Quem pensou que a violência ia partir do mundo, equivocou-se gravemente. A história foi construída com lutas, ressentimentos, preconceitos. invejas. As utopias não apenas conseguiram salvar o lado assassino da sociedade, que tanto fez vítimas, como articulou teorias para justificar preconceitos. O mito do paraíso, talvez, seja uma forma de sonhar com azuis de paz e deixar de lado as fúrias cotidianas. A ganância do consumo se amplia na globalização dos exílios e dos pânicos.
A morte de George Floyd trouxe uma perplexidade que atravessou milhões de corações. Há quem a ache normal, há quem pense nas superioridades raciais, há quem se sinta satisfeito com a pulsão de morte. A complexidade da sociedade consolida absurdos e desigualdades . Não é a riqueza material a dona da felicidade e das culturas, com gritam alguns? As fantasias existem e perturbam os mais ingênuos. A força descobre a nudez de figuras que espantariam Freud. Será que Eros está desenganado? Marcuse não avisou a importância do sensual, do amor, do desejo?
Negar as guerras, as ambições, as escravidões, as tiranias é passar um pano limpo na história e não ativar a memória para o lado obscuro que procuramos esconder. Por uma possível nota falsa se consagra a repressão e a brutalidade escreve sua história. As reações ocorrem, a dor não fica adormecida, os fracassos humanos se confundem com teorias antropológicas doentias. Não é à toa que o medo sobrevive, que há povos empurrados para os abismos por outros que se julgam deuses terrenos.Quem imaginou que a tecnologia afirmaria o fim da apatia e soltaria o coletivo para combater a mesquinharia se desfez das suas reflexões.
As cores possuem significados, os sons assustam, as pandemias se espalham, pois os valores se transformam em mercadorias rapidamente. A cena do policial acabando com a vida de George não merece definição. O capitalismo norte-americano lembra psicopatias extremas, se banha com idolatrias vazias, conserva-se desqualificando e ridicularizando quem não se mostra nas suas vitrines supérfluas. As torturas tem várias formas. Alguns são indiferentes e se agarram nas desgraças históricas.Naturalizam o avesso com um cinismo radical e andam nas trilhas da vaidade. O fogo não queima todas as melancolias que ferem a alma, mas é um símbolo de que há brechas para se indignar.
Por Paulo Rezende
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