O ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel disse nesta quarta-feira (16/6) à CPI da Covid que sofreu impeachment e foi perseguido por mandar investigar o assassinato da vereadora Marielle Franco.
"Isso tudo aconteceu porque eu mandei investigar sem parcialidade o caso Marielle", afirmou o ex-governador, citando uma live de Jair Bolsonaro (sem partido) em que ele foi criticado pelo presidente.
Witzel foi eleito em 2018 fazendo campanha para Bolsonaro, mas se desentendeu com o presidente após assumir.
Na campanha, o ex-governador notoriamente apoiava o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), que quebrou a placa em homenagem a Marielle e hoje está em prisão domiciliar.
Witzel foi afastado do governo em 2020 e perdeu definitivamente o cargo de governador ao sofrer um impeachment em abril de 2020.
Ele está proibido de ocupar cargos públicos por cinco anos. Entre as acusações, havia denúncias de corrupção envolvendo propinas pagas por Organizações Sociais (OSs) na área de saúde.
Witzel, que sempre negou as acusações, disse à CPI que nunca recebeu dinheiro das OSs. "Eu quero saber para quem foi o dinheiro", afirmou. "Eu saí, e as OSs estão lá, operando livremente".
"Eu tenho certeza que tem miliciano atrás disso, e eu corro risco de vida", afirmou à CPI.
Witzel também declarou que não tinha como participar da gestão de leitos em hospitais federais do Rio de Janeiro, porque eles "têm dono". "Os hospitais federais são intocáveis. Se a CPI quebrar os sigilos das OS que gerem os hospitais, vai descobrir quem é o dono dos hospitais", disse.
Questionado sobre quem seria essa pessoa e se Bolsonaro interferiu em seu governo, Witzel disse que só falaria em uma sessão reservada, porque as "acusações são gravíssimas."
Respondendo ao senador Randolfe Rodrigues (Rede), ele afirmou que deputados federais e estaduais organizaram carreatas para pedir que comerciantes abrissem o comércio no Rio de Janeiro, contrapondo medidas de restrição adotadas pelo governo do Estado. Ele não respondeu se tinha informações se milicianos participaram do movimento.
O ex-governador foi convocado à CPI justamente para falar sobre o uso de verbas federais na área de saúde do seu Estado. A comissão investiga se houve desvio de recursos destinados ao combate à pandemia.
O Supremo Tribunal Federal havia liberado o ex-governador de comparecer à comissão porque ele tinha sido convocado para falar sobre fatos sobre os quais já é investigado ou processado. Mesmo assim, Witzel afirmou que iria.
Mas, conforme a decisão do STF, o ex-governador não está obrigado a falar a verdade e pode ficar em silêncio quando achar conveniente.
'Sem cooperação' durante a pandemia
Witzel disse que os governadores "clamaram" ao governo federal por ajuda na pandemia, mas não houve cooperação.
"O nível de cooperação foi praticamente zero. O que tivemos foi uma descooperação", disse.
O ex-governador disse que foi um dos primeiros governadores a implementar medidas de restrição de circulação e que um dos pedidos centrais ao governo federal era pela aprovação do auxílio emergencial para que a população pudesse ficar em casa. "Se você pede para a população ficar em casa, mas não dá condições, é mais difícil controlar a pandemia", afirmou à CPI.
Witzel afirmou que houve perseguição do governo federal por causa das críticas que fez sobre o gerenciamento da pandemia e que foi retaliado por causa da investigação da polícia do Rio de Janeiro sobre o assassinato de Marielle.
"Depois disso eu nunca mais fui recebido no planalto. Encontrei o ministro (da Economia Paulo) Guedes no avião e ele virou a cara. 'Não posso falar com você.'", disse Witzel.
O ex-governador falou que o ex-ministro da Justiça Sergio Moro disse a ele que "o chefe falou" para ele "parar de falar que quer ser presidente" senão eles não poderiam mais atendê-lo.
Depois disso, disse Witzel, o delegado federal que investigava a questão das OSs foi reconvocado pelo ministério da Justiça e parou de atuar no caso.
"Houve uma perseguição aos governadores e eu fui a primeira vítima", afirmou. Segundo ele, a gestão Bolsonaro tentou "criar uma narrativa" de que os governadores seriam os culpados pelos prejuízos econômicos da pandemia.
Presença de Flávio Bolsonaro causa confusão
A presença do senador Flávio Bolsonaro, que não é membro da comissão, gerou confusão durante a CPI. O filho do presidente interrompeu o depoimento de Witzel diversas vezes.
O senador Renan Calheiros (MDB-AL) questionou se o ex-governador se sentia intimidado pela presença de Flávio Bolsonaro ali, ao que o filho do presidente protestou. "Seu pai parece que não lhe deu educação", disse Calheiros.
Senadores protestaram que Flávio estava interrompendo o depoimento sem se inscrever e sem esperar sua vez para falar. Flávio disse que estava se defendendo porque seu nome "foi citado" e o de sua família.
"Aqui o senhor é senador, não filho do presidente", respondeu Rogério Carvalho (PT-SE).
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) lembrou Witzel que ele poderia participar de uma sessão fechada se tivesse informações sensíveis para compartilhar.
"Eu não tenho problema com a presença do senador (Flávio Bolsonaro), eu o conheço desde garoto. Minha questão aqui não é pessoal, é de defesa da democracia", afirmou Witzel.
"Discurso bonito", ironizou Flávio Bolsonaro.
"Se o senhor fosse um pouquinho mais educado e menos mimado, o senhor teria um pouco de respeito pelo que eu estou falando", respondeu Witzel.
A sessão foi interrompida a pedido de Witzel, depois de uma discussão entre ele e o senador Jorginho Mello (PL-SC). Witzel tinha esse direito a partir de uma decisão do STF.
O ex-governador afirmou que Mello fazia acusações levianas. O parlamentar respondeu que "leviano é quem sofreu impeachment.".
Mais tarde, em entrevista à imprensa, Witzel explicou por que deixou o depoimento. "O senador se referiu a mim de forma leviana, até mesmo chula. Continuei enquanto a sessão foi civilizada. Quando isso mudou, eu e meus advogados decidimos que era melhor sair".
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