terça-feira, 3 de abril de 2018

11 ex-chefes de Estado enfrentam investigações e processos por corrupção

Algemas sobre um mapaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPara o professor Michael Johnston, que há décadas estuda corrupção, apenas mandar para a cadeia ex-chefes de Estado não resolve o problema da corrupção
A Operação Lava Jato, que condenou Luiz Inácio Lula da Silva a 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, também já transformou outros ex-presidentes brasileiros e o atual presidente Michel Temer em alvos da investigação.
Lula, contudo, é o primeiro ex-presidente do Brasil ser condenado por corrupção pela Justiça - Fernando Collor, apesar de ter sofrido impeachment em 1992, foi absolvido pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2014. E, a depender da decisão do STF que julga nesta quarta-feira o pedido do petista de não ser preso até que se esgotem todos os recursos judiciais a que tem direito, Lula pode também entrar para a história como primeiro ex-chefe de Estado do Brasil a ir para trás das grades por corrupção.
Mas a lista de líderes e ex-líderes mundiais investigados, processados e até condenados por suspeita de corrupção não se limita ao Brasil. Pelo menos outros 11 países contabilizam políticos que, nos últimos anos, perderam o cargo, foram convocados a prestar depoimento, estão se defendendo em cortes criminais ou estão até mesmo presos por acusações de terem se aproveitado do cargo público para benefício pessoal.
São políticos da Europa, América Latina, África e Ásia que passaram a ser alvos de mecanismos de controle e de instituições anticorrupção em seus respectivos países.
O professor da Academia Internacional Anticorrupção na Áustria e da Colgate University nos EUA Michael Johnston observa, contudo, que os mecanismos de controle de diferentes países têm sido mais eficientes em revelar esquemas envolvendo "peixes grandes" do que exatamente em conter a corrupção. Assim como o Brasil, países como Peru, Guatemala e Coreia do Sul, por exemplo, têm mais de um ex-mandatário enfrentando denúncias e processos.
Questionados se casos como, por exemplo, o de Lula, do francês Nicolas Sarcozy, do peruano Pedro Pablo Kuczynski, do sul-africano Jacob Zuma ou da sul-coreana Park Geun-hye têm algo em comum, Johnston prefere a cautela e evita comparações.
Luiz Inácio Lula da Silva em 17 de março de 2016Direito de imagemJOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL
Image captionLula negas a acusações de lavagem de dinheiro e corrupção passiva e tenta recorrer em liberdade até o fim do processo
"Tem muita coisa acontecendo em diferentes níveis", observa. Ele diz que, apesar de haver uma maior percepção e monitoramento, em especial por meio das redes sociais e de iniciativas como Wikileaks, em relação à conduta individual de alguns líderes, isso não necessariamente tem levado a esforços mais robustos para conter a corrupção considerada sistêmica.
O especialista alerta que corrupção, pela dificuldade de ser mensurada, é uma questão de percepção e, muitas vezes, se transforma em um problema que engloba ou que é veículo para outras insatisfações crescentes como desigualdades, estagnação ou deterioração econômica.
"Por isso, é difícil dizer o quanto as pessoas, grupos de oposição, etc. estão reagindo à corrupção em si, o quanto reflete outras questões passageiras sobre as quais as pessoas têm sentimentos intensos e quanto reflete tensões e divisões mais profundas na sociedade. No caso do Brasil, estou tentado a dizer que são 'todas as opções acima'", avalia Johnston.

'Fritar um peixe grande'

Para o professor, mandar para a cadeia ex-chefes de Estado não resolve o problema da corrupção. "Eu não acho que 'fritar um peixe grande' seja o tipo de abordagem anticorrupção promissora que alguns dizem ser. Eu diria que é importante que o peixe grande claramente envolvido na corrupção seja punido, e não seja permitido que se perpetue a impunidade, mas os efeitos disso (dessa punição) para conter funcionários de nível inferior e seus clientes são realmente limitados", observa.
Para ele, uma fórmula eficiente de se enfrentar o problema vai além de investigar e punir o corrupto. "É importante olhar para outros fatores também, como a opinião pública, a força da sociedade civil, a qualidade do jornalismo, a qualidade da competição (política e empresarial) e qualidade dos líderes. Tudo isso contribui para a efetividade ou para a falta de 'accountability' (responsabilidade)", diz Johnston.
A BBC Brasil listou as principais suspeitas que pesam contra alguns ex-chefes de Estado investigados ou que enfrentam julgamentos por suspeita de corrupção em 11 países.

África do Sul

Jacob ZumaDireito de imagemAFP
Image captionJacob Zuma chegou a se livrar de mais de 700 acusações em 2009, mas, depois de renunciar ao cargo, voltou a responder processos por suspeita de fraude e corrupção
Há não muito tempo, o ex-presidente sul-africano Jacob Zuma, que renunciou ao cargo em fevereiro deste ano, parecia intocável. Em 2009, o Supremo Tribunal da África do Sul chegou a derrubar 783 acusações de corrupção contra ele, o que o permitiu concorrer à Presidência naquele ano.
Além das acusações passadas, Zuma passou, ao longo do mandato, a colecionar novas suspeitas de corrupção, em especial por supostamente favorecer empresários com concessões públicas milionárias.
No final do ano passado, Zuma sofreu um revés. A mais alta corte sul-africana decidiu revisar as centenas de acusações que pesavam contra o então presidente. Pressionado pela população e pelo próprio partido, ele renunciou ao cargo em fevereiro de 2018 e, no mês seguinte, a procuradoria anunciou que iria reabrir processo no qual ele é suspeito de corrupção e fraude por ter participado de um acordo de compra de armas com fornecedores europeus no fim da década de 1990.
Ele é suspeito de ter cobrado propinas em um contrato de armamento de US$ 5,16 bilhões, assinado em 1999 pela África do Sul com várias empresas estrangeiras, quando ele ocupava o cargo de vice-presidente. Zuma nega as acusações e diz não ter cometido nenhuma irregularidade.

Argentina

Cristina Kirchner em 2015Direito de imagemREUTERS
Image captionAlvo de processos e investigações, Cristina Kirchner se diz vítima de perseguição judicial ordenada pelo presidente Mauricio Macri
A ex-presidente Cristina Kirchner, que governou o país entre 2007 e 2015 e foi eleita senadora no final do ano passado, enfrenta diferentes ações judiciais por suspeita corrupção.
Além de responder a quatro processos que tramitam em três tribunais diferentes, ela ainda é alvo de investigações de supostas irregularidades nos negócios imobiliários da família e de suspeita de lavagem de dinheiro e fraudes em contratações no período em que era presidente.
Nesta terça-feira (3), o jornal argentino La Nacion revelou mais uma acusação contra a ex-presidente. Segundo o periódico, procuradores investigam Kirchner por ter contratado o próprio hotel em nove oportunidades entre 2009 e 2015 para garantir o descanso da tripulação das Aerolineas Argentinas, que é controlada pelo governo.
No mês passado, a Justiça argentina anunciou que Kirchner irá a julgamento por dois casos distintos. Ela é acusada de acobertar criminosos iranianos envolvidos no atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), que deixou 85 mortos em 1994, e também de direcionar 52 contratos de uma obra pública para favorecer um empresário.
Em dezembro passado, o juiz argentino Claudio Bonadio pediu a prisão da ex-presidente e o fim da imunidade pelo caso dos iranianos - Kirchner foi acusada de "trair a pátria" por ter assinado em 2012, quando era presidente, um acordo com o Irã para que os iranianos acusados pelo atentado fossem interrogados em Teerã ou em um terceiro país.
Mas, para que o pedido do juiz seja cumprido, um processo de perda do foro privilegiado contra Kirchner precisa ser aberto no Congresso argentino e aprovado por dois terços dos congressistas.
Kirchner nega todas as acusações e se diz vítima de perseguição judicial ordenada pelo presidente Mauricio Macri.

Coreia do Sul

Park Geun-hyeDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionDestituída do cargo em 2016, Park Geun-hye está detida há um ano; a procuradoria sul-coreana pede pena de 30 anos de prisão
A ex-presidente da Coreia do Sul Park Geun-hye, que governou o país de 2013 a 2016, está presa há um ano. Ela foi destituída do cargo em dezembro de 2016, sob acusações de corrupção, suborno, abuso de poder e vazamento de segredos de Estado durante o período que ocupou o cargo.
A procuradoria sul-coreana pediu 30 anos de prisão para a ex-presidente e o pagamento de uma multa equivalente a US$ 127,1 milhões. A ex-presidente é suspeita de desviar milhões de dólares de fundos secretos procedentes dos serviços de inteligência do país e usar o dinheiro com botox, roupas de grifes e compra de presentes para amigos.
No centro do escândalo está a amizade entre ela e Choi Soon-sil, filha do fundador da seita Igreja da Vida Eterna. Park é acusada de permitir que Choi tivesse acesso a documentos oficiais e que usasse as ligações com a presidente para pressionar empresas como Samsung, LG e Hyundai a fazer doações milionárias a fundações controladas por ela.
Park, que nega as acusações, não é a primeira ex-chefe de Estado da Coreia do Sul a ser detida por corrupção.
Nos anos 1990, Chun Doo-Hwan e Roh Tae-Woo cumpriram pena de prisão por acusações similares. Em 2009, o ex-presidente Roh Moo-Hyun cometeu suicídio depois que ele e a família passaram a ser investigados por corrupção. E, no mês passado, outro presidente sul-coreano foi intimado a prestar esclarecimentos à Justiça. Lee Myung-bak, que comandou o país entre 2008 e 2013, também é suspeito de recebimento de propina, apropriação indébita e evasão fiscal.

El Salvador

Elías Antonio Saca, o "Tony Saca", que presidiu El Salvador entre 2004 e 2009, está sendo julgado por enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro. Uma nova audiência para analisar o caso do ex-presidente salvadorenho está marcado para este mês.
Saca foi detido em 2016 e acusado pela procuradoria, junto com seis colaboradores, de ter desviado US$ 246 milhões de fundos públicos para contas privadas.
Antes de Saca, Francisco Flores, presidente de 1999 a 2004, também foi processado por peculato, lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito. Flores morreu em 2016, quando enfrentava na Justiça uma acusação pelo desvio de US$ 15 milhões doados por Taiwan para combater a pobreza em El Salvador.
Os dois ex-presidentes sempre negaram as acusações.

França

Além de estar sendo investigado por receber financiamento ilegal de campanha, o ex-presidente da França Nicolas Sarkozy, que governou o país de 2007 a 2012, vai à julgamento por suspeita de tentar corromper um juiz.
O francês foi detido em 20 de março para ser interrogado sobre a suspeita de ter recebido 50 milhões de euros da Líbia, quando o país era comandando por Muammar Gaddafi, para financiar a campanha que o levou à Presidência da França. Sarkozy foi liberado logo depois de ter prestado depoimento.
Dias depois, foi anunciado que ele vai ser julgado por tentar usar a própria influência oferecendo, em 2014, um cargo a um juiz para obter informações de uma investigação na qual era suspeito de ter aceito pagamentos ilegais da herdeira da L'Oreal, Liliane Bettencourt, para financiar sua campanha eleitoral de 2007 - Sarkozy acabou absolvido das acusações relacionadas a Bettencourt.
Sarkozy nega as acusações que pesam contra ele e diz não haver provas de que a campanha dele contou com financiamento da Líbia.

Guatemala

Alvaro Colom chega na Corte em 23/02/2018Direito de imagemREUTERS
Image captionAlvaro Colom, que presidiu a Guatemala entre 2008 e 2012, foi detido em fevereiro
Em 2015, o guatemalteco Otto Perez Molina apresentou a renúncia ao Congresso e, horas depois, teve a prisão ordenada. A Justiça avaliava que o ex-mandatário poderia fugir em meio à investigação que apurava uma rede de corrupção chamada de "La Línea", na qual empresários pagavam propina para importar sem pagar impostos.
O escândalo também forçou a saída da vice de Molina, Roxana Baldetti, que foi presa em 2015 acusada de enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro. Sobre Baldetti pesa ainda a suspeita de ter participação de um esquema de tráfico de cocaína para os EUA e, por isso, procuradores americanos pedem a extradição da ex-vice-presidente.
Tanto Baldetti quanto Molina, que estão presos, rechaçam as acusações. No ano passado, a Justiça da Guatemala decidiu que os dois iriam ser julgados por supostamente liderar o esquema de corrupção.
O antecessor de Molina, Alvaro Colom, que presidiu a Guatemala de 2008 a 2012, também é acusado de corrupção. Colom e nove ex-auxiliares, entre eles o ex-ministro de finanças, foram detidos em fevereiro deste ano acusados de terem fraudado a concessão de 25 rotas de ônibus públicos na Cidade da Guatemala.

Israel

Benjamin NetanyahuDireito de imagemREUTERS
Image captionPrimeiro-ministro de Israel enfrenta pelo menos quatro acusações de corrupção
Em Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu enfrenta pelo menos quatro acusações de corrupção. O cerco tem se fechado contra o premiê em especial depois que consultor político Ari Harow, seu ex-chefe de gabinete, firmou um acordo de delação premiada com a promessa de detalhar a participação do líder israelense em esquemas que envolvem contratos suspeitos, troca de favores e presentes de empresários e ficaram conhecidos como casos "1.000", "2.000", "3.000" e "4.000".
No fim de março, a polícia de Israel interrogou Netanyahu, a mulher e seu filho sobre a ligação dele com a maior companhia de telecomunicações do país. Essa foi a segunda vez que o primeiro-ministro israelense foi interrogado como parte de uma investigação - em janeiro do ano passado, ele já havia sido ouvido pela polícia por suspeita de ter recebido presente de empresários.
Em fevereiro, a polícia já havia prendido duas autoridades do governo israelense próximas a Netanyahu, além do sócio majoritário e diretor-executivo da maior empresa de telecomunicações do país. As prisões aconteceram poucos dias depois de a polícia recomendar que o próprio Netanyahu seja indiciado por recebimento de propina e fraude em outros casos.
No Facebook, Netanyahu negou as acusações e descreveu as investigações como uma "caça às bruxas".
Netanyahu chegou ao poder em 2009, substituindo um primeiro-ministro também implicado em um escândalo de corrupção Ehud Olmert.
Olmert foi afastado do cargo em 2008 e, em 2014, foi condenado a 27 meses de prisão por corrupção e por obstrução de Justiça - ele aceitou suborno de promotores para desenvolver um projeto imobiliário.
Em junho de 2017, o ex-premiê deixou a prisão em liberdade condicional, depois de cumprir um ano e quatro meses da sentença.

Itália

Silvio Berlusconi em 04/03/2018Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionCondenado por fraude fiscal, Silvio Berlusconi está inelegível até 2019
De escândalos sexuais a escândalos de corrupção, o ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi enfrentou mais de duas dezenas de julgamentos em aproximadamente 25 anos. Em 2013, foi condenado em última instância por fraude fiscal. Além de ter sido sentenciado a um ano de serviços sociais, a decisão o deixou inelegível até 2019.
O ex-líder italiano, contudo, é alvo de outras investigações e tem mais condenações no currículo, das quais recorre. Recentemente, ele se tornou réu por corrupção de testemunhas por, supostamente, subornar frequentadores de suas festas na tentativa de escapar de uma condenação por manter relações com prostitutas menores de idade.
Berlusconi, contudo, entrou com um pedido de "reabilitação" no Tribunal de Vigilância de Milão. Caso o pedido dele seja aceito, ele poderia estar livre para uma eventual candidatura.
A Itália está diante de um impasse político porque nas eleições de março nenhum partido conseguiu maioria suficiente no Parlamento para formar um governo e há a possibilidade de que uma nova eleição seja convocada. Mesmo sem mandato, o ex-premiê tem atuado como líder de uma aliança nacionalista de centro-direita.

Panamá

Acusado de corrupção e espionagem ilegal, o ex-presidente do Panamá Ricardo Martinelli, no cargo entre 2008 e 2014, foi detido em junho do ano passado na Flórida. Ele havia saído do Panamá no mesmo dia em que uma investigação foi aberta contra ele. Martinelli chegou em Miami em 2015 e, desde então, vive nos EUA.
Martinelli é suspeito de ter se beneficiado do esquema da construtora Odebrecht, que admitiu ter pago propina a diferentes políticos da América Latina em troca de contratos.
Ele é acusado ainda de usar recursos públicos para espionar adversários políticos quando estava no cargo de presidente. O Panamá pede a extradição do ex-presidente.

Peru

Pedro Pablo KuczynskiDireito de imagemREUTERS
Image captionKuczynski renunciou à Presidência do Peru no mês passado
Acusado de receber quantias milionárias da Odebrecht por consultorias, o peruano Pedro Pablo Kuczynski, no poder entre 2016 e 2018, renunciou ao cargo de presidente menos de dois anos depois de eleito. Em dezembro, PPK tentou escapar do impeachment concedendo indulto ao ex-presidente peruano Alberto Fujimori, condenado em 2009 a 25 anos de prisão por cometer crimes de direitos humanos e por corrupção em sua gestão, que se estendeu de 1990 a 2000.
Além de PPK e Fujimori, o Peru tem outros três ex-mandatários respondendo a processos por corrupção. Alejandro Toledo (2001-2006) é considerado foragido da Justiça peruana, que pediu sua extradição aos Estados Unidos. Toledo é suspeito de receber suborno milionário da empresa Odebrecht.
Alan García, que presidiu o Peru duas vezes (1985-1990 e 2006-2011) está sendo investigado na Justiça por acusações de lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito. Ollanta Humala, presidente entre 2011 e 2016 também é suspeito de ter sido favorecido no esquema de pagamentos de propina da Odebrecht e foi emitida contra ele uma ordem de prisão preventiva de 18 meses.
Todos negam as acusações.

Sérvia e Montenegro

Svetozar Marovic, que presidiu a extinta Sérvia e Montenegro até a separação dos dois países, é um dos poucos líderes que admitiu a participação em esquema de corrupção. Em 2016, ele, que havia sido preso em dezembro do ano anterior, se declarou culpado de ter favorecido empresas da construção civil com contratos públicos.
Marovic, contudo, não escapou de uma condenação. Ele recebeu uma pena de três anos e dez meses de prisão acusado de liderar o esquema. Ele foi a primeira vítima de uma promotoria especial contra corrupção criada em 2015 em Montenegro.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Avião que matou Eduardo Campos pode ter sido preparado para cair, o que caracteriza sabotagem e homicídio culposo ou doloso



Em nova petição protocolada na manhã desta segunda-feira (2), o advogado Antonio Campos apresenta novas suspeitas acerca do acidente que vitimou o ex-governador Eduardo Campos (PSB) e equipe, durante voo em Santos (SP), no dia 13 de agosto de 2014. O advogado, que é irmão do socialista, afirma no documento que o "Speed Sensor" - ou sensor de velocidade da aeronave - "à toda evidência foi desligado, intencional ou não intencionalmente, sendo essa última hipótese de não intencional 2 improvável, o que caracteriza que o avião foi preparado para cair, o que caracteriza sabotagem e homicídio culposo ou doloso". Para ele, o fato é grave e relevante na investigação da causa do acidente, podendo mudar o rumo da investigação.

Na petição, Antonio Campos cita o que chama de fato secundário: o gravador de voz do avião que foi desligado. "O CRV da aeronave deixou de ser energizado e, assim, parou de gravar dados de voz. A última gravação de voz colhida no acidente, que consta no inquérito, pelo menos, foi de 23 de janeiro de 2013". "Se o gravador passou a ter problemas após a sua ida a oficina, também é possível que outros problemas também tenham passado a existir", argumenta.

Além disso, para embasar sua denúncia, Antonio Campos cita um incidente com o avião durante a Labace - evento do setor da aviação - ainda no final de 2012. Na ocasião, um poste caiu sobre a aeronave, que precisou ser levada para manutenção. Segundo o advogado, ao remontar a cauda da mesma, a equipe de manutenção "deixou para trás um problema" - que seria uma falha no sistema de gravação de conversas nas cabines e transmissões radiofônicas. 

No relatório da Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) apresentado na petição, o órgão afirma que "não foi possível determinar o motivo pelo qual, a partir de 23 de janeiro de 2013 o CVR da aeronave deixou de ser energizado e, assim, parou de gravar dados de voz".

Ainda de acordo com o advogado, "há indícios que deixou também outro mais grave e relevante problema: a religação do sensor de velocidade, ou Speed Sensor. Sem o Speed Sensor o avião não poderia jamais voar a 200 knots com Flaps ainda por recolher ou em recolhimento. Acontecendo o acima descrito, a 'armadilha' pegou de surpresa os pilotos no momento em que reiniciavam subida após aproximação perdida, sobrevoo da pista e curva à esquerda para retornar ao ponto de início de um novo procedimento de aproximação. Naquele momento, o avião estava leve e com dois ótimos e potentes motores os quais, num instante, aceleraram e ultrapassaram fácil os 200 nós de velocidade *com os Flaps ainda por serem recolhidos".

Para ele, isso tudo pegou, de surpresa, o comandante que, junto com o copiloto, agarraram-se aos manches, na tentativa de recuperar o avião do mergulho. "Voando baixo como estavam, apanhados de surpresa com a PR-AFA mergulhando, sequer tiveram tempo de reduzir imediatamente os dois potentes motores. O acidente tornou-se inevitável. Na hipótese de um acidente encomendado, essa armadilha é algo inteiramente possível para o caso".

Questionado se o fato de o sensor de velocidade desligado não havia aparecido antes nas investigações, Antonio Campos disse que "tinha suspeita" sobre o fato, mas que "agora ficou mais claro". As informações chegaram até ele por meio de relato de peritos que estudam e acompanham o caso para o irmão do ex-governador. 

Matéria publicada pela Folha de Pernambuco no dia 5 de fevereiro de 2018 mostrou que, três anos e seis meses após o trágico acidente aéreo que vitimou o ex-governador e sua equipe o caso permanecia em suspenso. Isso porque nenhuma solução foi encontrada, o que tem levado familiares a pressionarem o desfecho das investigações. E questionava: a tragédia seria decorrência de falha humana, falha do equipamento, sabotagem ou problema com o controle do solo?  

"Precisamos de esclarecimentos seguros e mais céleres, pois já se aproxima 4 anos do falecimento de Eduardo Campos, a quem tenho o compromisso de lutar até o fim em descobrir as reais causa do acidente que o vitimou", disse.
Com informações de Folha de PE.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Fabrica de leite da Nestlé em Pernambuco


Devido ao alto consumo na região, a Nestlé vai montar a sua primeira linha de produção direta em Pernambuco, na cidade de Garanhuns. A unidade, que receberá um investimento de R$ 5 milhões, irá envasar leite Ninho em pó, na versão sachê. O produto será distribuído prioritariamente para o Norte/Nordeste do país, considerados o segundo maior público consumidor de Ninho do Brasil. A unidade de Pernambuco será a terceira da companhia no Nordeste. As duas primeiras estão instaladas na Bahia, nas cidades de Feira de Santana e Itabúna.

A nova linha de produção será instalada em área de propriedade da DPA (Dairy Partners Americas) – joint venture entre a Nestlé e a neozelandesa Fonterra, maior exportadora de produtos lácteos do mundo –, onde já se fabrica, desde 2010, iogurtes e bebidas lácteas fermentadas das marcas Ninho, Nestlé Ideal, Neston, Chamyto e Nestlé. No caso da nova planta, a capacidade instalada será de 10 mil toneladas por ano, devendo atingir os 100% em quatro anos a contar da sua inauguração, prevista para o quarto trimestre de 2018 ou primeiro trimestre de 2019. A Nestlé adianta que ainda não tem o número de vagas que serão geradas na fábrica de Pernambuco.
Novos investimentos

A unidade foi anunciada na 101ª reunião do Conselho Estadual de Políticas Industrial, Comercial e de Serviços (Condic), que ocorreu na manhã desta segunda-feira (02), que aprovou R$ 99,5 milhões em investimentos de indústrias para Pernambuco, que vão gerar 510 empregos. Entre os destaques, além da Nestlé, outras duas multinacionais confirmaram investimento no estado. A Unilever irá aplicar R$ 3 milhões na planta local, gerando 63 novos empregos e a Bosh irá instalar em seu Centro de Distribuição uma linha de produção para montagem final de furadeiras, serras de mármores e esmerilhadeiras. O CD fica localizado no Cabo de Santo Agostinho.

Ao todo, nesta reunião do Condic, foram aprovados 28 projetos, sendo 21 de indústrias (oito no interior), cinco de importadoras e duas de centrais de distribuição. O Governo do estado conseguiu atrair investimentos em indústrias na ordem de R$ 99,5 milhões, sendo R$ 64,5 milhões destinados à Região Metropolitana do Recife (RMR) e R$ 35,02 milhões para o interior. Além disso, foram aprovados dois projetos para ampliaçãocentros de distribuição: um para a Carta Goiás Indústria e Comércio de Papéis Ltda., em Glória do Goitá, e para Mary Kay do Brasil, no Cabo de Santo Agostinho. Com informações de
Diário de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Cuba produz vacina contra o câncer

Todos nós sabemos que o câncer hoje infelizmente é um dos negócios mais rentáveis.
Muitas empresas, como laboratórios farmacêuticos, faturam bilhões com essa doença.
Mas nós acreditamos na ciência do bem.
Existem sim pesquisadores que dedicam a vida para encontrar a cura de doenças consideradas incuráveis.
Um exemplo disso é o grupo de médicos e microbiologistas cubanos, que, com um orçamento muito limitado, conseguiu desenvolver a primeira vacina mundial contra o câncer de pulmão - a CIMAvax EGF.
Essa vacina já foi usada em mais de 4 mil pessoas que sofrem com a doença.
O resultado é incrível!


Ela é capaz de prolongar e melhorar o tempo de vida dos pacientes, mesmo quando o câncer já está bem avançado.
Foram necessários 16 anos de pesquisa para se chegar à fórmula da vacina.
O melhor é que ela não causa efeitos colaterais graves.
O mais interessante é que um país pobre e subdesenvolvido como Cuba conseguiu alcançar uma expressiva vitória contra a maior doença dos tempos modernos, mas os gigantes farmacêuticos, com toda a sua força econômica, não chegaram nem perto de algo parecido.
A vacina funciona atacando uma proteína chamada "fator de crescimento epidérmico", ou EGF, que permite que células cancerígenas do pulmão cresçam.


A CIMAvax estimula o sistema imunológico a criar anticorpos que se ligam ao EGF, impedindo que esta proteína alimente as células cancerosas.
A vantagem é que ela poupa a pessoa de se submeter às altas doses de quimioterapia, garantindo mais tempo de vida e com mais qualidade.
Com a administração dessa vacina, o paciente sofre menos falta de ar e, às vezes, esse sintoma até desaparece definitivamente.
Da mesma forma, ocorre com a dor.
Além disso, a pessoa volta a ganhar peso, melhora o apetite e passa a ter mais energia no dia a dia.
A vacina já está chegando em outros países, como na Bósnia, Herzegovina, Colômbia, Paraguai e Peru.

Há grande esperança entre os cientistas cubanos de conseguirem tratar outros tumores, como o de próstata, útero e mama.
Os cubanos recebem o tratamento gratuitamente,
Quem não mora em Cuba pode se informar sobre a vacina entrando em contato com:
- Serviços Médicos Cubano. Web Page: www.smcsalud.cu
e-mail: smc@smcsalud.cu – Telefones: (537) 8333095; fax: (537) 8333055
- Hospital Clínico ´Hnos. Ameijeiras: San Lázaro # 701, centro, Habana, Ciudad de La Habana, Cuba. CP 10300. Telefono (537) 876 1000 e-mail Dr. Alfredo Herrera – mision@hha.sld.cu
- Centro Internacional de Salud La Pradera: Calle 230 entre 15ª y 17, Siboney, Ciudad de La Habana, Cuba, Telefones: (537) 2737476 ai 80. E-mail: aloja@pradera.cha.tur.cu y comercia@pradera.cha.tur.cu
Este é um blog de notícias sobre tratamentos caseiros. Ele não substitui um especialista. Consulte sempre seu médico.

Fonte:www.curapelanatureza.com.b

Professor Edgar Bom Jardim - PE

BBC: o que é verdade e o que é invenção em 'O Mecanismo', a série da Netflix sobre a Lava Jato

Personagens João Pedro Rangel (esq.) e Roberto Ibrahim (dir.)Direito de imagemPEDRO SAAD / NETFLIX - REPRODUÇÃO
Image captionO personagem João Pedro Rangel (esq.) representa o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa
Atenção: a reportagem contém "spoilers" (revelações sobre a trama).
A série Narcos, que foi ao ar em 2015, constrói seu enredo misturando elementos de verdade com outros de ficção. Os "mocinhos" de Narcos - dois agentes do Dea, o departamento de narcóticos dos EUA - existem na vida real e deram consultoria aos produtores da série. Agora, o cineasta brasileiro José Padilha - que participou de Narcos - repetiu o mesmo método em sua nova série na Netflix, O Mecanismo, uma ficção baseada em fatos reais da operação Lava Jato.
Em Narcos, a mistura de ficção com realidade não gerou protestos do público brasileiro. Mas com O Mecanismo foi diferente: simpatizantes do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT protestaram nas redes sociais pelo fato da série ter atribuído ao personagem João Higino, que representa o petista, uma frase que na vida real foi dita pelo senador Romero Jucá (MDB-RR). A frase é famosa: Jucá fala em "estancar a sangria" das investigações de corrupção da operação Lava Jato.
O Mecanismo é descrita por seus criadores como uma "obra de ficção inspirada livremente em eventos reais". "Personagens, situações e outros elementos foram adaptados para efeito dramático", diz uma tela que é repetida ao começo de cada episódio.
A personagem Verena CardoniDireito de imagemPEDRO SAAD / NETFLIX - DIVULGAÇÃO
Image captionA delegada Verena da série foi inspirada em Erika Marena, hoje lotada em Sergipe
Entidades e empresas que existem no mundo real tiveram seus nomes trocados na série. O PT (Partido dos Trabalhadores), passa a chamar-se "PO" (Partido Operário); a Petrobras vira "Petrobrasil"; e a empreiteira Galvão Engenharia passa a chamar-se "Bueno Engenharia".
O mesmo acontece com os personagens. Em vários casos, os nomes foram pensados para ter semelhança com o de pessoas reais. Assim, a personagem que representa a ex-presidente Dilma Rousseff foi batizada de "Janete Ruscov"; Michel Temer vira "Samuel Thames", e a delegada Erika Marena é representada por "Verena Cardoni". O mesmo é verdade para os doleiros Alberto Youssef ("Roberto Ibrahim"), Carlos Habib Chater ("Chebab"), e Nelma Kodama ("Wilma Kitano").
Já o ex-ministro da Justiça e advogado Márcio Thomaz Bastos (1935-2014) aparece na série como "Mário Garcez Brito", ou "O Mago": o personagem é uma espécie de super-lobista e advogado defensor de empreiteiras encrencadas com a Justiça.
Na vida real a coisa é mais complexa: Thomaz Bastos realmente trabalhou para empreiteiras da Lava Jato no fim da vida, mas foi também o principal responsável pela reestruturação e aumento da capacidade da Polícia Federal ("Polícia Federativa", na série) durante sua passagem pelo Ministério da Justiça (2003-2007).
Agentes da Polícia Federal na sede da Odebrecht em SPDireito de imagemAGÊNCIA BRASIL
Image captionMarcelo Odebrecht, herdeiro da empreiteira da família, deixou a cadeia no fim de 2017
Em uma entrevista por escrito ao site Observatório do Cinema, publicada no último domingo, José Padilha disse que a polêmica em torno da frase sobre "estancar a sangria" é "boboca". "(...) A repetição do uso de uma expressão idiomática comum, como 'estancar a sangria', não guarda qualquer significado. (O ex-senador) Delcídio (do Amaral) usou a expressão 'acordo'. Se Higino falar 'acordo' ele é o Delcídio? O fato de o Jucá ter usado a expressão 'estancar a sangria' não a interdita", disse ele.
A reportagem procurou José Padilha por meio de sua assessoria, mas não houve resposta até o fechamento.
O que é verdade e o que é invenção na série de José Padilha? A reportagem da BBC Brasil explica como aconteceram na vida real alguns dos episódios retratados na produção da Netflix.

1. Lula falou sobre "estancar a sangria"? Falso

Na série dirigida por José Padilha, a frase é dita pelo personagem José Higino (que representa o ex-presidente Lula) ao "Mago", inspirado em Márcio Thomaz Bastos. O diálogo fictício ocorre em 2014, antes das eleições presidenciais. Mas a cena é fantasiosa.
Cena de O MecanismoDireito de imagemKARIMA SHEHATA / NETFLIX - DIVULGAÇÃO
Image captionA primeira temporada da trama da Netflix foca no papel da Polícia Federal
Na vida real a frase foi dita pelo senador Romero Jucá (MDB-RR), ao ex-presidente da Transpetro e delator da Lava Jato, Sérgio Machado. A conversa foi gravada por Machado e entregue às autoridades como parte de seu acordo de delação. O período também é outro: o diálogo real ocorreu em março de 2015, já com Dilma Rousseff (PT) reeleita, e com alguns dos principais empreiteiros do país na cadeia.
Sérgio Machado diz a Jucá que o senador precisa encontrar algum jeito de evitar que seu caso "desça" para Curitiba, sob o juiz federal Sérgio Moro. Jucá: "(A solução) tem que ser política, advogado não encontra (...). Se é político, como é a política? Tem que resolver essa p****... Tem que mudar o governo para poder estancar essa sangria", diz ele, no áudio verdadeiro, captado antes do processo de impeachment que apeou Dilma da cadeira.

2. A prisão de Youssef em 2014 aconteceu daquele jeito mesmo? Verdadeiro, mas…

Na série, o doleiro Roberto Ibrahim aproveita-se de um descuido do agente "China" (que representa o policial federal aposentado Newton Ishii, o "Japonês da Federal") para pegar um jatinho no aeroporto de Congonhas (SP) e se mandar para Brasília.
O comando da PF no Paraná chega a interromper a operação, mas de repente a sorte dos protagonistas muda: Ibrahim (Youssef) reaparece no radar dos policiais, já na capital federal. O agente liga no hotel, e Ibrahim atende. Ele retorna a ligação e descobre que a chamada veio da PF - e deduz que seria preso.
O personagem "China"Direito de imagemKARIMA SHEHATA / NETFLIX - DIVULGAÇÃO
Image captionO agente "China" foi inspirado em Newton Ishii: na vida real, o "japonês da Federal" conduziu vários políticos detidos
Desconfiando da prisão iminente, o doleiro sobe até outro quarto do hotel e entrega uma mala de dinheiro a um comparsa que viajava com ele. "Vou ser preso amanhã. Faz o pagamento aí", diz, com calma.
A cena é real - inclusive a ligação para a PF e a mala de dinheiro. A diferença é que Ishii não deixou Youssef escapar e o doleiro tampouco estava em Brasília no momento da prisão.
Quando foi detido, Youssef estava no quarto nº 704 do Hotel Luzeiros, um dos mais requintados de São Luís (MA), com vista para o mar. Segundo o Ministério Público, a mala continha R$ 1,4 milhão em propina, vinda da empreiteira UTC, e que seria paga a um secretário do governo maranhense, na gestão de Roseana Sarney (MDB). A prisão ocorreu em 17 de março de 2014. A ex-governadora nega irregularidades.

3. O posto de gasolina de Yousseff realmente existe? Verdadeiro

Na série, o local é chamado de "Posto da Antena". Na vida real, o estabelecimento funciona até hoje - trata-se do Posto da Torre, localizado no Setor Hoteleiro Sul, ao lado da Torre de TV, um dos cartões-postais de Brasília. O empreendimento foi alvo da primeira fase da Lava Jato.
Vista do Posto da Torre em Brasília em 2014Direito de imagemGOOGLE STREET VIEW / REPRODUÇÃO
Image captionO Posto da Torre em Brasília, em 2014: casa de câmbio e lanchonete de kebab
Além de 16 bombas de combustíveis, o Posto da Torre abrigava uma lanchonete especializada em kebab e uma casa de câmbio - além de um lava-jato. O estabelecimento era comandado por Carlos Habib Chater, sócio de Youssef. Na série, Chater é representado pelo personagem "Chebab". Na vida real, o posto também serviu para de inspiração para a delegada Erika Marena ("Verena Cardoni") cunhar o nome "Lava Jato" para a operação.

4. Youssef circulava pelo comitê de campanha de Dilma Rousseff? Falso

Logo no começo da série, o personagem Roberto Ibrahim (que representa o doleiro Alberto Youssef) aparece em uma cena dentro do comitê de campanha do "Partido Operário" - na vida real, o comitê de Dilma Rousseff (PT). "Você quer quanto? R$ 500 (mil) resolve, para esta semana?", pergunta o personagem a uma integrante do staff fictício. "R$ 600 (mil), meu amor. Para agora", responde ela.
Na vida real, esta cena jamais poderia ter acontecido: durante a campanha eleitoral de 2014, Alberto Youssef estava preso em Curitiba, no Paraná (ele foi detido na 1ª fase da Lava Jato, em 17 de março de 2014, e ficou na cadeia até 17 de novembro de 2016).
O doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa em uma CPI no CongressoDireito de imagemAGÊNCIA BRASIL
Image captionAlberto Youssef (esq.) e Paulo Roberto Costa (dir.) realmente foram os primeiros delatores da Lava Jato
Entretanto, para o Ministério Público, há provas de que a campanha presidencial de Dilma Rousseff e Michel Temer em 2014 usou dinheiro proveniente do esquema de corrupção da Lava Jato. Em junho de 2017, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) julgou a questão - o relator do caso, ministro Herman Benjamin, concordou com a avaliação do Ministério Público, mas foi derrotado em plenário: por quatro votos a três, os ministros do TSE rejeitaram a cassação da chapa Dilma-Temer. PT e MDB negam ter usado dinheiro do crime para financiar a campanha.

5. O policial Marco Rufo existiu realmente e fuçou extratos no lixo? Não foi bem assim...

Assim como outras figuras da série, o policial Marco Rufo é baseado em uma pessoa real - neste caso, um ex-delegado da PF, hoje aposentado, chamado Gerson Machado. Assim como Rufo, Machado é de Londrina (PR). Esta é também a cidade natal de Alberto Youssef (na série, Roberto Ibrahim).
Assim como Rufo - o da ficção - Machado investigou Youssef, e disse ter sido acusado de "perseguição" pelo doleiro. Na vida real, Machado abriu um inquérito sobre o caso em 2008, anos antes da Lava Jato começar. Ao jornal O Estado de S. Paulo, Machado disse em 2016 que foi afastado das investigações e depois "foi aposentado" precocemente, aos 49 anos de idade, em 2013. O afastamento o deixou deprimido.
Selton Melo como o personagem Marco RufoDireito de imagemKARIMA SHEHATA / NETFLIX - DIVULGAÇÃO
Image captionSelton Melo interpreta Marco Rufo, personagem baseado em depoimentos de um policial aposentado
Na série, porém, Marco Rufo conhece Ibrahim desde a infância; está na cola do doleiro desde o caso Banestado (na década de 1990), e sofre de transtorno bipolar. Além disso, vasculha o lixo do doleiro para tentar coletar provas e comete outros atos ilegais ao longo da série (como destruir a marretadas uma motocicleta de luxo dos investigados).
Na vida real, os investigadores da Lava Jato usam uma série de softwares de análise de dados, inclusive para fazer o cruzamento de informações financeiras obtidas com ordem judicial junto ao sistema financeiro nacional. Nunca coletaram nada no lixo dos investigados, até onde se sabe.

6. Youssef realmente foi preso e fez delação uma década antes da Lava Jato? Verdadeiro, mas…

Em 1969, o Banco Central do Brasil editou uma norma, a Carta Circular nº 5, com o objetivo de facilitar a vida de brasileiros vivendo no exterior. A norma criou um tipo de conta bancária - batizada de CC5 em referência à Circular do BC - que permitia depositar dinheiro em moeda estrangeira no Brasil e sacá-lo no exterior.
Entre 1996 e 2003, um grupo de doleiros utilizou as contas CC5 do Banco do Estado do Paraná, o antigo Banestado, para enviar cerca de US$ 30 bilhões para fora do país. Um deles era Alberto Youssef. Ele admitiu mais tarde que efetivamente pagou propina, em nome de empresas, aos dirigentes do Banestado, para facilitar empréstimos a essas empresas. O nome do banco batizou o escândalo.
O juiz Sérgio MoroDireito de imagemPEDRO OLIVEIRA - ASSEMBLEIA LEG. DO PARANÁ
Image captionO juiz Sérgio Moro realmente tinha o costume de ir para o trabalho de bicicleta, como mostrado na série
Youssef fechou seu primeiro acordo de delação premiada em 2004 - o acordo foi homologado pelo juiz Sérgio Moro. Em 2014, na segunda prisão do doleiro, o mesmo juiz invalidou o acordo de 2004.
A história é contada de forma resumida pela série de José Padilha - inclusive com uma menção às contas CC5. Mas há pelo menos dois pontos que merecem reparos. Ao ser preso, Youssef diz que não vai ficar muito tempo preso, já que o seu advogado "é o ministro da Justiça". Naquela época, o ministro era Márcio Thomaz Bastos ("O Mago", na série). Bastos nunca defendeu Youssef. Além disso, a série deixa de mencionar o fato de o esquema ter começado a funcionar em 1996, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Professor Edgar Bom Jardim - PE