sexta-feira, 29 de maio de 2020

Quarentenas funcionam para combater o coronavírus? Veja o que dizem os estudos

pessoas distantes em um parqueDireito de imagemGETTY IMAGES

Dezenas de estudos científicos apontam que medidas de distanciamento social têm sido eficazes para reduzir o número de infectados e mortos ou diminuir a sobrecarga dos hospitais. Mas, em geral, elas não conseguem debelar a pandemia sozinhas, sem a ajuda de testagem em massa ou rastreamento de infectados, e dependem muito da adesão popular em cada país.

Mas se a eficácia do distanciamento é consenso entre especialistas, por que parte dos governantes e cidadãos pede seu fim? Principalmente por causa do custo socioeconômico desse fechamento, que gera desemprego e empresas quebradas.

No Brasil e nos Estados Unidos, os respectivos presidentes contestam também a eficácia da medida sob diversos argumentos, como o de que alguns países tiveram milhares de casos mesmo com quarentenas e outros triunfaram sem adotar esse distanciamento em massa. Para eles, a gravidade da doença não justifica o confinamento de todo mundo, mas só dos grupos de risco — ainda que isso seja inviável, segundo especialistas.

Ao todo, mais de 3 bilhões de pessoas no mundo chegaram a ser submetidas, ao mesmo tempo, a medidas como suspensão de aulas, fechamento de comércio não essencial e distanciamento físico. Em alguns lugares, o cumprimento das normas é obrigatório.

Segundo alguns dos principais grupos de pesquisas de epidemia do mundo, quanto menos gente circula nas ruas, mais devagar a doença se espalha. E quanto mais cedo isso acontece, menos gente ficará doente no fim. Logo, é consenso entre pesquisadores que o distanciamento físico entre as pessoas funciona, e o principal problema agora é como sair dele. Segundo dois pesquisadores americanos, para cada 1 ponto porcentual a mais de pessoas que fazem viagens diárias não essenciais, aumenta em 7 pontos porcentuais o número de novos casos.


Marcelo Gomes, pesquisador em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e coordenador do InfoGripe, que monitora os casos de covid-19 e outras síndromes respiratórias, cita como exemplo a relação entre a adesão popular ao distanciamento social e o número de internações por causa da doença.

Nas últimas duas semanas de março, havia menos gente nas ruas brasileiras. Em seguida, percebeu-se uma diminuição significativa nas internações e mortes. Semanas depois, o cenário se inverteu e o número de pessoas fora de casa cresceu. Duas semanas depois, a quantidade de gente internada aumentou consideravelmente.

Há impacto também no número de mortes que poderiam ser evitadas. Dois cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) afirmaram que uma vida seria salva por minuto ao longo de duas semanas caso o Brasil mantivesse o patamar de distanciamento social.

ilustração

Em carta aberta, 39 pesquisadores brasileiros afirmaram que "todas as projeções que fizemos, assim como comparações com o que aconteceu em outros países, mostram que muitas vidas foram salvas devido à redução da taxa de contágio e preservação da capacidade de atendimento hospitalar".

A adoção de quarentenas, distanciamentos e isolamentos foi tema de dezenas de estudos científicos publicados ao redor do mundo. Mas até que ponto eles cravam a eficácia dessas medidas?

Em uma revisão crítica, 11 pesquisadores analisaram 29 estudos feitos em três epidemias de coronavírus, sendo 10 deles nesta de covid-19. Eles apontam que medidas de distanciamento diminuem "em 44% até 81% o número de pessoas com doença, e reduzem em 31% até 63% o número de mortes", segundo o trabalho publicado pelo Instituto Cochrane, sob encomenda da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Outros estudos vão além da eficácia do distanciamento e analisam o depois, mais especificamente, o impacto econômico que a testagem em massa gera ao ser associada a um isolamento mais seletivo, apenas de doentes ou de quem teve contato com infectados. Um deles, assinado por dois pesquisadores dos EUA e um da Alemanha, afirma que essa estratégia salvaria vidas e permitiria uma retomada maior da economia porque as pessoas saudáveis se sentiriam mais seguras de circularem sem incertezas sobre quem está infectado nas ruas.

Para cientistas, o problema não é flexibilizar o isolamento, como defende parte dos governantes e dos cidadãos. Ninguém da área científica defende longas quarentenas, mas, sim, a reabertura com todos os cuidados necessários para evitar novas ondas de casos, como testes em massa, rastreamento de infectados e ter superado o pico de casos. Mas essa lição de casa o Brasil ainda não fez.

Séculos de confinamentos

Quarentenas são adotadas pelo menos desde o século 14 como forma de evitar o espalhamento de doenças infecciosas. Elas variam em grau e duração, mas, em geral, envolvem um período de isolamento de pessoas infectadas ou que tiveram contato com alguém doente.

"Quando medidas de quarentena são introduzidas, elas não são apenas baseadas em cálculos médicos sobre se serão ou não eficientes para parar ou reduzir o avanço de uma doença infecciosa", explicou Mark Harrison, professor de história da medicina na Universidade de Oxford, à BBC. "Você toma medidas como quarentena para atender a expectativas de outros governos, e também para tranquilizar sua própria população."

O distanciamento de populações inteiras é mais raro. No início do século 20, como o isolamento apenas de pessoas doentes não foi suficiente para conter o espalhamento da gripe espanhola (1918-20), muitas localidades passaram a adotaram esse bloqueio total, envolvendo pessoas saudáveis que nem tiveram contato com alguém infectado.

Estudos posteriores apontaram que as cidades à época que tiveram maior e mais longo distanciamento social registraram menos mortes.

impacto confinamento na pandemia no reino unido

Nos anos 2000, o controle feito por governos durante períodos de isolamento chegou a um novo patamar durante a epidemia de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, na sigla em inglês), ligada a um tipo de coronavírus. O governo chinês ameaçou executar ou prender qualquer um que fosse encontrado violando as regras da quarentena e espalhando o contágio.

"Durante o surto em 2003, quando começou a se espalhar para outros países, confinamentos de vários tipos foram usados extensivamente. Essas medidas de contenção foram ligadas ao sucesso de se ter conseguido evitar que a situação pandêmica fosse pior", disse Harrison, da Universidade de Oxford.

Evidências nos estudos

Na pandemia atual de covid-19, o distanciamento social amplo envolve uma combinação diferente de medidas em cada lugar — a exemplo do fechamento de escolas e de comércios não essenciais, da suspensão de transporte público e da proibição de circulação de pessoas nas ruas.

Sinal no chão para orientar distância entre as pessoasDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionMedidas de confinamento podem durar até 2024

Cada uma dessas medidas tem seu nível de eficácia, que varia conforme a faixa etária, por exemplo. Fechar o comércio tem mais impacto no combate ao contágio de idosos do que de jovens.

Um estudo de sete pesquisadores da Alemanha, publicado na revista Science, levantou o impacto de três níveis de distanciamento social adotados pelo governo alemão. Segundo eles, o espalhamento da doença cai justamente na esteira de cada uma dessas intervenções. Na primeira, são cancelados eventos públicos. Na segunda, são fechadas lojas não essenciais e escolas. Na última, surge o veto ao contato entre as pessoas.

O resultado, segundo esse estudo, é que a taxa de contágio desaba. Ou seja, antes das medidas, 100 infectados contaminavam outras 43 pessoas. Depois das três fases de distanciamento, esse número cai para 15.

Na atual pandemia, muitas dessas pesquisas giram em torno da taxa de contágio (R0). Ou seja, a medida adotada foi ou não capaz de reduzir o número de novos casos? O timing faz diferença?

Faz, segundo um estudo da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, que ainda não foi revisado por outros pesquisadores. O trio de pesquisadores indicou que se cidades e Estados americanos tivessem começado a adotar distanciamentos sociais uma semana antes, quase 36 mil vidas teriam sido salvas. Em cinco meses, ao menos 100 mil pessoas morreram nos EUA em decorrência da covid-19.

Cada lugar é um caso

Mas isso não significa que essas medidas vão funcionar sempre em todos os países. Há uma série de variáveis envolvidas, como o tamanho da população, a quantidade de pessoas que não tem condições financeiras de ficar em casa e o grau de adesão das pessoas às normas adotadas pelo governo.

"O distanciamento depende do que a população faz na vida real. Quando o governo alemão mandou parar de andar na rua, as pessoas pararam. No Peru, um país muito mais pobre, as pessoas saíam de casa mesmo quando o governo afirmou que estava tudo fechado, porque elas precisavam ganhar dinheiro", explica Marcio Bittencourt, professor do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein e mestre em saúde pública pela Universidade Harvard.

Ele cita o exemplo da Noruega, que começou cedo com um distanciamento agressivo, ganhou tempo para montar sua estratégia pós-confinamento com testagem massiva e rastreamento e agora está reabrindo sua economia com mais segurança. A vizinha Suécia, que se baseia na adesão voluntária dos cidadãos ao distanciamento social, tem uma taxa de mortes por 100 mil habitantes dez vezes maior que a norueguesa. O recuo do PIB deve ser equivalente.

Pessoas em varandas de um prédioDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO que acontecerá quando as medidas de distanciamento social forem suspensas?

"É sempre perigoso adotar a estratégia de qualquer outro país e implementá-la no seu, sem refletir sobre como ela funcionaria em seu território. É preciso ter cuidado ao adotar modelos de outros países sem levar em consideração a sua situação local específica, inclusive em termos históricos", ressalta o epidemiologista-chefe da Suécia, Anders Tegnell, à BBC News Brasil.

Outro ponto é que estudos apontam que, em geral, o distanciamento social por si só não é suficiente para dar fim à pandemia. Surge então um impasse. Se a doença não vai embora com as medidas adotadas, deve-se reabrir a sociedade e seguir em frente ou fechá-la ainda mais?

Segundo especialistas, uma das formas mais seguras de deixar para trás o distanciamento que afeta a população inteira e evitar novas ondas de contágio é adotar uma estratégia tripla que associe testes em massa, o rastreamento e o isolamento de todo mundo que teve sintomas ou contato com pessoas doentes.

Esse tipo de ação vai isolando os novos infectados à medida que eles vão surgindo, sem precisar fechar a sociedade inteira por causa de casos, a princípio, pontuais. O importante aqui é o isolamento seletivo e o monitoramento constante da pandemia para que ela não saia do controle.

Segundo um artigo assinado por sete pesquisadores italianos na revista especializada Nature Medicine, medidas de distanciamento social precisarão ser associadas à testagem em massa e ao rastreamento de pessoas que tiveram contato com infectados para encerrar a pandemia.

Essa estratégia também causaria uma ruptura menor no mercado de trabalho. Em um estudo recente, a Organização Internacional do Trabalho estima que as medidas de testagem e rastreamento podem reduzir pela metade as perdas em horas trabalhadas por causa da doença.

"Existe uma recomendação da Organização Mundial da Saúde com seis critérios para uma reabertura, como ter condições de monitorar e controlar pequenos surtos. Mas o mais importante é que cada cidadão tenha consciência do que é preciso fazer para combater a pandemia, mas isso é muito difícil de ser alcançado com tantas mensagens contraditórias entre autoridades e na mídia", afirma Claudia Lindgren, professora e pesquisadora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O que se questiona nas medidas de distanciamento social?

Historicamente, há uma série de críticas feitas à adoção de medidas de distanciamento social, envolvendo tanto aspectos de saúde pública quanto a restrição a direitos individuais em nome do interesse coletivo e a relação entre os custos socioeconômicos e os benefícios sanitários da medida.

No século 19, o médico britânico Charles MacLean foi um dos principais contestadores das quarentenas e ajudou a transferir o debate da esfera médica para a pública.

Há um movimento parecido atualmente. As críticas ao distanciamento social passam mais pelo impacto socioeconômico que ele acarreta do que por sua eficácia para evitar mortes ou sobrecarregar hospitais, por exemplo.

Mas, ainda assim, céticos afirmam que as projeções de cientistas, que previram milhões de mortes se os governos não adotassem o distanciamento, não se concretizaram porque os cálculos estavam errados (e não porque as medidas surtiram efeito). Eles afirmam também que a trajetória da pandemia seria naturalmente igual sem as medidas de distanciamento social.

"Se isso fosse verdade, veríamos o mesmo gráfico de aumento e queda dos casos em todos os países. E o que vemos é a diferença que fazem as medidas adotadas", rebate Bittencourt, do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein.

Homem sentado em um banco com marcações de distância socialDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionHomem sentado em um banco com marcações de distanciamento social

Veja abaixo alguns dos principais argumentos utilizados por uma parte minoritária dos políticos e pesquisadores contra as quarentenas.

1. "Quando o espalhamento está avançado, as medidas de distanciamento social ampliam o contágio em casa."

De fato, depois que o confinamento obrigatório da população inteira foi adotado no primeiro epicentro da pandemia, a cidade chinesa de Wuhan, detectou-se que 80% dos contágios aconteciam em casa. Mas o número absoluto de novos casos ficou muito menor. Além disso, a China adotou uma estratégia de quarentena central. Ou seja, as pessoas foram separadas de suas famílias para evitar essa transmissão domiciliar e levadas a instalações do governo até deixarem de passar a doença.

2. "Há países que conseguiram conter a pandemia por ora sem confinamento em massa da população, a exemplo da Suécia e da Coreia do Sul."

Todos os países adotaram pelo menos alguma forma de distanciamento social, e apenas uma minoria não chegou a fechar escolas ou lojas não essenciais. Mas em geral, o que fez a diferença para governos com estratégias bem sucedidas, como na Coreia do Sul e na Nova Zelândia, foi ter implantado medidas duras de isolamento rapidamente enquanto montava uma estratégia de testes em massa e rastreamento de infectados e seus contatos. Isso permitiu que depois esses países pudessem flexibilizar o distanciamento mais cedo e de forma mais segura. Essas medidas bem-sucedidas fazem parte do que preconiza a OMS como pré-requisitos para uma reabertura.

A Suécia é tida como um exemplo diferente porque se baseou principalmente na adesão dos cidadãos ao distanciamento social, sem fechamento de escolas ou do comércio. Não houve colapso do sistema de saúde, como alguns cientistas previram, mas o país tem uma taxa de mortos bem maior que a de seus vizinhos e um recuo do PIB do mesmo patamar de quem adotou quarentenas.

3."O custo do distanciamento social é desproporcional à gravidade da doença."

A taxa de letalidade da covid-19 é um dos principais argumentos de quem critica a adoção de medidas de distanciamento social. Para eles, uma doença que mata em torno de duas a cada 100 pessoas infectadas não pode paralisar a sociedade inteira. Eles defendem a quarentena dos mais vulneráveis e a retomada da atividade econômica geral. Mas a maioria dos principais epidemiologistas do mundo apontou que isso levaria à morte de milhões de pessoas porque o sistema de saúde entraria em colapso e as vítimas nem sempre pertencem aos grupos de risco. Além disso, no início de maio, as mortes por covid-19 já estão entre as 3 maiores causas de óbito no Brasil.

4. "Isolada e sem contato com o vírus, a maioria da população continuará vulnerável à doença e não haverá imunidade de grupo."

O argumento aqui gira em torno do conceito de imunidade de grupo (ou imunidade de rebanho), mais aplicado à vacinação. Segundo ele, quanto mais pessoas adquirirem imunidade, menos o vírus vai circular na sociedade e ameaçar os vulneráveis. Para alguns pesquisadores, esse patamar seria atingido caso 70% das pessoas desenvolvessem anticorpos, mas isso seria alcançado a um custo social altíssimo, com milhões de mortes. Segundo Lindgren, da UFMG, um estudo apontou que para se atingir a imunidade de 70% da população de Minas Gerais, considerando uma taxa de letalidade de 1%, seriam perdidas 145 mil vidas nesse processo. "Isso não é justificável." Críticos do distanciamento social, por outro lado, afirmam que, se uma parte considerável da população não criar imunidade, não adianta reabrir a economia porque novas ondas de infecção virão. Isso não é necessariamente verdade, já que um sistema eficiente de testes e rastreamento evitaria novas explosões de casos.

5. "Vai morrer mais gente de fome com quarentenas do que por coronavírus."

Como já foi dito anteriormente, o impacto socioeconômico da pandemia depende de uma série de variáveis. Entre elas, a velocidade com que se contém o avanço da doença em cada país e as medidas de suporte que os governos adotam para os atingidos, como pagamento de auxílio financeiro, empréstimos a empresários e proteção de empregos. Segundo projeções da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), a retração econômica em consequência da pandemia empurrará quase 30 milhões para a pobreza na América Latina. Mas as experiências internacionais, segundo especialistas, mostram que isso está mais associado à falta de apoio financeiro dos governos do que à adoção de distanciamento social ou não.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Nova Zelândia não tem nenhum paciente internado com Covid-19



Nova Zelândia informou nesta quarta-feira, 27, que não tem nenhuma pessoa hospitalizada com Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, no país.

“Acho que é a primeira vez, provavelmente, pelo menos em alguns meses, que não temos ninguém no hospital (por causa da Covid-19), por isso estamos em uma boa situação”, disse o diretor-geral de Saúde, Ashley Bloomfield, durante sua entrevista coletiva diária para explicar a evolução da pandemia.

O sistema de saúde neozelandês passou por cinco dias sem receber um novo paciente que precisasse ser internado, apesar de 21 pessoas ainda permanecerem doentes no país.

A resposta do governo contra a pandemia foi dura desde o início. O país implementou a quarentena e o distanciamento social cedo, além de empregar testes em massa na população. Segundo Bloomfield, foram realizados 267.435 exames em uma população de quase 5 milhões da habitantes. A Nova Zelândia não passou dos 1.154 casos e 21 mortes, e declarou que havia interrompido a transmissão comunitária da doença.

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Já primeira-ministra, Jacinda Ardern, colheu os frutos de sua gestão durante a crise: sua popularidade alcançou os 88% – a mais alta já registrada para um governante do país. Firme, mas suave, a mensagem de Ardern foi transmitida para a população da ilha principalmente por meio de lives pelas redes sociais, nas quais a primeira-ministra respondia perguntas dos publico.

Com o sucesso das politicas preventivas, a Nova Zelândia já começa a reabrir escolas, bares e outros estabelecimentos depois de declarar que havia vencido a batalha contra a pandemia, embora continue mantendo normas de distanciamento social e alerta de nível 2.

Para reestruturar a economia, uma vez que as fronteiras internacionais ainda ficarão fechadas, a primeira-ministra propôs a diminuição da jornada de trabalho de cinco para quatro dias por semana, com o objetivo de alavancar o turismo local e gerar mais empregos.

(Veja com EFE)

Professor Edgar Bom Jardim - PE

A solidão esquisita e solta



As surpresas não se vão. O planeta terra vive momentos inusitados. Há frustrações imensas e interrupções nos planos e projetos programados. Não se trata se algo ligado a um canto do mundo. Tudo se revirou de forma rápida. Não se sabe como refazer a convivência, as especulações ficam sombrias. Mas há sempre uma brecha, mesmo que os delírios tragam dores e fechem as portas de certas esperanças.

É um ensaio de solidão esquisito. Não existem regras claras, o tempo passa com repetições permanentes. Há sonhos para distrair, brincadeiras repentinas, intrigas familiares e cansaço espantoso. O vírus perturba e as pessoas querem respostas. No entanto, continuam as polêmicas. As religiões proclamam castigos e esquecem o desgaste que acontece nas suas buscas de poder. A mistura de intenções fragiliza, a desconfiança anda solta.

A solidão se expande com o medo da morte. É estranho que apareçam figuras que queiram retomar os fascistas num espaço de dores e falta de perspectivas. Penso, procuro pular cercas, mas sinto que as turbulências acompanham as culturas. A desigualdade persegue e a ciência observa que há limites. Portanto, as saídas são discutidas com ressentimentos e promessas de reforçar atitudes agressivas.

Algumas ruas vazias não expressam o compromisso de diminuir os perigos. A coletividade não se articula, não compreende que é preciso a solidariedade. Subestimou-se. Agora, surge um desencanto, as instituições se despedaçam. Como recomeçar? A solidão é esquisita porque cheia da acasos e alguns a ironizam com ares de perversão afirmados. É impossível negar a tristeza. A história tem suas travessuras e traz pesadelos que adormecem o desejo de fugir do tédio.

Por Paulo Rezende

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Pandemia ameaça criar 'geração perdida' de jovens expondo-os a empregos precários, diz OCDE


Busca de empregoDireito de imagemPEDRO VENTURA/AG BRASILIA
Image captionMais jovens são desproporcionalmente mais afetados pela crise atual
A crise econômica global já em curso por conta da pandemia do novo coronavírus está afetando principalmente os mais jovens — recém-entrados no mercado de trabalho ou prestes a entrar nele —, possivelmente deixando cicatrizes mais profundas até do que a crise financeira de 2008. O diagnóstico é feito pelo economista Stefano Scarpetta, chefe da divisão de emprego, trabalho e assuntos sociais da OCDE, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (órgão também conhecido como "clube dos ricos" e ao qual o Brasil aspira entrar).
A avaliação da OCDE é reforçada por dados recém-divulgados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), que estima que 1 em cada 5 jovens do mundo tenha tido que parar de trabalhar por culpa da pandemia.
Os que conseguiram se manter empregados tiveram sua jornada reduzida, em média, em 23%.
"A pandemia está impondo um choque triplo nos jovens", afirma o relatório da OIT. "Não apenas ela está destruindo seus empregos, mas também interrompendo sua educação e treinamento e colocando enormes obstáculos no caminho dos que estão tentando entrar no mercado de trabalho ou trocar de emprego."
Em entrevista à BBC News Brasil, Scarpetta, da OCDE, diz que existe o risco de se criar uma "geração perdida" de jovens profissionais, cujos efeitos podem ser sentidos ao longo de muitos anos, caso não haja intervenções positivas de governos e empresas.
"Para jovens, e vimos isso em crises passadas, choques como este (provocado pela pandemia) são particularmente danosos. Primeiro, porque os que já estão no mercado podem estar mais expostos a empregos precários, temporários", explica Scarpetta.
Nova YorkDireito de imagemEPA
Image caption"Em menos de dois meses, houve 36 milhões de pedidos de seguro-desemprego, um número que jamais havíamos visto em um período tão curto de tempo''
E os que ainda estão se preparando para entrar no mercado de trabalho o farão em um período de pouquíssimas oportunidades.
"Nas pesquisas que fizemos durante a crise prévia (iniciada em 2008), percebemos que os três primeiros anos de entrada no mercado de trabalho são cruciais para as perspectivas futuras profissionais", prossegue Scarpetta.
Na década passada, a taxa de desemprego entre os jovens chegou a ser mais que o dobro da taxa geral nos países mais afetados pela crise.
"Depois da crise financeira, muitos jovens perderam um, dois ou até três anos de trabalho. Desta vez, a crise pode ser ainda mais longa, então há o risco de perderem alguns anos por causa disso. (...) Muitos sequer se davam ao trabalho de procurar emprego, porque escutavam que não havia vagas para eles, então houve também um aumento no número de 'nem-nem' - jovens que nem estudavam, nem trabalhavam. Isso deixou uma profunda cicatriz."

Dados de desemprego

Um dos dados atuais que mais impressionaram Scarpetta vem dos EUA: "em menos de dois meses, houve 36 milhões de pedidos de seguro-desemprego, um número que jamais havíamos visto em um período tão curto de tempo. A taxa de desemprego (americana) foi do patamar mais baixo já registrado para o nível mais alto. E isso não se limita aos EUA, vemos o mesmo em todos os países".
No Brasil, que começava a ensaiar uma leve recuperação da recessão econômica, os dados coletados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que 1,2 milhão de pessoas adicionais entraram na fila do desemprego no primeiro trimestre de 2020.
Entre os jovens de 18 a 24 anos, o desemprego subiu de 23,8% (dado do último trimestre de 2019) para 27,1% — isso é mais do que o dobro da média nacional de desemprego, de 12,2%.
No Nordeste, o índice de desemprego entre jovens é maior ainda: afeta mais de um terço da população entre 18 a 24 anos.
Jovem no computador
Image caption"A pandemia está impondo um choque triplo nos jovens", afirma OIT. "Não apenas ela está destruindo seus empregos, mas também interrompendo sua educação e treinamento e colocando enormes obstáculos no caminho dos que estão tentando entrar no mercado de trabalho."
"A crise econômica provocada pela covid-19 está atingindo a população mais jovem — especialmente mulheres — mais rápido do que qualquer outro grupo", afirma, em comunicado, Guy Ryder, diretor-geral da OIT.
"Se não agirmos de modo imediato e significativo para melhorar sua situação, o legado do vírus pode permanecer (no mercado de trabalho) por décadas. Se a energia e talento (dos jovens) for escanteada por falta de oportunidades ou habilidades, haverá danos em nosso futuro e muito mais dificuldade em reconstruir uma economia pós-covid-19."

'Investir nos jovens tem bom custo-benefício'

Para Scarpetta, da OCDE, "este é um momento crucial para investir em capital humano, porque muitos jovens podem estar tentados a abandonar a escola e entrar no mercado de trabalho (para ajudar suas famílias). Mas acho crucial tentar mantê-los estudando".
Ao mesmo tempo, diz ele, é preciso dar apoio aos jovens que acabaram de entrar no mercado de trabalho, com orientação sobre como se qualificar, mantendo programas de mentoria e aprendizagem e "combinar aprendizado no trabalho com educação para os que podem ter deixado a escola cedo demais".
Caso contrário, defende Scarpetta, "podemos ter uma 'geração perdida', de jovens que entram no mercado de trabalho em um momento ruim e levam mais tempo para se recuperar disso".
"Vimos isso no Japão nos anos 1990, quando eles tiveram uma década perdida: muitos recém-formados não conseguiram se empregar, acabaram migrando para empregos (precários) e, mesmo quando a economia se recuperou, nos anos 2000, eles não conseguiram encontrar bons empregos, porque as empresas preferiam contratar novos formandos. Gerou-se um estigma contra aquela geração, por ter passado muito tempo em empregos precários. Eram considerados de segunda classe."
Leman Brothers, em 2008Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionCrises anteriores, como a de 2008, deixaram 'cicatrizes' entre na empregabilidade dos mais jovens
"Para todos (os trabalhadores), mas especialmente para os mais jovens, será preciso combinar apoio financeiro com ajuda para que continuem a investir em sua educação e suas habilidades, dar-lhes orientações. É claro que, para os que estão no mercado informal ou empregos precários, é mais difícil. Mas investir nos jovens mais carentes é um bom custo-benefício — é o melhor jeito de investir na geração futura", prossegue.
"Eles podem não saber onde os empregos estão, ou de quais habilidades precisam para consegui-los. Talvez com um pouco de treinamento eles consigam. Não é só dar dinheiro, mas apoio."

As aspirações dos jovens

O chefe do setor de trabalho da OCDE argumenta que momentos de ruptura como o atual tendem a acelerar mudanças que já estavam em curso no mercado de trabalho - como automação, informalidade, mais rotatividade dos trabalhadores, mais mobilidade de um emprego a outro e, para muitos, a necessidade de conciliar mais de um emprego ao mesmo tempo.
No Brasil, segundo o IBGE, a taxa de informalidade da economia chegou a 39,9% no primeiro trimestre de 2020 — na prática, o setor informal emprega 36,8 milhões de pessoas.
Para navegar em um ambiente de trabalho mais instável, em que muitos empregos são substituídos por máquinas ou algoritmos, a OCDE defende que os jovens tenham acesso desde a idade escolar a mentorias e orientações sobre as mudanças no mercado de trabalho.
Em um relatório prévio, de janeiro, feito com base em uma pesquisa com estudantes de 15 anos do mundo inteiro, a OCDE identificou que a maioria dos jovens sonha com um número limitado de carreiras, bastante parecidas às citadas por jovens entrevistados na mesma pesquisa oito anos antes, em 2000 —- entre elas, médico, advogado, policial, psicólogo, professor e arquiteto.
Embora sejam carreiras importantes, "é preocupante que mais jovens do que antes pareçam estar escolhendo seu trabalho dos sonhos a partir de uma pequena lista de ocupações populares e tradicionais", afirmou em janeiro o diretor de educação da OCDE, Andreas Schleicher. "A pesquisa mostra que muitos adolescentes estão ignorando ou não têm conhecimento de novos tipos de trabalho que estão emergindo, sobretudo em razão da digitalização."
O temor é que as aspirações dos jovens não necessariamente reflitam as necessidades futuras do mercado de trabalho — e que isso aumente sua dificuldade em se empregar.
EmpregoDireito de imagemPEDRO VENTURA/AG BRASILIA
Image caption"Queremos que eles saiam da escola não apenas com boas habilidades, mas com a capacidade de adaptar essas habilidades, se precisarem. E continuarem a aprender ao longo da vida profissional"

Ensinar a aprender

Nesse contexto, prossegue Scarpetta, "é preciso dar orientações para os jovens em todos os níveis, desde o ensino médio, quando eles estão tomando decisões importantes sobre as áreas que os interessam. Eles precisam saber quais são as perspectivas sobre essas áreas e se precisam de um treinamento mais acadêmico ou técnico. E, para os que decidirem não buscar a educação superior, é possível que com um pouco de treinamento eles consigam entrar em setores que estejam abrindo vagas."
Uma "mensagem importante", conclui Scarpetta, é "ajudar os jovens a aprender a aprender".
"Queremos que eles saiam da escola não apenas com boas habilidades, mas com a capacidade de adaptar essas habilidades, se precisarem. E continuarem a aprender ao longo da vida profissional."
Essa habilidade será crucial para o ambiente de trabalho mais mutante, que fecha vagas que estão sendo automatizadas, mas exige mão de obra qualificada em outras frentes.
"Às vezes falamos de empregos como se eles fossem muito diferentes entre si. Não é verdade. Podemos tentar a transição de um emprego em declínio para outro em ascensão — às vezes, com um pequeno treinamento. O emprego pode ser completamente diferente, mas as qualificações, talvez não. Te dou um exemplo: caixa de banco é um emprego em declínio significativo, porque muitas de suas atividades estão sendo automatizadas. Ao mesmo tempo, o setor bancário está criando muitos empregos em cibersegurança. E muitas tarefas são semelhantes entre si. Com um pouco de treinamento, você consegue migrar de um para o outro. O problema é que muita gente não sabe disso", diz Scarpetta.
"Isso serve para todos, mas particularmente para os jovens, que têm menos experiência de trabalho e que podem achar que 'estudei, me formei e não há emprego para mim. Será que fracassei? Escolhi errado?'. Às vezes não, basta um pouco de orientação e treinamento. Isso pode ter um enorme impacto (quando a economia for retomada)."
Professor Edgar Bom Jardim - PE