Essa corrida para ocultar possíveis crimes depois da instauração da CPI da Covid tem sido uma tática padrão do bolsonarismo. O ministro da Saúde Marcelo Queiroga, às vésperas da CPI, varreu do site do Ministério da Saúde todo conteúdo relacionado à cloroquina. Outra jornalista que também tem apagado vídeos é a Leda Nagle, que atua com afinco em favor do negacionismo bolsonarista. Ela já ocultou do público 50 vídeos, quase todos contendo entrevistas com médicos picaretas que difundem falsas informações sobre a pandemia. Além deles, veículos como o jornal a Gazeta do Povo, que se transformou num panfleto do nível de um Terça Livre, teve seu vídeo removido pelo YouTube por difundir informações mentirosas sobre o coronavírus. Uma rádio local de Camaquã, interior do Rio Grande do Sul, também deletou um vídeo em que Jair Bolsonaro telefonava para a rádio para defender uma médica demitida por descumprir os protocolos de um hospital da cidade ao fazer uma nebulização com hidroxicloroquina em pacientes com covid-19. A prática resultou em três pacientes mortos.

O negacionismo também vem sendo fortemente disseminado diariamente pela rádio Jovem Pan, que hoje atua com força no YouTube com uma série de vídeos em que médicos negacionistas são entrevistados. Em um deles, um neurologista minimiza os impactos da doença e afirma a mentira que o Brasil registrou quatro vezes mais mortes por HIV do que por covid em 2020.

Depois que Alexandre Garcia se calou ao vivo na CNN, o jornalista Maurício Stycer telefonou para entrevistá-lo a respeito do episódio. Ele desconversou e disse que foi “avisado de que não tinha mais tempo para falar”, algo bem diferente do que se viu na TV. Stycer aproveitou para questioná-lo sobre os vídeos que ele apagou do seu canal, mas recebeu uma resposta evasiva, sem sentido: “Não foi pra mim, não. Foi o Google no mundo inteiro”. Logo em seguida, um novo silêncio no telefonema. A ligação misteriosamente caiu após a incômoda pergunta. Stycer tentou falar de novo com ele, mas não conseguiu. Eu não posso provar, mas tenho a plena convicção de que o jornalista desligou na cara de Stycer.

Numa era em que a desinformação domina as redes sociais, o jornalismo profissional se torna ainda mais importante. O problema é quando veículos profissionais de jornalismo abrem essas janelas para a desinformação. As mentiras difundidas durante uma pandemia têm um peso diferente das mamadeiras de piroca idealizadas por Carluxo durante a eleição. São mentiras que resultam em mortos. Em uma pandemia que já matou quase meio milhão de brasileiros, a informação confiável, baseada em fatos e estudos, salva vidas.