sábado, 15 de janeiro de 2022

Como realmente é o clitóris - e suas semelhanças com o pênis



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Em áudio: Como realmente é o clitóris - e suas semelhanças com o pênis

Enquanto as informações sobre a genitália masculina são abundantes, o clitóris entrou e saiu da literatura médica ao longo da história.

A anatomia completa do clitóris (o nome deriva da palavra grega kleitoris, que significa "pequeno monte") só foi descrita pela primeira vez em 2005 pela urologista australiana Helen O'Connell, que também analisou sua relação com estruturas adjacentes como a uretra, a vagina e glândulas vestibulares (responsáveis pela lubrificação).

Na ausência de material de estudo adequado sobre o clitóris, O'Donnell começou a investigá-lo minuciosamente: dissecando cadáveres, usando ressonância magnética em mulheres vivas e estudando tecidos.

Seu estudo mostra que o que é visível é apenas uma parte minúscula do clitóris: cerca de 90% da estrutura deste órgão feminino está dentro do corpo.

Orquídea

CRÉDITO,GETTY IMAGES

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Os órgãos sexuais femininos muitas vezes são representados por metáforas, e não por ilustrações anatômicas

Estrutura

"A pequena ponta que vemos, que é o que sempre se acreditou ser o clitóris, é na verdade a ponta de um iceberg", explica à BBC Mundo a psicóloga e sexóloga basca Laura Morán.


"A parte que fica para fora é a glande do clitóris (localizada entre os pequenos lábios, 'escondida' sob um capuz) e o resto é um órgão interno", acrescenta.

Fora do campo visual, o clitóris se estende sob a pele. Seu tronco tem forma cilíndrica composta por duas colunas de tecido erétil - chamadas de corpos cavernosos - que se estendem, unidas, em direção à cavidade púbica.

Em sua extremidade estão as raízes, também conhecidas como crus clitóris - feixes de tecido erétil que correm ao longo dos ossos pubianos e envolvem a uretra e a vagina.

Ao lado de cada uma das raízes está outra região de tecido erétil conhecida como bulbos do clitóris, que ficam atrás das paredes vaginais.

"A parede vaginal é, na verdade, o clitóris", disse O'Connell à BBC em 2006.

Gráfico

Semelhanças e diferenças



Devido às semelhanças entre eles, a comparação do clitóris com o pênis é muito útil para entender sua forma.

Os dois são chamados órgãos homólogos: têm a mesma origem embrionária e são semelhantes na sua estrutura interna, embora possam ter funções diferentes.

De uma ponta à outra, o órgão feminino tem um tamanho médio de cerca de 10 centímetros e, como o pênis, o tecido que o compõe é esponjoso e erétil. Ou seja, quando a mulher se excita, ele incha e cresce com o fluxo de sangue.

"Alguns se referem ao clitóris como um pênis interno, mas outros dirão que o pênis é apenas um clitóris externo. É assim que gosto de explicar para mim mesma", diz Laurie Mintz, psicóloga e terapeuta sexual.

Outra coisa que os diferencia é que o pênis tem uma dupla função: faz parte do processo de reprodução sexual e do aparelho urinário.

O clitóris, por outro lado, tem apenas um: é um órgão cuja função é proporcionar prazer.

O clitóris tem cerca de 8 mil terminações nervosas. Já o órgão masculino tem entre 4 mil e 6 mil.

Ambos são a área do corpo mais densamente povoada por terminações nervosas, explica Mintz.

"Imagine todos os nervos da ponta do pênis, mas em uma superfície do tamanho de uma borracha de lápis", diz ela sobre o órgão feminino.

Ilustração de um feto

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Ambos os órgãos têm a mesma origem embrionária

Mesma origem

A razão de o clitóris e o pênis terem tantas semelhanças é que eles são formados a partir dos mesmos tecidos embrionários durante o desenvolvimento do feto no útero da mãe.

Eles só começam a ficar diferentes a partir da sexta ou sétima semana, quando os embriões começam a expressar seus cromossomos sexuais.

A partir daí, a liberação de testosterona em embriões com cromossomos sexuais XY levará à formação de órgãos sexuais masculinos, enquanto a falta desse hormônio sexual em embriões XX levará à formação de órgãos sexuais femininos.

Em um caso, eles crescerão para fora e, no outro, para dentro.

Em casos onde a composição dos cromossomos sexuais difere desse binômio (não é nem XY e nem XX), o desenvolvimento dos órgãos sexuais pode ser atípico.

Desconhecimento

A ignorância sobre a anatomia e a função do clitóris - que tanto Laura Morán quanto Laurie Mintz atribuem em parte ao machismo, patriarcado e à desvalorização do prazer sexual feminino - tem um impacto direto na prática médica, mas também afeta profundamente a vida sexual das mulheres.

"Priva as mulheres do prazer", afirma Morán. "É como se te dessem um carro e você não tivesse aprendido a dirigir."

"Essa ignorância causa frustração, claro, porque nos dão o carro e dizem que temos de usá-lo. Mas as únicas referências que nos dão são filmes pornô ou filmes românticos, e ali não se vê estimulação do clitóris", diz a psicóloga e sexóloga.

"Sempre há penetração, e a penetração por si só não é a técnica que melhor estimula o clitóris. Não é um facilitador do orgasmo."

Além disso, comenta Morán, "muitas mulheres que descobriram por meio da autoexploração que a estimulação do clitóris lhes proporciona prazer e orgasmos, acham que esses têm qualidade inferior".

"Algumas mulheres dizem que sim, que têm orgasmos, 'mas só' se estimularem o clitóris com a mão, como se isso fosse um defeito de fábrica."

"Não apenas não sabem que o clitóris está ali, como também não sabem que esse é o órgão mais fácil para chegar a um orgasmo", assegura Morán.

Golfinhos

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Todos os mamíferos têm fêmeas com clitóris

O poder das palavras

Mintz concorda que essa lacuna no prazer está ligada à falta de conhecimento das mulheres sobre sua própria anatomia e dos homens sobre a anatomia feminina.

"Infelizmente, muitas mulheres ainda hoje nem sabem o potencial da parte do clitóris que podem ver e tocar", explica.

Mas a sexóloga também considera que "a linguagem que usamos em nossa cultura reflete e perpetua" essa situação.

"Chamamos tudo o que acontece antes da penetração na relação sexual de "preliminares", como se fossem algo secundário de um evento principal", afirma Mintz. "Sendo que é essa estimulação que em geral têm maior probabilidade de levar a maioria das mulheres ao orgasmo."

Mudar esse cenário exige educação sexual, diz a autora.

É necessário "ensinar as pessoas sobre prazer sexual e consentimento", afirma, citando a Holanda. "Graças à educação sexual, o país tem menos agressões sexuais e uma menor diferença da quantidade e qualidade dos orgasmos femininos e masculinos".

  • Laura Plitt
  • BBC News Mundo

Professor Edgar Bom Jardim - PE

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