano em 2017 pela Fundação Espanhol Urgente (Fundéu). O termo tem sido usado de maneira recorrente pelo padre Júlio Lancellotti como uma campanha para descrever as pessoas que implantam as instalações urbanísticas que impedem a aproximação e permanência de moradores de rua em locais públicos.

Segundo ele, o motivo dessas intervenções é a aversão às pessoas mais pobres.

O termo aporofobia vem de duas palavras gregas: "áporos", o pobre, o desamparado, e "fobia", que significa temer, odiar, rejeitar. Da mesma forma que "xenofobia" significa "aversão ao estrangeiro", aporofobia é a aversão ao pobre pelo fato de ser pobre.

Em entrevista à BBC, a escritora e filósofa espanhola Adela Cortina, que inventou a palavra aporofobia há 20 anos, explica que o preconceito ao próximo é causado por questões financeiras.

"E a palavra surgiu da forma mais simples, quando percebemos que não rejeitamos realmente os estrangeiros se são turistas, cantores ou atletas famosos, rejeitamos se eles são pobres, imigrantes, mendigos, sem-teto, mesmo que sejam da própria família."

Adela Cortina

CRÉDITO,ADELA CORTINA

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Adela Cortina cunhou o termo 'aporofobia', que significa ódio aos indigentes, aversão aos desfavorecidos

Professora da faculdade de arquitetura e urbanismo da USP, Raquel Rolnik diz que esse tipo de instalação ocorre não apenas em cidades brasileiras, mas também em grandes metrópoles em todo o mundo.

"Ela está presente em duas situações: cidades com muitos moradores de rua, como Los Angeles, nos Estados Unidos e regiões muito desiguais. O livro Cidade de Quartzo relata as estratégias urbanas usadas nos anos 1980 e 1990 para evitar a presença das pessoas em situação de rua na cidade americana", afirma.

Em entrevista à BBC News Brasil, a urbanista explicou que a "marca" dessa relação entre os mais ricos e os moradores de rua é a desigualdade. E que a pandemia aumentou ainda mais o número de pessoas sem teto.

"Em plena crise, os aluguéis e preços de imóveis não pararam de subir. A quantidade de pessoas que não tem onde morar porque não podem pagar nem mesmo aluguel numa favela ou periferia é muito grande. Diante disso, precisamos de políticas públicas de moradia para lidar com esse fenômeno", disse à BBC News Brasil.

Pule Instagram post, 2

Final de Instagram post, 2

Segundo a urbanista, hoje não há, em nível municipal, estadual ou federal, nenhuma política efetiva para diminuir o número de moradores de rua.

"O abrigamento é uma antipolítica. O que deve haver é uma defesa de políticas de moradia. O abrigo não é a casa dessa pessoa. Não é um lugar onde ela consegue respirar e ter privacidade", afirmou.

Para Rolnik, essas intervenções que afastam pessoas da frente de lojas e casas são respostas dos mais ricos a esse grande aumento da população de rua.

"A ocupação da rua é a única alternativa dessas pessoas e a resposta dos mais ricos é: 'Não quero essas pessoas na porta da minha casa ou diante do meu negócio'. E essas intervenções são as estratégias que eles usam para que aquele lugar não se torne um abrigo", explicou.

Um dos exemplos dados pela urbanista é de que os bancos de praça, que eram retos, agora são ondulados justamente para evitar que pessoas durmam neles. Para ela, a visibilidade dada a esse assunto, por meio das publicações do padre Júlio, são essenciais para que as pessoas entendam o que significa cada uma dessas intervenções e não passem despercebidas, gerando uma onda de solidariedade.

No entanto, ela diz que essas exposições são válidas quando são seguidas de desdobramentos práticos nas leis e no comportamento das pessoas.

Lei Padre Júlio Lancellotti

A Comissão de Desenvolvimento Urbano, da Câmara dos Deputados, aprovou em novembro de 2021 o projeto de lei Padre Júlio Lancellotti, que proíbe a implantação de técnicas e construções que usem equipamentos para afastar ou restringir o uso de espaços públicos, principalmente por pessoas em situação de rua.

O relator do Projeto de Lei é o deputado federal Joseildo Ramos (PT-BA). O texto ainda precisa passar pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, antes de seguir para votação.

O padre Júlio disse à reportagem que gostou muito do projeto de lei, mas acha difícil que ele seja aprovado.

"É muito difícil aprovar um projeto desses a nível nacional, principalmente por conta da nossa atual conjuntura política. Existe um na Assembleia Legislativa de São Paulo e outros em várias câmaras municipais que eu acho ter mais chances. Temos esperança, mas acho difícil. O principal é a consciência e a pressão que conseguimos fazer em comércios, bancos e igrejas para acabar com essas ações", disse o padre.

  • Felipe Souza - @felipe_dess
  • Da BBC News Brasil em São Paulo
Professor Edgar Bom Jardim - PE