segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Como primeira 'presidenta', Dilma deixou algum legado para as mulheres?



Dilma e as mulheres

CRÉDITO,ROBERTO STUCKERT FILHO

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Dilma foi a primeira presidente mulher do Brasil

Na última quarta-feira, Dilma Rousseff se despediu em caráter definitivo do Planalto após a aprovação do impeachment no Senado e, assim, encerrou cinco anos e meio de mandato da primeira representante feminina no posto mais importante do país. Em seu discurso final, ela deixou uma mensagem para as mulheres.

"Às mulheres brasileiras, que me cobriram de flores e de carinho, peço que acreditem que vocês podem. As futuras gerações de brasileiras saberão que, na primeira vez que uma mulher assumiu a Presidência do Brasil, o machismo e a misoginia mostraram suas feias faces. Abrimos um caminho de mão única em direção à igualdade de gênero. Nada nos fará recuar", afirmou.

Mas qual foi, de fato, o legado que a primeira 'presidenta' deixou para as brasileiras?

Para ativistas e cientistas políticas, o saldo "foi positivo, mas poderia ter sido melhor".

"Dilma fez diferença, não só por ser mulher, mas por ser mulher consciente do seu lugar no mundo e consciente das desigualdades de gênero - e por ter lutado contra isso", avaliou Jacira Melo, diretora-executiva do Instituto Patrícia Galvão.

As especialistas ouvidas pela BBC Brasil citaram principalmente avanços na questão do combate à violência doméstica, da representatividade na política e da independência financeira da mulher.

As maiores críticas ficaram por conta de dois temas polêmicos: os direitos reprodutivos e a questão da diversidade sexual.

A BBC Brasil preparou uma lista com algumas das principais reivindicações de grupos que defendem a igualdade de gênero e traz análises sobre o quanto esses tópicos avançaram ou retrocederam nos últimos anos, além de falar das expectativas para o próximo governo.

Representatividade da mulher na política

O Brasil ocupa o 155º lugar no ranking de igualdade entre homens e mulheres na política, segundo levantamento do IPU (Inter-Parliamentary Union) em agosto com 193 países. Atualmente, 10% da Câmara dos Deputados é formada por mulheres e, no Senado, elas são 13%.

Por tudo isso, a participação feminina em secretarias e ministérios, segundo as especialistas, seria essencial para garantir não só a representatividade delas, como também para que as questões de gênero sejam colocadas em pauta.

"A democracia não se completa sem a participação real das mulheres. Mulheres e homens, no exercício da liderança política, devem estar comprometidos com a plataforma de direitos das mulheres entre as grandes prioridades políticas", afirmou à BBC Brasil Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres Brasil.

Posse de Temer

CRÉDITO,BETO BARATA/PR

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Em cerimônia no Senado, Michel Temer tomou posse como presidente; ativistas criticam falta de representatividade das mulheres no governo dele

No aspecto dos ministérios, Dilma ganhou destaque por ter nomeado o maior número de ministras mulheres na história do país - foram 18 em diferentes momentos de seus cinco anos e meio de governo.

"Ela queria que tivesse havido paridade de ministros, metade mulher e metade homem. Mas por conta de brigas internas do PT não houve. (Mas) foi uma diferença brutal, porque nunca tivemos um governo com um número tão grande de mulheres. E isso estimula várias mulheres a participarem da política", disse Maria do Socorro Braga, professora de Sistemas Democráticos e Teoria Política Democrática da Ufscar.

Nesse ponto, a falta de mulheres nos ministérios de Temer teve repercussão negativa tanto no Brasil quanto internacionalmente. "O Brasil passou a ser um dos pouquíssimos países do mundo sem mulheres no comando de ministérios", pontuou Gasman.

"Não estamos debatendo que precisa ter mulher nesse ou naquele lugar só porque é mulher. Estamos dizendo que o Brasil no século 21 tem mulheres com capacidade para estar em qualquer um dos ministérios. E nós somos 52% da população, que ali não está representada. Temos muita gente qualificada", avaliou Jacira Melo, do Instituto Patrícia Galvão.

Em uma das medidas para amenizar as críticas, Temer nomeou Flávia Piovesan para a Secretaria de Direitos Humanos. Em entrevista à BBC Brasil em maio, ela admitiu que há necessidade de mais representatividade das mulheres - mas não só na política.

"Tem que avançar e espero que avancemos. Eu creio que temos que avançar em todas as áreas. No Executivo, no Legislativo, onde as mulheres são ainda 10%, no Judiciário. Ainda é muito reduzida nossa representatividade."

Flavia Piovesan

CRÉDITO,ENAMAT

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Flavia Piovesan assumirá secretaria que ficará sob guarda-chuva do Ministério da Justiça

Direitos reprodutivos

A questão que causa mais polêmica entre as reivindicações de grupos de mulheres é a dos direitos reprodutivos - que incluem a luta pela legalização do aborto.

Com a primeira presidente mulher no poder, havia uma expectativa de que essa causa pudesse ser ao menos colocada em pauta por parte do Executivo - algo que não aconteceu.

"Para mim, uma das grandes tristezas do governo Dilma foi ver que a discussão sobre os direitos reprodutivos das mulheres não avançou em nada, pelo contrário. O tema foi totalmente silenciado", disse à BBC Brasil a antropóloga Debora Diniz, do instituto de bioética Anis.

"Mesmo com uma ministra absolutamente engajada (Eleonora Menicucci, na Secretaria de Políticas para Mulheres), nada avançou, porque ela não podia falar nada. E, para falar a verdade, foi um retrocesso se olharmos para o fato de que os serviços que oferecem aborto legal (para os casos previstos em lei) foram cortados pela metade nesse governo."

Edilson Rodrigues/Agência Senado

CRÉDITO,EDILSON RODRIGUES/AGÊNCIA SENADO

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Dilma Rousseff citou as mulheres em seu discurso de defesa no Senado: "Parceiras incansáveis de uma batalha em que a misoginia e o preconceito mostraram suas garras"

Para Nalu Faria, da coordenação nacional da Marcha das Mulheres, o debate acabou prejudicado pela conjuntura conservadora tanto do Congresso, quanto da sociedade brasileira. Ela menciona a estratégia de José Serra, então candidato à Presidência pelo PSDB em 2010, de chamar Dilma de "abortista" na campanha.

"A partir do que foi a campanha, a gente já percebeu que ia ser muito difícil (abordar essa questão). A Dilma foi colocada contra a parede. E depois disso ela não pôde ampliar o tema porque havia um conjunto de forças desfavoráveis", afirmou. "Mas com certeza faltou um posicionamento mais forte dela."

As perspectivas para essa questão não agradam as analistas. A ex-deputada Fátima Pelaes, que assumiu a Secretaria da Mulher no governo de Temer, era a favor da descriminalização do aborto, mas mudou de posição ao se tornar evangélica.

Em entrevista ao jornal Mensageiro da Paz, Pelaes disse que "como ainda não conhecia Jesus Cristo", defendia a bandeira por entender que "a mulher era 'dona' de seu corpo".

"Coloquei o mandato à disposição de Deus. Hoje, eu defendo o direito à vida, o direito de viver tem que ser dado para todos."

A professora Maria do Socorro Braga afirma que, diante de um cenário 'tão consevador" no Senado e na Câmara, não vê um avanço da discussão.

Gabinete do presidente interino Michel Temer é formado apenas por homens

CRÉDITO,AP

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Gabinete do presidente interino Michel Temer é formado apenas por homens

"Na última eleição, os partidos grandes perderam cadeiras para os mais conservadores, de origem cristã. Eles aumentaram muito seu poder dentro do Congresso e por isso a tendência é que esse debate não aconteça", disse a professora da Ufscar.

"Cada vez mais estamos virando uma teocracia. Além disso, temos uma sociedade conservadora, que promove a santificação da maternidade. E com essa sobreposição da questão religiosa e desse fator cultural, a discussão não avança mesmo", observou Débora Diniz.

Igualdade no mercado de trabalho

Entre os avanços que veem no governo Dilma as entrevistadas citam a maior presença das mulheres no mercado de trabalho formal. Segundo elas, programas como Bolsa Família e políticas públicas de acesso à educação, como o Pronatec, permitiram que mais brasileiras tivessem registro em carteira.

Segundo relatório da ONU Mulheres Brasil de 2015, as mulheres são maioria entre as beneficiárias de programas sociais. E também estão mais presentes nas empresas e escolas.

"O programa do governo de Dilma em termos de políticas públicas teve um impacto significativo na vida das pessoas mais pobres, especialmente das mulheres negras", diz Nadine Gasman, da ONU Mulheres Brasil.

Dados da entidade também mostram aumento de 800% no número de microempreendedoras individuais em seis anos, passando de 21 mil em 2009 para 2,1 milhões em 2014. Desse total, mais de 495 mil pertenciam ao Bolsa Família.

Para Jacira Melo, o programa teve uma participação importante na emancipação feminina já que nos mandatos de Dilma mulheres se tornaram titulares do benefício nas famílias. Antes, com Lula, homens também poderiam ser responsáveis pelo cartão.

"(Essa mudança) só acontece quando o governante tem a percepção de que, na família, as mulheres são uma unidade, não só um indíviduo. O parceiro, quando tem a titularidade, pode passar para frente o Bolsa Família, gastar com outras coisas; a mulher não."

No governo Dilma, mulheres passaram a ser titulares do Bolsa Família

CRÉDITO,AGÊNCIA SENADO

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No governo Dilma, mulheres passaram a ser titulares do Bolsa Família

Além da concessão do Bolsa Família, a coordenadora da pós-graduação em Ciência Sociais da UERJ Clara Araújo cita as condições mais flexíveis de empréstimos no Minha Casa Minha Vida e em outros programas de crédito habitacional, o que beneficiaria as mulheres.

"Quando são chefes de família sem cônjuge e com filhos, as mulheres têm uma renda menor. Se não houver um olhar em relação a isso, elas serão sempre excluídas."

Condições mais flexíveis do Minha Casa Minha Vida para mulheres foram elogiadas por especialistas

CRÉDITO,ROBERTO STUCKERT FILHO/PR

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Condições mais flexíveis do Minha Casa Minha Vida para mulheres foram elogiadas por especialistas

No entanto, a professora critica o foco da maioria das políticas nas mães, deixando de lado as necessidades e desejos das mulheres mais jovens ou solteiras.

"Há sempre uma tensão entre afirmar as mulheres como sujeitas de si, como pessoas de direito só por serem mulheres, e o discurso da maternidade, de vê-las sobretudo como mães."

Segundo as entrevistadas, outra medida favorável à emancipação feminina no governo Dilma foi a aprovação da "PEC das Domésticas", emenda constitucional que amplia os direitos das empregadas domésticas. O texto que regulamenta a PEC foi publicado no Diário Oficial em junho de 2015 e garante sete novos direitos a essas profissionais, como auxílio-creche, seguro-desemprego e salário-família.

A lei que permite às empresas ampliarem a licença-paternidade de 5 para 20 dias também é mencionada como tópico positivo. Em março, Dilma sancionou o texto, que cria a Política Nacional Integrada para a Primeira Infância e permitiria que pais dividissem os cuidados com as crianças por mais tempo.

Por fim, a representante do Instituto Patrícia Galvão aponta que o feito mais importante de Dilma com relação a esse tema é a "construção cultural".

"Tenho certeza que todas as gerações de mulheres agora veem como uma possibilidade real ocupar uma Presidência da República ou mesmo estar onde elas decidirem que querem estar no mercado de trabalho. Isso ninguém vai tirar, nem o impeachment."

Combate à violência e ao feminicídio

Colocar todas as ações previstas na Lei Maria da Penha em prática foi para Jacira Melo, do Patrícia Galvão, um importante destaque do governo Dilma no combate à violência doméstica - tópico bem avaliado pelas especialistas consultadas.

"A sensibilidade (do governo) possibilitou ações significativas para acesso à Justiça e o acolhimento das mulheres nos espaços urbanos e rurais. Isso foi absolutamente novo", diz Melo.

Ela cita também a lei que tipifica o crime de feminicídio (homicídios cuja motivação envolve o fato de a vítima ser mulher) e aumenta as penas previstas pelo Código Penal. O texto foi sancionado no Brasil em março de 2015.

A inauguração de centros de acolhimento de vítimas de violência, as Casas da Mulher Brasileira, está incluída nessas medidas, segundo Nalu Faria, da Marcha das Mulheres. No entanto, pondera, a ampliação dos centros não cumpriu o prometido - até agora, duas unidades foram abertas.

"O programa previa uma casa por capital, o que não foi feito, mas ao menos cria uma referência interessante para ser implementada."

Flavia Piovesan, titular da Secretaria de Direitos Humanos no governo Temer, afirmou à BBC Brasil que o combate à violência contra a mulher é uma das prioridades do governo, junto às ações afirmativas para negros.

"(A prioridade) é como combater, prevenir e implementar de maneira mais plena a Lei Maria da Penha em todo o país."

Inauguração de uma das Casas da Mulher Brasileira, medida elogiada por especialistas

CRÉDITO,ROBERTO STUCKERT FILHO/ PR

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Inauguração de uma das Casas da Mulher Brasileira, medida elogiada por especialistas

Questão de gênero e diversidade sexual nas escolas

Uma das grandes polêmicas durante o governo Dilma foi a da cartilha formulada pelo Ministério da Educação para abordar a questão de gênero e a diversidade sexual nas escolas públicas. Essa também era uma das pautas dos ativistas pela igualdade de gênero e acabou não avançando.

Logo que a notícia da cartilha, chamada "kit anti-homofobia", surgiu em 2011, houve uma enxurrada de críticas, além de pressão da bancada evangélica e católica do Congresso - forçando um recuo de Dilma.

O kit era parte do projeto "Escola sem Homofobia" e tinha como objetivo abrir um debate nas escolas sobre temas como gênero e suas desigualdades, homofobia, diversidade sexual e luta pela cidadania LGBT.

Protesto pela Lei Maria da Penha

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Com o lema "Por uma vida sem violência: para mim, para nós, para todas", mulheres protestam pela implementação da Lei Maria da Penha

"Não se trata de recuo. Se trata de um processo de consulta que o governo passará a fazer, como faz em outros temas também, porque isso é parte vigente da democracia", disse Dilma à época. O tema não voltou mais à tona desde então.

Para Maria do Socorro Braga, assim como a discussão o aborto, essa também não vai evoluir por causa do Congresso "conservador".

"Essas questões não vão ser colocadas em pauta em um Congresso tão conservador. Além disso, hoje temos uma grande parte da população que rejeita a pauta mais progressista", analisou.

Já Flávia Piovesan considera esse tema como uma de suas prioridades.

"Acho muito importante termos o diagnóstico: onde estamos e para onde vamos. E uma das minhas prioridades é trabalhar a questão da homofobia. Não podemos admitir desperdício de vidas em razão da intolerância pela diversidade sexual."

  • Ingrid Fagundez e Renata Mendonça
  • Da BBC Brasil em São Paulo
  • 01/09/2016
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Sábado e Domingo tem Feira Cultural em Bom Jardim



O Museu de Bom Jardim, por meio do Coletivo do Artesanato, realiza neste sábado e domingo 30 e 31 de outubro 2021, o projeto  Feira Cultural,  uma importante ação cultural que valoriza o artesanato da cidade e região, divulga as artes e ajuda a economia criativa e solidária. Tudo começa às 9 horas da manhã do sábado com uma feira dentro do museu. No final da tarde e início da noite a feira acontece na frente do museu com barracas, apresentações culturais, show, bingo beneficente e ciranda. Miro dos Bonecos Noé da Ciranda fazem a festa. 

No domingo, dia 31 de outubro, a festa começa às 15:00 horas, na Rua Manoel Augusto em frente ao Museu de Bom Jardim. Haverá música, dança, brincadeiras, exposições e venda de artesanato, comida típica, apresentação culturais, orquestra de música e outros atrativos. É um final de semana cultural para família  se divertir, comprar o artesanato local e regional.  
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Contra fake news, Instagram e Facebook inserem avisos em postagens sobre eleições




Na terça-feira (26), o Facebook anunciou que irá inserir rótulos em postagens sobre eleições com redirecionamento de usuários para a página da Justiça Eleitoral na internet. Isso vale também para o Instagram e a mudança faz parte de um esforço junto com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para combater desinformação.

“A integridade das eleições é uma prioridade para nós e temos trabalhado nos últimos anos com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no Brasil para proteger o processo democrático, identificando e agindo contra ameaças e ajudando as pessoas a terem acesso a informações confiáveis sobre a votação. Como parte do nosso trabalho com o TSE para a eleição presidencial de 2022, iremos direcionar as pessoas usando o Facebook e o Instagram no Brasil para informações oficiais sobre o sistema de votação e artigos rebatendo desinformação sobre o processo eleitoral”, informou o comunicado.

De acordo com a plataforma, as pessoas no Brasil começarão a ver um rótulo em postagens nos aplicativos que tratam de eleições e serão direcionados a uma página do site da Justiça Eleitoral. Isso porque desde 2016, o número de funcionários que atuam na área de segurança e integridade das plataformas foi quadruplicado, passando para mais de 40 mil pessoas. A empresa disse que as redes sociais atuaram durante as eleições municipais de 2020, estabelecendo regras de transparência da publicidade de candidatos. 

Gravvity, a plataforma sem likes que promete ser uma rede social 'anti-Facebook'
Imagem: Cristian Dina (Pixels)

“Removemos mais de 140 mil peças de conteúdo do Facebook e do Instagram no Brasil pela violação de nossas políticas de interferência na votação antes do primeiro turno da eleição e cerca de 3 milhões de pessoas com mais de 16 anos elegíveis ao voto no país clicaram para ver mais informações sobre a eleição nos dias que antecederam a votação. Em 2018, lançamos no Brasil nossas ferramentas de transparência para propaganda política e eleitoral e, desde 2020, qualquer pessoa ou organização precisa passar por um processo de autorização confirmando identidade e endereço no país para veicular anúncios sobre esses temas. Desde então, anúncios sobre política ou eleições ficam armazenados publicamente na nossa Biblioteca de Anúncios por um período de sete anos”, continuou o comunicado. 

Agência Brasil

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Pernambuco lidera em geração de empregos no Nordeste, com 25 mil postos criados


Com um saldo positivo de 25.732 novos postos de trabalho formais em setembro, Pernambuco alcançou o melhor resultado desse mês nos últimos oito anos, colocando o Estado em primeiro lugar no Nordeste e em terceiro no Brasil. Os dados foram divulgados nesta terça-feira (26) pelo Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged). Em relação ao mês de agosto, quando o saldo foi de 17.215 contratações, houve um crescimento de 8.523 empregos com carteira assinada. No acumulado do ano, de janeiro a setembro, o Estado gerou um saldo de 70,5 mil ocupações.

“Esse resultado aponta para um reaquecimento consolidado da nossa economia. Nosso Plano Retomada está percorrendo todas as regiões do Estado e continua acelerando a volta das oportunidades em todos os


setores produtivos. É uma clara sinalização de que estamos no caminho certo e que devemos continuar apoiando os empreendedores e atraindo novos negócios para Pernambuco”, afirmou o governador Paulo Câmara.

O secretário do Trabalho, Emprego e Qualificação, Alberes Lopes, comemorou o resultado, apesar da crise causada pela pandemia. “A vacina é realmente a melhor saída para retomarmos a normalidade, para resgatar os empregos, juntamente com todas as parcerias entre o Governo do Estado e a iniciativa privada. Os números ainda vão melhorar, porque os próximos meses devem sentir o impacto do programa Emprego PE, que já cadastrou 1.802 empresas”, explicou. Cada estabelecimento inscrito no programa terá o benefício de R$ 550 por novo funcionário, o que vai estimular mais contratações.

Os dados do último mês, segundo o secretário, refletem o período de safra da cana-de-açúcar e também mostram a recuperação contínua dos serviços e comércio, setores fortes da economia pernambucana. A indústria teve um saldo positivo de 11.546 novos empregos; a agropecuária, 5.957; os serviços 4.573; o comércio, 2.495; e a construção, 1.161. As cidades pernambucanas que mais se destacaram foram Recife (3.967), Rio Formoso (2.750), Sirinhaém (2.277), Petrolina (2.232) e Ipojuca (1.512).

Brasil
De acordo com o Novo Caged, o emprego celetista no Brasil apresentou crescimento em setembro de 2021, registrando saldo de 313.902 postos de trabalho. Esse resultado decorreu de 1.780.161 admissões e de 1.466.259 desligamentos. São Paulo está em primeiro lugar no ranking, com a geração de 84.887 postos e Minas Gerais ficou em segundo com 29.029.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Lula condenado: Entenda as penas e os demais processos contra o petista



Lula

CRÉDITO,EPA/FERNANDO BIZERRA JR.

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Lula é acusado de receber propinas das construtoras OAS e Odebrecht por meio de reformas

Na tarde desta quarta-feira (6), logo depois da sentença da juíza federal Gabriela Hardt, que condenou o ex-presidente Lula (PT) a mais 12 anos e 11 meses de prisão no caso do "Sítio de Atibaia", a hashtag #LulaLivre2043 chegou ao primeiro lugar nos assuntos mais comentados no Twitter no Brasil. Os internautas parecem ter simplesmente somado as duas condenações de Lula até agora. Mas como é o cálculo da pena quando alguém já preso é condenado novamente?

No caso do sítio de Atibaia, o petista é acusado de receber propinas das construtoras OAS e Odebrecht por meio de reformas, em 2010, num sítio no município do interior paulista. O imóvel pertence formalmente ao empresário Fernando Bittar, mas o MPF alega que Lula é o verdadeiro dono do sítio e era o principal usuário do local.

Além de Lula, outras dez pessoas foram condenadas na sentença proferida pela juíza Hardt, entre elas os ex-presidentes da OAS, Léo Pinheiro, e da Odebrecht, Marcelo Odebrecht. O ex-presidente Lula nega irregularidades, enquanto os dois empresários são hoje colaboradores da Lava Jato, e confessaram os crimes.

A Justiça também determinou o confisco do sítio, que será levado a leilão. Além disso, Lula foi condenado a pagar multa de R$ 423 mil – e foi proibido de exercer cargos públicos pelos próximos 24 anos e dois meses.

Gabriela Hardt,

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Sentença da juíza federal Gabriela Hardt condenou Lula a mais 12 anos e 11 meses de prisão

Esta é a segunda vez que Lula é condenado na Lava Jato. Em janeiro passado, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) confirmou a condenação de Lula no caso conhecido como "Tríplex do Guarujá": o petista é acusado de receber propina da empreiteira OAS na forma da reserva e reforma de um apartamento de três andares no balneário paulista. Na ocasião, os desembargadores do TRF-4 fixaram a pena em 12 anos e 1 mês de prisão.


Mas como é feito o cálculo das penas quando alguém é condenado mais de uma vez? E quais são as chances do petista conseguir o regime semiaberto?

Como é o cálculo do tempo de prisão?

Advogado criminalista e professor do curso de Direito da FGV (Fundação Getúlio Vargas) de São Paulo, Celso Vilardi explica que o cálculo das penas é um pouco mais complexo que a simples soma das penas.

"Não é a soma simples, até porque no Brasil existe a chamada progressão de regime (para o regime semiaberto). É errado dizer que ele vai ficar preso por 12 anos mais doze da nova condenação", diz.

No caso do "Sítio de Atibaia", diz Vilardi, é preciso aguardar uma decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) - o tribunal pode confirmar ou rever a sentença de Hardt, mantendo ou alterando a pena.

"Só então a execução penal vai unificar as penas, aí sim com um somatório. O tempo total que o réu deve cumprir no regime fechado é de um sexto do tempo total de pena", diz o advogado, que defendeu alguns réus na Lava Jato.

O tempo que o ex-presidente permanecerá na prisão pode ainda ser reduzido em relação à pena total por outras remissões, como por exemplo a leitura de livros durante o cárcere e também pela idade de Lula que impede que presos idosos passem mais de 20 anos encarcerados.

Sítio de Atibaia

CRÉDITO,REPRODUÇÃO/GOOGLE EARTH

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Imóvel em Atibaia pertence formalmente ao empresário Fernando Bittar, mas MPF alega que Lula é seu verdadeiro dono

Suponha que o TRF-4 mantenha exatamente a mesma pena decretada por Gabriela Hardt: neste caso, a pena total de Lula chegaria a 25 anos ou 300 meses (12 anos e 1 mês, mais 12 anos e 11 meses). Lula teria portanto um sexto deste tempo para cumprir no regime fechado: 50 meses, ou 4 anos e dois meses.

Este cálculo prossegue até o limite máximo de 30 anos – que é o período máximo que alguém pode passar preso no Brasil.

"O tempo máximo que alguém pode ficar no regime fechado é 30 anos. Mas isso não significa que o aumento de pena não tenha nenhum impacto para o preso. Por exemplo: se alguém for condenado diversas vezes e as penas somarem 60 anos de prisão, esta pessoa passará dez anos em regime fechado. Quanto maior for a pena total, mais o réu levará para conseguir a progressão de regime", diz João Paulo Martinelli, que é advogado criminalista e professor do Instituto de Direito Público (IDP) de São Paulo.

No caso de Lula, explica Martinelli, o processo ficará suspenso até que o TRF-4 julgue os recursos apresentados pela defesa do petista – em nota nesta quarta-feira (06), a defesa de Lula informou que irá recorrer. O professor do IDP lembra ainda que o período de prisão já cumprido por Lula será abatido na hora de calcular quanto falta para a progressão de regime.

Supremo

Independentemente da situação na 1ª Instância, há dois processos em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF) que podem alterar a situação do ex-presidente.

Ao assumir o comando da corte, o atual presidente do STF, ministro Dias Toffoli, marcou para o dia 10 de abril o julgamento de uma ação a respeito do cumprimento de pena após a condenação na Segunda Instância. Caso a maioria dos 11 ministros entenda que a pena só começa depois que forem esgotadas todas as instâncias da Justiça, Lula voltaria para casa.

Em outro processo, a defesa do petista questiona na 2ª Turma do STF uma parte da pena atribuída a ele no caso do Tríplex do Guarujá. Se o pedido de Lula for atendido antes de uma nova condenação do petista no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, ele pode conseguir a progressão de regime, e passar ao semiaberto.

Cristiano Zanin Martins

CRÉDITO,ROVENA ROSA/AGÊNCIA BRASIL

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Cristiano Zanin Martins, advogado responsável pela defesa de Lula, acusou Justiça de Curitiba de fazer "uso perverso das leis"

Defesa de Lula nega acusações

Em nota, o advogado responsável pela defesa de Lula, Cristiano Zanin Martins, acusou a Justiça Federal de Curitiba de fazer "uso perverso das leis e dos procedimentos jurídicos para fins de perseguição política".

A defesa destaca que o ex-presidente nunca foi o dono do sítio, e que a decisão se baseia num suposto "caixa geral" de propinas das empreiteiras porque não há, segundo a defesa, provas materiais de que o dinheiro desviado de contratos da Petrobras foi usado nas reformas.

"A decisão desconsiderou as provas de inocência apresentadas pela defesa de Lula nas 1.643 páginas das alegações finais", diz um trecho da nota.

"Chega-se ao ponto de a sentença rebater genericamente a argumentação da defesa de Lula fazendo referência a 'depoimentos prestados por colaboradores e co-réus Léo Pinheiro e José Adelmário (sic)'" - Léo Pinheiro é o apelido de José Adelmário Pinheiro Filho.

Lula

CRÉDITO,REUTERS/LEONARDO BENASSATTO

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Lula é réu em outras cinco ações penais na Justiça Federal

Quais são os outros processos contra Lula?

Além dos casos do Tríplex e do Sítio de Atibaia, Lula é réu em outras cinco ações penais na Justiça Federal, além de recursos em tribunais superiores.

1. O outro apartamento de Lula

Trata-se de mais uma ação penal sob a responsabilidade da juíza Gabriela Hardt. Neste caso, o MPF acusa Lula de receber propina da Odebrecht por meio da compra de um terreno em São Paulo no valor de R$ 12 milhões, que seria usado para a construção de uma nova sede para o Instituto Lula.

A empreiteira também teria comprado o apartamento nº 121 do edifício Hill House, em São Bernardo do Campo (SP), no mesmo andar e no mesmo prédio onde Lula vivia antes de ser preso - o local serviria para abrigar a equipe de seguranças do ex-presidente.

O processo está concluído para sentença, com o MPF e a defesa das partes já tendo apresentado suas alegações finais. Uma decisão pode sair a qualquer instante.

2. Guiné Equatorial e o Instituto Lula

Neste caso, o ex-presidente é acusado de receber propina de R$ 1 milhão – paga por empresários brasileiros – em troca de intermediar negócios destes empresários com o líder da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang.

O pagamento teria sido feito de forma dissimulada, por meio de uma doação ao Instituto Lula.

Esta é uma das ações mais recentes contra o ex-presidente - a denúncia foi aceita pela Justiça Federal em São Paulo em novembro passado.

O ex-presidente nega irregularidades – ele admite ter recebido a doação, mas nega ter feito qualquer favor em troca da mesma. Na época, sua defesa disse que a acusação "pretendeu, de forma absurda e injurídica, a transformação uma doação recebida de empresa privada pelo Instituto Lula, devidamente contabilizada e declarada às autoridades, em tráfico internacional de influência".

3. Caças Gripen NG

Este processo corre na 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília, por ser parte das investigações da operação Zelotes – está atualmente na fase de coleta dos depoimentos de testemunhas.

O MPF apura se Lula e um de seus filhos, Luís Cláudio, cometeram os crimes de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa. O ex-presidente é suspeito de ter conseguido benefícios para seu filho em troca da aquisição de 36 jatos de caça do modelo Gripen NG, produzidos pela fabricante sueca Saab. No mesmo caso, é investigada também a suposta influência de Lula na edição de uma medida provisória em 2013, que beneficiou a indústria automotiva. Em ambos os fatos Lula já não era mais presidente. Ele nega irregularidades.

4. Medida provisória para favorecer a indústria automotiva

Mais um processo na 10ª Vara da Justiça Federal, em Brasília. Assim como o caso envolvendo os caças suecos, está na fase de oitiva de testemunhas.

A acusação contra Lula é de corrupção passiva - ele teria recebido vantagens indevidas para editar a medida provisória 471 de 2009, que beneficiou com isenção de alguns impostos montadoras de veículos instaladas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país. Lula nega as acusações.

Prédio do BNDES no Rio

CRÉDITO,REUTERS/SERGIO MORAES

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Para o MPF, Lula pressionou o BNDES a liberar empréstimos que financiaram obras da Odebrecht em Angola

5. Empréstimos do BNDES para Angola

Para o MPF, Lula cometeu os crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e tráfico de influência ao, supostamente, pressionar o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para liberar empréstimos que financiaram obras da Odebrecht em Angola. A ação de Lula teria se dado entre os anos de 2008 e 2015 – o ex-presidente nega e diz que jamais interferiu na concessão de qualquer benefício do BNDES.

O caso está sob responsabilidade do juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília – a mesma dos dois casos anteriores.

  • André Shalders - 
  • Da BBC Brasil em São Paulo
  • 07/02/2019
Professor Edgar Bom Jardim - PE