terça-feira, 10 de setembro de 2019

Mundo:quem é John Bolton, assessor de segurança nacional demitido por Trump

John BoltonDireito de imagemAFP/GETTY IMAGES
Image captionBolton foi a primeira autoridade do governo americano a apertar as mãos de Bolsonaro
Um dos principais nomes do governo de Donald Trump foi demitido nesta terça-feira (10/9).
John Bolton, conselheiro nacional de segurança do presidente dos EUA, deixará o governo em meio a relatos de discordância em torno de um plano (já cancelado) de convidar o grupo radical afegão Talebã para um encontro em solo americano.
A demissão do membro do círculo de conselheiros próximos foi anunciada pelo próprio Trump pelo Twitter. "Informei a John Bolton na noite passada que seus serviços não são mais necessários na Casa Branca. Eu discordei veementemente de muitas de suas sugestões, assim como outros no governo, e portanto pedi sua renúncia, que ele me concedeu nesta manhã. Agradeço muito por seu trabalho. Nomearei um novo conselheiro de segurança nacional na semana que vem", afirmou o presidente americano.
Bolton se opunha a negociações de paz com o Talebã, grupo convidado por Trump para dialogar. O plano, abandonado no último final de semana, foi alvo de críticas sobretudo por causa do timing: a proximidade com o aniversário dos atentados de 11 de setembro de 2001, realizados pela Al-Qaeda, organização extremista que o Talebã permitiu operar no Afeganistão.
Bolton foi o terceiro conselheiro de Trump na função, depois de Michael Flynn e HR McMaster.
Um ex-funcionário sênior do governo disse à BBC, em condição de anonimato, que Bolton "operava separadamente em relação à Casa Branca", sem comparecer a reuniões.
Segundo a publicação Foreign Policy, Bolton se opunha à visita do Talebã também porque receber um grupo considerado radical "abriria um terrível precedente", em sua opinião.
Isso alimentou uma já crescente discordância com o secretário de Estado, Mike Pompeo, que defendia a reunião com o grupo afegão.
"Se você vai negociar a paz, tem muitas vezes de lidar com agentes do mal", defendeu Pompeo em entrevista à rede ABC.
Bolton também chegou a ser embaixador temporário dos EUA nas Nações Unidas (abandonou o posto quando percebeu que não teria sua nomeação ratificada pelo Senado americano) e ocupou cargos nos últimos três governos conduzidos por políticos republicanos, desde a gestão de Ronald Reagan (1981-1989).
A maioria dos postos foi nos departamentos de Justiça e de Estado (este último, o equivalente americano ao Ministério das Relações Exteriores).
É um árduo defensor do direito ao porte de armas por cidadãos comuns - Bolton é ligado à NRA (Associação Nacional do Fuzil, principal grupo de lobby pró-armas dos EUA), onde comandou o Subcomitê de Assuntos Internacionais em 2011.
No primeiro semestre de 2018, após assumir o cargo no governo Trump, um vídeo gravado em 2013 veio à tona e ganhou manchetes nos EUA. No filme, patrocinado pela NRA, Bolton pede que a Rússia garanta o porte de armas em sua Constituição, como acontece nos EUA.
"Isso criaria uma parceria entre o governo nacional russo e seus cidadãos, que poderiam proteger melhor mães, crianças e famílias sem comprometer a integridade do Estado russo", afirmou.

Encontro com Bolsonaro

Bolton esteve no Brasil em novembro passado para um encontro com Jair Bolsonaro, na época presidente eleito do Brasil. Foi a primeira autoridade americana com quem Bolsonaro se encontrou, e a portas fechadas.
Pouco antes da visita, Bolton classificou o governo do brasileiro como uma "oportunidade histórica".
"O encontro com o presidente eleito Bolsonaro surgiu como resultado da ligação do presidente Trump na noite das eleições no Brasil para parabenizar o presidente eleito. O telefonema foi realmente excelente. Acho que criou um relacionamento pessoal, mesmo de forma remota. O presidente Trump foi o primeiro líder estrangeiro a telefonar ao presidente eleito Bolsonaro", afirmou.
O então assessor de segurança nacional continuou: "Então, pensamos que seria bom e certamente muito útil para os EUA ouvirem do presidente eleito quais são suas prioridades e o que ele está procurando no relacionamento. Do nosso ponto de vista, vemos isso como uma oportunidade histórica para o Brasil e os Estados Unidos trabalharem juntos em uma série de áreas: economia, segurança e várias outras."
TrumpDireito de imagemREUTERS
Image captionEspecula-se sobre a vinda de Donald Trump para a posse de Bolsonaro, mas as chances ainda são remotas

Militarismo e guerras

Bolton é conhecido especialmente por sua linguagem diplomática heterodoxa: já defendeu o "fim da Coreia do Norte" e foi chamado pelo país, em resposta, de "sanguessuga", e teceu críticas à ONU.
"O prédio do Secretariado (da ONU) em Nova York tem 38 andares. Se perdesse 10, não faria diferença alguma. As Nações Unidas são uma das organizações intergovernamentais mais ineficientes em atividade (...) Não existe isso de Nações Unidas", declarou em 1994, na que seria por anos sua frase mais conhecida.
Mais tarde, em 1º de novembro do ano passado, outra frase ganhou protagonismo.
"A 'troika da tirania', esse triângulo de terror que se estende de Havana (Cuba), a Caracas (Venezuela) e a Manágua (Nicarágua), é a causa do imenso sofrimento humano, motivo de enorme instabilidade regional e a origem de um sórdido berço do comunismo no hemisfério ocidental", afirmou Bolton em discurso em Miami.
"Os Estados Unidos estão ansiosos para ver cada vértice deste triângulo cair. A troika vai desmoronar."
Os comentários mostravam a sintonia entre o emissário do governo americano e o presidente brasileiro – que disse durante a campanha que a ONU "não serve para nada" e constantemente critica os governos de esquerda dos países vizinhos latino-americanos, a quem classifica como "ditaduras corruptas e assassinas".
Bolton foi um dos principais articuladores da invasão americana no Iraque, durante o governo de George W. Bush, sob o argumento de que o então regime de Saddan Hussein mantinha um programa secreto de armas de destruição em massa.
Em 2005, porém, dois anos após o ataque, um relatório divulgado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) desmentiu a informação.
O Irã também esteve entre os alvos preferidos do então assessor de Trump, que defendeu bombardeios americanos contra o país árabe em 2008 e em 2015, enquanto o então presidente Barack Obama costurava um acordo de paz entre os dois países – desfeito neste ano por Trump.
Durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, Bolton ameaçou o governo do aiatolá Ali Khamenei sobre "sérias consequências" caso o país desafiasse os EUA - aspas descritas como as mais agressivas da diplomacia americana contra o Irã "em décadas".
A postura diplomática de Bolton fica clara em seu livro de memórias, publicado em 2007.
Em Surrender is nota an option (A redenção não é uma opção, em tradução livre), ele defende que organizações multilaterais como a ONU vão além de reger relações entre países e interferem na soberania nacional.
Ativistas de esquerda "incapazes de vencer uma luta justa dentro do sistema de governo representativo agora buscam fóruns internacionais para discutir suas posições", diz a publicação.
*Com reportagem de Ricardo Senra, da BBC News Brasil em Washington

Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Jair: os estragos da crueldade


Todo cargo possui seus rituais. Não há sociedade sem regras. Alguns obedecem, outros se tornam rebeldes. O mundo não tem sossego. Não adianta querer enquadrá-lo e esperar a invenção do paraíso. Não é à toa que aparecem os escândalos, as violências, os desmanches. Jair é uma figura merecedora de atenção. Talvez, seja portador de uma neurose crônica. Faz parte do batalhão das ofensas. Usa as palavras como facas afiadas. Fere, deixa pessoas chocadas, desconhece o limite. Há quem ria das suas agressividades. Ataca os jornalistas e solta ferocidades incríveis, se coloca como um brasileiro impoluto.
Exalta a tortura com entusiasmo. Parece o senhor das ditaduras e o administrador das psicopatias mais exóticas. Estende suas afirmativas pelas redes sociais, desfaz pactos, ilude os que o consideram messias. Compõe a regência de uma plateia de víboras rastejantes, de pastores ditos poderosos e de políticos venenosos. Ninguém sabe a dimensão das suas agonias. Suas profecias perversas ampliam espaço na imprensa e seduzem os carentes de senhores agressivos. Jair sempre atua, forma um repertório, mobiliza protestos, festeja sua própria incompetência. Confunde.
Ficam dúvidas. Será que há uma estratégia política para agradar certos grupos ou Jair é mesmo surtado ou não consegue sofisticar sua fala?Desconhece a delicadeza. Ataca damas, elogia Pinochet, desqualifica o meio ambiente. Mas é parceiro de negócios tenebrosos, protege milicianos e admira Trump. Ganha manchetes. Mantém-se em evidência. Alguns o chamam de fascista, se sentem indignados. Jair nos pune com sua obscuridade, diminuiu sua aceitação, resiste aos argumentos mais lúcidos e promete se reeleger. Portanto , não faltam ambições e companhias para seus planos. Bajular é a ordem de quem quer vitrine sem limites.
Diante de tantas perplexidades, muitos não compreendem o que se passa. É dureza. O capitalismo se reorganiza. Jair representa interesses. O estrago de suas palavras alveja inocentes e garante lugares para os cultuadores da grana. Os dissabores inquietam quem clama por ética e observa as instituições se arruinado. A tempestade anuncia ruínas, porém Jair se encontra com desculpas familiares e se situa numa trincheira bélica frequente. Não está só. Pode trazer perturbações profundas e quebrar vidros escuros.É preciso entrar nessa possível loucura e decifrar suas armadilhas. O fôlego de Jair se mostra imenso. Dispara como se jogasse num parque de diversões. Seu narcismo é singular e delirante.
Por Paulo Rezende

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Internet das Coisas: saiba como essa tecnologia pode ajudar sua vida


Internet das Coisas
Internet das CoisasFoto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil
Internet das Coisas. Embora mais conhecido entre técnicos, empresas e pesquisadores, o termo vem ganhando visibilidade na sociedade. As coisas, neste caso, são todo tipo de equipamento que pode ser conectado de distintas formas, de um caminhão para acompanhamento do deslocamento de frotas de transporte de produtos a microssensores que monitoram o estado de pacientes à distância em hospitais ou fora deles.

Na Internet das Coisas (IdC) - também tratada pela sigla em inglês IoT (Internet of Things) - novas aplicações permitem o uso coordenado e inteligente de aparelhos para controlar diversas atividades, do monitoramento com câmeras e sensores até a gestão de espaços e de processos produtivos. As regras para este ambiente tratam tanto da conexão como da coleta e processamento inteligente de dados.

O ecossistema da IdC envolve diferentes agentes e processos, como módulos inteligentes (processadores, memórias), objetos inteligentes (eletrodomésticos, carros, equipamentos de automação em fábricas), serviços de conectividade (prestação do acesso à Internet ou redes privadas que conectam esses dispositivos), habilitadores (sistemas de controle, coleta e processamento dos dados e comandos envolvendo os objetos), integradores (sistemas que combinam aplicações, processos e dispositivos) e provedores dos serviços de IdC.

Evolução
Segundo o economista do setor de tecnologias da informação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Eduardo Kaplan, a IdC poderia ser entendida como uma “convergência” de tecnologias já existentes, mas gerando o que o especialista chama de um salto qualitativo.

“A IdC traz mudanças tanto no desenvolvimento de uma conectividade mais pervasiva quanto no aumento do processamento dos dados e barateamento e refinamento dos sensores que permitem a coleta de dados em diversos ambientes e com diferentes atuadores. Tudo isso associado a alguma solução prática, algum uso que permite aumento de eficiência, redução de intervenção humana, novos produtos ou novos modelos de negócios”, explica.

O presidente da Associação Brasileira de Internet das Coisas (Abinc), Flávio Maeda, pontua que a IdC não é uma tecnologia nova, mas um novo sistema de soluções técnicas. “A gente está tratando o tema em geral como se fosse uma continuação da revolução da internet, a Internet 4.0. As coisas vão ficar conectadas e isso tem grandes implicações”, assinala.

Mais coisas conectadas

Na mesma linha, o executivo de Watson da IBM América Latina, Carlos Tunes, lembra que a conectividade em diversas atividades já ocorre há vários anos, como é o caso de processos de automação, mas a diferença da IdC seria a quantidade de dispositivos e as transformações que esse tipo de recurso pode gerar em diversas áreas.

O advento da IdC é que hoje a gente tem muito mais coisas conectadas do que tínhamos no passado. Agora temos desde um relógio, máquina de lavar. IdC acabou tendo uma pulverização deste tipo de sensoriamento e traz isso a um novo nível. Antes tinha número limitado de dados e com frequência grande. Agora tem quantidade maior de dados numa frequência quase que online, o que permite uma tomada de decisão instantânea”, comenta.

Um exemplo é o uso de sensores em tratores que medem a situação do solo e enviam dados para sistemas responsáveis por processar essas informações e fazer sugestões das melhores áreas ou momentos para o plantio. Outro é a adoção de dispositivos em casa, como termômetros, reguladores de consumo de energia ou gestores de eletrodomésticos, que permitem ao morador da residência controlar esses equipamentos à distância.

Máquina a máquina
O diretor de inovação do centro especializado em tecnologia CPQD, Paulo Curado, destaca que uma das diferenças desse novo ecossistema é a capacidade de conectar máquinas que passam a se comunicarem e, com isso, gerar uma forma mais complexa de monitoramento, coleta e análise de informações e tomada de decisões a partir destas, inclusive de maneira automatizada.

“IdC é quando você pega sua agenda e coloca compromisso. E aí eu pego meu relógio conectado, estou dentro do Waze [app de mobilidade]. Se ocorrer um acidente, o Waze vai me acionar pois preciso acordar mais cedo. Isso sem a interferência de ninguém. Quando as coisas começam a conversar, conectadas à internet, a gente fala em Internet das coisas. Isso muda bastante”, exemplifica.

“Qual é a grande diferença do conceito de Internet das Coisas? Quando tem diversas soluções envolvendo a comunicação máquina a máquina. Quando há soluções integradas numa rede única, onde publicam informações delas e consomem de outras, aí estamos falando de IdC”, acrescenta o coordenador de projetos de cidades inteligentes do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), Fred Trindade.

Mas...

Para a professora coordenadora do Medialab da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Fernanda Bruno, esse novo ecossistema traz uma ampliação da vigilância da vida das pessoas, que hoje já existente nos smartphones, mas com potencial de crescimento por meio da disseminação de sensores em todo tipo de equipamento, como veículos, eletrodomésticos, postes e edifícios.

Mas esse processo, continua a professora, não é apenas um aumento quantitativo desse monitoramento do cotidiano, mas também qualitativo, uma vez que a captura dos dados é mais sutil e silenciosa, muitas vezes sem a consciência por parte dos indivíduos de que estão sendo objeto de tal monitoramento.

“Enquanto a Internet ‘tradicional’ foi marcada pela interatividade, a IdC está incorporada aos objetos e captura os nossos dados enquanto usamos tais objetos ou frequentamos certos espaços e ambientes. Mas é preocupante pensarmos que quantidades imensas de dados extremamente relevantes e sensíveis sobre nossos hábitos e comportamentos estão sendo coletados de forma contínua sem que seja necessária a nossa percepção e consciência deliberada disso”, observa Fernanda Bruno.
Com Folha de Pernambuco

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Negócios:como uso de agrotóxicos sem orientação e proteção põe agricultores brasileiros em risco



Pesquisas recentes sobre a saúde dos agricultores familiares brasileiros têm chamado a atenção para a prevalência de problemas respiratórios, hormonais, reprodutivos e de alguns tipos de câncer possivelmente associados à exposição aos agrotóxicos.
Apesar de o Brasil ser um dos maiores consumidores mundiais de agrotóxicos, os esforços para medir o impacto desses produtos na saúde dos trabalhadores rurais ainda são incipientes. Em comum, esses novos estudos evidenciam que a falta de orientação e assistência técnica a pequenos agricultores resulta na falta de cuidados adequados para evitar intoxicações.
A discussão sobre a segurança dos agrotóxicos está em alta desde que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou, no final de agosto, a aprovação de um novo marco regulatório para agrotóxicos.
Para o pesquisador da Faculdade de Saúde Pública da USP Rafael Junqueira Buralli, autor de um estudo sobre a condição respiratória de agricultores familiares expostos a agrotóxicos em uma pequena cidade do Rio de Janeiro, o despreparo é evidente: apenas 22,9% dos trabalhadores rurais avaliados no estudo afirmaram ter recebido treinamento ou apoio técnico para o manejo desses produtos.
Entre os parentes dos trabalhadores, que com frequência auxiliam nas atividades de cultivo e também se expõem aos agrotóxicos, nenhum passou por treinamento.

Impacto na saúde respiratória

A pesquisa de Buralli, publicada em 2018 pelo International Journal of Environmental Research and Public Health, avaliou 82 indivíduos da zona rural de São José de Ubá-RJ por meio de questionários, análise de amostras de sangue e espirometria, um exame que mede a capacidade pulmonar.
Os exames revelaram diminuições dos padrões respiratórios nos trabalhadores rurais em comparação a indivíduos não expostos a agrotóxicos. E quanto maior a exposição, medida pela presença de biomarcadores no sangue, pior foi a condição respiratória observada no participante.
Sintomas como tosse, alergia nasal e dificuldade para respirar foram mais prevalentes durante o período da safra do que na entressafra, o que sugere um efeito agudo durante o período de maior exposição, diz o pesquisador.
Segundo Buralli, 90% dos participantes também afirmaram sentir com frequência ao menos um sintoma agudo de exposição aos pesticidas, entre os quais os mais comuns foram irritações nas mucosas, dor de cabeça, taquicardia e palpitação, tontura, dor de estômago e câimbras. Além disso, 70% dos entrevistados relataram apresentar ao menos um sintoma crônico, como alterações no sono, irritabilidade e dificuldade de concentração e raciocínio.

Em busca de alterações genéticas

Para ilustrar o grau de desconhecimento da população rural de Casimiro de Abreu, no Rio de Janeiro, o enfermeiro Gilberto Santos de Aguiar, do Programa do Saúde do Trabalhador da Coordenação de Vigilância em Saúde da cidade, conta que ele já viu moradores armazenando água para beber em frascos de agrotóxico.
Plantação de café em Minas GeraisDireito de imagemREUTERS
Image captionEnfermeiro diz que maior parte dos agricultores que entrevistou usam agrotóxicos sem prescrição agronômica
Aguiar faz parte de um projeto que busca investigar a associação dos agrotóxicos com doenças comuns entre os agricultores. A iniciativa surgiu a partir de um caso de câncer de pulmão em um trabalhador rural da cidade em que o médico identificou a exposição aos agrotóxicos como causa do tumor. "Evidenciamos que muitas vezes o adoecimento de um trabalhador rural não é um adoecimento natural, mas por exposição ao agrotóxico", diz.
O grupo aplicou um questionário sobre uso de agrotóxicos e presença de sintomas em 41 propriedades rurais da região. O resultado foi encaminhado ao serviço de câncer ocupacional do Instituto Nacional de Câncer (Inca), que se interessou pelo projeto e hoje conduz um projeto de investigação de alterações genéticas por exposição a agrotóxicos na região.
Para Aguiar, a desinformação é o principal fator de risco para os pequenos agricultores da região. "A maioria dos agricultores utiliza agrotóxicos sem prescrição agronômica. A compra é orientada pelo funcionário do balcão da loja que vende agrotóxico, ou às vezes é feita na porta da propriedade por um carro que leva o kit de veneno", afirma. Ele diz que não há nenhuma assistência técnica para orientar sobre o modo de uso e nenhuma fiscalização.
Um levantamento do perfil epidemiológico dos trabalhadores rurais de Casimiro de Abreu, publicado pela Revista Brasileira de Enfermagem no início do ano, constatou que 51,8% da população entrevistada afirma nunca usar equipamentos de proteção individual recomendados durante o manejo de agrotóxicos, como botas, luvas e máscaras respiratórias.

Problemas endócrinos e reprodutivos

Em sua pesquisa, que avaliou o impacto dos agrotóxicos na função da tireoide em trabalhadores rurais da soja da cidade de Sertão, no Rio Grande do Sul, a farmacêutica Tanandra Bernieri também constatou o esse tipo de descuido: nenhum dos 46 agricultores entrevistados afirmou utilizar equipamentos de proteção individual corretamente. Do total, 34,8% afirmou usar luvas apenas na hora de fazer a mistura dos agrotóxicos. "Muitos não sabiam que o agrotóxico pode ser absorvido pela boca quando comem algo com as mãos sujas do produto", conta Bernieri. "A fonte de informação deles são os vendedores ou pessoas da família e amigos."
A biomédica Camila Piccoli, mestre pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, também pesquisou os efeitos dos agrotóxicos na tireoide de agricultores do Rio Grande do Sul, da cidade de Farroupilha. Ela e sua equipe constataram que a exposição aos agrotóxicos pode estar relacionada a um quadro de aumento do hormônio TSH e diminuição do hormônio T4, principalmente nos homens avaliados, resultando em sintomas análogos ao hipotireoidismo.
Ela também participou de um estudo, coordenado por seu colega Cleber Cremonese, que selecionou jovens de 18 a 23 anos da mesma região e, por meio do exame de espermograma, constatou a diminuição da mobilidade e morfologia do esperma dos jovens rurais em comparação aos jovens urbanos, além de alterações nos hormônios reprodutivos.
"Não se pode afirmar que as alterações estejam relacionadas somente ao uso de agrotóxicos", afirma Piccoli. Mas os dados sugerem que os agrotóxicos podem estar relacionados ao fenômeno, principalmente por se tratar de uma população jovem, sem outros fatores de risco.

Novo marco regulatório

O novo marco regulatório anunciado pela Anvisa traz mudanças na classificação toxicológica dos agrotóxicos e inclui mudanças na rotulagem dos produtos. Segundo a agência, as alterações podem facilitar a identificação de perigos à vida e à saúde humana.
Ao mesmo tempo, alguns produtos podem ser reclassificados para um grau de toxicidade menor, já que o novo critério leva em conta apenas estudos de mortalidade, desconsiderando outros sintomas comuns que não levam à morte. Para alguns dos pesquisadores que atuam na área, ainda não está claro se a nova classificação impactará a segurança dos agricultores.
Homens lavando bananas após colheitaDireito de imagemDAVID BEBBER
Image captionLevantamento feito por professora da UFBA constatou que houve 1.309 mortes por intoxicação ocupacional provocada por agrotóxicos em trabalhadores rurais entre 2000 e 2009
Buralli observa que, como o nível de escolaridade dos agricultores é baixo, com muitos casos de analfabetismo, eles dificilmente leem o rótulo e as instruções da embalagem dos agrotóxicos. "Hoje a instrução parte mais dos técnicos nas lojas agropecuárias. Por isso, o ensino continuado providenciado pelas agências é muito mais importante do que o que está na bula", afirma.
Para Vilma Santana, professora titular do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a mudança é preocupante, já que usa como critério somente a morte por intoxicação aguda, quando os casos mais comuns são os de intoxicação crônica.
"Se já temos uma situação de desproteção por conta do baixo nível de importância que se dá ao comportamento preventivo, do baixo nível de escolaridade do agricultor, e do uso indiscriminado de agrotóxico, se o nível de controle é reduzido, eu acredito que as consequências podem ser desastrosas."
Santana é autora de um levantamento que constatou que houve 1.309 mortes por intoxicação ocupacional provocada por agrotóxicos em trabalhadores rurais entre 2000 e 2009, levando a uma mortalidade de 0,39 por 100 mil no ano de 2009.
"A mortalidade é pequena, mas no mundo desenvolvido, como na Inglaterra, um país que tem agricultura forte, nem se estima a mortalidade porque o número de casos de intoxicação aguda por agrotóxico é praticamente nulo", afirma.

Para ela, o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer quanto ao estimulo a práticas preventivas, medidas educativas da população rural e fiscalização para chegar ao nível de segurança de países mais desenvolvidos.
BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 8 de setembro de 2019

Arte:Heliópolis se torna referência nacional em efervescência cultural


A populosa comunidade da Zona Sul de São Paulo revela uma vocação artística que fura o bloqueio da indústria cultural

Era um terreno que virou gleba, que abriu espaço para a prefeitura criar alojamentos provisórios para moradores de outras favelas, que acabou por atrair levas de retirantes, que se tornou moradia para mais de 100 mil habitantes, que cresceu tanto que hoje é um bairro de nome grandioso: Cidade Nova Heliópolis. Localizado na Zona Sul de São Paulo, Heliópolis não virou tema de novela da Rede Globo, como aconteceu com a sua irmã Paraisópolis, em 2015, mas conseguiu um feito maior. Ela é uma das comunidades de maior efervescência cultural do País, referência para tantas outras periferias e ponta de lança para ousados projetos artísticos.
Em que outro lugar se pode imaginar a presença de uma emissora de rádio e uma biblioteca comunitária com mais de 12 mil livros (ambas iniciativas da Organização Não Governamental Unas, criada em 1978), uma orquestra sinfônica (do Instituto Baccarelli, criado em 1996 pelo maestro Silvio Baccarelli após um incêndio na favela e hoje espaço para a educação musical de mil crianças e jovens), uma companhia de teatro e, mais recentemente, um projeto com 41 painéis grafitados e uma Editora Gráfica para dar voz a escritores periféricos? Heliópolis tem tudo isso.

FOTO: DAVID KENNEDY
Há três semanas, foi exibido no bairro o documentário “Uma Virada de Cores”, que retrata como foi o projeto de grafitar 41 painéis nos muros das casas dos moradores, envolvendo mais de 500 jovens em oficinas realizadas por 17 artistas brasileiros e os colombianos Johan Andres (cujo codinome é Kano Delix), Johan Alberto (Sony) e Robert Sled (Fuan Nexio). O projeto é uma iniciativa da Associação de Intercâmbio Sociocultural e Empresarial Brasil-Colômbia em parceria com a produtora carioca Burburinho Cultural. O objetivo era reproduzir no Brasil uma iniciativa exitosa que ocorreu na Comuna 13, em Medellín. Esse distrito ficou famoso mundialmente porque a arte falou mais alto que a disputa entre paramilitares e guerrilheiros. A partir de ações de “acupuntura urbana”, como remodelar parques e praças, restaurar quadras esportivas, inaugurar bibliotecas e criar um sistema decente de transporte, no caso um teleférico, os moradores decidiram fazer a sua parte. Cederam as paredes de suas casas para que grafiteiros contassem a história da comuna. Jovens passaram a ter orgulho do lugar em que viviam.
“Desde o início, Heliópolis nos pareceu um terreno fértil para implementar esse projeto”, relata Thiago Ramires, da Burburinho Cultural. Por já ter um histórico de ações culturais e socioeducativas, Ramires sabia que o hoje bairro abraçaria esse projeto. A dificuldade seria manter os jovens envolvidos em uma vivência de cinco dias. “Foi desafiador trazer esse aluno para se concentrar em uma oficina de grafite, de desenho, sem computador, games ou redes sociais, mas só com régua, papel, tesoura, tinta e spray. Havia uma vontade e um prazer desses jovens em se comunicarem por meio de expressões menos tecnológicas.”

FOTO: VINI SOARES
A dinâmica do projeto foi sempre negociar com a comunidade. Eles davam ideias e o arte-educador com sua turma definiam o layout, pintavam e geravam uma imagem. Alguns moradores torceram o nariz; alguns, por razões religiosas, discordavam do desenho produzido nos muros de suas casas. Houve situações em que foi necessário repintar. “Isso tem a ver com a natureza do grafite, que é um pouco marginal, de intervir em um lugar e pintar sem necessariamente ser o que todo mundo quer ver”, diz Ramires.
Para o grafiteiro Eduardo Credo, 34 anos, que produz arte desde 2000, é necessário pintar “em todos os lugares”, mas foi instigante participar do projeto no “Helipa”. Nascido em Cidade Tiradentes, na periferia, e hoje morando em Santa Cecília, na região central, Credo percebeu que o grafite poderia colorir também vidas. “Todos os jovens fizeram trabalhos melhores do que o esperado, mas tinha uma menina que me surpreendeu. Era a mais calada e tímida, teve problemas de depressão, mas ela ‘desembaça’ muito bem e, quando fomos pro muro, se destacou muito, pintando com facilidade.”

Outro documentário, Vela na Billings por Navegando nas Artes, em exibição no Cine-BrasilTV (por streaming e nas tevês a cabo), revela como jovens do bairro do Grajaú, no extremo sul paulistano, estão sendo incluídos por meio da prática esportiva e da grafitagem que fazem em barcos a vela na Represa Billings. A diretora Caru Alves de Souza assina sete produções da série Causando na Rua, com direção-geral da cineasta Tata Amaral. A segunda temporada revela como a cultura brota em comunidades e entre jovens periféricos do País, seja nas batalhas de mestres de cerimônia no bairro recifense da Água Fria (Batalhas de MCs), nas colagens-protesto de lambe-lambe do coletivo feminista Deixa Ela em Paz (Mulheres na Rua), seja no retrato do Exorcity (Humildade sem Falsidade), um tradicional grupo de pichadores de São Paulo, e dos rappers Xemalami (Xadrez sem Muros), que mostram como os jovens pobres precisam lutar contra as formas de opressão.

CENA DO DOCUMENTÁRIO VELA NA BILLINGS POR NAVEGANDO NAS ARTES | FOTO: CADU SILVA
Produções como estas só revelam que há mais arte circulando no Brasil do que aparece na imprensa. A indústria cultural não dá muitas brechas para locais como Água Fria, Grajaú, Itaim Paulista ou Heliópolis. Mas a lição que se aprende no contato com esses moradores é que outra história já está acontecendo.
“Meus Jabutis são eles ali”, apontava PC Marciano para um grupo de seis escritores estreantes em Heliópolis. Em 29 de junho, Marcela Trava, Moniara Barbosa, Guto Souza, Hitátila Quele Silva de Souza, Shirlei Moura e Júlia Bueno lançavam seus livros pela Editora Gráfica Heliópolis. Em comum, todos são autores LGBTs, que vendiam e autografavam suas obras numa escola CEU do bairro. “Não quero concorrer com ninguém, nem quero ganhar o Prêmio Jabuti. Criamos uma editora para fazer um movimento literário em Heliópolis”, diz o autor da iniciativa.

PC MARCIANO ERGUEU PELO PRÓPRIO ESFORÇO A EDITORA GRÁFICA HELIÓPOLIS. | FOTO: DIVULGAÇÃO
PC Marciano já foi office-boy, metalúrgico, mecânico, gerenciador de riscos, ator, cineasta e agitador cultural. Em 2009, aventurou-se a escrever Melissa, um romance sobre uma escritora que passa por maus bocados até ser reconhecida. Tirou algumas cópias do livro e foi distribuindo de editora em editora. Foram cinco anos de “nãos”. Descobriu que não só ele, mas outros moradores de Heliópolis também tiveram originais recusados. Até que em 2017 um livreiro o encontrou e disse que iria publicá-lo. Na mesma época, soube da história de um jovem que vendeu o carro para publicar um livro, mas a mulher o abandonou e a sonhada primeira obra tinha virado sinônimo de infelicidade. PC (de Paulo César) Marciano decidiu que, em vez de publicar sozinho, iria se unir aos demais autores.

Criando leitores e escritores

Em 2017, ele arriscou se inscrever no edital do programa Rumos, do Itaú Cultural. Foi contemplado com 100 mil reais, dinheiro que garantiu a publicação das primeiras obras, a compra da impressora e dos computadores, da máquina de corte e dos demais equipamentos para acabamento de um livro. O objetivo inicial era chegar até dezembro do ano passado com quatro títulos lançados. Hoje tem mais de 20 obras, que abordam temáticas das mais variadas. “Escritor não é só Clarice Lispector ou Mario Quintana. Quero criar um público que seja leitor e escritor, de pessoas que se vejam e se reconheçam nas histórias.”
Cada título sai por 3,80 a 10 reais na Editora Gráfica Heliópolis, e a tiragem mínima é de 50 livros. A cada dez vendidos já se paga a impressão. O acabamento e o design interno e de capa são criados em parceria com os próprios autores.
A transexual Júlia Bueno, de 30 anos, escreve poesia desde os 7. Psicóloga com especialização pelo campus Leste da Universidade de São Paulo, ela publicou Amor & Revolta, de versos doloridos como sentimentos traiçoeiros/ que me dão esperança/ e em segundos se tornam pesadelos/ pesadelos horríveis que me atormentam por agora/ pelo que ainda nem chegou. “A poesia é para dar um nome e um sentido para essa revolta que estava em mim e que não fosse por outra violência”, explica. Ela afirma que nunca sofreu tantas violências como nos últimos tempos, inclusive discriminatórias no ambiente de trabalho e até sexuais. Afirma ter se prostituído por três meses, para poder sobreviver. “A literatura é um lugar que podia escrever e não ser julgada.”
Com Carta Capital
Professor Edgar Bom Jardim - PE

PT de Bom Jardim tem novo presidente


O Partido dos Trabalhadores (PT) realizou neste domingo 08 de setembro 2019,  eleições para escolha de seus dirigentes nacionais, estaduais  e municipais. O PT realizou o PED em mais de 4 mil municípios brasileiros.

Maciel Santos, Chapa Municipal  Consolidando,  foi  eleito presidente do Diretório Municipal do Bom Jardim- PE, com 66 votos dos 69 filiados votantes na eleição. Branco: 03 votos. 

A Chapa Nacional  280 - Lula Livre para Mudar o Brasil,  obteve 52 votos.  A Chapa Nacional  220 - Em tempos de Guerra a Esperança é Vermelha: 09 votos, Nulo:05 votos. Branco:01 voto. As demais chapas obtiveram 02 votos.

Chapa Estadual 480 - Unidade na Luta Lula Livre, obteve 50 votos, A Chapa Força Militante Lula Livre, obteve 11 votos.  As demais chapas obtiveram 03 votos. Branco:03 votos.  Nulo: 02 votos.

Vital Cordeiro, ex-presidente  da sigla municipal, afirma que o partido sai fortalecido nestas eleições em todo país.  A jovem  filiada Rafaela da Silva, agricultora, ativista de movimentos sociais, espera que o partido possa ser mais atuante, e desejou: "Espero que em 2020 possamos ter garantido representação política na câmara municipal".

Maciel Santos, o novo presidente eleito votou em João Lira para prefeito nas eleições 2016. Dificilmente será aliado do atual prefeito na próxima eleição municipal. O partido terá uma chapa de candidatos para vereador.

Professor Edgar Bom Jardim - PE