sexta-feira, 15 de maio de 2020

Nelson Teich pediu demissão do Ministério da Saúde. Quem vai morrer e quem vai lucrar com a cloroquina?


O ex-ministro Nelson Teich abraçado ao presidente Jair Bolsonaro, que tem um meio sorriso no resto, em foto antes da demissãoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPedido de demissão de Teich aconteceu após desentendimentos com o presidente em relação ao uso da cloroquina
Nelson Teich pediu demissão do Ministério da Saúde nesta sexta-feira (15/05) menos de um mês após assumir o cargo, substituindo Luiz Henrique Mandetta.
Assim como seu antecessor, ele se recusou a contrariar evidências científicas para relaxar a orientação de isolamento social durante a pandemia de coronavírus e ampliar a recomendação do uso da cloroquina no tratamento da covid-19, como queria o presidente Jair Bolsonaro.
O Brasil passou nesta quinta-feira (14/05) a marca de 200 mil casos de infectados pelo coronavírus, segundo o mais recente boletim do Ministério da Saúde. Já em relação a óbitos, até esta quinta-feira, foram registradas 13.993 mortes pela doença, 844 delas nas últimas 24 horas.
Entenda a seguir três embates que explicam a rápida saída do ministro.

Cloroquina

A demissão de Teich foi anunciada um dia após o ministro receber um ultimato de Bolsonaro para mudar o protocolo de orientação do Ministério da Saúde para uso da cloroquina no tratamento da covid-19. O uso desse medicamento é bastante controverso devido a seus fortes efeitos colaterais e há falta de evidências científicas sobre sua eficácia na cura da doença provocada pelo novo coronavírus.
Nesta quinta-feira, em live na sua conta de Facebook, Bolsonaro disse que Teich revisaria nesta sexta o protocolo do Ministério da Saúde para uso da cloroquina, que ainda era o mesmo da gestão do ministro anterior, Mandetta.
Esse protocolo orienta que o medicamento deve ser usado apenas em casos graves da covid-19 (pacientes hospitalizados com pneumonia viral), em vez de ser ministrado já nos estágios iniciais da doença, como quer o presidente.
"Eu acho que amanhã (esta sexta) o Nelson Teich dá uma resposta para a gente. Eu acho que vai ser pela mudança do protocolo para que se possa aplicar durante os primeiros sintomas, em especial para as pessoas mais humildes", informou Bolsonaro, durante a live.
Pouco antes, em videoconferência com empresários, o presidente disse que estava exigindo de Teich a mudança do protocolo. "Estou exigindo a questão da cloroquina agora também. Se o Conselho Federal de Medicina decidiu que pode usar cloroquina desde os primeiros sintomas, por que o governo federal, via ministro da Saúde, vai dizer que é só em caso grave?", disse.
Um parecer do Conselho Federal de Medicina (CFM) de abril reforça a ausência de evidências científicas sobre a eficácia da cloroquina contra a covid-19, mas diz que, "diante da excepcionalidade da situação", é possível ministrar o remédio em três estágios da doença: paciente com sintomas leves com diagnóstico de coronavírus confirmado; paciente com sintomas importantes, mas ainda sem necessidade de cuidados intensivos, com ou sem recomendação de internação; e paciente crítico recebendo cuidados intensivos.
"Após analisar extensa literatura científica, a autarquia reforçou seu entendimento de que não há evidências sólidas de que essas drogas tenham efeito confirmado na prevenção e tratamento dessa doença. Porém, diante da excepcionalidade da situação e durante o período declarado da pandemia de covid-19, o CFM entende ser possível a prescrição desses medicamentos em três situações específicas", diz o parecer.
Dois dias antes de receber o ultimato do presidente, Teich havia reforçado na terça-feira, em post no Twitter, sua preocupação com os efeitos colaterais do medicamento.
"Um alerta importante: a cloroquina é um medicamento com efeitos colaterais. Então, qualquer prescrição deve ser feita com base em avaliação médica. O paciente deve entender os riscos e assinar o 'Termo de Consentimento' antes de iniciar o uso da cloroquina", afirmou o então ministro.

Adesão ao isolamento social

Teich assumiu o cargo com o propósito de tentar encontrar uma fórmula de enfrentamento da pandemia que não implicasse em paralisia de parte significativa das atividades econômicas.
Bolsonaro queria que o país adotasse o que chama de "isolamento vertical", em que apenas idosos e pessoas com doenças prévias que aumentam o risco de morte por covid-19 ficariam em quarentena, apesar de a estratégia ser questionada por muitos epidemiologistas.
No entanto, devido à continuidade da alta de casos de pessoas contaminadas e de mortes em decorrência da doença, Teich passou a resistir às pressões presidenciais para que sua pasta defendesse o relaxamento do isolamento social nos Estados e municípios.
"Há coisas que são básicas, não tem como ter liberação de isolamento quando há uma curva em franca ascendência", disse o então ministro, em entrevista coletiva no Palácio do Planalto no dia 30 de abril.
Bolsonaro durante ato que pedia 'intervenção militar' e o fechamento do Congresso e do Supremo em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília.Direito de imagemAFP
Image captionBolsonaro é contra medidas de isolamento e até participou de atos que pediam, além do fim do do isolamento, 'intervenção militar' e o fechamento do Congresso
Pressionado, Teich chegou fazer um anúncio na segunda-feira (11/05) sobre o que seria uma nova diretriz do Ministério da Saúde para que Estados e municípios definissem sua estratégia de isolamento social.
Na ocasião, foi apresentado o documento Estratégia de Gestão de Riscos, em que o ministério cita cinco níveis de distanciamento social, que iriam de "Distanciamento social seletivo I" até "Restrição máxima".
"A partir da realização de avaliações quantitativa (Avaliação de Risco) e qualitativa, Estados e municípios terão indicadores que vão apontar o nível de risco local e nortear a adoção e ajuste de medidas de distanciamento social", dizia o documento.
No entanto, uma coletiva prevista para detalhar melhor essas novas diretrizes que ocorreria na quarta-feira (13/05) foi cancelada por falta de consenso entre o Ministério da Saúde e os conselhos dos secretários de Saúde estaduais e municipais.
"O objetivo era ter um plano construído em consenso. No entanto, esse entendimento não foi obtido nas reuniões conduzidas até o momento", diz nota do ministério.

Inclusão de academias, salões e barbearias na lista de serviços essenciais

Na tarde de segunda-feira (11/05), Bolsonaro anunciou, quando conversava com jornalistas na entrada do Palácio da Alvorada, a inclusão de academias, salões de beleza e barbearias no rol de serviços essenciais - para que em tese pudessem retomar as atividades mesmo durante a vigência de medidas de quarentena.
"Coloquei hoje, porque saúde é vida: academias, salão de beleza e cabeleireiro, também. Higiene é vida", afirmou.
Teich foi informado sobre a decisão pela imprensa, durante coletiva de imprensa do Ministério da Saúde.
"Saiu hoje?", disse ele, ao ser questionado sobre sua opinião e sobre a eventual participação da pasta na discussão da medida.
Aparentando surpresa, o então ministro afirmou que o Ministério da Saúde não havia sido consultado e que a atribuição de deliberar sobre os serviços considerados essenciais seria do Ministério da Economia e da Presidência da República.
Quando questionado, na sequência, se o Ministério da Saúde não deveria ter sido incluído no debate, Teich ficou em silêncio por alguns segundos e emendou que precisaria "pensar melhor".
"Neste momento, a resposta seria não, porque é uma atribuição do Ministério da Economia. Vejo a Saúde participando sempre, a partir do instante que ela ajuda a definir formas de fazer que possam proteger as pessoas", disse.
O decreto presidencial não significa, entretanto, uma liberação automática à retomada das atividades dos setores incluídos. Em meados de abril, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que Estados e municípios têm autonomia para deliberar sobre suas políticas de saúde e, consequentemente, sobre as medidas locais de isolamento social.
A maioria dos governadores já se manifestou contra a abertura de academias, salões e barbearias.
Com informações da BBC

Professor Edgar Bom Jardim - PE

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