quarta-feira, 16 de junho de 2021

Aumento o perigo de mais mortes em Bom Jardim e região. Nova Variante P.1 ataca em Bom Jardim. Cuidados devem ser redobrados





Os bonjardinenses têm mais uma preocupação além  de vivenciar uma atmosfera de tristeza   com tantas mortes de pessoas conhecidas, de amigos e familiares vitimados  pela pandemia do novo Coronavírus.

Além de conviver com a falta de trabalho, alta  abusiva dos preços das coisas, aumento do preço do gás de cozinha, da  luz, inflação, falta de alimentos na mesa de muitas famílias, também precisamos nos preocupar com a ameaça da dengue, chikungunya e de  um novo vírus da morte. 

O Governo Municipal informa a toda população  do campo e da cidade e aos  demais  moradores de municípios da região que foi detectada a circulação da variante P.1 em amostras coletadas em Bom Jardim e outros municípios do agreste. 

É necessário redobrar os cuidados, usar sempre a máscara, lavar sempre as mãos com água e sabão, manter o distanciamento social, cuidar bem dos alimentos, fazer sempre a  limpeza dos ambientes de casa e do localização de trabalho, não ficar circulando nos ambientes públicos e particulares sem necessidade, evitar ao máximo fazer aglomerações, evitar pegar em dinheiro.  Quem não tomou a segunda dose da vacina deve voltar ao posto de vacinação com urgência.

Comerciantes, feirantes, prestadores de serviços, funcionários públicos devemos ter o máximo de cuidado com os ambientes de trabalho, os instrumentos de trabalho, mobiliários e objetos de uso pessoal.

A prefeitura precisa instalar pias, lavatórios urgente em locais públicos. Feirantes precisam vender os produtos usando máscara, não expor alimentos no chão. Mercado  e Sanitário Público necessitam receber reforço na limpeza. Toyoteiros e motoristas de  carros de lotação  devem usar máscaras, fornecer álcool aos passageiros. Todos os funcionários de mercadinhos, lojas, farmácias, salão de beleza devem usar máscara sempre, trocar a máscara várias vezes ao dia. Os clientes devem ter sempre álcool para higienizar as mãos para evitar infecções. 

Funcionários da coleta do lixo devem usar máscara sempre, lavar as mãos sistematicamente. Vacinadores precisam mostrar a vacina, a seringa antes e depois de aplicar no braço das pessoas. Medida protocolar correta da lisura, ética e transparência. 

A população precisa fazer sua parte para amenizar os problemas. Os trabalhadores da saúde estão cansados de tanto trabalho, de tantas batalhas para salvar vidas. Sozinho o governo municipal não terá condições de amenizar a situação que é muito grave. 
Ainda há gente que é contrária ao uso de Máscara. Fuja dos comentários dos negacionistas  loucos e fanáticos que apregoaram a desinformação em relação a gravidade da pandemia. 

É preciso tomar a vacina, tomar todos os cuidados com a limpeza do corpo da casa, do ambiente de trabalho,  pedir a Deus pela vida e saber votar contra os políticos coveiros na próxima eleição. Já são quase meio milhão de mortos no Brasil.  A morte pelo Coronavírus poderia ter sido evitada para centenas de milhares de brasileiros se não fosse a péssima gestão do presidente Bolsonaro.  

Dos 493 casos graves notificados no Agreste Setentrional, desde o início da pandemia 452 resultou na morte dos pacientes. Ao prevalecer esta média anual teremos mais gente morrendo em Bom Jardim em 2021. Como explicar tanta gente que insiste em não usar máscara nas ruas, nas praças, nos mercados, nas lojas, nos carros de lotação, pessoas fazendo festinhas em lajes, no quintal, em ambientes "secretos". Por que tanta máscara no queixo.

Não é  correto só colocar a culpa na administração municipal se o povo não colabora, não faz sua parte. O município não pode ficar parado diante de algumas situações ou repetir erros da gestão passada.

Imagem Blog Professor Edgar Bom Jardim.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

"Nossa família está desesperada, por favor, compartilhem a foto do meu pai", faz apelo filha de Zezito Brejeiro de Tamboatá, Bom Jardim- PE




Boa tarde, gente!

Compartilhem a imagem do meu pai
Pelo amor de Deus
Ele ainda está desaparecido
Minha família está muito desesperada

Quem já passou por isso sabe o quanto é desesperador, por favor, não tá nada fácil. Compartilhem em grupos de Whatsapp. Mandem para seus contatos em redes sociais
Joyce: Ficarei grata a cada um que poder ajudar 😭🙏🏻
Contato para Recado 81. 9 9930 - 0834

VAMOS TODOS AJUDAR! 

PARTICIPE DESTA  AÇÃO SOLIDÁRIA!

Professor Edgar Bom Jardim - PE

CPI da Covid: Witzel diz que foi perseguido por mandar investigar assassinato de Marielle





Wilson Witzel

CRÉDITO,BRUNA PRADO/GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Witzel foi eleito em 2018 fazendo campanha para Bolsonaro, mas se desentendeu com o presidente após assumir

O ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel disse nesta quarta-feira (16/6) à CPI da Covid que sofreu impeachment e foi perseguido por mandar investigar o assassinato da vereadora Marielle Franco.

"Isso tudo aconteceu porque eu mandei investigar sem parcialidade o caso Marielle", afirmou o ex-governador, citando uma live de Jair Bolsonaro (sem partido) em que ele foi criticado pelo presidente.

Witzel foi eleito em 2018 fazendo campanha para Bolsonaro, mas se desentendeu com o presidente após assumir.

Na campanha, o ex-governador notoriamente apoiava o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), que quebrou a placa em homenagem a Marielle e hoje está em prisão domiciliar.

Candidatos rasgam placa feita em homenagem a Marielle Franco, durante as eleições de 2018

CRÉDITO,REPRODUÇÃO

Legenda da foto,

Witzel apoiou o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), que quebrou a placa em homenagem a Marielle

Witzel foi afastado do governo em 2020 e perdeu definitivamente o cargo de governador ao sofrer um impeachment em abril de 2020.


Ele está proibido de ocupar cargos públicos por cinco anos. Entre as acusações, havia denúncias de corrupção envolvendo propinas pagas por Organizações Sociais (OSs) na área de saúde.

Witzel, que sempre negou as acusações, disse à CPI que nunca recebeu dinheiro das OSs. "Eu quero saber para quem foi o dinheiro", afirmou. "Eu saí, e as OSs estão lá, operando livremente".

"Eu tenho certeza que tem miliciano atrás disso, e eu corro risco de vida", afirmou à CPI.

Witzel também declarou que não tinha como participar da gestão de leitos em hospitais federais do Rio de Janeiro, porque eles "têm dono". "Os hospitais federais são intocáveis. Se a CPI quebrar os sigilos das OS que gerem os hospitais, vai descobrir quem é o dono dos hospitais", disse.

Questionado sobre quem seria essa pessoa e se Bolsonaro interferiu em seu governo, Witzel disse que só falaria em uma sessão reservada, porque as "acusações são gravíssimas."

Respondendo ao senador Randolfe Rodrigues (Rede), ele afirmou que deputados federais e estaduais organizaram carreatas para pedir que comerciantes abrissem o comércio no Rio de Janeiro, contrapondo medidas de restrição adotadas pelo governo do Estado. Ele não respondeu se tinha informações se milicianos participaram do movimento.

O ex-governador foi convocado à CPI justamente para falar sobre o uso de verbas federais na área de saúde do seu Estado. A comissão investiga se houve desvio de recursos destinados ao combate à pandemia.

O Supremo Tribunal Federal havia liberado o ex-governador de comparecer à comissão porque ele tinha sido convocado para falar sobre fatos sobre os quais já é investigado ou processado. Mesmo assim, Witzel afirmou que iria.

Mas, conforme a decisão do STF, o ex-governador não está obrigado a falar a verdade e pode ficar em silêncio quando achar conveniente.

'Sem cooperação' durante a pandemia

Witzel disse que os governadores "clamaram" ao governo federal por ajuda na pandemia, mas não houve cooperação.

"O nível de cooperação foi praticamente zero. O que tivemos foi uma descooperação", disse.

O ex-governador disse que foi um dos primeiros governadores a implementar medidas de restrição de circulação e que um dos pedidos centrais ao governo federal era pela aprovação do auxílio emergencial para que a população pudesse ficar em casa. "Se você pede para a população ficar em casa, mas não dá condições, é mais difícil controlar a pandemia", afirmou à CPI.

Witzel afirmou que houve perseguição do governo federal por causa das críticas que fez sobre o gerenciamento da pandemia e que foi retaliado por causa da investigação da polícia do Rio de Janeiro sobre o assassinato de Marielle.

"Depois disso eu nunca mais fui recebido no planalto. Encontrei o ministro (da Economia Paulo) Guedes no avião e ele virou a cara. 'Não posso falar com você.'", disse Witzel.

O ex-governador falou que o ex-ministro da Justiça Sergio Moro disse a ele que "o chefe falou" para ele "parar de falar que quer ser presidente" senão eles não poderiam mais atendê-lo.

Depois disso, disse Witzel, o delegado federal que investigava a questão das OSs foi reconvocado pelo ministério da Justiça e parou de atuar no caso.

"Houve uma perseguição aos governadores e eu fui a primeira vítima", afirmou. Segundo ele, a gestão Bolsonaro tentou "criar uma narrativa" de que os governadores seriam os culpados pelos prejuízos econômicos da pandemia.

Presença de Flávio Bolsonaro causa confusão

A presença do senador Flávio Bolsonaro, que não é membro da comissão, gerou confusão durante a CPI. O filho do presidente interrompeu o depoimento de Witzel diversas vezes.

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) questionou se o ex-governador se sentia intimidado pela presença de Flávio Bolsonaro ali, ao que o filho do presidente protestou. "Seu pai parece que não lhe deu educação", disse Calheiros.

Senadores protestaram que Flávio estava interrompendo o depoimento sem se inscrever e sem esperar sua vez para falar. Flávio disse que estava se defendendo porque seu nome "foi citado" e o de sua família.

"Aqui o senhor é senador, não filho do presidente", respondeu Rogério Carvalho (PT-SE).

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) lembrou Witzel que ele poderia participar de uma sessão fechada se tivesse informações sensíveis para compartilhar.

"Eu não tenho problema com a presença do senador (Flávio Bolsonaro), eu o conheço desde garoto. Minha questão aqui não é pessoal, é de defesa da democracia", afirmou Witzel.

"Discurso bonito", ironizou Flávio Bolsonaro.

"Se o senhor fosse um pouquinho mais educado e menos mimado, o senhor teria um pouco de respeito pelo que eu estou falando", respondeu Witzel.

A sessão foi interrompida a pedido de Witzel, depois de uma discussão entre ele e o senador Jorginho Mello (PL-SC). Witzel tinha esse direito a partir de uma decisão do STF.

O ex-governador afirmou que Mello fazia acusações levianas. O parlamentar respondeu que "leviano é quem sofreu impeachment.".

Mais tarde, em entrevista à imprensa, Witzel explicou por que deixou o depoimento. "O senador se referiu a mim de forma leviana, até mesmo chula. Continuei enquanto a sessão foi civilizada. Quando isso mudou, eu e meus advogados decidimos que era melhor sair".


Professor Edgar Bom Jardim - PE

Fascismo no Brasil

Um cartaz antifascista exposto na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Um cartaz antifascista exposto na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).MARCELO SAYAO / EFE

Há uma fenda global que parece crescer, por onde passaria a emergência de novas formas de governo com traços claramente fascistas.



Há o medo de certas palavras. Esse medo vem na maneira com que tentamos, até o limite, não utilizá-las. Porque seu uso acende alertas vermelhos, nos quebra a letargia de sentir que, por mais que nossa situação atual seja complicada, a vida corre. E corre com um correr de quem acaba por acertar seu passo, abaixar os gritos. Bem, não há palavra que nos leve mais a temer seu uso do que “fascismo”. No entanto, é ela que se ouve de forma cada vez mais insistente quando se é questão da situação brasileira atual. Coloquemos então, de maneira direita e simples, uma questão que vários de nós já colocou a si mesmo: Estaria o Brasil caminhando para o fascismo?

Esta questão não se ouve apenas no Brasil. Ela se ouve na Itália, na Hungria, na Polônia, nas Filipinas. Esta confluência de semblantes perplexos a fazer o tour do mundo não é mero acaso. Ela indica uma fenda global que parece paulatinamente crescer, fenda por onde passaria a emergência de novas formas de governo com traços claramente fascistas.

Mas não seriam tais governos simplesmente “populistas”? Não é assim que se diz hoje, “governos populistas de direita”? Sim, é assim que se diz. Mas e se este uso extensivo do termo “populismo” fosse, na verdade, uma forma de não chamar de gato um gato? Pois talvez os chamamos de “populistas” para não dizer o que eles realmente são: governos nos quais uma certa concepção de ‘estado total’, uma forma explícita de implosão de qualquer possibilidade de solidariedade social com grupos historicamente vulneráveis, uma noção paranoica de nação e o culto da violência são a verdadeira tônica. Mas seria isto exatamente “fascismo”? E por que não falar em “populismo”, neste caso?

Lembremos como o uso extensivo da noção de “populismo” voltou. Há pelo menos dez anos havia ficado claro que a política mundial tendia a se deslocar para os extremos. A incapacidade de responder ao processo de degradação social provocado pela crise econômica de 2008, ou seja, a inanidade das políticas neoliberais diante da crise e sua partilha, em maior ou menor grau, por todos os principais atores políticos, provocara uma desidentificação tal com o poder instituído, uma frustração tal daqueles que um dia acreditaram nas sereias da globalização, que o fortalecimento dos extremos era uma tendência irresistível. A democracia liberal havia tocado seu limite. Pois o problema não era apenas econômico, ele era principalmente político. Não havia espaço no campo político para ações e discursos de ruptura clara com a ordem econômica responsável pela pauperização de camadas cada vez maiores da população.

Diante de um desejo de recusa forte dos limites de nossa vida institucional, criou-se essa palavra mágica que faz tudo o que coloca em questão os sistemas de paralisias e acordos da democracia liberal parlamentar parecer “irracional”, “emotivo”, “fruto de frustrações”, “convite a regressões atávicas”, ou seja, “populista”. Ainda de quebra, o termo permitia juntar os extremos, falar de um populismo de direita e de um populismo de esquerda, anulando com isto os dois polos, fazendo-os operar em uma balança de equivalências. Como se, no fundo, existisse apenas a “democracia” que conhecemos e os “populismos”.

Mas era claro que as diferenças entre os polos eram profundas. À direita, via-se uma crítica à pauperização social que colocava a conta da catástrofe nas costas dos mais desfavorecidos, a saber, os imigrantes espoliados por relações de trabalhos sub-humanas, os refugiados vítimas das consequências das intervenções imperialistas em regiões de conflito perene, como o Oriente Médio. Quando não havia grandes levas de imigrantes, via-se a mobilização das clivagens originárias de raça e de gênero, em uma reedição de estratégias cuja ressonância fascista era evidente. À direita, via-se ainda todo o imaginário a respeito da fronteira, da imunidade do corpo social, da invasão, do contágio retornar diretamente dos discursos mais inflamados de Goebbels.

Ou seja, não havia proximidade alguma entre os polos. Mas estávamos diante de uma prática de “normalização” da extrema-direita e recuperar a tópica do “populismo” vinha mesmo a calhar. Porque recusar sua normalização acabaria por levar toda a força anti-institucional ao outro polo e com isto produzir uma ruptura sem negociação com a ordem econômica atual.

Mas nada disto respondeu à pergunta colocada no início deste artigo, a saber, estaria o Brasil caminhando para o fascismo? Talvez fosse o caso de levantar alguns traços que têm a força de falar por si mesmos.

Quando o jurista nazista Carl Schmitt procurou explicar o que era o Estado total fascista, ele tomou o cuidado de estabelecer uma distinção. Segundo ele, nós conheceríamos uma forma de Estado total no interior das democracias parlamentares. Trata-se desse Estado que ouve todos os lados da sociedade, que está presente em todos os conflitos sociais e que produz estruturas de mediação e de legislação em todas as esferas da vida social. Ele procura dar conta dos conflitos trabalhistas, dos problemas de desigualdade, da violência específica contra grupos vulneráveis, entre outros. O Estado está assim, em todos os lugares. Ele não pode pairar acima da sociedade e decidir, pois é apenas a emulação dos conflitos sociais. Contra isto, dirá Schmitt, precisamos de outro Estado total. Mas sua função será diferente: ele deverá usar toda sua força para despolitizar a sociedade, impedir que as escolas sejam focos de sedição e formação, impedir que os trabalhadores pressionem seus patrões através de obrigações legais, usar a força policial para impedir greves, paralisias, ocupações. Assim, pode-se garantir a única liberdade real, a saber, a “liberdade de empreender” (que é sempre uma liberdade para alguns, ou melhor, para os de sempre). Este era o Estado total fascista.

Por outro lado, nesse Estado, um dos poucos princípios liberais que qualquer democracia real deveria preservar, a saber, a possibilidade de que indivíduos sempre terão, independente de quem são ou do que fizeram, de se defenderem do Estado quando julgados, não existia. Pois essa possibilidade exige inviolabilidade do sistema de defesa (em bom português, meu advogado de defesa não pode ser grampeado pelo juiz), exige desinteresse da parte dos julgadores (mais uma vez, em bom português, se sou candidato a presidente, o juiz que julga meu caso não pode me prender porque tem um projeto pessoal de poder e quer ser ele o próprio presidente).

Por fim, e esta era uma compreensão precisa de Franz Neumann, o Estado nazista não governa. Ele é uma associação instável entre grupos que estão em conflito contínuo. Mas esse conflito é uma forma de perpetuar o “movimento”, já que ele permite ao governo entrar em conflito contínuo com o Estado, dizer sempre que nosso grande projeto não está a ser implementado porque forças obscuras estão agindo dentro do Estado para impedir nossa grande redenção. O estado nazista é uma crise permanente elevada à condição de governo. A única coisa que tenho a dizer é: junte os pontos e diga se a cena não lhe parece demasiado familiar.

Fonte: El País
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 15 de junho de 2021

Paulo Freire: como o legado do educador brasileiro é visto no exterior



Painelcvsobre Paulo Freire no CEFORTEPE - Centro de Formação, Tecnologia e Pesquisa Educacional Prof. "Milton de Almeida Santos", em Campinas (SP)

CRÉDITO,LUIZ CARLOS CAPPELLANO/DOMINIO PUBLICO

Legenda da foto,

Paulo Freire está entre os pensadores mais citados do mundo

Tratada pelo governo Bolsonaro como bode expiatório da má qualidade do ensino público brasileiro, a obra do educador Paulo Freire (1921-1997) pode ser controversa. Mas o trabalho do pedagogo e filósofo, nomeado em 2012 patrono da educação brasileira e autor de um método de alfabetização que completou 50 anos em 2013, não deixa de ser bastante relevante nas discussões mundiais sobre pedagogia.

Freire é estudado em universidades americanas, homenageado com escultura na Suécia, nome de centro de estudos na Finlândia e inspiração para cientistas em Kosovo. De acordo com levantamento do pesquisador Elliott Green, professor da Escola de Economia e Ciência Política de Londres, na Inglaterra, o livro fundamental da obra do educador, 'Pedagogia do Oprimido', escrito em 1968, é o terceiro mais citado em trabalhos acadêmicos na área de humanidades em todo o mundo.

Para especialistas em educação ouvidos pela BBC News Brasil, entretanto, a raiz da controvérsia em torno da pedagogia de Paulo Freire não é sua aplicação em si - mas o uso político-partidário que foi feito dela, historicamente e, mais do que nunca, nos dias atuais. "Li a maior parte dos livros dele. Minha tese de doutorado foi amplamente baseada em seus ensinamentos. Tenho aplicado seu método de várias maneiras em minha carreira profissional, na prática e na pesquisa", afirmou a pedagoga Eeva Anttila, professora da Universidade de Artes de Helsinque, na Finlândia.

"A maior vantagem de sua metodologia é a abordagem anti-opressiva e não autoritária, a pedagogia dialógica e respeitosa que ele promoveu. O problema é que suas ideias têm sido usadas para fins políticos - o que, em meu entendimento, nunca foi seu propósito inicial", disse a finlandesa.

Freire tornou-se conhecido a partir do início dos anos 1960. Ele desenvolveu um método de alfabetização de adultos baseado nos contextos e saberes de cada comunidade, respeitando as experiências de vida próprias do indivíduo. Aplicou o modelo pela primeira vez em um grupo de 300 trabalhadores de canaviais em Angicos, no Rio Grande do Norte. De acordo com os registros da época, a alfabetização ocorreu em tempo recorde: 45 dias.

Homenagens pelo mundo

Referência mundial em qualidade do ensino, a Finlândia conta, desde 2007, com um espaço dedicado a discutir a obra do educador brasileiro. O Centro Paulo Freire Finlândia fica na cidade de Tampere. "É um hub para os interessados em Paulo Freire e em seu legado para tornar o mundo mais igualitário e justo", de acordo com a definição da própria instituição. Eles publicaram, online, três livros com artigos - em finlandês - analisando a obra do brasileiro. O material teve 17 mil downloads.

Mural de Paulo Freire na Faculdade de Educação e Humanidades da Universidade do Bío-Bío, no Chile

CRÉDITO,NEFANDISIMO /CC BY-SA 4.0

Legenda da foto,

Um mural retratando o pedagogo pernambucano na Universidade do Bío-Bío, no Chile

Há centros de estudos semelhantes, todos batizados com o nome do brasileiro, na África do Sul, na Áustria, na Alemanha, na Holanda, em Portugal, na Inglaterra, nos Estados Unidos e no Canadá. Na Suécia, Freire é lembrado em um monumento público. Localizada no subúrbio de Estocolmo, 'Depois do Banho' é uma obra em pedra-sabão esculpida entre 1971 e 1976 pela artista Pye Engström. Sentadas lado a lado, estão retratadas sete personalidades com apelo político, como o poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973), a escritora sueca Sara Lidman (1923-2004) e a sexóloga norueguesa Elise Ottesen-Jensen (1886-1973).

Mas a obra do educador brasileiro está longe de ser unanimidade entre os países que costumam liderar o ranking Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). Em Cingapura, que apareceu na primeira colocação na edição 2016 da avaliação trienal realizada pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) com escolas conhecidas por adotar um método linha-dura, a BBC News Brasil procurou a mais importante instituição de ensino superior do país para saber se algum pesquisador comentaria a obra do brasileiro Paulo Freire.

Professor destacado pela assessoria de comunicação da Universidade Nacional de Cingapura para atender à reportagem, Kelvin Seah disse que "não era a melhor pessoa para comentar sobre Paulo Freire". "Eu não sou familiarizado com seu método", afirmou.

Retrato de Paulo Freire

CRÉDITO,INSTITUTO PAULO FREIRE

Convidado a comentar sobre qual seria o método mais adequado ao contexto brasileiro, o especialista recomendou que os gestores analisassem caso a caso. "O método mais apropriado para os alunos em uma escola depende do perfil dos alunos da escola, do treinamento prévio recebido pelos professores, bem como dos recursos de instrução e financeiros disponíveis para a escola."

Pedagogia do diálogo nos Estados Unidos

Em artigo acadêmico analisando o legado de Paulo Freire pelo mundo, o professor de filosofia da educação da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, Ronald David Glass aponta que o mérito de Paulo Freire está no método que valoriza a "consciência crítica, transformadora e diferencial, que emerge da educação como uma prática de liberdade".

"Paulo Freire viveu sua vida no espaço desta consciência; é por isso que inspirou e energizou pessoas no mundo inteiro, e é por isso que seu legado se prolongará muito além de qualquer horizonte que possamos enxergar agora", escreveu o professor. "Freire sempre estava buscando se tornar mais humano, tornar possível que outros fossem mais humanos e, se acolhermos esta busca com tanto amor e determinação quanto ele, então uma maior medida de justiça e democracia estará ao alcance."

Professor da Faculdade de Educação da Universidade Cristã do Texas, Douglas J. Simpson causou certa polêmica no meio acadêmico ao publicar, anos atrás, um artigo intitulado 'É Hora de Engavetar Paulo Freire?'. "Na verdade, não acho que suas ideias devam ser arquivadas", esclareceu ele à BBC News Brasil. "Meu texto foi pensado para atrair a atenção daqueles que acham que sempre estamos recorrendo a Freire. Pessoalmente, acho importante descobrir de novo ou pela primeira vez por que precisamos combinar uma forte paixão reflexiva 'freireana', de respeito e amor, a pessoas carentes de justiça pessoal."

Retrato de Paulo Freire

CRÉDITO,INSTITUTO PAULO FREIRE

Simpson afirma que a pedagogia baseada no diálogo é fundamental "para que a educação e a democracia prosperem, ou pelo menos sobrevivam". Ele culpa justamente a falta de diálogo pelo fato de as sociedades - e as escolas - estarem fortemente polarizadas politicamente. "Não temos sido efetivamente ensinados a praticar o diálogo nas escolas, muito menos nos governos." Para o professor, Paulo Freire ensinou, acima de tudo, que precisamos aprender "a ouvir, a entender e a respeitar uns aos outros" e a "trabalhar juntos nos problemas".

Considerando o contexto brasileiro, Simpson acredita que não deveria haver uma padronização - ou seja, que as escolas não deveriam seguir todas o mesmo método pedagógico. "As escolas precisam de culturas e responsabilidades que se baseiem em uma ética profissional, políticas e práticas meritórias", disse. Para ele, os métodos são necessários, "mas devem ser vistos como revisáveis, porque as escolas, sociedades, trabalhos e aprendizados são dinâmicos". "A padronização nas escolas muitas vezes leva a uma inércia indevida, de mesmice, de regulamentação estéril", complementou.

Nos anos 1970, o pedagogo John L. Elias, então professor da Universidade de Nova Jersey, escreveu muito a respeito de Paulo Freire. O educador brasileiro foi tema de sua tese de doutorado. Em texto de 1975, Elias apontou "sérios problemas no método" do brasileiro.

"A teoria da aprendizagem de Freire está subordinada a propósitos políticos e sociais. Tal teoria se abre para acusações de doutrinação e manipulação", afirmou ele. "A teoria de Freire da aprendizagem é doutrinária e manipuladora?", provocou.

A escultura "after Bath", em Estocolmo

CRÉDITO,BERGNT OBERGER/ CC BY-SA 3.0/ PAULO FREIRE FINLAND

Legenda da foto,

Paulo Freire é a segunda figura, da esq. para a dir., nesta escultura de 1976 de Nye Engström. A obra fica em Estocolmo, na Suécia

Elias apontou que o educador brasileiro via "os sistemas educacionais do Terceiro Mundo como o principal meio que as elites opressoras usam para dominar as massas". "Conhecimento e aprendizado são políticos para Freire, porque eles são o poder para aqueles que os geram, como são para aqueles que os usam", argumentou.

Professora de Educação Internacional e Comparada na Faculdade dos Professores da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, Regina Cortina já abordou a metodologia de Paulo Freire em diversos estudos sobre educação na América Latina, mas disse à BBC News Brasil que não se sentia "confortável" em comentar o tema no momento "por causa das mudanças administrativas no Brasil". Cortina afirmou, por meio da assessoria de imprensa da universidade, que não é possível vislumbrar com clareza "como as coisas vão seguir nas escolas brasileiras".

REPRODUÇAO DA CAPA DO LIVRO PEDAGOGIA DO OPRIMIDO, DA EDITORA PAZ E TERRA

CRÉDITO,EDITORA PAZ E TERRA/ REPRODUCAO

Legenda da foto,

Principal obra de Freire, "Pedagogia do Oprimido" foi escrito em 1968, mas só foi publicado no Brasil anos depois, em 1974

Quais as ideias de Freire?

Para Freire, o ensino ocorre a partir do diálogo entre professor e aluno, desenvolvendo assim capacidade crítica e preparando os estudantes para sua emancipação social. No jargão do meio, o método Freire é o oposto ao conceito "bancário" de educação - aquele no qual o professor "deposita" o conhecimento nas mentes dos alunos. Para Freire, a educação é construída em conjunto.

O método Paulo Freire chegou a ser adotado pelo governo de João Goulart (1919-1976) em esforços para alfabetização de adultos. Com a ditadura militar, entretanto, o educador passou a ser perseguido, chegou a ser preso por 70 dias e viveu no exílio na Bolívia e no Chile. Após a publicação da 'Pedagogia do Oprimido', em 1968, Freire foi convidado para ser professor visitante na Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

Reconhecido desde 2012 como o Patrono da Educação Brasileira, Paulo Freire é considerado o brasileiro mais vezes laureado com títulos de doutor honoris causa pelo mundo. No total, ele recebeu homenagens em pelo menos 35 universidades, entre brasileiras e estrangeiras, como a Universidade de Genebra, a Universidade de Bolonha, a Universidade de Estocolmo, a Universidade de Massachusetts, a Universidade de Illinois e a Universidade de Lisboa. Em 1986, Freire recebeu o Prêmio Educação para a Paz, concedido pela Unesco, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciências e Cultura.

Paulo Freire

CRÉDITO,ARQUIVO NACIONAL/ DOMINIO PUBLICO

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Paulo Freire em retrato de 1963

Há instituições de ensino que seguem o método Paulo Freire em diversos países. É o caso da Revere High School, escola em Massachusetts que em 2014 foi avaliada como a melhor instituição pública de Ensino Médio nos Estados Unidos. Em Kosovo, um grupo de jovens acadêmicos criou um projeto de ciência cidadã inspirado na pedagogia crítica do brasileiro. Os participantes recebem um kit para monitorar as condições ambientais e, assim, juntos, pressionar o governo por melhorias na área.

"Acredito que seria ótimo que a pedagogia em qualquer escola de qualquer país partisse do pensamento de Freire", comentou a pedagoga finlandesa Anttila. "Especialmente no Brasil, dada a atual situação política e a história do país." Ela diz que um método de ensino, para funcionar bem, precisa levar em conta as situações de vida dos alunos. "Não acredito em pedagogia autoritária. As aulas não precisam ser autoritárias. É preciso diálogo, discussão, negociação, exploração. Construir conhecimento para que haja capacidade de expressar ideias e ouvir os outros. Eis a chave para a democracia. E a educação democrática é a única maneira de salvaguardar uma sociedade democrática", declarou.

  • Edson Veiga
  • De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil
Professor Edgar Bom Jardim - PE