Com uma taxa de desemprego de 5,7% em novembro - o melhor resultado desde 2002 - e um crescimento previsto de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega ao fim de seu mandato com uma coleção de indicadores econômicos positivos – mas também deixa alguns desafios a sua sucessora, dentre eles inflação em alta e a perda de competitividade do produto nacional.
Economistas apontam o mercado de trabalho como uma das principais faces da expansão econômica da Era Lula. Além do recorde no emprego, a renda do trabalhador vem crescendo a uma média de 5% ao ano, já descontada a inflação.
“O movimento se intensificou a partir de 2005, com queda do desemprego, aumento do emprego formal e maior poder de compra”, diz Cimar Azeredo, gerente da pesquisa mensal de emprego do IBGE.
Segundo ele, o nível de desemprego caiu 45% nos últimos oito anos e as oportunidades são cada vez mais dominadas por pessoas de maior escolaridade, um efeito “positivo” e que demonstra a “qualificação” do mercado.
A participação dos trabalhadores com mais de 11 anos de estudo saiu de 16% do total em 2001 para 46% em 2009.
“Estamos vivendo um mercado vigoroso, sem picos”, diz Azeredo.
Crescimento econômico
Por trás da expansão do emprego e da renda está um crescimento econômico que, apesar de alguns percalços, está acima da média do país, considerando a inflação sob controle.
Nos oito anos da Era Lula, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu a uma média anual de 4%, enquanto nos oito anos anteriores essa expansão foi de 2,3%.
Os economistas fazem ressalvas na comparação, com o argumento de que o Brasil de Lula não apenas encontrou um mercado internacional mais “favorável”, como também se beneficiou das reformas implementadas durante o governo Fernando Henrique Cardoso.
Ainda assim, os ganhos são considerados “expressivos”. “Tivemos o restabelecimento da expansão econômica com geração de empregos, algo que não vimos na década de 1990”, diz Cláudio Dedecca, economista da Unicamp.
Os resultados dos últimos oito anos foram também turbinados por uma forte política de transferência de rendas, tanto por meio do Bolsa Família como também do aumento do salário mínimo acima da inflação.
Como conseqüência, a classe média – formada por famílias com ganhos de R$ 1.064 a R$ 4.591 – cresceu 44% em oito anos, tornando-se um dos principais símbolos da economia na Era Lula e a classe majoritária no país, representando mais de 50% da população.
Em oito anos, o consumo entre os integrantes da classe C cresceu 6,8 vezes e quase se igualou às despesas das classes A e B somadas, segundo o IBGE.
Desafios
O mesmo crescimento que marcou os anos Lula e fez disparar o consumo no país também deixa alguns desafios à nova presidente.
Se por um lado coube a Lula tirar a economia do marasmo e dar poder de compra a milhões de brasileiros, Dilma Rousseff terá a tarefa de “aperfeiçoar” esse processo, segundo economistas.
Dentre as prioridades estará a inflação, que voltou a assustar nos últimos meses e deve fechar o ano em 5,9%, pelas estimativas de mercado. Para 2011, a previsão é de 5,3%, o que coloca os dois valores acima do centro da meta estipulada pelo governo.
“Após os estímulos ao consumo no pós-crise, que foram acertados, espera-se agora que o objetivo da política econômica retorne para seu curso natural, que é a austeridade fiscal baseada na redução efetiva de despesas administrativas”, diz o economista-chefe da agência de risco Austin Rating, Alex Agostini.
Competitividade
Outro desafio para a futura presidente será o de estimular a competitividade do produto brasileiro no mercado internacional, que vem sendo prejudicada em função da valorização da moeda brasileira.
A previsão é de que as exportações cresçam 30% este ano, número que deve cair para 12% no ano que vem.
Um exemplo é o da indústria de transformação, que em 2005 registrava um superavit comercial de US$ 31,9 bilhões e chegou ao mês de junho deste ano com um deficit de US$ 13,9 bilhões.
“Existe uma certa preocupação sobre a perda de competitividade do produto brasileiro e com o forte crescimento das importações”, diz o analista-sênior para América Latina da Economist Intelligent Unit, Robert Wood.
“Como o consumo interno segue aquecido, vamos observar o quanto essas importações vão afetar a indústria nacional”, acrescenta o economista.
- Fabrícia Peixoto
- Da BBC Brasil em São Paulo
- 27/12/2010
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