quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Como caos no Afeganistão põe em xeque habilidade de Biden


Biden na Casa Branca

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Há uma citação no livro "O Sol É para Todos" em que Jem escuta de Maudie que "as coisas nunca são tão ruins quanto parecem." Para o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, agora, as coisas parecem muito sombrias.

Mas se estou cavando em meu livro de citações, qual é melhor que o poema Se, de Rudyard Kipling, e aquele verso sobre tratar o triunfo e o fracasso como os impostores que são?

Os políticos ouviram ao longo dos tempos que não há como voltar desta ou daquela catástrofe, e - ainda assim - eles voltam.

As consequências caóticas da retirada dos Estados Unidos do Afeganistão vêm de um livro ainda a ser escrito de "como perder em tudo". Os alertas não haviam sido ouvidos, a inteligência era totalmente inadequada, o planejamento era lamentável, a execução lastimável.

Vamos nos concentrar em um ponto - embora haja uma grande quantidade que vale a pena ser examinada.

A retirada das tropas dos Estados Unidos veio durante a "temporada de luta" - uma frase que devo dizer que sempre achei um tanto estranha. Mas no Afeganistão há uma temporada de combates que começa na primavera - e depois no inverno, quando o país congela, chega um momento em que o Talebã volta para sua terra natal tribal. Ninguém pensou que poderia ter sido melhor ordenar a retirada para o auge do inverno quando as forças do Talebã não estavam lá, prontas para preencher o vácuo?

Soldados do Talebã patrulham as ruas de Jalalabad

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Soldados do Talebã patrulham as ruas de Jalalabad em 17 de abril

O resultado final poderia ter sido o mesmo - uma tomada pelo Talebã - mas quase certamente teria levado a uma retirada mais ordenada. Mesmo assim, o governo Biden queria uma coincidência de datas que chamasse atenção: queriam que a retirada fosse concluída até 11 de setembro. Vinte anos depois dos ataques de 11 de setembro de 2001 - um prazo artificial e autoimposto.

Mais uma citação. Após a catastrófica invasão da Baía dos Porcos, quando cubanos exilados apoiados pela CIA tentaram derrubar Fidel Castro, John F. Kennedy - o presidente na época daquele desastre - notou com tristeza que a vitória tem cem pais, mas o fracasso é órfão.

Joe Biden é órfão agora. E isso pode ter consequências para sua presidência e, muito mais importante, como o resto do mundo vê os Estados Unidos.

A campanha eleitoral de Biden poderia ser reduzida a três mensagens para distingui-lo do republicano Donald Trump. Primeiro, ele seria mais empático. Ele também seria mais competente. E, em vez de "America First" (América em primeiro lugar), o mantra seria substituído por "America is back" (América está de volta) .

Em relação à competência, até mesmo seus maiores apoiadores teriam dificuldade em dizer que a retirada das tropas americanas não foi caótica.

E depois dos eventos desconcertantes dos últimos dias, como exatamente "a América está de volta"? Muitos veem o que se desenrolou sob a supervisão do presidente Biden no Afeganistão como uma continuação linear das políticas de "América em primeiro lugar" de Donald Trump - e, como alguns brincaram cruelmente, não tão bem organizado.

Potencialmente, isso é profundamente prejudicial.

Presidentes Truman e Kennedy

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Os presidentes Truman e Kennedy (à direita) tiveram que enfrentar falhas

Mas na própria política, Joe Biden é totalmente desafiador. Ele convocou seu Harry Truman interior e disse em seu discurso que chamava a responsabilidade para si. Ele ficou, no entanto, feliz em espalhar a culpa - a liderança afegã não estava à altura, as forças armadas afegãs não lutaram; Donald Trump havia negociado um péssimo acordo.

Pode haver um tom cativante em Joe Biden, mas também há um tom petulante. Ele não gosta de ser questionado e, em muitas questões de política externa, está convencido de que está certo.

Joe Biden nunca foi um "intervencionista liberal", pensando que a democracia liberal é algo que pode ser despachado do porto de Baltimore e exportado para todo o mundo. Ele acha que os militares dos EUA deveriam estar no exterior apenas para defender interesses vitais dos EUA. E com a Al-Qaeda em grande parte derrotada, Osama Bin Laden morto, o trabalho estava feito. Hora de voltar para casa.

Essa é uma visão, devo acrescentar, compartilhada por milhões de americanos. Mas a aprovação da política é muito diferente da implementação disfuncional. E se grupos terroristas, sentindo-se encorajados pela vitória do Talebã, decidirem lançar seus próprios ataques contra americanos no exterior - ou americanos em casa? Poderia ser politicamente catastrófico.

  • Jon Sopel
  • Editor de América do Norte da BBC

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Crianças e adolescentes pernambucanos que ficaram órfãos por causa da pandemia receberão auxílio





O Governo do Estado articula a concessão de um auxílio para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social que perderam os pais para a Covid-19. O benefício, equivalente a meio salário-mínimo (hoje R$ 550), será pago mensalmente até o jovem completar 18 anos, podendo estendido até os 24 caso o beneficiário vá estudar em uma universidade.

A medida será regulamentada em projeto de lei que o Executivo estadual pretende enviar à Assembleia Legislativa até a próxima semana.

O anúncio foi feito nesta terça-feira (17) pelo governador Paulo Câmara e pelo secretário de Desenvolvimento Social, Infância e Juventude, Sileno Guedes, após reunião com representantes do Tribunal de Justiça de Pernambuco no Palácio do Campo das Princesas, no Centro do Recife.

De acordo com o gestor, o auxílio será pago apenas aos órfãos que perderam o pai e a mãe e não valerá para quem já é acobertado por algum programa de seguridade social, como pensões ou o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Não é o caso do Bolsa Família, que não faz parte do sistema de previdência.

"O benefício vai funcionar para crianças com rende familiar de até três salários-mínimos e que não possuem nenhum tipo de seguridade social", afirmou o secretário Sileno Guedes.

Em pronunciamento divulgado à imprensa, o governador Paulo Câmara destacou que o projeto é fruto de uma articulação do Consórcio Nordeste. "É uma iniciativa que será adotada por todos os estados da nossa região, dentro do programa Nordeste Acolhe. Mais uma ação de assistência para quem mais precisa”, declarou.

Mais de mil órfãos
A medida visa evitar o encaminhamento de mais jovens para as casas de acolhimento do Estado, que hoje atendem cerca de mil crianças e adolescentes, dando um estímulo para que eles fiquem aos cuidados de familiares.

Além disso, segundo o Governo, estimativas com base em estudos publicados pela revista The Lancet e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indicam que 4 mil menores de idade estejam em situação de orfandade em Pernambuco. Antes da pandemia, eram, aproximadamente, 1.500.

Para ter uma maior precisão nos números e fazer o programa atingir o público-alvo, o Tribunal de Justiça encaminhará hoje uma determinação aos cartórios para que informem a notificação de orfandade nas certidões de óbito. Com essa declaração, a família do jovem poderá requerer o benefício.

“A princípio, o foco será para as vítimas da Covid, mas, no projeto de lei, constará uma autorização para incluir, caso haja disponibilidade financeira, outros tipos de orfandade”, explicou o secretário estadual de Desenvolvimento Social, Infância e Juventude, Sileno Guedes.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Os influenciadores que promovem golpes nas redes sociais



Homem usando o celular

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Fraudadores promovem na internet guias que ensinam como fraudar online

Há um novo tipo de influenciador nas redes sociais. Mas, em vez de promover marcas de roupa ou produtos relacionados a estilo de vida, eles promovem a fraude.

Eles ostentam pilhas de dinheiro, escondem o rosto e atraem novos recrutas vendendo guias sobre como cometer fraudes.

Você poderia pensar que esses golpistas e seus produtos ilegais são difíceis de encontrar — e, até pouco tempo, eles estavam de fato escondidos nas sombras da dark web. Mas não mais.

Como parte de uma investigação para o programa Panorama, da BBC, descobri como é fácil fazer negócio com fraudadores e comprar guias para aplicar golpes online. Também desmascarei um influenciador anônimo que tem vendido esses produtos.

Nas redes sociais, os autores de fraudes no varejo online se referem a isso como "clicking" (uma referência ao ato de "clicar"), o que faz com que pareça mais inócuo.


Mas cometer fraude — que é definida pelo departamento de polícia britânico Action Fraud, como usar truques para obter uma vantagem desonesta, muitas vezes financeira, sobre outra pessoa — pode levar a até 10 anos de prisão.

Os guias negociados são conhecidos como "métodos".

Eles podem ter como alvo bancos, varejistas e até mesmo o sistema de Crédito Universal do governo, deixando organizações e pessoas físicas sem dinheiro.

E todos eles dependem fortemente de algo conhecido como "fullz", gíria em inglês que significa "full information" (termo que pode ser traduzido como "informação completa").

São os dados pessoais de alguém: normalmente o nome, número de telefone, endereço e dados bancários.

Com o "fullz" em mãos, os fraudadores podem seguir os passos dos guias para fazer compras online ou até mesmo obter um empréstimo em nome de outra pessoa.

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Como estes dados privados acabam circulando por aí?

Muitas vezes, eles são provenientes de golpes de phishing. Aqueles e-mails ou mensagens de texto duvidosos que fingem ser de fontes legítimas e enganam as vítimas para que revelem suas informações pessoais.

Às vezes, os próprios fraudadores cometem ou encomendam atividades de phishing ou, ocasionalmente, obtêm as informações por meio de terceiros.

Se aproveitar do "fullz" de uma pessoa — fazendo, por exemplo, compras usando seus dados — pode destruir a pontuação de crédito dela.

Uma pontuação de crédito ruim pode ter sérias implicações na vida de alguém: afeta as chances de solicitar um empréstimo, obter financiamento para compra de imóvel ou até mesmo abrir uma nova conta bancária.

Entrei em contato com um fraudador que estava anunciando seus serviços nas redes sociais e, por meio de um aplicativo de mensagens, ele se ofereceu para criar um site falso e enviar 4 mil mensagens de texto de phishing por mim para obter os dados pessoais das vítimas. Ele cobrava £ 115.

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Em outro perfil do Instagram, percebi que um golpista postou alguns "fullz" — como uma espécie de amostra grátis, encorajando as pessoas a pagarem para receber mais detalhes roubados. Decidi ligar para alguns dos números de telefone listados.

Foi difícil ouvir do outro lado da linha a reação de um estranho enquanto eu dizia que seu nome, endereço, dados de cartão e número de telefone haviam sido postados online para qualquer um ver e tirar proveito.

Depois, me encontrei com uma das vítimas, Wilson, de Oxford, no Reino Unido. Ele disse que ver todos os seus detalhes online foi assustador porque o fez perceber o quão desprotegido estava.

Mas por que as pessoas por trás desses golpes não são pegas?

Jake Moore, especialista em crimes cibernéticos, diz que os investigadores estão enfrentando uma árdua batalha para encontrar os culpados.

"Contas anônimas não estão deixando apenas uma pequena quantidade de migalhas de pão para investigá-las — não há migalhas de pão", afirma.

"Não há pegada digital deixada para trás. Portanto, investigar isso é quase impossível."

Mas ser um influenciador digital significa inevitavelmente compartilhar alguns elementos de sua vida online — e, com o tempo, um influenciador deixou para trás pistas demais.

Ele se autodenomina Tankz, e em vídeos cantando rap online, ele se gaba: "Eu sou um golpista de Londres. Eu vejo, eu quero, eu clico".

Ele vende guias para cometer fraude — ou "métodos".

Eu me fiz passar por alguém interessado em aprender sobre fraudes e mandei uma mensagem para Tankz sobre seus "métodos" via Instagram. Compramos seu melhor guia por £ 100.

Chegou como um link, enviado via rede social, para acessar 43 arquivos em um sistema de armazenamento em nuvem.

Os arquivos estavam repletos de técnicas detalhadas sobre como explorar varejistas online. Também direcionavam os criminosos em potencial para sites onde poderiam comprar "fullz".

Queríamos descobrir quem era esse influenciador de fraude mascarado.

Panorama analisou as imagens de vídeo que Tankz postou nas redes sociais e percebeu que ele revelou bastante informação enquanto tentava permanecer anônimo.

Notamos uma referência a Wembley, no norte de Londres, como sendo sua região, uma menção a estudar economia e finanças na universidade e vimos de relance a placa do carro dele.

Um clipe também mostrava um carpete preto e cinza bem peculiar, e conseguimos encontrar um correspondente em um site que anunciava uma acomodação de estudantes na área de Wembley.

Fomos até lá, localizamos o carro e esperamos. Até que vimos um homem se aproximar do veículo, vestindo exatamente o mesmo casaco que Tankz estava usando mais cedo naquele dia em um vídeo postado nas redes sociais.

À esquerda: uma foto de Tankz; à direita: o homem que a BBC acredita ser Tankz

CRÉDITO,YOUTUBE/BBC

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À esquerda: uma foto de Tankz; à direita: o homem que a BBC acredita ser Tankz

Havíamos desmascarado o fraudador mascarado, mas quem ele era?

Suas postagens nas redes sociais são anônimas, mas descobrimos que suas músicas também foram listadas no Apple Music. Em uma de suas faixas, os direitos autorais não estão reservados a Tankz, mas ao que parece ser seu nome verdadeiro: Luke Joseph.

Não parou por aí. Descobrimos um e-mail enviado do endereço oficial de Tankz que também fazia referência ao mesmo nome. Havia até uma conta no eBay com o nome de Tankz, em que Luke Joseph era o endereço de contato.

Finalmente, descobrimos que havia alguém com o mesmo nome morando no mesmo alojamento estudantil em Wembley. Parece que Tankz pode ser um estudante de Londres chamado Luke Joseph.

Entramos em contato com Luke Joseph e Tankz, mas não tivemos retorno.

Suas contas no TikTok, Instagram e Snapchat foram removidas pelas respectivas plataformas de rede social depois que o Panorama as alertou sobre o conteúdo.

Desde então, ele criou uma nova conta no TikTok em que continua a postar sobre sua vida.

Mas o que as autoridades estão fazendo para reprimir a fraude online e aqueles que a promovem?

No início deste ano, o governo britânico revelou planos para reduzir o conteúdo digital ilegal e prejudicial. Ele quer que o Ofcom, órgão regulador de telecomunicações, policie as redes sociais e responsabilize as grandes empresas de tecnologia.

O conteúdo relacionado à fraude não foi originalmente incluído neste projeto de Lei de Segurança Online, mas no último minuto o governo mudou de ideia.

A palavra "fraude" ainda está ausente, mas poderia ser abrangida pelo o que o projeto de lei chama de "conteúdo ilegal".

Alguns manifestaram preocupação de que isso não vai fazer face especificamente ao problema.

Arun Chauhan, advogado especializado em fraude, acha que o projeto de lei "não é adequado ao propósito da luta contra a fraude".

Mas um porta-voz do governo disse ao Panorama que a nova lei "aumentaria a proteção das pessoas" contra golpes, e afirmou que eles "continuam a perseguir os fraudadores" e a "acabar com as vulnerabilidades que exploram".

TikTok, Twitter, Facebook, Snapchat, Instagram e YouTube informaram à BBC que não permitiam fraude em suas plataformas.

Todas essas empresas afirmaram ainda que levavam as fraudes muito a sério e estavam constantemente reprimindo conteúdo criminoso.

A questão é se elas são capazes de derrubá-lo mais rápido do que estão sendo postados.

  • Kafui Okpattah
  • BBC Panorama
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Afeganistão: o que é a Sharia, lei islâmica que o Talebã quer aplicar no país?




Mulheres estudantes usando vestimenta que cobre o corpo todo na Síria, em 2014

CRÉDITO,REUTERS

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A Sharia determina que homens e mulheres devem se vestir com 'modéstia'; o que isso significa na prática varia de país para país

Diante da preocupação internacional com a situação das mulheres no Afeganistão após o Talebã assumir o controle do país, um porta-voz do grupo fundamentalista disse que eles estão "comprometidos com os direitos das mulheres sob a Sharia (a lei islâmica)".

Mas o que isso quer dizer?

A Sharia é o sistema jurídico do Islã. É um conjunto de normas derivado de orientações do Corão, falas e condutas do profeta Maomé e jurisprudência das fatwas - pronunciamentos legais de estudiosos do Islã. Em uma tradução literal, Sharia significa "o caminho claro para a água".

A Sharia serve como diretriz para a vida que todos os muçulmanos deveriam seguir. Elas incluem orações diárias, jejum e doações para os pobres.

O código tem disposições sobre todos os aspectos da vida cotidiana, incluindo direito de família, negócios e finanças.

A lei determina que homens e mulheres precisam se vestir "com modéstia". O que isso quer dizer na prática pode variar muito, mas em geral significa que as mulheres precisam cobrir no mínimo os cabelos. É comum que os espaços sejam separados por gênero.

A lei também pode conter punições severas. O roubo, por exemplo, pode ser punido com a amputação da mão do condenado. O adultério pode levar à pena de morte - por apedrejamento.

A Organização das Nações Unidas (ONU) condena esse tipo de punição e afirma que apedrejamentos são um tipo de "tortura', um tratamento "cruel, desumano e degradante, e portanto claramente proibidos".

No entanto, a rigidez da Sharia e a forma como ela é aplicada pode variar ao redor do mundo.

Nem todos os países muçulmanos adotam esse tipo de punição e pesquisas indicaram que a opinião dos religiosos quanto a elas varia bastante ao redor do mundo.

Tariq Ramadan, um estudioso muçulmano na Europa, advoga pelo fim dos castigos corporais no mundo islâmico, argumentando que as situações sociais em que eles foram criados já não existem mais.

Uma mulher lê uma cópia do Corão

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A Sharia tem diretrizes para todos os aspectos da vida dos muçulmanos

As várias faces da Sharia

Existem muitas versões da Sharia e sua aplicação varia enormemente no mundo islâmico.

Ela pode tanto ser a base do sistema de Justiça em países islâmicos onde o Estado não é laico - onde o Corão praticamente se torna a Constituição - quanto servir apenas de orientação para ações privadas de muçulmanos em países laicos.

Por exemplo, um muçulmano que vive no Reino Unido e está na dúvida do que fazer se um colega o convida para um bar após o trabalho pode procurar um estudioso da Sharia. Ele então receberá conselhos que garantam que seus atos estão dentro do permitido pela sua religião.

No entanto algumas atitudes permitidas pela Sharia não podem ser aplicadas por cidadãos privados em países laicos por serem ilegais nesses locais.

Alguns países não-laicos, como a Arábia Saudita, por exemplo, aplicam uma forma rígida e punitiva da lei, onde homicídio e tráfico de drogas podem ser punidos com morte e onde adúlteros podem ser apedrejados.

Já na Malásia, há muitas pessoas que não são muçulmanas e as dinâmicas sociais e econômicas são diferentes, então há uma interpretação completamente diferente da lei.

Homem e mulher chegam a um tribunal em Sokoto, Nigeria, em 2002

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Muitos países não-árabes com população muçulmana têm Tribunais da Sharia; é o caso da Nigéria

Como será a aplicação da Sharia pelo Talebã no Afeganistão?

A única referência para entender como será o regime são os cinco anos nos quais o Talebã governou o país entre 1996 e 2001, quando foi retirado do poder por uma junta militar liderada pelos Estados Unidos.

Nesse período de cinco anos, a interpretação da Sharia que estava em vigor no país era uma das mais rígidas e violentas do mundo.

O país tinha execuções públicas, apedrejamentos, amputações e punições com chicotadas.

Gangues paramilitares circulavam nas ruas, atacando homens que mostravam os tornozelos ou usavam qualquer tipo de roupa ocidental.

Homens eram obrigados a deixar a barba crescer e as mulheres só se aventuravam a sair se tivessem permissão por escrito dos homens. Elas não podiam trabalhar ou estudar e precisavam usar a burca, uma vestimenta que as cobria completamente.

O Talebã já afirmou que vai aplicar a Sharia nessa segunda tomada de poder, o que levou ao desespero de mulheres afegãs.

Mesquita durante oração em Bandar Seri Begawan

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A Sharia é derivada do Corão, de decisões de estudiosos islâmicos e das falas de Maomé

Militantes do grupo fundamentalista afirmaram à BBC que estão determinados a impor novamente sua versão da Sharia, incluindo apedrejamento por adultério e amputação de membros por roubo.

Um porta-voz do Talebã afirmou que os militantes respeitarão os direitos das mulheres e da imprensa, mas não se sabe exatamente se essa promessa será colocada em prática. Ele disse que as mulheres poderão sair de casa sozinhas e continuarão a ter acesso à educação e ao trabalho, mas terão que usar a burca.

Algumas das mulheres conseguiram fugir de áreas controladas pelo Talebã disseram que os militantes exigiam que as famílias entregassem meninas e mulheres solteiras para se tornarem esposas de seus combatentes.

Muzhda, de 35 anos, uma mulher solteira que fugiu com suas duas irmãs de Parwan para Cabul antes dos fundamentalistas tomarem a cidade, disse que tiraria a própria vida em vez de permitir que o Talebã a obrigasse a se casar.

"Estou chorando dia e noite", disse ela à agência de notícias AFP. Não se sabe se Muzhda conseguiu sair do país antes dos fundamentalistas tomarem a capital.

BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

"Lula vem aí pra ganhar eleição", canta popular ao assistir live da entrevista de Lula em Pernambuco



Bom Jardim: Enquanto Lula fala das bravatas do presidente Bolsonaro, o popular José de Sousa, cantava alegre,  e confiante na vitória do ex-presidente em 2022: "Lula vem aí pra ganhar eleição"

Rafael Furtado/Folha de Pernambuco

Em coletiva para imprensa no Recife nesta segunda-feira (16), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a defesa irrestrita do presidente da República, Jair Bolsonaro, ao voto impresso. Segundo o líder petista, o chefe do Executivo federal nega todas as suas eleições ao contestar o sistema eleitoral e adota o discurso porque sabe que "vai perder as eleições".

“Querer trazer o voto impresso é negar o voto eletrônico, é negar a eleição dele durante oito mandatos. Ele foi deputado e vereador durante oito mandatos. Todas elas com voto eletrônico. Os filhos dele foram eleitos com voto eletrônico. Tanto vereador, quanto o deputado federal, quanto o senador e ele. A certeza que eu tenho da lisura do voto eletrônico foi a minha eleição. Foi eu ter segundo turno em 89, ser o segundo colocado em 94, ser o segundo colocado em 98 e ser o primeiro em 2002, 2006, 2010,2014", afirmou.

O petista também disse que tem experiência com bravata e não acredita nas ameaças feitas por Bolsonaro ao sistema eleitoral. "Querer fazer o voto impresso, fazer ameaça que não vai acatar o resultado, eu já tenho experiência demais com bravata. Ele vai perder as eleições, vai acatar o resultado, e o que é mais grave, o que pode acontecer, é que quem ganhar não queira receber a faixa dele, queira receber a faixa do povo brasileiro”, disse.

Entre as críticas ao presidente, Lula também nomeou Bolsonaro como "irresponsável, "faz questão de mentir", "não tem compromisso com causas sociais" e "genocida".

"Está ficando provado a cada dia na CPI que a gente não comprou vacinas porque tinha se constituído uma verdadeira quadrilha quando o Brasil poderia ter comprado imediatamente mais de 70 milhões de doses e talvez pudesse ter evitado que metade das pessoas que morreram tivessem morrido. É lamentável. É por isso que muitas vezes eu o chamo de genocida".

Com Informação de Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE