segunda-feira, 11 de novembro de 2019

"Houve um golpe civil, político e policial", Evo Morales renunciou à Presidência da Bolívia


Os protestos contra Morales chegaram a reunir alguns de seus ex-aliadosDireito de imagemREUTERS
Image captionOs protestos contra Morales chegaram a reunir alguns de seus ex-aliados
Em menos de três semanas, Evo Morales se declarou vencedor das eleições, denunciou um golpe de Estado e renunciou à presidência da Bolívia.
"Houve um golpe civil, político e policial", afirmou o presidente durante o pronunciamento em rede nacional no qual anunciou sua renúncia no domingo.
A decisão foi tomada horas depois de o comandante das Forças Armadas da Bolívia, general Williams Kaliman, declarar que o presidente deveria deixar o cargo, no intuito de resolver o impasse da crise política que assola o país desde as controversas eleições presidenciais, em 20 de outubro.
Para os militares, o fato de Morales ter comunicado que convocaria novas eleições não era suficiente para conter a crise, após uma auditoria da Organização dos Estados Americanos (OEA) ter identificado irregularidades no processo eleitoral.
Na noite da eleição, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) suspendeu a transmissão da contagem dos votos com 83% das urnas apuradas, quando o resultado indicava segundo turno entre Morales e seu adversário, Carlos Mesa.
No dia seguinte, o sistema de contagem de votos, chamado Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares (TREP), foi subitamente reativado com 95% das urnas apuradas, indicando uma vitória apertada de Morales no primeiro turno.
Evo MoralesDireito de imagemAFP
Image captionMorales anunciou renúncia em pronunciamento televisionado
As suspeitas suscitadas pela interrupção da contagem dos votos por mais de 24 horas e a súbita guinada na tendência do resultado levaram a oposição a denunciar uma "fraude escandalosa".
Até as missões de observação eleitoral da OEA e da União Europeia pediram um segundo turno das eleições presidenciais.
Mas Morales insistiu que havia vencido as eleições e, em resposta às manifestações da oposição, convocou seus seguidores a "defender a democracia" nas ruas e impedir um "golpe de Estado".
Também aceitou que a OEA fizesse uma auditoria do processo eleitoral.

1. A auditoria

No mesmo dia da votação e com a oposição já falando em fraude, a própria missão de observação eleitoral da OEA apontou a interrupção da contagem dos votos como uma das "falhas substanciais" que minavam a "credibilidade e transparência necessárias" do processo eleitoral.
O governo solicitou à OEA uma auditoria para esclarecer quaisquer dúvidas. E vale lembrar que o candidato da oposição, Mesa, que denunciou a "fraude escandalosa", sempre rejeitou as condições em que a organização internacional iria revisar a contagem dos votos.
Mesa ficou em segundo lugar nas eleições de 20 de outubro e, desde o primeiro momento, afirmou que Morales não tinha alcançado a diferença necessária de votos para derrotá-lo no primeiro turno.
Cabine de votação na BolíviaDireito de imagemAFP
Image captionA OEA afirmou que houve 'irregularidades' na apuração dos votos da eleição de 20 de outubro
A auditoria acabou sendo devastadora para o governo. A OEA determinou que era estatisticamente improvável que Morales tivesse alcançado a vantagem de dez pontos percentuais que precisava para evitar um segundo turno das eleições.
A OEA também afirma ter encontrado cédulas de votação alteradas e com assinaturas falsificadas.
O relatório de 13 páginas da auditoria destaca ainda que, em muitos casos, os trâmites de segurança para o processamento dos votos não foram respeitados e houve manipulação de dados.
Morales respondeu no domingo com um comunicado à imprensa no qual, sem mencionar a OEA ou indicar uma data, convocou novas eleições.
No entanto, algumas horas depois, e com a pressão das Forças Armadas, decidiu renunciar.

2. O Exército e a polícia contra

O pronunciamento do general Williams Kaliman, em nome do alto comando das Forças Armadas da Bolívia, também parece ter sido decisivo para a renúncia.
"Sugerimos que o presidente do Estado renuncie ao mandato presidencial, permitindo a pacificação e manutenção da estabilidade para o bem da nossa Bolívia", afirmou Kaliman em comunicado.
O pedido a Morales, dizia a nota, foi feito levando em consideração "a escalada dos conflitos que atravessam o país, zelando pela vida e segurança da população, para garantir o império da condição política do Estado".
William KalimanDireito de imagemREUTERS
Image captionO general Williams Kaliman (centro) é o chefe do alto comando das Forças Armadas da Bolívia
Além do posicionamento dos militares em favor da renúncia do presidente, deve-se acrescentar que desde a sexta-feira, quando a onda de violência nas ruas estava prestes a completar três semanas, um "motim policial" começou a se espalhar por todo o país.
Policiais de várias unidades, primeiro em Cochabamba (centro) e depois em todas as capitais de Departamentos (Estados), começaram a se rebelar e se juntaram aos protestos contra o governo.
E embora Morales continue desfrutando de um enorme poder de mobilização em sua base, diferentemente de outros governos "problemáticos" da região, sem os policiais nas ruas e sem o apoio militar, o presidente ficou em uma situação de evidente fragilidade.
Em diferentes departamentos da Bolívia, a polícia se rebelou contra o governoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEm diferentes departamentos da Bolívia, a polícia se rebelou contra o governo
Policiais rebelados em La PazDireito de imagemREUTERS
Image captionEm La Paz, também houve motim da polícia durante o fim de semana

3. Pressão nas ruas

A oposição a Morales apostou desde o primeiro momento na mobilização nas ruas para pressionar o presidente.
Com greves e paralisações em todo o país, a Bolívia se transformou em um grande campo de batalha entre apoiadores do presidente e seus opositores.
A súbita interrupção da contagem dos votos na noite da eleição desencadeou uma onda de manifestações nas ruasDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA súbita interrupção da contagem dos votos na noite da eleição desencadeou uma onda de manifestações nas ruas
Mas, diferentemente das crises políticas que o país viveu ao longo dos mandatos de Morales, os protestos se tornaram mais fortes desta vez na cidade de La Paz, que já foi um dos redutos de Morales.
Universitários e integrantes da classe média saíram noite após noite para enfrentar a polícia, os poderosos sindicatos e "movimentos sociais" (entre eles, o de mineradores e plantadores de coca), que se posicionavam na sede do governo para defender o presidente.
Centenas de pessoas ficaram feridas — e três mortes teriam sido registradas, o que pode ser considerado um número baixo, dada a intensidade da violência dos embates e ao fato de que os mineradores usam dinamite nos protestos.
Foi assim que um presidente que estava no poder há quase 14 anos se viu cercado por membros da oposição, que deixaram de reivindicar um segundo turno das eleições presidenciais e passaram a exigir sua renúncia.

4. A radicalização da oposição

Faz tempo que a oposição deixou para trás a exigência de um segundo turno entre Morales e Mesa e vinha pedindo a renúncia do presidente.
O endurecimento da postura da oposição se deu pelo crescente protagonismo do presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho.
O presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz, Luis Fernando CamachoDireito de imagemREUTERS
Image captionO presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho, exige a renúncia do governo e do Congresso
Sob a liderança de Camacho, os opositores já não se conformavam nem sequer com a renúncia de Morales — sobretudo após a divulgação do resultado da auditoria.
Camacho passou a exigir a demissão do presidente e de todo o seu governo, assim como de senadores e deputados, além dos magistrados do Supremo Tribunal de Justiça e do Tribunal Constitucional.
A ideia dele era deixar o país nas mãos de um conselho que possa designar um novo TSE para realizar novas eleições dentro de 60 dias.
"A OEA nos mostrou que a fraude era tão óbvia que, devido à resistência do povo boliviano, não podia ocultá-la. O presidente Evo Morales cometeu crimes", afirmou Camacho no domingo.

5. A re-re-reeleição

Se as denúncias de fraude e os protestos eclodiram com a apuração dos votos, a crise política que atinge a Bolívia vai mais além e passa pelo simples fato de o presidente ser candidato à reeleição — outra vez.
No poder desde 22 de janeiro de 2006, Morales foi o presidente boliviano que esteve no cargo por mais tempo na história do país.
Uma mudança constitucional aprovada em 2009, que estabeleceu a possibilidade de reeleição presidencial para dois mandatos consecutivos de cinco anos cada, permitiu que ele disputasse a reeleição em 2010 e 2014.
Evo MoralesDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionApesar de ter perdido referendo para disputar quarto mandato, Morales obteve sinal verde do Tribunal Constitucional para concorrer novamente
Nas eleições de outubro deste ano, Morales tentava garantir um quarto mandato que permitiria a ele governar até 2025.
Para alcançar esse objetivo, ele conseguiu em 2017 a liberação do Tribunal Constitucional para disputar a reeleição indefinidamente.
A decisão da Corte foi tomada um ano depois do referendo que rejeitou a possibilidade de Morales se candidatar a um novo mandato.
A oposição acusou o tribunal de passar por cima do resultado das urnas.
E foi assim que, graças ao Tribunal Constitucional e ao respaldo do TSE, ambos acusados de serem alinhados com o governo, Morales conseguiu concorrer ao seu quarto mandato consecutivo.
Os protestos começaram há três semanas, mas já era de se esperar que essa nova tentativa de reeleição seria a mais difícil que o presidente enfrentaria desde sua primeira vitória presidencial, há 14 anos.
O que poucos previam era um desfecho como o que presenciamos agora: a queda de Morales.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Negócios:como o Uber sobrevive com prejuízo de US$ 1,2 bilhão e sem nunca ter dado lucro?


Logo do Uber em frente à Bolsa de Valores de Nova York, em Wall StreetDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO Uber já está há dez anos no mercado e continua perdendo dinheiro
Os investidores do Uber têm esperado pacientemente um retorno de investimento. A julgar pelo último informe trimestral, contudo, terão de esperar um pouco mais.
O aplicativo de transporte compartilhado que expandiu para o delivery de comida já está há 10 anos em um crescente mercado global e segue perdendo dinheiro.
Embora sua clientela tenha crescido e sua renda melhorado, o balanço segue sendo negativo.
As últimas cifras destacam que a receita da empresa subiu quase 30%, chegando a US$ 3,8 bilhões. Mas o prejuízo líquido ainda está em quase US$ 1,2 bilhão.
O Uber permite que passageiros e motoristas se deem notas. Que nota a empresa receberia hoje?

Fim dos subsídios?

É preciso levar em conta que a atividade principal do Uber é providenciar um software que elimina intermediários.
Essa tecnologia reduz muito os custos — comparando com os serviços tradicionais de táxis, por exemplo —, mas não é o suficiente.
Passageiros esperando um veículo do Uber no aeroportoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA revolução do Uber foi finalmente ter eliminado o intermediário no mundo do táxi, o que reduziu os custos de transporte
"À medida que passa o tempo, essa tecnologia ficou à disposição de quase todos, incluindo as empresas de táxi, e isso minimiza a vantagem do Uber", diz à BBC Adam Leshinsky, autor de Wild Ride: Inside Uber's Quest for World Domination (Corrida Selvagem: Por Dentro da Busca do Uber pela Dominação Mundial, em tradução livre).
"O que o Uber tem é um tamanho gigante e facilidade de uso", afirma.
A empresa cresceu se tornando competitiva nos mercados onde opera porque subsidia as viagens. Leshinsky acredita, no entanto, que isso deve acabar.
"A principal maneira que Uber e seus competidores, como o Lyft, poderiam fazer dinheiro é se sua competição brutal de preços acabasse. Atualmente, subsidiam suas viagens em muitos mercados ao redor do mundo, e o fizeram durante muitos anos. Se seus preços subirem, terão melhores perspectivas de lucro", considera o autor.
Ao mesmo tempo, no entanto, se os preços subissem, o Uber não gozaria de uma base de clientes tão grande, porque esse é seu forte. Mas Leshinsky considera que o Uber terá muita dificuldade para conseguir benefícios no futuro.
"Se chegarem a registrar lucro, isso virá em troca de crescimento. Já estão tratando de cortar gastos. Quanto mais cortarem os gastos, mais difícil será desenvolver o negócio."

Problemas laborais e de concorrência

Por outro lado, a empresa já foi criticada por seu pagamento aos motoristas e o seu tratamento aos funcionários — e se são de fato funcionários da empresa ou não.
Protestos em frente ao Wall Street contra o tratamento das empresas de transporte compartilhadoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionMotoristas já protestaram contra várias empresas de transporte compartilhado
Isso implicou uma luta constante com reguladores e legisladores. Na Califórnia, um dos principais mercados do Uber, uma lei que exige que a empresa trate motoristas como funcionários foi aprovada.
O Uber está lutando para conseguir uma isenção. "Se não conseguirem e tiverem de pagar seus motoristas como funcionários ou restringir as horas que trabalham, será outra razão pela qual terão dificuldades de fazer dinheiro", observa Leshinsky.
O outro desafio da empresa, naturalmente, é a concorrência.
"Sempre haverá alguém que chegue oferecendo algo mais atraente, tanto aos motoristas como aos consumidores, o que reduzirá sua fatia no mercado", afirma à BBC Peter Morici, professor de economia da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos.
"Minha opinião é que será um espaço onde por muito tempo será muito difícil de fazer dinheiro."
O aplicativo Lyft em um celularDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionMuitas outras empresas já entraram no mercado
Nos Estados Unidos, há alternativas como Lyft, e na Europa, Via, que se baseia em vários passageiros compartilhando um mesmo veículo.
"Ao contrário do Uber, não exploraram outras áreas como a de veículos automatizados, nem tentaram entrar na América Latina", assinala Morici.
Uma considerável fonte de problemas para o Uber têm sido suas quatro divisões que também estão perdendo dinheiro.
Por exemplo, o Uber Eats — serviço de delivery de refeições — é a segunda divisão mais importante da empresa, representando 17% da renda. Ela registrou um crescimento de 64%, mas mesmo assim suas perdas foram 67% mais altas que o ano passado.

O modelo Amazon

Para uma empresa de tecnologia que teve tantos problemas, a promessa do diretor executivo do Uber, Dara Khosrowshahi, de que a empresa reportaria ganhos para 2021 pode gerar dúvidas.
O diretor executivo do Uber, Dara KhosrowshahiDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO diretor executivo do Uber, Dara Khosrowshahi, prometeu que a empresa geraria lucro em 2021
Mas outras empresas no passado investiram grandes quantidades de dinheiro com o objetivo de conseguir uma competitividade futura.
Um dos exemplos óbvios é a Amazon, que levou muito tempo para registrar lucros, embora suas perdas se devessem ao que a empresa investia em construção de infraestrutura, como armazéns.
No caso do Uber, os especialistas se perguntam se os subsídios e investimentos estão de fato contribuindo para criar uma crescente clientela leal e um sistema mais forte, necessários para garantir ganhos.
O professor Peter Morici e Adam Leshinsky concordam que mais empresas entrarão nesse mercado de transporte compartilhado.
Leshinsky, no entanto, vaticina que todas se fundirão em um só produto.
"Não sei quando nem como será, mas tenho bastante certeza de que o futuro será assim, e vamos rir desse período intenso e desordenado em que nos encontramos."
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 10 de novembro de 2019

O tempo pede a coragem



Há muitos esconderijos. A transparência é um mito mal arrumado para impressionar os ingênuos. Busque ouvir o ritmo do tempo, observe os silêncios e provoque dissonâncias. Saímos e entramos em labirintos, mas a profecia final nunca é anunciada.Há sempre a incerteza. A coragem não está em todos lugares. Os covardes se aproveitam dos esconderijos e fazem manobras com seus acessos aos poderes possíveis. O diálogo se torna, quase impossível, quando o medo se expande e as ansiedades inventam imaginações perdidas.
Escutar o tempo exige atenção. Não fique preso ao instante. O passado é vasto, não está morto, inquieta-se com as sombras e não deixa de fustigar as calmarias do presente. Imagine que há história, que a violência assassina sonhos, porém que há resistências e a sociedade também cria sua fugas e não recua. A leitura do tempo nos mostra ambiguidades. É importante não se enganar com a forças das utopias.Elas também vivem pesadelos, são sufocadas por controles.
A coragem provoca e questiona. Sem ela, a mudez marca a história, jamais falaríamos de Prometeu e os poetas adoeceriam. Não se agonie se as multidões escolham a passividade. O ritmo do tempo ganha mudanças quando tudo se desenhava estranho. Não dá para cantar racionalidades como aberturas para desfazer os tantos desgovernos que nos atingem. Há sentimentos trêmulos, paixões abandonadas, desistências de romper com as tradições, líderes vacilantes.
Acomodar-se é esquecer que a história necessita que o tempo não acanhe a imaginação. Tudo é possível. Talvez, haja uma apocalipse com data marcada, planejada e demônios se preparem para o golpe fatal. São especulações. Quem cuida de colocar o relógio para construir sua travessia? A coragem distrai os que gostam de calendários definidos e pouco olham para os circos de antigamente. Vivem o aqui e o agora. Há quem se veja sempre pálido. Nutre sua imagem na derrota. Anula-se no desencanto.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Lula e o povo feliz.


Foto divulgada no Facebook.
Assiste ao vídeo de Carta capital. Acesse https://www.youtube.com/watch?time_continue=139&v=_NH5wO8ngc8&feature=emb_logo

Professor Edgar Bom Jardim - PE