quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Como os amigos podem fazer bem ou mal para sua saúde



mulher sorrindoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionNós tendemos a copiar a forma como amigos e familiares se comportam, o que potencialmente pode nos levar a engordar demais ou até ao divórcio. Mas há estímulos positivos que podem ser explorados
No começo de um novo ano, várias pessoas adotam resoluções para ter um estilo de vida mais saudável.
Muitas acham que fazer dieta ou se inscrever numa academia é mais fácil quando amigos e familiares adotam a mesma resolução.
Mas nem todas as decisões que afetam a nossa saúde são conscientes e intencionais, já que tendemos a copiar o comportamento de amigos, colegas e parentes que admiramos.
Infelizmente, também imitamos os hábitos ruins para a nossa saúde, como fumar ou comer demais.
Esse fenômeno ajuda a explicar por que condições não contagiosas, como doenças do coração, derrames e câncer, parecem se espalhar de uma pessoa a outra como uma infecção.

Seus amigos podem te engordar?

Pessoas que valorizamos e com quem estamos em constante contato formam nossa rede social.
O Estudo Cardíaco de Framingham (Farmingham Heart Research), liderado por pesquisadores de universidades como Harvard e Cambridge, analisa o poder desses contatos sociais desde os anos 40, ao acompanhar três gerações de moradores de Framingham, em Massachusetts, nos Estados Unidos.
A pesquisa indica que temos mais chance de nos tornarmos obesos se alguém de nosso círculo íntimo for obeso. Conforme o estudo, uma pessoa é 57% mais propensa a se tornar obesa se tiver como amigo ou amiga uma pessoa muito acima do peso.
família de Framingham, em MassachusettsDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionMoradores de Framingham, em Massachusetts, foram acompanhados por pesquisadores desde 1948, para um estudo sobre como os círculos sociais afetam o comportamento humano
No caso de ter uma irmã ou irmão obeso, o percentual é de 40%. E uma pessoa que tem parceiro obeso tem chance 37% maior de ficar acima do peso.
O impacto é maior se as duas pessoas forem do mesmo gênero e se a ligação emocional entre elas for grande.
O estudo de Framingham indica, por exemplo, que ter um vizinho obeso não afeta o seu peso, se vocês não tiverem um relacionamento próximo, mesmo que você o veja diariamente entrando e saindo de casa.
Em relacionamentos "desiguais", a pessoa que enxerga a amizade da outra como muito importante é mais propensa a engordar se o amigo ou a amiga ficar acima do peso.
O nível de divórcios e vício em cigarro e álcool também parece se espalhar entre amigos e parentes.
Embora nossa saúde seja afetada pelo envelhecimento e predisposições genéticas a certas condições, nosso risco de desenvolver doenças não infecciosas aumenta a depender de certos comportamentos: se você fuma, se adota uma dieta equilibrada, a quantidade de atividade física que faz semanalmente e o volume de álcool que ingere.
Doenças não infecciosas como de coração, pulmão, derrame, câncer e diabetes, causam sete a cada 10 mortes no mundo todo. No Reino Unido, são a causa de 90% das mortes.

Sentimentos contagiam

As conexões sociais também podem afetar nosso humor e comportamento. Não surpreende, portanto, que o fumo entre adolescentes seja influenciado pelo desejo de popularidade. Quando adolescentes considerados "populares" fumam, os níveis de dependência em cigarro aumentam e o número de jovens que desejam e conseguem parar de fumar cai.
Ao mesmo tempo, jovens cujos amigos são mais desanimados tendem a desenvolver esse tipo de humor também. No caso de depressão clínica, estudos não encontraram evidências de que ela possa se espalhar pelo convívio.
Mas desânimo e mau humor já são suficientes para afetar a qualidade de vida dos adolescentes e, em alguns casos, podem aumentar o risco de desenvolverem depressão clínica no futuro.
A ideia de que sentimentos contagiam é respaldada por um controverso experimento secreto conduzido em quase 700 mil usuários do Facebook. A pesquisa filtrou de maneira seletiva o que podia ser visto nos feeds de notícia, que usam algoritmos para mostrar postagens relevantes para o usuário da rede social.
adolescentes olhando o celularDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAs pessoas com quem a gente convive, pessoalmente ou nas redes sociais, afetam nosso humor, nosso comportamento e nosso padrão de consumo
Dois experimentos paralelos foram conduzidos. Um deles reduziu a exposição dos usuários a postagens associadas a emoções positivas, enquanto o outro reduziu a exposição a postagens que mostravam emoções negativas.
Os usuários alimentados com mais mensagens positivas se mostraram mais propensos a postarem eles próprios fotos e legendas positivas, enquanto os que passaram a ver mais postagens negativas aumentaram as suas publicações associadas a emoções ruins.
Isso sugere que os sentimentos podem se espalhar por nossas redes sociais, apesar da falta de interação face a face. Uma crítica comum a estudos sobre redes sociais é o fato de nos conectarmos na internet com pessoas que já demonstram adotar estilo de vida parecidos com os nossos ou ter gostos semelhantes.
Mas vários estudos reconhecem e adaptam seus achados a esse fenômeno, conhecido como contágio social.

Como tirar proveito do "contágio social"

Se copiamos o comportamento de amigos e familiares, como aproveitar isso da melhor maneira possível?
Iniciativas como "janeiro sem álcool" (Dry January) ou "janeiro vegano" (Veganuary), que surgiram recentemente no Reino Unido, são exemplos de tentativas coletivas de implementar opções saudáveis de vida.
Também na Inglaterra houve a campanha "stopoctober" ou "pare em outubro", que encorajou pessoas a pararem de fumar naquele mês. Essa iniciativa, baseada em estudos que mostram o "contágio" de comportamentos por meio de conexões sociais, tem sido bem-sucedida desde que foi lançada em 2012.
Acredita-se que ela estimulou mais de um milhão de tentativas de parar de parar de fumar, o que sugere que um único empurrão coletivo pode ter mais eficácia do que campanhas constantes feitas ao longo do ano.
pessoas pedalando para o trabalhoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionCampanhas coletivas que envolvem uma meta clara, para ser cumprida num mês específico, costumam ter mais efeito que mensagens contínuas em defesa de um estilo de vida mais saudável divulgadas ao longo do ano
Um problema observado é que mensagens e campanhas tradicionais que visam incentivar comportamentos mais saudáveis tendem a aumentar a desigualdade, porque não conseguem alcançar todas as camadas sociais da população.
Essas mensagens costumam ter efeito maior entre os mais ricos— pessoas que costumam priorizar a saúde e que possuem situação educacional, econômica e social que lhes permite mudar de comportamento.
No entanto, até mesmo aqueles que não são "conscientes sobre a saúde" são influenciados pelo comportamento das pessoas com quem convivem, interagem e com quem se importam.
Se queremos melhorar a saúde de uma população inteira, talvez seja útil explorar o "contágio" social, principalmente por meio de pessoas capazes de influenciar muitos. Esses indivíduos influentes, que são peças centrais de suas redes sociais, costumam ser admirados por outros, mais propensos a compartilhar experiências e interagir com várias pessoas ao mesmo tempo.
Mais pesquisas precisam ser feitas sobre como o contágio de comportamento pode ser usado para dar eficácia a políticas públicas, sistemas públicos de saúde e para encorajar escolhas saudáveis que garantam uma redução de doenças não infecciosas.
Esse artigo foi escrito por uma especialista que não é funcionária da BBC. Dr. Oyinlola Oyebode é professora da Escola de Medicina da Universidade de Warwick, no Reino Unido.Professora Oyinlola Oyebode
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Show da Virada 2019//2020 em Bom Jardim

Anjos do Forró e Trio Pileque animam o público nas primeiras horas do ano novo em Bom Jardim


Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 29 de dezembro de 2019

Por que o número de grávidas com HIV não para de crescer no Brasil?


Grávidas uma ao lado da outraDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO total de grávidas diagnosticadas com HIV por ano no Brasil aumentou 36% neste período em dez anos
Os novos dados sobre a epidemia de HIV no Brasil trouxeram algumas boas notícias — e um dado preocupante.
Os casos de Aids, a síndrome causada por este vírus, estão caindo, assim como as mortes pela doença. O ano passado também foi o primeiro em que o número de novos casos de HIV notificados diminuiu ligeiramente, após uma década de aumentos.
Mas um índice foge desta tendência no mais recente Boletim Epidemiológico HIV/Aids, divulgado anualmente pelo Ministério da Saúde: em vez de cair, o número de grávidas diagnosticadas continua a aumentar.
Entre 2008 e 2018, o índice passou de 2,1 para 2,9 casos para cada mil nascidos vivos. Houve um aumento de 36% no total de casos notificados por ano neste período.
No entanto, o governo federal e médicos ouvidos pela BBC News Brasil dizem que este crescimento não é de todo uma má notícia.
Esaú João, coordenador do programa de prevenção materno-fetal de HIV do Hospital Federal dos Servidores do Estado (HSE), no Rio de Janeiro, explica que, desde 2010, passou a ser obrigatório o teste do vírus para gestantes no acompanhamento pré-natal, na primeira consulta e no último trimestre.
O infectologista afirma que isso contribuiu para aumentar o índice de grávidas diagnosticadas com HIV. "A partir daí, elas passam a se tratar e, com resultados positivos, têm outras gestações", diz João.
Gráfico sobre HIV no BrasilDireito de imagemMINISTÉRIO DA SAÚDE
Image captionDados do governo sobre HIV e Aids apontam que vários índices em queda, mas número de gestantes com o vírus continua a crescer
A avaliação vai ao encontro a dados do Ministério da Saúde. O número de exames para HIV e sífilis aplicados pela Rede Cegonha, um programa nacional voltado para gestantes, aumentou em mais de nove vezes. Em 2012, foram realizados 369 mil testes no país. Neste ano, diz a pasta, já são mais de 3,5 milhões.
Rico Vasconcelos, infectologista da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), afirma que o aumento do índice de detecção do HIV em gestantes, como reflexo da ampliação do diagnóstico, é um passo importante para erradicar a chamada transmissão vertical do vírus, entre a mãe e o bebê.
"Estamos conseguindo encontrar essas mulheres, então, o crescimento desta taxa num primeiro momento é uma coisa boa. Se conseguirmos achar todas e fazer um pré-natal adequado, o esperado é que a transmissão vertical caia", afirma Vasconcelos.
É o que vem ocorrendo, segundo dados do governo. Os casos de Aids entre crianças com menos de 5 anos, um dos índices usados para avaliar a frequência da transmissão vertical, diminuiu em quase pela metade desde 2010: passou de 3,9 pra 1,9 casos entre 100 mil habitantes.
Para evitar esse tipo de transmissão, a mãe precisa tomar medicamentos para reduzir a quantidade do vírus no organismo até esta carga ser considerada indetectável. Também é preciso tratar outras infecções, como sífilis, que favorecem a transmissão do vírus. Além disso, o bebê deve nascer por cesariana e não ser amamentado.
O ideal é a mulher engravidar já usando os medicamentos. Quanto mais precocemente isso for feito, maior é a chance de transmissão chegar quase a zero.
É importante fazer o teste também no fim da gestação, porque, como apontam médicos ouvidos pela reportagem, há casos em que uma mulher pega o vírus durante a gravidez, ao se relacionar com um novo parceiro.
Mesmo se o diagnóstico ocorrer próximo do parto, os médicos ainda podem tomar medidas para reduzir o risco da transmissão vertical.

Mais mulheres engravidam já sabendo que têm o vírus

Os dados do Ministério da Saúde também apontam ter ocorrido uma mudança de comportamento entre gestantes com HIV. O índice de mulheres que engravidam sabendo que têm o vírus superou a taxa de mulheres que são diagnosticadas no pré-natal.
Em 2010, 36% sabiam que tinham o vírus, enquanto 54% conheceram seu status na gravidez. A proporção se inverteu desde então: em 2018, 61% engravidaram cientes do HIV e 31% foram diagnosticadas no pré-natal.
Gerson Pereira, diretor do departamento de doenças de condições crônicas e infecções sexualmente transmissíveis do Ministério da Saúde, atribui isso a uma melhoria do tratamento, o que fez mulheres perceberem que podem engravidar sem transmitir o vírus ao bebê nem ao parceiro.
Teste de HIVDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionMaior oferta do teste de HIV é um fator que levou ao aumento do número de casos registrados
"Graças aos medicamentos de hoje, ter HIV passou a ser considerado doença crônica, como diabetes. As grávidas entendem que, mesmo com o vírus, não vão morrer e poderão ver seus filhos crescerem", afirma Pereira.
Vasconcelos, da USP, diz que essa percepção entre mulheres com HIV pode ter um impacto sobre a mudança detectada pelo governo, mas prefere ter cautela.
"Sem dúvida, quando é divulgado que é possível ter filhos, aumenta o número de gestantes com HIV que engravidam de forma planejada. Mas não sei se é o fator principal, porque isso não é muito divulgado. A gente não vê no intervalo da novela chamadas do tipo: 'Você, mulher com HIV, sabe que pode ter filho?'."
Eduardo Sprinz, chefe do serviço de infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, afirma que a leitura dos dados pelo Ministério da Saúde é apenas uma das possíveis e que vê em seu cotidiano a influência de outros fatores.
"Também podemos interpretar como um sinal de que muitas mulheres não sabem se proteger. Muitas vezes, elas simplesmente sabem que têm HIV, não se tratam e continuam a ter filhos, porque engravidam sem planejar ou querem dar um filho a um novo parceiro", afirma Sprinz.

Quem são e onde estão as gestantes com HIV

Mas quem são essas mulheres? Os dados oficiais mostram que a maioria das gestantes diagnosticadas com HIV desde o ano 2000 eram pretas ou pardas (61,7%), tinham entre 20 e 29 anos (53,9%) e eram analfabetas ou tinham até 8ª série incompleta (42,4%).
"A epidemia no Brasil evoluiu muito para o lado da população desfavorecida economicamente e que muitas vezes vive à margem da sociedade. Estas mulheres sofrem todo tipo de violência, o que faz com que a questão do HIV não seja tão importante na vida delas", diz João, do HSE.
As condições socioeconômicas impactam diretamente o risco de pegar HIV. "Doenças transmissíveis em geral são doenças relacionadas à pobreza, porque estas pessoas têm menos acesso a medidas de prevenção. Se têm baixa escolaridade, também têm menos acesso a informações sobre como se prevenir", afirma Pereira, do Ministério da Saúde.
Silhueta de mulher grávidaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionMaioria das grávidas com HIV eram pretas ou pardas, tinham entre 20 e 29 anos e eram analfabetas ou tinham até 8ª série incompleta
O boletim do governo federal mostra que a maioria das gestantes com HIV viviam nas regiões Sudeste (38,1%) e Sul (30%). No entanto, os maiores aumentos de novos casos nos últimos dez anos ocorreram nas regiões Norte (87,5%) e Nordeste (118,1%).
Para médicos ouvidos pela BBC News Brasil, o crescimento expressivo nestas regiões reforça a explicação de que o aumento de casos no país é resultado da ampliação de exames.
"Estas duas regiões eram onde havia os maiores índices de subnotificação de HIV, e estão tentando resolver esse problema com a oferta de testes rápidos e capacitação de profissionais. Esse crescimento é positivo, porque, se não fossem diagnosticadas, estas mulheres morreriam de Aids, mas uma hora isso tem que começar a cair", diz Vasconcelos, da USP.
Manoella Alves, infectologista do Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi, que é referência para atendimento de gestantes com HIV no Rio Grande do Norte, diz que o aumento do diagnóstico se deve à ampliação da testagem, mas ressalta que é preciso fazer uma avaliação cuidadosa.
"Números de HIV são complexos de entender, porque são influenciados por escolaridade, classe social, gênero. O que houve foi o aumento do número de mulheres diagnosticadas nestas regiões e, infelizmente, isso aconteceu na gravidez, já que é neste momento que o serviço de saúde chega de forma mais ativa a elas", diz Alves.
A infectologista ressalta que as regiões Sul e Sudeste ainda apresentam as maiores taxas de HIV entre gestantes. "É preciso analisar se há no Norte e Nordeste uma cobertura de exames de HIV similar ao de Sul e Sudeste."

RS tem o maior índice do país

Segundo o boletim anual, o Rio Grande do Sul é o Estado com o maior índice de grávidas com HIV desde 2001.
No ano passado, foram 9,2 novos casos a cada mil nascidos vivos, três vezes a média nacional.
A taxa está caindo desde 2015, quando atingiu o pico de 9,5 casos entre mil nascidos vivos, mas ainda é de longe a mais alta do país: em segundo lugar, Santa Catarina teve 6,1 casos a cada mil nascidos vivos.
O quadro é ainda mais grave em Porto Alegre, onde houve 20,2 casos entre mil nascidos vivos em 2018, a maior taxsa entre todas as capitais brasileiras.
Historicamente, a epidemia de HIV é de forma geral mais grave no Rio Grande do Sul em comparação com a maioria dos outros Estados brasileiros.
O Rio Grande do Sul tem o terceiro maior número acumulado de diagnósticos de HIV notificados no país desde o ano 2000. Também foi o terceiro com a maior taxa de detecção de Aids em 2018, com 27,2 casos por 100 mil habitantes, apesar do índice ter caído 39,3% em dez anos.
Houve uma queda semelhante, de 34,5%, nas mortes por Aids, neste período, mas, com 7,8 óbitos por 100 mil habitantes em 2018, o Rio Grande do Sul supera todos os outros Estados neste aspecto.

Os fatores por trás da epidemia gaúcha

Não há um consenso sobre o motivo de taxas tão elevadas. Especialistas indicam que alguns fatores contribuem simultaneamente para isso.
Pereira, do Ministério da Saúde, diz que a epidemia de HIV no Rio Grande do Sul — e na região Sul como um todo — apresenta características diferentes de outras partes do país.
Vírus HIVDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionCondições socioeconômicas impactam diretamente o risco de pegar HIV
A epidemia no Brasil é classificada como concentrada, porque há grupos sociais considerados mais vulneráveis, como homens que fazem sexo com homens, travestis, transexuais, profissionais do sexo e usuários de drogas. Entre eles, há uma prevalência do vírus acima da média nacional, de 0,5%.
Estudos com gestantes e parturientes, usados para avaliar a prevalência do vírus em uma população, indicam uma taxa de 2% no Rio Grande do Sul, onde a epidemia tende a ser generalizada.
"No Rio Grande do Sul, é uma epidemia mais heterossexual. Também foi mais comum no Estado o uso de drogas injetáveis, que funciona como uma ponte para o vírus para a população em geral", afirma Pereira.
Sprinz, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, diz que tem sido observada no Estado uma frequência maior do HIV do subtipo C, sua variante mais comum no mundo e que geralmente é transmitida em relações heterossexuais.
"Isso indica que uma parte população que não é normalmente considerada vulnerável corre um risco maior do que é esperado. Mas, por não se achar vulnerável, nem pensa em HIV e não se protege, o que leva a mais casos", afirma Sprinz.
O infectologista Ronaldo Hallal, da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, diz que falhas nas políticas de saúde pública também contribuíram para agravar a epidemia gaúcha.
"A cobertura das unidades de atenção primária é mais baixa em Porto Alegre do que em outros centros urbanos e, com isso, há menos acesso à prevenção e ao diagnóstico. E o Rio Grande do Sul não aplicou recursos destinados pelo governo federal para o combate ao HIV tão rapidamente quanto outros Estados", afirma Hallal.
No entanto, diz o infectologista, este é apenas um de vários aspectos. "A situação que temos hoje é fruto de uma soma de fatores, e não dá para atribuir a só um deles. O que está claro é que a epidemia tem características diferentes aqui e demanda respostas diferentes do que no restante do país."
A Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul diz estar ciente do problema e afirma que vem tomando medidas, como oferecer a testagem rápida de HIV em todos os municípios e ampliar de 83% para 99,5% a disponibilidade do exame em maternidades nos últimos cinco anos.
"Também estamos trabalhando para descobrir as razões que levam a estes índices. Temos algumas hipóteses, e pesquisas estão sendo feitas", afirma Ana Lúcia Baggio, coordenadora da política de infecções sexualmente transmissíveis/Aids da secretaria.
"Esses dados nos preocupam, mas o mais importante é que estamos fazendo ações que estão dando resultado. Nossas taxas vêm caindo lentamente, mas estão caindo."Rafael Barifouse
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 28 de dezembro de 2019

Em Pernambuco, os moradores têm o hábito de exaltar obras e feitos “maiores do mundo”. Para estudioso, a história de resistência do pernambucano reflete sua boa autoestima


O bloco de carnaval Galo da Madrugada, o maior do mundo, em 2017.
O bloco de carnaval Galo da Madrugada, o maior do mundo, em 2017. DANIEL TAVARES (PCR)
Se você decidiu neste verão visitar Pernambuco, saiba que este estado nordestino é muito mais do que as belas praias de Porto de Galinhas, mais do que os lindos bairros históricos de Olinda e Recife, mais do que o agitado carnaval de rua... Para os pernambucanos, é tudo isso elevado à enésima potência.
Ao chegar à capital Recife, um simples bate-papo com um morador revelará um povo que gosta de exaltar determinados feitos ou características próprias — às vezes num tom de brincadeira, às vezes num tom mais sério, mas sempre como sinal de boa autoestima. Pode ser uma construção, uma atividade cultural, um hábito... Você poderá escutar, por exemplo, que a Avenida Caxangá foi durante muito tempo “a maior avenida em linha reta do Brasil” ou que o Instituto Ricardo Brennand é “o maior museu de armas brancas do mundo”. E atenção: não se trata de meros exageros, mas sim de realidade na maioria dos casos.
Antônio Paulo de Morais Rezende, professor de História da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), acredita que esta característica do pernambucano de exaltar aquilo que lhe pertence reflete “a construção do imaginário coletivo social”. Ele explica que o Estado de Pernambuco, hoje muito pobre e muito desigual, foi a principal referência durante a maior parte do período colonial. “A cana-de-açúcar foi a maior riqueza da colônia e o produto que mais deu dinheiro para Portugal. Então aqui a escravidão foi muito forte e a luta pela autonomia foi muito forte... A minha interpretação histórica é que isso pode ter criado certa vaidade, uma memória coletiva de luta, de resistência”, explica ele.
Pernambuco foi, de fato, rebelde durante o período colonial e imperial: em 1817, uma série de revoltas separatistas desembocou na Revolução Pernambucana, que chegou a instituir uma república independente; em 1824, logo após a independência do Brasil, líderes pernambucanos proclamaram a Confederação do Equador, que buscava reunir as províncias de Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí; em 1848, a Revolução Praieira também pregava ideais republicanos. Paralelamente, a decadência da cana-de-açúcar provocou a mudança do eixo econômico para o Sul e Sudeste. E, como consequência, “a historiografia passou a destacar muito mais o que aconteceu no Sudeste e passou a se omitir em relação a certas coisas que aconteceram” em Pernambuco, diz Rezende. Assim, a exaltação é também “uma forma de resistência, de dizer que algo aqui é maior”. Cabe destacar que Pernambuco, em especial a capital Recife, permaneceu ao longo do tempo como um dos principais polos culturais e de vanguarda do país.
Durante uma semana no Recife, o EL PAÍS foi anotando algumas dessas anedotas que estão na boca dos pernambucanos e que, por vezes, soam como folclores locais. Eis as principais.

Avenida Caxangá 

Uma das principais vias arteriais do Recife, a avenida Caxangá foi durante muito tempo, com seu percurso reto de 6,2 quilômetros, "a maior avenida em linha reta do Brasil". Ela foi superada em 1990 pela avenida Teotônio Segurando — em Palmas, capital do Tocantins —, que possui um trecho de 10,2 quilômetros em linha reta num total de 19,2 quilômetros. Isso não impede, claro, que os recifenses sigam exaltando sua avenida, construída ainda no século XIX. E que lembrem que a Caxangá continua sendo a mais longa avenida cuja extensão total se desenvolve numa linha reta.

Festa de São João em Caruaru

A festa junina brasileira foi desenvolvida no Nordeste, onde se agradece à São João Batista e São Pedro pelas chuvas caídas nas lavouras. Espalhada por todo o Brasil, ainda hoje a maior festa está em Caruaru, principal cidade do agreste pernambucano, com mais de 350.000 habitantes e a 130 quilômetros da capital Recife. Segundo os pernambucanos, trata-se da "maior festa de São João do Brasil" e da maior festa regional ao ar livre do mundo. Algo que foi respaldado inclusive pelo Guinness World Records. Mas não só isso: segundo garantem, nesta festa você também encontrará os maiores pé de moleques, os maiores bolos de milho, as maiores canjicas... 

Feira de Caruaru

Também em Caruaru está "a maior feira ao livre do mundo", segundo os pernambucanos. Considerada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como patrimônio imaterial do Brasil, na feira todo tipo de produto é vendido: comida, eletrônicos, roupas, utensílios para a vozinha, bolsas, animais, ferragens...

Galo da Madrugada

Os que estão pensando em passar o carnaval no Recife, atenção: saiba que na capital pernambucana está "o maior bloco de carnaval do mundo", um fato inclusive reconhecido pelo Guinness em 1995. O Galo da Madrugada, que começou suas atividades em 1978 para "fazer renascer o tradicional, espontâneo e criativo carnaval de rua do Recife", arrasta nos sábados de carnaval mais de dois milhões de foliões para as ruas do centro. 

Instituto Ricardo Brennand

O instituto Ricardo Brennand é um castelo, inaugurado em 2002, que abriga as coleções de arte do empresário pernambucano Ricardo Brennand. As obras abrangem pinturas, esculturas, tapeçarias, artes decorativas e mobiliário. Entretanto, o castelo ficou conhecido por abrigar "a maior coleção de armas brancas do mundo". Ele chegou inclusive a ser eleito como o melhor museu da América do Sul pelo site turístico TripAdvisor.

Alto do Moura

O Alto do Moura é um bairro de Caruaru que fico conhecido por causa de um de seus moradores, o artesão Mestre Vitalino. Em seus bonecos de barro ele retratou a cultura e o modo de vida dos nordestinos, especialmente aqueles que viviam no interior de Pernambuco. Seu trabalho original, que ficou conhecido como arte figurativa, pode inclusive ser encontrado no museu do Louvre, em Paris. Já o Alto do Moura continua sendo um importante polo de produção de artesanato, ou ainda "o maior centro de artes figurativas do mundo".

Diário de Pernambuco

"O jornal mais antigo em circulação na América Latina - 192 anos de credibilidade". Este é o slogan do Diário de Pernambuco, que foi fundado em 1825 no Recife. Precisa dizer algo mais?

Shoppings em Recife

Shopping RioMar Recife
Shopping RioMar Recife
Pernambuco parece não ter apenas uma tradição em feiras a céu aberto, mas também de grandes shoppings. Inaugurado em 1980, o shopping Recife, o primeiro grande centro de compras de Pernambuco, foi considerado na época como o maior shopping do Brasil, com seus 175.000 metros quadrados de área construída. "Lembro que era muito orgulho para nós!", disse ao EL PAÍS uma recifense. Hoje, o RioMar Shopping de Recife, inaugurado em 2012, com seus 295.000 metros quadrados de área construída, é o maior da cidade e "um dos maiores do Brasil" — está em quarto lugar no ranking. 

O maior consumidor de whisky

Se você digita no Google "Recife maior", automaticamente aparece, em primeiro lugar, "consumidor de whisky". Os recifenses garantem: a cidade é a principal consumidora de whisky do Brasil e uma das principais do mundo. Em 2009, a publicação inglesa The Whisky Magazine respaldou a crença e disse que a capital pernambucana detinha o maior consumo per capita da bebida em todo o mundo, com uma média de 16 doses anuais por habitante. Na ocasião, o diretor de marketing da Diageo, que controla as marcas Smirnoff, Johnnie Walker, Captain Morgan, Baileys, J & B, José Cuervo e a cerveja Guinness, explicou ao jornal Folha de S. Paulo que que a empresa executava ações específicas para Pernambuco. "O Brasil, hoje, é o país onde mais se consome Johnnie Walker Red Label no mundo, e Recife corresponde a pelo menos 40% desse volume", disse.

O encontro dos rios Capibaribe e Beberibe

Recife é uma cidade cercada por rios e cortada por pontes. Lá, os rios Capibaribe e o Beberibe se encontram antes de desaguar no oceano Atlântico. Mas os pernambucanos, especialmente os recifenses, adoram dizer que eles eles se encontram "para formar o Oceano Atlântico".
É ou não é o melhor povo do mundo?
brasil.elpais.com/
Professor Edgar Bom Jardim - PE

''Este, em menos de um ano, é um governo de retrocessos'', diz Marina Silva

(foto: NELSON ALMEIDA / AFP)
Leia entrevista com Marina Silva:

Como avalia o ano e a política ambiental de 2019?

Foi um ano em que o governo se revelou por inteiro. Às vezes, você tem um governo que assume e vai se revelando aos poucos. Às vezes, avançam em umas coisas e retrocedem em outras. Este, em menos de um ano, se revela inteiramente um governo de retrocessos. E todos eles muito bem delineados. Já durante a campanha e no governo de transição, ele (Jair Bolsonaro) dizia que acabaria com o Ministério do Meio Ambiente, que ia acabar com a indústria da multa e que, no governo dele, o Ibama e o ICMBio não teriam vez. Tudo isso foi se concretizando no desmonte do Ministério do Meio Ambiente; no enfraquecimento do Ibama e do ICMBio; na tentativa de desmoralização do órgão capaz de diagnosticar os problemas de desmatamento, que é o Inpe; nas iniciativas legais encaminhadas ao Congresso Nacional, como é o caso, agora, desta medida provisória que institucionaliza o crime da grilagem; na iniciativa que encaminhou querendo aprovar mineração nas terras indígenas; no fim da Secretaria Nacional de Mudanças Climáticas; na transferência do serviço florestal para o Ministério da Agricultura; e, por último, no vergonhoso papel que desempenhou da COP 25, criando todos os empecilhos para que as negociações não avancem, se revelando claramente um governo negacionista, com uma postura mercenária, ao dizer que só vai fazer o dever de casa em relação ao desmatamento e na redução da emissão de CO2 se os países ricos pagarem para que o Brasil faça suas obrigações. Todas essas situações reforçadas pelo corte dramático do orçamento do ministério. Mais do que retrocesso, é um governo que produz uma regressão, que é pior do que um retrocesso.

Como ex-ministra do Meio Ambiente, qual conselho a senhora daria para o atual chefe da pasta, Ricardo Salles? 

Não imagino que o Ricardo Salles seja uma pessoa que ouça conselho de quem tem compromisso ambiental. Ele só ouve conselho dos ruralistas e dos negacionistas. Ele é uma pessoa com uma formação acadêmica de qualidade, uma capacidade e uma inteligência, com certeza, à altura de compreender tudo o que está em jogo, mas ele, deliberadamente, fez uma escolha de ser um ministro antiambientalista. Tanto que compra briga com todos os cientistas que estudam a questão ambiental. Quem atua na defesa do meio ambiente, ele considera inimigo, e se relaciona, quase que exclusivamente, com aqueles que têm por objetivo separar a economia da ecologia. Então, não acho que é o caso de ficar dando conselhos. O ministro demonstrou muito claramente a quem escuta.

A senhora afirma que, em menos de um ano, o ministro conseguiu desmontar o que foi feito ao longo de mais de três décadas. Como recuperar isso?

Tem uma parte que é irrecuperável. Os quase 10 mil km² de florestas que foram destruídos é irrecuperável, a quantidade de CO2 que foi emitida são irrecuperáveis também. O desmonte que vem sendo feito, eu diria que tem uma forma de barrar sua continuidade e seu aprofundamento. O Congresso Nacional pode fazer isso. O Congresso pode não permitir e não aprovar todas essas medidas de mineração em terras indígenas; pode não permitir que se tenha uma atitude contrária à demarcação de terras indígenas e à criação de unidades de conservação; pode ampliar o orçamento para fortalecer o Ibama, o ICMBio e o Inpe. A sociedade civil tem feito a sua parte, e a comunidade científica tem apresentado os diagnósticos e uma série de sugestões. Isso é uma contribuição relevante. Agora, o prejuízo de ter ficado com o Fundo Amazônia todo esse tempo parado, enquanto a floresta era derrubada e queimada, isso já é impossível de reverter. Eu espero que a pressão da sociedade continue barrando o prejuízo e crie alguma forma de se recuperar as políticas que foram abandonadas. Por exemplo, o sistema de monitoramento por satélite em tempo real já provou que é possível controlar esse desmatamento agindo antes de o leite ser totalmente derramado. Boas propostas não faltam, e elas vinham sendo implementadas e dando certo. O ministro tem esse acervo, o presidente tem esse acervo todo. A ação dos governadores também pode fazer a diferença. Os governadores podem fazer planos estaduais de controle do desmatamento.

Diante deste primeiro ano de governo Bolsonaro, para onde vai a política ambiental do Brasil em 2020?

A medir pela forma irresponsável como o governo vem se comportando diante dessas tragédias, não vejo que tenha acontecido nenhum aprendizado. Ele continua dizendo que a política ambiental brasileira está maravilhosa. Se não reconhece a realidade e a gravidade que a compõe, não vejo que tenha aprendizado algum. É uma atitude arrogante dizer que não teve problemas.

Como avalia os resultados da COP 25? Como está a imagem da política ambiental do Brasil no mundo?

Tudo que era para ter sido decidido na COP 25 foi empurrado para a próxima conferência. Praticamente não teve resultado, foi uma protelação e um adiamento das decisões. A postura das pessoas diante da imagem do Brasil é de perplexidade. Elas não compreendem como o Brasil, em tão pouco tempo, esteve em posições que vinham sendo conquistadas com muito respeito, desde a Rio-92 esteja, agora, nessa situação. As pessoas veem o Brasil, hoje, como um problema na área ambiental.
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Professor Edgar Bom Jardim - PE