*Atualizada às 17h de 10 de fevereiro
À primeira vista, parece mais uma entre as milhares de fotos que refletem o desamparo dos sobreviventes dos terremotos que atingiram a Turquia e a Síria na segunda-feira (06/02).
Um homem vestido com um chamativo casaco laranja está com o olhar perdido. Ele está agachado nas ruínas de um prédio, entre os restos do que até pouco antes eram lares cheios de vida, agora reduzidos a escombros.
Sua mão direita está dentro do bolso do casaco, protegida das temperaturas abaixo de zero registradas nos últimos dias — e impiedosas para aqueles que perderam tudo
Segundo o fotógrafo da agência de notícias AFP que capturou a imagem, trata-se de Mesut Hancer, que "segura a mão da filha Irmak, de 15 anos, morta no terremoto em Kahramanmaras", na Turquia.
Irmak jaz inerte na mesma cama em que dormia, presa entre dois blocos de concreto e ferro retorcido.
Desolado, incapaz de articular uma palavra sequer, Mesut Hancer se recusa a soltar a mão da filha.
A BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, tentou, sem sucesso, entrar em contato com o fotógrafo que fez essas imagens para confirmar a história.
O fato é que estas fotos refletem como poucas a desolação que assola os sobreviventes de catástrofes.
Famílias se aglomeram aos pés dos edifícios desmoronados na esperança de que seus entes queridos ainda estejam vivos ou pelo menos seus corpos sejam recuperados.
Mortes passam de 23.000 na Turquia e Síria
Até agora, mais de 23 mil pessoas morreram na Turquia e na Síria em decorrência dos terremotos mais devastadores das últimas décadas.
A autoridade de gerenciamento de desastres e emergências da Turquia informa que o número de mortos no país agora é de 19.875
Na Síria, pelo menos 3.377 pessoas morreram.
Dois tremores atingiram a região com um intervalo de 12 horas na segunda-feira (6/2).
O Serviço Geológico dos EUA informou que o primeiro tremor — de magnitude 7,8 — ocorreu às 4h17 do horário local (22h17 de domingo, pelo horário de Brasília) a uma profundidade de 17,9 km, perto da cidade de Gaziantep.
Sismólogos acreditam que foi um dos maiores já registrados na Turquia. E, de acordo com relatos de sobreviventes, levou dois minutos até parar.
O segundo terremoto — de magnitude 7,5 — foi desencadeado pelo primeiro, e seu epicentro foi no distrito de Elbistan, na província de Kahramanmaras.
Muitos tremores secundários foram sentidos em toda a região.
Centenas de edifícios desabaram nos dois países, e equipes de resgate trabalham para salvar pessoas presas sob os escombros.
O tremor também foi sentido no Líbano e em Chipre.
A Turquia fica em uma das zonas de terremotos mais ativas do mundo.
Em 1999, mais de 17 mil pessoas morreram depois que um forte sismo atingiu o noroeste do país.
Mas os terremotos deste fevereiro de 2023 são o maior desastre do país desde 1939, segundo o presidente da Turquia, Recep Erdogan.
Críticas à resposta do governo turco
Na Turquia, muitos estão criticando a resposta lenta de serviços de emergência ao incidente. O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, reconheceu que o governo encontrou problemas, mas disse que a situação agora está “sob controle”.
O líder do principal partido de oposição da Turquia, Kemal Kilicdaroglu, disse que "se há uma pessoa responsável por isso, é Erdogan".
Erdogan rejeitou a acusação e disse que é preciso haver unidade após o desastre. "Em um período como este, não posso tolerar pessoas conduzindo campanhas negativas por interesse político", disse o presidente.
Milhares de sobreviventes passaram a terceira noite após o desastre em condições de frio intenso.
"Temos muitas pessoas que sobreviveram e agora estão ao relento, em condições horríveis e cada vez piores", disse o gerente de resposta a terremotos da OMS, Robert Holden.
“Corremos o perigo real de ver um desastre secundário que pode causar danos a mais pessoas do que o desastre inicial se não nos movermos com o mesmo ritmo e intensidade que estamos fazendo na busca e resgate.”
Em Gaziantep, epicentro do primeiro terremoto na Turquia, a temperatura chegou a -1°C.
Nas regiões montanhosas, a mímima foi de -5°C.
A previsão de tempo para os próximos dias no sul da Turquia e no norte da Síria é de mais frio.
Cidade destruída
A cidade de Kahramanmaras, no sudeste da Turquia, com uma população de mais de um milhão de habitantes, é uma das mais atingidas.
Ela fica no meio do caminho entre os epicentros dos dois fortes terremotos que sacudiram a região na segunda-feira — o primeiro de magnitude 7,8, e o segundo de 7,5.
Imagens aéreas da cidade mostram como centenas de prédios residenciais desabaram com a força dos tremores.
A tragédia deixou milhares de pessoas desalojadas e incapazes de encontrar abrigo, uma vez que muitas temem que os prédios que permanecem de pé estejam danificados e possam desabar.
O frio intenso que atinge a região nesta época do ano, com temperaturas abaixo de zero, reduz as chances de continuar a encontrar sobreviventes presos sob os escombros, já que muitos correm o risco de morrer por hipotermia.
Caixões feitos de guarda-roupas
Em Osmaniye, outra cidade do sul da Turquia, os corpos continuam chegando ao cemitério principal.
Segundo informações, 400 pessoas foram enterradas no local na quarta-feira
Ao lado de contêineres refrigerados brancos que servem como necrotérios móveis, uma pilha de caixões recém-construídos aguarda. Alguns são feitos de pinho, outros de MDF, outros feitos de guarda-roupas antigos — qualquer que seja o material disponível. A maioria está sendo usada mais de uma vez.
Voluntários de todas as partes da Turquia chegam à cidade, a cerca de duas horas de carro do epicentro do terremoto, para fazer o que puderem para ajudar.
- Redação
- BBC News Mundo
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