Teorias conspiratórias, desinformação e especulações sobre o coronavírus inundaram as redes sociais. Mas quem começa esses rumores? E quem os espalha?
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Investigamos centenas de histórias enganosas durante a pandemia. Isso nos deu uma ideia sobre quem está por trás da desinformação - e o que os motiva. Aqui estão sete tipos de pessoas que iniciam e espalham falsidades:
O piadista
Esperava-se que ninguém fosse enganado por um áudio de WhatsApp que dizia que o governo britânico estava preparando uma lasanha gigante no estádio de Wembley, em Londres, para alimentar os habitantes da cidade. Mas algumas pessoas não entenderam a piada.
Para dar um exemplo um pouco mais sério, uma pessoa criou uma suposta captura de tela de um texto falso do governo que alegava que a pessoa que estava lendo aquilo havia sido multada por deixar a casa muitas vezes. Ela achou que seria engraçado assustar as pessoas que violavam as regras de quarentena.
Depois de incentivar seus seguidores a compartilhar o texto no Instagram, chegou a grupos locais do Facebook, onde foi publicado por moradores preocupados, alguns dos quais levaram a sério.
"Eu realmente não queria causar pânico", dizia o brincalhão, que se recusou a nos fornecer seu nome verdadeiro. "Mas se as pessoas acreditam em uma captura de tela nas redes sociais, precisam realmente reavaliar a maneira como consomem informações na internet".
O golpista
Outros textos falsos supostamente de autoria do governo ou de conselhos locais foram gerados por golpistas que procuram ganhar dinheiro com a pandemia.
Uma dessas fraudes investigadas pela organização de caridade Full Fact, em março, alegou que o governo estava oferecendo pagamentos de ajuda às pessoas e pediu detalhes bancários.
Fotos do texto do golpe foram compartilhadas no Facebook. Como circulou por mensagem de texto, é difícil identificar quem estava por trás.
Os golpistas começaram a usar notícias falsas sobre o vírus para ganhar dinheiro a partir de fevereiro, com e-mails sugerindo que as pessoas poderiam "clicar em um texto sobre a cura do coronavírus" ou sugerindo que eles tinham direito a um reembolso de imposto por causa do surto.
O político
A desinformação não vem apenas dos cantos mais obscuros da internet.
Na semana passada, o presidente americano, Donald Trump, questionou se expor os corpos dos pacientes à luz ultravioleta ou injetar alvejante poderia ajudar a tratar o coronavírus. Ele estava especulando.
Mais tarde, ele alegou que os comentários eram sarcásticos. Mas isso não impediu as pessoas de telefonarem para serviços médicos para perguntar sobre tratamento com desinfetante.
Não é apenas o presidente dos EUA. Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China promoveu a ideia de que a covid-19 poderia ter sido trazida a Wuhan pelo Exército dos EUA.
As teorias da conspiração sobre o surto foram discutidas no horário nobre na TV estatal russa e em contas no Twitter pró-Kremlin.
O autor de teorias da conspiração
Toda a incerteza sobre o vírus criou um terreno fértil perfeito para as teorias da conspiração.
Uma história falsa de origens obscuras, alegando que o primeiro voluntário a participar de um teste de vacina no Reino Unido havia morrido, circulava em grandes grupos de pessoas contrárias à vacinação no Facebook. Era ficção.
Entrevistas com David Icke, um conhecido criador de teorias conspiratórias britânico, no YouTube, que já foram removidas, também revelaram falsas alegações de que a tecnologia 5G estaria vinculada ao coronavírus.
Icke também apareceu em uma rede de TV de Londres, que violou os padrões de transmissão do Reino Unido. Sua página no Facebook foi posteriormente retirada, segundo a empresa, por publicar "desinformação sobre saúde que poderia causar danos físicos".
As teorias da conspiração levaram a vários ataques de vândalos a torres de 5G.
O 'insider'
Às vezes, a desinformação parece vir de uma fonte confiável - um médico, professor ou funcionário de hospital.
Mas muitas vezes o "insider" não é nada disso.
Uma mulher da cidade de Crawley foi a criadora de um áudio com tom de voz de pânico que descrevia terríveis números de mortes de jovens saudáveis por coronavírus - tudo completamente sem fundamento. Ela alegou ter informações privilegiadas por trabalhar em um serviço de ambulância.
Ela não respondeu aos pedidos de entrevista ou forneceu provas de seu emprego, portanto, não sabemos se ela é realmente uma trabalhadora da área de saúde. Mas sabemos que as alegações em sua mensagem eram infundadas.
O parente
Esse áudio e muitos outros se tornaram virais porque preocupavam as pessoas, que então compartilhavam as mensagens com amigos e familiares.
Por exemplo, Danielle Baker, mãe de quatro filhos, que passou adiante a mensagem por Facebook Messenger "porque vai que é verdade...".
"No começo, fiquei um pouco desconfiada porque foi enviada por uma senhora que eu não conhecia", diz ela. "Encaminhei porque eu e minha irmã temos bebês da mesma idade e também temos filhos mais velhos, e todos nós temos alto risco em nossas casas."
Essas pessoas acham que estão tentando ser úteis e acham que estão fazendo algo positivo. Mas, é claro, isso não torna verdadeiras as mensagens que elas transmitem.
A celebridade
Não é apenas sua mãe ou tio. As celebridades ajudaram as fake news a se tornarem populares.
A cantora M.I.A. e o ator Woody Harrelson estão entre os que têm divulgado a teoria do coronavírus ligado ao 5G para suas centenas de milhares de seguidores nas redes sociais.
Um relatório recente do Reuters Institute constatou que as celebridades desempenham um papel fundamental na divulgação de informações erradas online.
Alguns também têm plataformas enormes na mídia tradicional. O apresentador Eamonn Holmes foi criticado por parecer dar alguma credibilidade às teorias da conspiração sobre 5G no programa do canal britânico ITV This Morning.
"O que eu não aceito é a grande mídia imediatamente dizer que isso não é verdade quando eles não sabem que não é verdade", disse ele.
Holmes mais tarde pediu desculpas e a Secretaria de Comunicação do governo "emitiu orientações" para a ITV, considerando os comentários "inadequados".
Ilustrações de Simon Martin. Informações adicionais de Olga Robinson.
Professor Edgar Bom Jardim - PE
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