O Irã admitiu que derrubou por engano o avião ucraniano que caiu na quarta-feira (8) com 176 pessoas a bordo perto de Teerã.
Uma investigação interna identificou que "mísseis foram disparados por falha humana", afirmou o presidente iraniano, Hassan Rouhani. Ele descreveu a tragédia como um "erro imperdoável".
Militares disseram que o avião voava muito perto de um lugar sensível que pertence à Guarda Revolucionária do Irã e foi considerado, por engano, uma aeronave hostil.
O voo, que seguia em direção à capital ucraniana Kyiv, caiu perto do aeroporto Imã Khomeini logo após a decolagem. Entre os mortos havia cidadãos de sete nacionalidades, entre eles 82 iranianos, 57 canadenses e 11 ucranianos.
O desastre com o Boeing 737-800 da Ukraine International Airlines ocorreu horas depois de o Irã lançar mísseis contra duas bases aéreas que abrigam tropas americanas no Iraque.
Esses ataques ocorreram em resposta ao assassinato do comandante militar iraniano Qasem Soleimani em uma operação com drone americano em Bagdá, em 3 de janeiro.
O que disse o Irã?
Na manhã deste sábado, um comunicado militar foi lido na TV estatal iraniana anunciando que o voo PS752 havia sido atingido por um míssil por engano.
Por causa das tensões entre EUA e Irã, segundo o documento, os militaers estavam no "mais alto nível de prontidão". "Neste contexto, por causa de falha humana e sem intenção, o avião foi atingido."
Os militares pediram desculpas, afirmaram que modificariam o sistema de segurança a fim de evitar novos "erros" no futuro e anunciaram que os responsáveis serão julgados e punidos.
O presidente Rouhani prestou condolências. "(O Irã) se arrepende profundamente desse erro desastroso", escreveu no Twitter.
O chanceler do país, Javad Zarif, pediu desculpas às famílias das vítimas, mas responsabilizou também os Estados Unidos. "Uma falha humana em tempo de crise causada pela ação aventureira dos EUA levou ao desastre", afirmou.
Para Lyse Doucet, correspondente internacional chefe da BBC, a admissão de culpa por parte do Irã representa uma desescalada das tensões com os Estados Unidos.
"O Irã decidiu que deveria assumir o desastre para evitar uma nova guerra verbal com o Ocidente ou despertar a fúria de seu próprio povo, que pulam de uma calamidade para outra", escreveu Doucet.
Segundo ela, a grande questão agora é: "Quem tomou a decisão de permitir que um avião civil decolasse enquanto o espaço aéreo do Irã passava por tamanha tensão?"
Quais foram as reações até agora?
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, afirmou que a queda do avião foi uma "tragédia nacional" — o país tem quase 210 mil descendentes de iranianos.
Em comunicado, ele cobrou "transparência e justiça para as famílias das vítimas". Ao todo, 57 canadenses morreram na tragédia.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu ao Irã que puna os responsáveis. "Nós esperamos que o Irã os leve a responder na Justiça", disse.
Nesta quinta-feira, a Ucrânia decretou um dia de luto nacional por conta do acidente.
A Boeing disse que está "pronta para ajudar de maneira que for necessária", enquanto o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, afirmou que seu país espera participar da investigação e ofereceu assistência técnica.
Vídeo mostra míssil atingindo avião
A hipótese de que o avião havia sido abatido surgiu nas redes sociais logo depois da queda em forma de rumores, mas ela se tornou oficial quando informações de órgãos de inteligência foram divulgadas na mídia americana no dia seguinte à tragédia.
Segundo a rede CBS News, fontes no setor de inteligência americano apontaram que satélites dos EUA detectaram dois lançamentos de mísseis pouco antes de o avião ucraniano explodir.
O jornal The New York Times publicou um vídeo em seu site que mostra um míssil atravessando o céu de Teerã e depois explodindo ao tocar em um avião. Dez segundos depois, é possível ouvir o barulho de uma explosão desde o solo. O avião continua voando em chamas.
Fonte:BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE